terça-feira, fevereiro 15, 2011

Objectivos

Há muitas maneiras de subir uma montanha. Pode ir-se devagar olhando as flores em volta, as formas das pedras em que nos projectamos vendo cabeças e cães, acompanhando a marcha dos que vão connosco, mostrando uns aos outros o caminho e as descobertas e ser esse o objectivo da caminhada comum ou, por outro lado, olhar para o contorno lá em cima e imaginar que quando lá chegarmos teremos atingido a visão suprema do mundo. Os que assim caminham seguem apressados, perdendo as emoções da paisagem ao passarem por ela, correm, deixam os companheiros progressivamente para trás até deixarem de os ver e chegam ao cimo em primeiro lugar e sozinhos conquistam o seu objectivo da descoberta imaginada. Quantas vezes se não instala nesse instante a decepção, porque afinal não era ali o topo do mundo e lá chegados apenas há mais um vale e um contorno de outra montanha mais além? Valeu a pena ter perdido a paisagem e ter saído do passeio colectivo? Instalada a frustração há quem reaja correndo, alienado, de novo pela próxima montanha acima para chegar ao mesmo resultado e continue mais e mais, em busca de uma ilusão. Sozinhos.
Afinal o Everest está só ao alcance de uma minoria muito escassa e, mesmo esses, quantas vezes regressam  sem se lembrar do que viram deixando a bandeira como prova sem nada terem provado além da provação da dor por que passaram.
Isto de trabalhar por objectivos tem que se lhe diga.

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