sábado, fevereiro 13, 2010

Corrida ao Sol no país dos cuscos

Há ocasiões em que o silêncio me incomoda, sobretudo porque nele o estrondo da cobardia está presente. Que Manuelas funcionárias públicas aplicadas, a quem noutros tempos nunca lhes acudiria à mente a revolta contra o sufoco da opinião, por aí andem a pregar asfixia até percebo. Que Silvas paranoicos de escutas se tranquilizem quando são outros, REALMENTE, os escutados, não se aceita, mas também se entende. Efectivamente, o que custa é não ver ninguém dizer que a cusquice é abjecta e ver a parolagem deliciada com toda esta pouca vergonha. É a populaça formada pelo big brother sempre sequiosa por novos Zés Marias que lhes encham a alma oca.
Proclama-se por aí que a liberdade de expressão está em causa. É bem revelador da ignorância do que isso é. É triste que à boleia dos vendedores de papel e de spots de intervalo de jornal televisivo se pendure tanta mediocridade em votos de ascensão. Numa rábula triste em véspera de lançar livro diz-se que alguém disse que ouviu dizer e logo a coisa rola como grande escândalo. Era uma boca aparentemente séria que, de um momento para o outro, ficou semelhante a uma grande boca (ainda para mais ampliada pelo silicone). Numa clara estratégia de venda de papel, brilha o Sol, com as notícias bombásticas da coscuvilhice. Mentindo sobre a falta de liberdade, faz edições duplas, factura bem. Objectivo cumprido: aumento de vendas, mas nada mais além disso. Preço? Ausência de ética.
OK, o Chefe estava farto da continuada sacanice e manobrou para calar os sacanas. É próprio de quem é Chefe e não dono da sacanagem. Certamente que não haverá mais liberdade de Imprensa em Itália onde se chega a Chefe, começando por chefiar a sacanagem. Na vida tudo tem um custo e se quisermos ter informação objectiva e independente teremos de começar por abrir os cordões à bolsa e comprá-la ao custo que ela tem, isto é, jornais e televisões sem publicidade, custeados por nós. De outra forma teremos imprensa manipulada pelo poder económico de grupos (curiosa a forma ternurenta como o Expresso divulga o Sol destes dias)necessariamente ligados ao capital ou ao Estado. Entre uma e outra hipótese ainda me inclino para o mal menor, aquele onde, remotamente, ainda posso intervir.

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