segunda-feira, março 31, 2008

Modas e mudanças


Era uma imagem invulgar por cá. Agora, lá pelo hospital vou observando este cenário pelos cantos. A resistência, fica reduzida a isto.
Dantes havia uns a chutar para canto, agora temos um canto para o chuto...

sábado, março 29, 2008

Mitos

A imperiosa necessidade de aprovação pública, procurada de forma quase desesperada, traduz uma tentativa desgraçada de superação de vazios de vida. É pelo menos aquilo que pressinto olhando às vezes por aí, quando me confroto com alguns desses casos. Sabem que não vão existir dentro de poucos anos na memória de ninguém, mas, em cada dia que passa, esticam-se em bicos de pés na busca da notoriedade fugaz dos 5 minutos de televisão. Esse parece ser o seu único programa de vida: ter uma aprovação virtual de quem vê as suas imagens sem olhar as suas realidades. A certa altura terão até eles próprios dificuldade na percepção da sua realidade, tão embrenhados estão na ilusão da sua imagem. Confundem as duas dimensões e passam a viver num mundo virtual que confundem com o concreto. E ficam consumidos nesse sonho. Para o seu bem, o melhor é que não acordem.

sexta-feira, março 28, 2008

:)

Às vezes fico com a vontade irreprimível de jogar o número do bruxo. Ao fim de uns anos, basta por vezes olhar para a doente e perceber logo o que se passa. Quando se sentou logo fui perguntando se tinha emagrecido, se estava a suar mais, se sentia o pescoço maior, se andava irritadiça, se a apoquentava o calor. O olhar era meio de espanto, também pelo exoftalmo ligeiro, mas ia dizendo que sim. Foi nessa altura que o marido interrompeu, definitivo:
- É sim, senhor doutor, até já lhe tinha dito que estava mais quente na cama!
Graças ao metibasol, vai refrescar...

quinta-feira, março 27, 2008

Viver aquém da morte!

Segundo Artur Morais Vaz entre 1900 e 2000, houve uma redução de horas de trabalho anual de mais de 3000 para 1500. Os dados para estes cálculos estão no quadro:

Esta melhoria de qualidade de vida dos trabalhadores terá sido devida, penso eu, em grande parte à forma como se organizaram colectivamente ao longo deste período. Com a desagregação do sentimento do colectivo, com a criação de modelos de individualismo desenfreado, parece-me que, cada vez mais, as 40 horas de trabalho semanal vão sendo um valor apenas teórico (largamente excedido no trabalho que se leva para casa dentro do PC), que os 5 dias de trabalho, são cada vez mais 7 dias (reuniões de trabalho em fins-de-semana, acabar relatórios nos dias ditos livres, por exemplo) e nem sei se as férias também não estarão a ser devoradas pelos «trabalhos pendentes» que não foi possível acabar no tempo normal de trabalho. Quantas horas se trabalha hoje, anualmente? E demos de borla, as que se gastam a caminho e na volta do trabalho. Cuidado, que um século de vitórias, pode perder-se em apenas alguns anos de distração individualista!
Por momentos, sinto que regressámos aos tempos da Revolução Industrial. Como então, certamente, irão aparecer movimentos de reacção, que irão obrigar ao renascimento dos direitos e ao fim da imposição das leis de Mercado, que ignoram a desproporção e desigualdade de negociação entre empregador e trabalhador. Não há liberdade de negociação fora da negociação colectiva dos direitos! Os contratos individuais de trabalho são uma miragem de avanço para o bem-estar.
E isto acontece numa altura em que um dos principais meios de produção passou a ser o conhecimento, isto é, saiu do dono da empresa e passou para o trabalhador. Só que isso acontece apenas para uma minoria que teve acesso à formação e ao conhecimento. E suspeito, que movimentos de ideias que pugnam pela limpeza quase étnica das nossas escolas, excluindo os chamados mal comportados, mais não vise, ainda que de forma inconsciente, que marginalizar os mesmos de sempre para benefício de uns quantos.
Vive-se um tempo complexo, onde apesar de tudo, a vida isolado, desagregado dos outros, continuará a não ter sentido. Há, pois, que ser prudente com entusiasmos aparentemente óbvios e procurar sempre perceber o que está por trás das primeiras páginas dos jornais. Nunca deixar de lado a ideia, que mais importante que saber se há vida para além da morte, será ter a certeza que ela existe aquém da morte. Garanti-lo deve ser o programa de quem se quer vivo.

