sábado, março 27, 2010
Verdades
Tantas verdades absolutas hoje, resolvidas nas mentiras de amanhã ou nas suas verdades contrárias. Ao fim de tantos anos, ainda não percebemos que as estratégias certas de agora poderão muito bem ser os objectivos duvidosos que se vão encontrar além. Por que razão tanta veemência na afirmação absolutamente convencida de ideias de duvidosa certeza? Só porque faz parte da forma eficiente da afirmação. Todo o curto-prazo é mau conselheiro e só na distância do tempo somos capaz de nos aproximar da verdade. Mas por estranho que pareça, anda-se num desassossego como se não houvesse mais amanhã, como se uma meia mentira hoje afirmada como verdade fosse mais anestésica do que qualquer reflexão menos imediata. Sem a análise do passado, é com dificuldade que vislumbraremos o futuro. Apetece duvidar da verdade para se chegar à certeza.
sexta-feira, março 26, 2010
Oração breve
Para nos não deixarmos ir na espuma dos dias desaparecendo nas tarefas inadiáveis de que beneficia nem se percebe muitas vezes quem, não deixemos para amanhã o que podemos viver hoje. Ámen.
quarta-feira, março 24, 2010
Maior idade
Estou a chegar a um estado de cansaço desta permanente luta com o mundo. (Pois, os anos não perdoam!!!) Não, que ele me tenha tratado mal, antes pelo contrário, mas a energia de mudar vai-se desvanecendo e cresce uma necessidade de aproveitar tranquilamente o que resta do tempo, que aos poucos se tem vindo a revelar cada vez mais finito. Na verdade, o mundo perfeito não é o único, nem sequer é. A sabedoria implica aprender a viver no que existe. Às vezes fica o silêncio como alternativa confortável. Já consigo sorrir e ir andando
segunda-feira, março 22, 2010
Reforma possível não é a desejável
No Publico:
A partir de 2014, o governo obrigará todos os adultos a ter um seguro de saúde, ou através das apólices de grupo oferecidas pelos empregadores (e que hoje são a forma privilegiada de acesso ao sistema para cerca de 85 por cento da população) ou um mercado individual.
As famílias que tenham rendimentos superiores ao limiar da pobreza, mas que mesmo assim não disponham de recursos para suportar os custos dos seguros, terão acesso a subsídios governamentais. E as pequenas e médias empresas que cobrirem os seus funcionários serão recompensadas com créditos fiscais.
A nova legislação estabelece ainda novas regras para a actividade das companhias de seguro – e os efeitos dessas provisões serão tangíveis mesmo antes da entrada em vigor da reforma, daqui a quatro anos. Por exemplo, as seguradoras não poderão mais unilateralmente cessar as apólices como forma de evitar pagamentos nem impor um tecto máximo para reembolsos de despesas. Também deixarão de poder recusar clientes com base no seu histórico de saúde, garantindo que pessoas que já sofreram acidentes, foram submetidas a cirurgias ou que se debatem com doenças crónicas sejam incluídas nas apólices.
A factura a pagar pelo governo federal ascende aos 940 mil milhões de dólares nos próximos dez anos, de acordo com a avaliação do independente Gabinete de Orçamento do Congresso. A reforma é sustentada financeiramente através de um misto de poupanças com cortes e reajustes em programas federais e da recolha de novas receitas fiscais. Simultaneamente, contribuirá para a diminuição do défice federal em 143 mil milhões de dólares até 2020.
Constitui um avanço, uma saída do estado de barbárie em que estavam os americanos nesta matéria. Mas que não sirva de argumento e exemplo por cá. Mais coisa menos coisa, é um programa de Saúde Negócio certamente apreciado por magistrais economistas dos que anseiam pela privatização de tudo o que dê lucro. Os Antónios Borges por cá não desgostariam de fazer assim a reforma do SNS.
Aliás, o Mercado até apreciou a medida de Obama. E isso é um sinal preocupante da bondade das medidas do «revolucionário» presidente.
