Num destes momentos ainda não consigo outra maneira de estar, que esta de me sentir, meio suspenso algures no espaço. As palavras somem-se-me da cabeça e não chegam à boca. É um tempo longo até que surjam.
Pelo corredor, vestida de preto, dirigiu-se-me perguntando se era eu, ao que lhe garanti que sim, sem saber de onde me vinha esta súbita celebridade, em que povo anónimo me conhece nas ruas. Depois veio a história: o senhor José era para vir à consulta em Setembro, mas já não vem. Estava a olhar para o livro da marcação das consultas e a falar do meu nome e caiu redondo no chão. Era só para me conhecer, ela que já ouvira falar muito de mim, para dizer obrigado. Neste instante passam-me pela cabeça o ar de gratidão de quando o curei, como ele dizia, do hipertiroidismo; as formas como me tentava dar a volta nos controlos da glicemia; a postura optimista de que estava óptimo e não era graças a Deus, que alguns ainda reconhecem a acção dos fármacos; as histórias dos ciúmes da mulher e das suas aventuras. Por fim, lá me lembrei de referir a quase sorte de se morrer sem sofrimento. Pois é, às vezes, é como uma benção.
Esta profissão tem muitas mais experiências além da gestão, do êxito da apresentação e dos casos clínicos raros. Deve ser por isto que vale a pena.
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