segunda-feira, novembro 19, 2007
Perguntas e uma resposta
A liberdade, que termina onde começa a dos outros, passou de moda? Será que já só existe a «minha» e tenho direito a tudo? Mas nesse caso, quais os limites que me imponho, que sentido tem então a ética? Um homem isolado e todo poderoso não pode entender o sentido ético de aqui estar, porque isso só tem razão de ser na experiência de vida em grupo. Se a experiência for individualista e liberal, a ética é um absurdo, porque, de repente, se tem o direito a tudo e a vontade deixou de ter fronteiras para a acção. A selva renasce, ganha o mais forte, não o mais merecedor, porque mérito é um conceito ético e a ética perdeu o sentido de existir.
domingo, novembro 18, 2007
Futebol e fado
Quando vou a um espectáculo, aplaudo, fico indiferente ou pateio de acordo com o grau de apreciação que faço do desempenho dos actores. Num negócio, premeio, fico igual ou critico, de acordo com o retorno que me advém do investimento. O futebol de hoje não sei se é um espectáculo se um negócio, mas em qualquer das circusntâncias é lícito que quem está nas bancadas aplauda, fique quedo ou assobie os actores da coisa. O que já não parece normal é que haja uns a ganhar milhões, mesmo quando se refastelam em colchões e depois se manifestem incomodados com os assobios com que o seu mau desempenho é apreciado. Os actores não assobiam os espectadores, pode ser, senhor Cristiano Ronaldo e companhia? Não trabalharem e exigirem carneirada apoiante em nome de uma quase causa é excessivo. Tanto mimo, devia exigir protesto dos senhores jornalistas, mas esses andam demasiado empenhados a defender a pátria.
Depois do futebol da manhã, à noite os fados. Fados de Carlos Saura. Fados e não fado, possivelmente porque se não trata aqui tanto do Fado, mas mais dos fados de vários povos que se encontraram alguma vez no caminho. Essa a graça do filme, que não chega a ter uma história nem muito menos faz a história do fado deixando assim a possibilidade de ser documentário. O filme é um longo e esteticamente adequado Saurão para Trabalhadores com muito fado, de onde perspassa a ideia dos encontros dos povos e onde, à maneira do que diz Saramago, se não percebem as razões de certas fronteiras. Fado e flamenco são fados comuns, afinal. Custa a perceber o Caia entre Elvas e Badajoz e de todo se não entendem os protestos de alguns patrioteiros ofendidos por as mulheres da raia irem parir a Espanha. Não tanto pelo fado, mas por esta ideia, o filme Vale!
Depois do futebol da manhã, à noite os fados. Fados de Carlos Saura. Fados e não fado, possivelmente porque se não trata aqui tanto do Fado, mas mais dos fados de vários povos que se encontraram alguma vez no caminho. Essa a graça do filme, que não chega a ter uma história nem muito menos faz a história do fado deixando assim a possibilidade de ser documentário. O filme é um longo e esteticamente adequado Saurão para Trabalhadores com muito fado, de onde perspassa a ideia dos encontros dos povos e onde, à maneira do que diz Saramago, se não percebem as razões de certas fronteiras. Fado e flamenco são fados comuns, afinal. Custa a perceber o Caia entre Elvas e Badajoz e de todo se não entendem os protestos de alguns patrioteiros ofendidos por as mulheres da raia irem parir a Espanha. Não tanto pelo fado, mas por esta ideia, o filme Vale!
sábado, novembro 17, 2007
Vila Franca
Vila Franca de Xira sem tourada tem mais encanto. Pelo menos, eu prefiro-a com o museu recém-inaugurado (azar que o Presidente da fita tenha sido o Senhor que é, o que não deixa de destoar na parede da casa) onde se relembra o neo-realismo português da pintura ao cinema com literatura pelo meio.
Tenho vindo a perceber que nos fazemos dos quinze aos vintes. Por aí já estamos completos. Foi exactamente nessa altura que contactei e me enchi de Soeiro Pereira Gomes, Redol, Gomes Ferreira e me embalava o Acordai do Lopes Graça. Hoje percebi o quanto esta gente me fez também. Quer se queira quer não, há por aqui uma superioridade moral, que se não deve menosprezar. Foi uma altura em que se agiu, não por necessidade ou pelo desprezível cálculo, mas tão só pelo dever de agir. Nenhum incómodo impediu alguns da acção e a história foi-se fazendo como foi necessário.
Em dia de sorte, ainda pude desfrutar de uma conferência de Rui Vieira Nery sobre o neo-realismo na música e, na discussão, veio à baila o fado, que afinal, pasmei!, foi durante tempos canção do povo e de resistência. Por exemplo, «Não entres na igreja, cavador/é falsa a religião dessa canalha/os santos são de pau e sem valor/só deves dar valor a quem trabalha».