A partir de 2014, o governo obrigará todos os adultos a ter um seguro de saúde, ou através das apólices de grupo oferecidas pelos empregadores (e que hoje são a forma privilegiada de acesso ao sistema para cerca de 85 por cento da população) ou um mercado individual.
As famílias que tenham rendimentos superiores ao limiar da pobreza, mas que mesmo assim não disponham de recursos para suportar os custos dos seguros, terão acesso a subsídios governamentais. E as pequenas e médias empresas que cobrirem os seus funcionários serão recompensadas com créditos fiscais.
A nova legislação estabelece ainda novas regras para a actividade das companhias de seguro – e os efeitos dessas provisões serão tangíveis mesmo antes da entrada em vigor da reforma, daqui a quatro anos. Por exemplo, as seguradoras não poderão mais unilateralmente cessar as apólices como forma de evitar pagamentos nem impor um tecto máximo para reembolsos de despesas. Também deixarão de poder recusar clientes com base no seu histórico de saúde, garantindo que pessoas que já sofreram acidentes, foram submetidas a cirurgias ou que se debatem com doenças crónicas sejam incluídas nas apólices.
A factura a pagar pelo governo federal ascende aos 940 mil milhões de dólares nos próximos dez anos, de acordo com a avaliação do independente Gabinete de Orçamento do Congresso. A reforma é sustentada financeiramente através de um misto de poupanças com cortes e reajustes em programas federais e da recolha de novas receitas fiscais. Simultaneamente, contribuirá para a diminuição do défice federal em 143 mil milhões de dólares até 2020.
Constitui um avanço, uma saída do estado de barbárie em que estavam os americanos nesta matéria. Mas que não sirva de argumento e exemplo por cá. Mais coisa menos coisa, é um programa de Saúde Negócio certamente apreciado por magistrais economistas dos que anseiam pela privatização de tudo o que dê lucro. Os Antónios Borges por cá não desgostariam de fazer assim a reforma do SNS.
Aliás, o Mercado até apreciou a medida de Obama. E isso é um sinal preocupante da bondade das medidas do «revolucionário» presidente.
sábado, março 20, 2010
terça-feira, março 16, 2010
Memórias recentes
Há instantes em que o silêncio nos ocupa o tempo todo. Fica a voz sufocada, suprimida pela imensidão do que acontece. Esgoto o tempo nas ideias e fico sem tempo para as descrever. É um overflow paralisante. A inacção decorre da intensidade da vida e sem querer percebi que já passou mais de um mês. Na esmagadora força do tsunami vou boiando sem tentar sequer segurar os postes, gozando a velocidade da corrente. Nada fica registado fora da memória da intensidade dos dias.
Por estes dias passados aconteceram terramotos, guerras, consumiu-se o tempo na avidez da busca dos corruptos (que são sempre os outros), optou-se por gastar no que o poder decide, retirando aos mesmos de sempre o pouco que lhes resta, a crise continua como desde há centenas de anos instalada e para ficar a tramar quem pouco pode. Um dia virá uma Bastilha, um qualquer Abril, um palácio Imperial cairá e logo a seguir se reerguerá porque a natureza (humana?) é assim mesmo. De tão igual que importância tem? Estranha esta nossa fixação no pouco relevante, que passa ao lado das nossas vidas.
De registo três eventos deste tempo:
A perda do amigo que surgiu de repente caído do acaso no nosso conhecimento e se revelou imenso na generosidade, na tranquilidade inquieta de estar e na sabedoria que tinha para mostrar a terra que adoptou, a sua forma de olhar o mar, provar a comida do mundo e beber o bom vinho que a terra nos dá. So many wines, so little time, sábia mensagem na t-shirt de Margaret Valley, miseravelmente menos do que o tempo que merecíamos. São instantes destes que me fazem compreender o conceito de persistência e a ideia meio estúpida da imortalidade. Quando há amigos, ficamos mesmo quando não estamos.