quarta-feira, março 26, 2008

Farto

Ando sem paciência para cenas deprimentes, sejam as dos telemóveis nas aulas, sejam as perdas fúteis do tempo em reuniões patéticas onde nada se ensina e nada se aprende. A falta de rigor, maça-me. O elogio vazio do vazio, irrita-me. O politicamente correcto, enoja, sobretudo quando através dele se buscam benefícios secundários. Se a isto se adicionam manifestações populistas, passo do nojo ao vómito.
Talvez não seja por muito tempo, a fazer fé nas notícias. Isso anima.

terça-feira, março 25, 2008

Quem brinca com o fogo...

«Quem quer enriquecer não vai para médico». Pedro Nunes, bastonário, dixit.
Quero acreditar na boa-vontade do senhor Bastonário. Parece-me cordato, bem intencionado e tem uma conduta ética, sendo até docente na matéria. No entanto, ao fazer uma afirmação destas, na melhor das possibilidades, é ingénuo.
É preciso decidirmo-nos sobre esta questão do bendito Mercado. Aqui a margem é estreita, ou se apoia ou se renega. Quem quiser ficar com um pé de cada lado, o mais certo é que perca o pé ou mesmo os pés. O problema é saber se a Saúde é nicho de negócio ou um bem diferente, que não é susceptível de ser negócio.
Dito de uma forma mais cruel, decidir se o propalado princípio utilizador-pagador, funciona em Saúde, ou seja se os custos de estar doente devem ser suportados pelo doente ou pelos saudáveis.
Depois nos entenderemos sobre a melhor forma de articular os serviços. Não peçam é que o Estado fique com os ossos para roer, enquanto a Banca negociante em Saúde se prepara para comer a carne. É fundamental separar as águas, que os médicos se decidam por trabalhar no público ou no privado, sem acumulações. Que os doentes decidam tratar-se no público ou no privado, sem acumulações. Toda a promiscuidade existente só levará a complicações insanáveis.
Segurança na Saúde é muito mais que ter um serviço de urgência ao lado de casa, é saber que se pode estar doente e deixar o cartão de crédito em casa.

quinta-feira, março 20, 2008

Mais de 600000


Eis os resultado dos efeitos de cinco anos de armas de destruição maciça que nunca deveriam ter entrado no Iraque. Sim, elas não estavam lá.

quarta-feira, março 19, 2008

Surpresa e rotina

Surpreendeu-me hoje o Engenheiro ao anunciar a passagem do Hospital da Amadora a Entidade Pública Empresarial. Será prenúncio de dias mais difíceis para o grupo Mello ou apenas uma vingançazita da nova Ministra, depois das chatices que a gestão privada em tempos lhe arranjou? Afirmação de novo do Serviço Nacional de Saúde ou simples vendetta? Estratégia ou circunstância? A ver vamos.
Ilustrando a habitual ignorância mediática, é quase certo que a notícia será a redução das taxas moderadoras aos idosos. Medida bem menor pelas suas consequências do que a mudança do tipo de gestão. Mas o que querem é encher o olho e há muito que o jornalista albarda o burro ao desejo desinformado do dono. Persiste-se assim na perpetuação da ignorância.
Momento hilariante foi a passagem matinal da senhora Ministra pelo Hospital. Um frenesim de inquietude por se poder estar perto. O perfume ministerial enebria as almas dos mesmos de sempre. Sempre em bicos de pés, na ânsia de ficar no registo da TV.