O Museu foi o motivo da deslocação, mas outro há para lá voltar: o Recanto do Ti Pedro, onde a começar nos perguntou se já tínhamos escolhido, para logo continuar a dizer se sabíamos escolher! Logo ali se viu que não estavamos numa correcta casa de pasto, mas muito mais que isso. Mesmo não estando nada arrependido da escolha feita, que incluiu uns deliciosos feijões «sezudos», para a próxima será o Senhor Pedro Miguel Gil a servir-me do que entender (só exigindo que venham também os tais feijões).
Tenho vindo a perceber que nos fazemos dos quinze aos vintes. Por aí já estamos completos. Foi exactamente nessa altura que contactei e me enchi de Soeiro Pereira Gomes, Redol, Gomes Ferreira e me embalava o Acordai do Lopes Graça. Hoje percebi o quanto esta gente me fez também. Quer se queira quer não, há por aqui uma superioridade moral, que se não deve menosprezar. Foi uma altura em que se agiu, não por necessidade ou pelo desprezível cálculo, mas tão só pelo dever de agir. Nenhum incómodo impediu alguns da acção e a história foi-se fazendo como foi necessário.
Em dia de sorte, ainda pude desfrutar de uma conferência de Rui Vieira Nery sobre o neo-realismo na música e, na discussão, veio à baila o fado, que afinal, pasmei!, foi durante tempos canção do povo e de resistência. Por exemplo, «Não entres na igreja, cavador/é falsa a religião dessa canalha/os santos são de pau e sem valor/só deves dar valor a quem trabalha».
O Museu foi o motivo da deslocação, mas outro há para lá voltar: o Recanto do Ti Pedro, onde a começar nos perguntou se já tínhamos escolhido, para logo continuar a dizer se sabíamos escolher! Logo ali se viu que não estavamos numa correcta casa de pasto, mas muito mais que isso. Mesmo não estando nada arrependido da escolha feita, que incluiu uns deliciosos feijões «sezudos», para a próxima será o Senhor Pedro Miguel Gil a servir-me do que entender (só exigindo que venham também os tais feijões).
sexta-feira, novembro 16, 2007
Revisão da semana
Mergulha-se na urgência do tempo, quando, finalmente, se percebem os seus limites. Apetece então, saborear os instantes, usá-los de uma forma selvagem, possuí-los na totalidade. Tal desfrute conduz, no entanto, à falta do tempo para aqui vir fazer o registo. É essa, possivelmente, a causa dos intervalos cada vez maiores entre os posts. Depois, um dia, surge um instante, em que se faz uma revisão breve, em forma de vertigem, como a paisagem que se escoa na janela do Alfa pendular e sai à maneira de registo uma enumeração de instantes.
1. A semana decorre numa sucessão de Domingos. É o gozo de estar de férias de uma forma diferente, iniciada por um Congresso sobre obesidade, onde, como é hábito, na quarta-feira seguinte tudo será como era na sexta-feira anterior. Para quem pode usar o Hotel foi agradável e a relação custo-benefício simpática… Cada vez mais a lucidez me impele a considerar estas reuniões como recreios, por vezes, de duvidoso merecimento, e, seguramente, de utilidade questionável. Como «louco manso, tentando antecipar algum futuro», lá fui dizendo que a obesidade é problema sem solução enquanto se não alterarem as suas causas. Outros preferem as corridinhas e marchas folclóricas ou a promoção do exercício, como se ainda restasse energia depois da sobrevivência do quotidiano. A prevenção não são consumos de sapatilhas de marca, mas muito mais, o combate ao consumo. Loucuras…
2. O êxito fabrica-se e antes que não exista é preciso afirmá-lo até que a voz lhes doa. Por mim, continuarei a fugir do auto-elogio, deixando, assim, aos outros apenas o esquecimento da obra. De outra forma, é demasiado deselegante para alguns padrões.
3. Tem sido enriquecedor o contacto com os Serviços da Segurança Social. Há um buraco imenso entre os dois lados da secretária. Do lado de lá, a frustração do contacto com a incompreensão da iletracia. Em português tentam comunicar, mas ao receptor não chega a mensagem simples, porque a distância é um oceano pacífico e de bons costumes. Ali ainda vejo a obediência do «porque eles é que podem». E pela quarta vez, irão buscar o papel que ainda falta, balbuciando que «são todos o mesmo». É urgente, pôr ali gente a traduzir conceitos e a adaptar serviços, na mudança que é possível.
4. Lá longe um rei mandou calar um presidente eleito. Só que o democrata é o rei, assim reza a Santa Madre Imprensa. Mas por mais que queiram o tal do Presidente não se cala e ainda lhes poupou a lembrança da varíola.
5. Por cá e a acabar a semana mais uma reunião corporativa em que, pasme-se, alguém pede à mítica Ordem autorização para fazer comunicações aos farmacêuticos sobre douta coisa que é isso da insulinoterapia. Passamos do cómico ao trágico quando se sugere que tal ciência se não passe, que a ela só os sábios endocrinologistas devem ter acesso. Investe então o louco farto de Idades Médias renascidas e a coisa acaba por poder ser feita nos moldes que o prelector considere serem os mais convenientes. Às vezes me amofino.