Neste tempo também houve o grande conflito interno de decidir entre o que fazer perante o direito de viver por conta a partir dos 55 e o dever de manter actividade útil a quem dela pode usufruir por vivermos num país de civilização onde a saúde é gratuita. Prevaleceu a afirmação a minha história na recusa de servir o negócio da saúde. É uma decisão meio quixotesca, economicamente pouco justificável, que não resiste à mais elementar análise custo-benefício material. Mas a vida vai além da matéria e depois da decisão isso ficou bem claro para mim. Pode ter sido uma escolha errada, mas até agora, foram as escolhas sempre certas. Por isso, tenho, ainda assim, o direito de me enganar alguma vez.
Finalmente, foi também tempo de saborear o charme, de materializar a poesia. Um dia assim pode ser quase perfeito. Foi a escolha deles, que já voaram bastante e prometem desta forma manter-se na busca de novos rumos e destinos. As viagens são sempre novas descobertas, gostosas surpresas sem fim, por vezes também turbulências, que com o treino e a vontade se vencem acabando por enriquecer as experiências. Em cada viagem nos acrescentamos um pouco mais, fica-se mais grande. É esse o rumo.
E se ainda me não reformei das viagens, tenho a boa sensação do gozo que é ver voar quem o faz bem. Como, quando miúdo, íamos para o terraço do aeroporto ver descolagens e aterragens.
Por estes dias passados aconteceram terramotos, guerras, consumiu-se o tempo na avidez da busca dos corruptos (que são sempre os outros), optou-se por gastar no que o poder decide, retirando aos mesmos de sempre o pouco que lhes resta, a crise continua como desde há centenas de anos instalada e para ficar a tramar quem pouco pode. Um dia virá uma Bastilha, um qualquer Abril, um palácio Imperial cairá e logo a seguir se reerguerá porque a natureza (humana?) é assim mesmo. De tão igual que importância tem? Estranha esta nossa fixação no pouco relevante, que passa ao lado das nossas vidas.
De registo três eventos deste tempo:
A perda do amigo que surgiu de repente caído do acaso no nosso conhecimento e se revelou imenso na generosidade, na tranquilidade inquieta de estar e na sabedoria que tinha para mostrar a terra que adoptou, a sua forma de olhar o mar, provar a comida do mundo e beber o bom vinho que a terra nos dá. So many wines, so little time, sábia mensagem na t-shirt de Margaret Valley, miseravelmente menos do que o tempo que merecíamos. São instantes destes que me fazem compreender o conceito de persistência e a ideia meio estúpida da imortalidade. Quando há amigos, ficamos mesmo quando não estamos.
Neste tempo também houve o grande conflito interno de decidir entre o que fazer perante o direito de viver por conta a partir dos 55 e o dever de manter actividade útil a quem dela pode usufruir por vivermos num país de civilização onde a saúde é gratuita. Prevaleceu a afirmação a minha história na recusa de servir o negócio da saúde. É uma decisão meio quixotesca, economicamente pouco justificável, que não resiste à mais elementar análise custo-benefício material. Mas a vida vai além da matéria e depois da decisão isso ficou bem claro para mim. Pode ter sido uma escolha errada, mas até agora, foram as escolhas sempre certas. Por isso, tenho, ainda assim, o direito de me enganar alguma vez.
Finalmente, foi também tempo de saborear o charme, de materializar a poesia. Um dia assim pode ser quase perfeito. Foi a escolha deles, que já voaram bastante e prometem desta forma manter-se na busca de novos rumos e destinos. As viagens são sempre novas descobertas, gostosas surpresas sem fim, por vezes também turbulências, que com o treino e a vontade se vencem acabando por enriquecer as experiências. Em cada viagem nos acrescentamos um pouco mais, fica-se mais grande. É esse o rumo.
E se ainda me não reformei das viagens, tenho a boa sensação do gozo que é ver voar quem o faz bem. Como, quando miúdo, íamos para o terraço do aeroporto ver descolagens e aterragens.
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