terça-feira, janeiro 29, 2013

Eles


Quando se vai a um hospital, a um tribunal, à caixa Geral de Aposentações ou a uma repartição de finanças há algum grau de conforto e modernidade, que se não encontra quando se tem de ir a um serviço de segurança social. Aqui os ambientes são mais escuros, faltam lâmpadas de iluminação ou os maus tratos nas paredes são frequentemente mais óbvios. A outra diferença encontra-se nas manjedouras de atendimento, onde os espaços individuais são bem mais estreitos prejudicando toda a privacidade necessária, aqui mais do que noutras situações, e no nível de equipamento, por exemplo informático, que os funcionários utilizam. O ruído das pancadas dos carimbos é um must por aqui.
Este ambiente faz que do outro lado das mesas se encontrem funcionários desmotivados, deprimidos mesmo, com o que estão ali a fazer, um enorme frete. Carimbam papéis e informam mecanicamente que a resposta irá para o domicílio. Quando? Ninguém sabe, talvez um ou dois meses. Não riem, estão cansados, têm derrota nas faces. Adivinha-se que, como os utentes, estão descrentes. Dizem, «eles» é que sabem, são quem decide, quem manda. Sempre «eles», os todo-poderosos, que nos roubaram até o «nós». Nunca perguntam sequer que vida é esta na dependência absurda e exclusiva d´«eles»? Será que um dia despertarão e vão-se a «eles»?
Um Estado que diferencia os ambientes desta forma, é um Estado que fez uma opção de classe. Realmente, quem vem a estes Serviços de Segurança Social, são maioritariamente uns tipos «dispensáveis» que apenas «dão despesa» ao Estado Social. No limite do pensamento gaspariano-coelhal, estaríamos muito melhor se não existissem e não justificam, seguramente, qualquer investimento em conforto.

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