6. Na semana em que os diabéticos já são mais de um milhão, o poder, perante tanto voto potencial, decide oferecer insulina lenta e bombas infusoras à legião dos comilões. Bem vistas as coisas, a medida tem justiça enquanto atinja aqueles que realmente são vítimas da comida tóxica a que têm acesso. Menos justa será para outros que têm toda a possibilidade de optar e não o fazendo por facilitismo e negligência, vêem ao bolso de todos sacar os fundos que os tratam das consequências do vício. Esta é uma medida igualitária que tem pouco de equidade e menos de justiça distributiva. Aplicar-se-ia talvez neste consumo o princípio da proporção do pagamento em função do rendimento para dar mais responsabilidade e tornar a questão mais justa. Um milhão e meio de idosos com carências não retribuídas terão de levantar a voz e acenar com os votos, reivindicando a sua parte do bolo. Mas a sua fragilidade pouco lhes permite e o disparate continua.
1. A semana decorre numa sucessão de Domingos. É o gozo de estar de férias de uma forma diferente, iniciada por um Congresso sobre obesidade, onde, como é hábito, na quarta-feira seguinte tudo será como era na sexta-feira anterior. Para quem pode usar o Hotel foi agradável e a relação custo-benefício simpática… Cada vez mais a lucidez me impele a considerar estas reuniões como recreios, por vezes, de duvidoso merecimento, e, seguramente, de utilidade questionável. Como «louco manso, tentando antecipar algum futuro», lá fui dizendo que a obesidade é problema sem solução enquanto se não alterarem as suas causas. Outros preferem as corridinhas e marchas folclóricas ou a promoção do exercício, como se ainda restasse energia depois da sobrevivência do quotidiano. A prevenção não são consumos de sapatilhas de marca, mas muito mais, o combate ao consumo. Loucuras…
2. O êxito fabrica-se e antes que não exista é preciso afirmá-lo até que a voz lhes doa. Por mim, continuarei a fugir do auto-elogio, deixando, assim, aos outros apenas o esquecimento da obra. De outra forma, é demasiado deselegante para alguns padrões.
3. Tem sido enriquecedor o contacto com os Serviços da Segurança Social. Há um buraco imenso entre os dois lados da secretária. Do lado de lá, a frustração do contacto com a incompreensão da iletracia. Em português tentam comunicar, mas ao receptor não chega a mensagem simples, porque a distância é um oceano pacífico e de bons costumes. Ali ainda vejo a obediência do «porque eles é que podem». E pela quarta vez, irão buscar o papel que ainda falta, balbuciando que «são todos o mesmo». É urgente, pôr ali gente a traduzir conceitos e a adaptar serviços, na mudança que é possível.
4. Lá longe um rei mandou calar um presidente eleito. Só que o democrata é o rei, assim reza a Santa Madre Imprensa. Mas por mais que queiram o tal do Presidente não se cala e ainda lhes poupou a lembrança da varíola.
5. Por cá e a acabar a semana mais uma reunião corporativa em que, pasme-se, alguém pede à mítica Ordem autorização para fazer comunicações aos farmacêuticos sobre douta coisa que é isso da insulinoterapia. Passamos do cómico ao trágico quando se sugere que tal ciência se não passe, que a ela só os sábios endocrinologistas devem ter acesso. Investe então o louco farto de Idades Médias renascidas e a coisa acaba por poder ser feita nos moldes que o prelector considere serem os mais convenientes. Às vezes me amofino.
6. Na semana em que os diabéticos já são mais de um milhão, o poder, perante tanto voto potencial, decide oferecer insulina lenta e bombas infusoras à legião dos comilões. Bem vistas as coisas, a medida tem justiça enquanto atinja aqueles que realmente são vítimas da comida tóxica a que têm acesso. Menos justa será para outros que têm toda a possibilidade de optar e não o fazendo por facilitismo e negligência, vêem ao bolso de todos sacar os fundos que os tratam das consequências do vício. Esta é uma medida igualitária que tem pouco de equidade e menos de justiça distributiva. Aplicar-se-ia talvez neste consumo o princípio da proporção do pagamento em função do rendimento para dar mais responsabilidade e tornar a questão mais justa. Um milhão e meio de idosos com carências não retribuídas terão de levantar a voz e acenar com os votos, reivindicando a sua parte do bolo. Mas a sua fragilidade pouco lhes permite e o disparate continua.
sexta-feira, novembro 02, 2007
Certidão
Aos tantos de tal nasceu, no local indicado e averbado vem que casou e faleceu. Assim, tudo numa página, primeiro em letra bem desenhada como se fazia há oitenta e tal anos, depois em letra mais jovem. Cabe tudo numa página apenas. Assim passam as pessoas pelos arquivos no registo que fica da sua passagem.
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