segunda-feira, janeiro 28, 2013

Botero


Aquele quadro que tanto poderia seu o primeiro como o ultimo da exposição, relembrou-me que mesmo a representação da morte pode conter em si o renascimento da vida anunciado pela tocha iluminada do anjo que desce sobre algo que parece estar ali definitivamente caído. Olhando-o relembrei-me que há uma história que ainda não acabou, apesar desta hibernação de quase dois meses, onde muitas vezes o impulso de aqui vir foi adiado pela inércia de reiniciar amanhã. E houve tantos e variados motivos!
Ainda agora, há poucos dias, a festa do regresso aos mercados (ou a continuação do endividamento) numa hosana infindável da direita governante, poderia ter sido uma boa razão. Mas não chegou para me reacender a vontade, porque, na verdade, foi apenas um estrebuchar antes de uma morte anunciada, essa sim definitiva, a exibir em breve na nossa frente.
Em vez disso, a arte como fator de renascimento, é uma causa bem mais interessante. A arte que cada um vê com os seus próprios filtros, revelando-se com significâncias distantes consoante os olhos que a veem. Para os organizadores desta Via Sacra, ao que pareceu pelos comentários dos guias do museu, uma exposição reveladora de alguma religiosidade tardia na vida de Fernando Botero, para mim, pelo contrário, o regresso ao tema das séries mais recentes do autor, a denúncia da violência ou da tortura dos homens, revelado na crucificação do cristo com Nova Iorque em fundo ou na apresentação do Homem na frente de uma vila da Colômbia. E, possivelmente, também não é por acaso que o anúncio do anjo ocorre na frente de um cemitério colombiano, isto é, num qualquer lugar de gente que não domina. Há por ali uma morte que ri nos rostos das caveiras, anunciando algo que está para vir mais cedo do que alguns esperarão.

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