segunda-feira, julho 27, 2009

Anquilose sistémica

Corre-se o risco de que com a aprovação das futuras carreiras médicas, tudo vá continuar como até aqui. Nos últimos anos, o que se tem visto é uma tentativa sôfrega da parte das várias direcções da Ordem dos Médicos de controlar tudo o que respeita aos títulos médicos, deixando, de lado cada vez mais a apreciação das capacidades técnicas de forma objectiva, por exemplo, através de concursos periódicos ou por créditos de formação. Num país pequeno, com pouca gente, a preocupação é ter a capacidade de escolher as pessoas por critérios mais ou menso elásticos que, efectivamente, permitem uma grande dose de arbitrariedade. Actualmente, e nada faz prever diferenças para o futuro, chegam a confundir-se níveis de diferenciação com lugares de quadro. É disso prova a confusão de um título de provimento com um grau de carreira: o lugar de chefe de serviço ou futuro especialista senior parece ser um nível de carreira, mas é efectivamente um lugar do quadro e não mais que isso. O curioso é que sendo um lugar de quadro de uma organização se coloque a sua decisão ao critério de elementos de outras organizações concorrentes, como se isso não pudesse enviezar os resultados. É como se a equipa do Benfica fosse seleccionada pelos dirigentes do Porto e do Sporting!! Assobia-se para o lado e todas as consciências ficam tranquilas. Faz-se um exercício de grande rigor classificativo, recorrendo a grelhas de avaliação mais ou menos sofisticadas e tudo fica na paz dos resultados. O importante é ser o mais formal possível, depois, na prática, logo se espremem os pontos da grelha até que da tortura saia o resultado desejado. Umas vezes tudo termina numa almoçarada, outras no Tribunal Administrativo, para que tudo seja confirmado de acordo com a vontade do júri.
Para uma melhor produtividade das organizações faria, seguramente, mais sentido que os seus quadros de direcção sectorial fossem escolhidos por aqueles a quem vão reportar entre aqueles que tivessem as habilitações para o cargo, possivelmente, mais por critérios de funcionalidade do que por critérios pretensamente técnicos. Mas o mais curioso é que esta prosa não fará muito sentido a muitos burocratas do amen ao sistema. Nem perceberão o porquê destas coisas, alienados que estão.
Mas é assim que se têm criado os monstros disfuncionais que vamos tendo neste sistema anquilosado de serviços.

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