terça-feira, março 18, 2008

A Luz

Cem milhões de euros investidos e recuperados em 7 anos, é um bom negócio. É a dimensão do bom negócio que a Saúde pode ser. O problema é saber-se como é possível desperdiçar, entregando a privados, tão bons negócios para uns poucos engrandecerem. No mínimo parece-me má gestão dos dinheiros públicos. Porque a questão que se coloca na abertura da saúde aos privados é que não se tem por objectivo a concorrência, certamente interessante, entre público e privado. O negócio resulta porque se segmenta o mercado, se escolhem nichos rentáveis para se explorar. Ora neste contexto, o problema que se levanta é saber-se até que ponto oferecer o miolo do pão aos outros, não nos vai partir os dentes quando ficarmos só com as côdeas para comer. Será lícito desperdiçar receita e ficar apenas com a despesa? Que a Luz os alumie e não encandeie!

segunda-feira, março 17, 2008

Regresso


Que se pause o trabalho, que novos caminhos se rasgam para novos horizontes!!!
Já vai longa, cada vez maior, a lista das notas do blog. Tenho para lá deitado apontamentos na esperança sempre adiada de amanhã ir escrever. Não resulta. O que se faz, faz-se hoje, até porque a vida amanhã está cheia de incertezas e, tanto previsões como forecasts, são potencialmente falíveis. Daí a revolta e a pausa de que resultam algumas notas dispersas.

O tempo afirma-se cada vez mais na vida das pessoas como matéria-prima escassa. Estranho é que o sendo se valorize tão pouco. Provavelmente, deve-se a aberração económica ao facto de quem lhe estabelece o valor o fazer só sobre o tempo dos outros. Há aqui uma clara ditadura do poder da classe dominante.

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Neste tempo que passou houve acontecimentos interessantes. O soldado das ideias passou a teleguiar o barco sem o abandonar. É também uma forma inteligente de gerir tempos. Se calhar surge a ideia, quando vem a noção da escassez do tempo. E a notícia correu mundo. Foi um acontecimento. A matilha uivou de esperança. Preparam já, em segredo, o grande evento. Andam em círculos os abutres.

Acho curiosa esta particularidade das línguas terem dois termos para coisas que só na aparência se assemelham. Eventos preparam-se, organizam-se, são hoje um ramo de negócio. Vendem-se segundo menus a escolher. São consumíveis.
Saudades tenho dos acontecimentos (happenings), coisas que surgem e surpreendem. O cientifismo, cada vez mais dominante, na ânsia de tudo querer prever, acaba por nos desabituar da espontaneidade e desafio do inesperado. Tanta norma e regulamento levam-nos para uma chatice sem fim. Fico, por isso, sorridente com as falhas dos metereologistas.

Afinal, só os loucos, ambicionam mandar. O que todos os normais querem, é ser reconhecidos. Miséria é reconhecer por dever, porque nada mais degradante existe que homenagear por medo. Assim, é sábio esperar pelo momento e aceitar a homenagem dos que pouco nos devem e, mesmo assim, sentem o prazer de o fazer. Ainda que sejam poucos, que os muitos que nos deram palmadas nas costas, não tenham tido tempo de lá ir, nada disso é importante. Aliás, o ambiente fica menos poluído, mais purificado. É tempo de, finalmente, se citar Brecht e atirar ao ar que só se foi comido pelos percevejos.
Nesse instante se percebe, também, que muitos dos artifícios que usamos no dia a dia nas nossas apreciações, nada têm de atitudes científicas baseadas na evidência, como queremos e nos querem fazer crer. A objectividade é um mito. São as emoções e não as realidades objectivas que nos orientam. Essas coisas inexplicáveis do amor e os sentimentos de vingança. Haverá espaço e tempo para amar acima de tudo a verdade? Será aquilo inevitável e desejável?

segunda-feira, março 03, 2008

Método

Enquanto ao burro mais não resta que praticar, o homem tem a vantagem de teorizar. Por isso desconfio do discurso do elogio da prática como alvo de ensino.