No remexer da arrecadação pude lembrar-me dos projectos que ficaram por contar, porque as formigas também fogem devoradas pela enxurrada do tempo que passa. Em Agosto de 1986, começava outras férias assim:
Ontem encontrei uma formiga que de olhinhos tristes e a fazer o pino no soalho da caravana me disse: Leva-me à boleia. Estou farta desta vida de andar no carreiro. Por favor, gostava tanto de encontrar novas paisagens, sair deste caminho sempre igual da frente para trás e de trás para a frente. Olhei para ela e apeteceu-me dizer-lhe que não, que o Renault 5 é um carro fraquinho e que assim com ela sempre teria de puxar mais um bocadinho. Mas não disse, porque ela ia achar isso uma desculpa tonta. Perguntei-lhe então, o que iria ela dar-me em troca da boleia. Vi a sua tristeza com esta noção de amizade, mas lá me respondeu: Talvez te possa fazer cócegas e contar-te a história das nossas viagens. Achei a ideia excelente e estas são as histórias de viagem da minha amiga formiga, a quem estou muito contente por ter dado boleia. Na verdade a formiga ainda me contou algumas histórias, mas a pressa dos momentos fez com que fugisse ao fim de uns dias e as histórias ficaram por registar. Este é o risco de muito projectar, porque a ambição faz o objectivo demasiado grande para o tempo que se tem. Mais que tudo, é preciso não deixar passar o momento nos projectos, porque não somos o futuro.
Chega-se aqui, finalmente, mais descansado depois depois desta viagem, cá dentro.
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