segunda-feira, janeiro 06, 2014
Eusébio
Depois da troica liderante do campeonato do final do ano, tivemos agora o grande consenso nacional. O futebol sempre como farol da vida… A troica irá desaparecer lá para o verão, o consenso é o resultado da existência de um jogador de uma classe à parte, aquilo a que todos deviam aspirar, a excelência sem o marketing promocional de ser-se superior, antes pelo contrário, o desportivismo de dar os parabéns a um adversário quando ele mostrava ser tão excelente quanto ele tinha acabado de ser. Porque era bonito jogar-se assim a alto nível, de forma alegre, sem compromissos comerciais e televisivos.
Como aconteceu com Mandela, também agora muitos vieram tirar a fotografia com o ídolo popular, perdendo às vezes o sentido da proporção, não deixando de ser estranho que, quem não pode comparecer na despedida de Saramago, a primeira figura do estado, tenha agora tido todo o tempo para estar presente nas cerimónias.
E também a nota ridícula da segunda figura do estado se manifestar preocupada com os custos de uma homenagem, a futura transladação para o Panteão Nacional, o que aliás será de duvidoso bom gosto, pois não deve ser confortável para o Eusébio ter de voltar a coexistir com a D. Amália depois da experiência das focas do oceanário. Outro risco adicional seria o de a seguir alguém se lembrar de também lá pôr a irmã Lúcia, para lá ficar a santíssima troica nacional do fado, futebol e fátima…
Mas, voltando ao sério, isto dos consensos é possível e desejável quando se celebra a classe, mas deixa de ser possível e desejável quando se querem misturar diferentes interesses de classes numa verdade única de destino irrefutável. É que os interesses das classes são antagónicos e propalar a ideia de que deverá haver um destino único a bem da nação é música já muito ouvida noutros tempos de União Nacional. A democracia é o realce e a luta entre as diferenças, o seu esclarecimento e a escolha popular que tarda.
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