terça-feira, outubro 30, 2007

Outpatient

Uma consulta é um encontro de emoções. Logo a abrir, a afirmação de uma que não foi ouvida no inquérito de ontem: ''isto está a parecer-se cada vez mais com um hospital!''. São estas que nos fazem ganhar os dias.
Depois, a penúltima doente, com a tristeza dos olhos que transpiram por uma gata ascítica terminada ontem para não mais sofrer. ''Era um cancro que a tomou toda'' Coitadinha! Apenas o consolo da morte piedosa. ''O seu colega (!) anestesiou-a, antes de lhe pôr fim e parecia que tinha um sorriso por baixo dos bigodes''. Hoje não queria que lhe dissesse nada sobre dietas, apenas uma espécie de colinho.
Uma consulta é muito maior que os números, vai muito além dos tempos de espera, da entrada e saída dos doentes no consultório.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Que fazer, privatizar o Governo?

Privado melhor que o público? Anda por aí esta questão recorrente. Numa semana comparam-se os colégios dos meninos família com as escolas da populaça e conclui-se que a nata é da Opus Dei. Sugestão, enviem-se os miúdos da Curraleira para o Planalto e a coisa resolve-se. Alternativa, destrua-se a Curraleira, que estão a perturbar os resultados.
Hoje ficamos a saber que perguntaram a 300 eleitos o que achavam dos serviços públicos e privados e a resposta, uma vez mais, foi clara: Privado melhor do que o público! (Embora haja algumas melhorias!!) Claro, o Governo encomandante do inquérito tem feito já alguma coisita. Fica-me a dúvida sobre se o Governo é público ou privado. Tivesse eu possibilidade de encomendar um estudo à Universidade Católica e logo veríamos.

domingo, outubro 28, 2007

O silvo metálico da vingança

Sweeny Todd é uma história amoral, dizem. É curioso como a amoralidade é sempre atribuída a quem reage contra a prepotência e nunca contra quem domina prepotentemente. Isso é a norma que muitas vezes está bem longe da ética. A vingança metafórica de comer as bestas é, afinal, merecida. Possivelmente, indigesta.
Um bom bocado de teatro, só estragado pela deficiência de alguns intérpretes. A certa altura, ansiei que tivesse legendas tal era o grau de incompreensão do texto (cantado?).

quinta-feira, outubro 11, 2007

Pôr do sol

Pôs-se o sol era quase meio-dia. Sem a beleza quente dos dias anteriores, mas com toda a calma serena do mundo num só instante inadiável e definitivo. Alguns dizem que renasce.

quarta-feira, outubro 10, 2007

A árvore

Seca, mirrada, continua de pé na beira do caminho. Olhei para ela com fome de esperança apesar de serem quase 11 da noite. Sempre nos agarramos a imagens quando o que resta já é pouco. A sua aridez ainda foi um bafo de esperança naquele momento, numa tentativa de ligar o que não está, realmente, relacionado.

terça-feira, outubro 09, 2007

A recta e o círculo


O pôr do sol é belo, porque estamos certos que amanhã nascerá de novo. Não fosse a certeza, que pensaríamos do mergulho final no horizonte?
Nos ciclos, renascemos e descobrimos a vida eterna. Ou não.

segunda-feira, outubro 08, 2007

O défice de Sócrates

A vida pública tem destas coisas. Ouvem-se protestos. Classificar os protestos de insultos deve ser obra de terceiros. Quando um Primeiro Ministro, se acha insultado, deve recorrer aos tribunais e esperar serenamente o julgamento de quem o ofende. Agir de outra forma, é falta de cultura democrática.

domingo, outubro 07, 2007

Quase no céu


1. A sensação das férias andava longínqua. De repente cheguei ao fim do Domingo e percebi que amanhã não vou trabalhar. Até já o tinha sentido todo o fim-de-semana, o tempo mais comprido. Sabe bem. Consegue até ouvir-se com mais tranquilidade que um nortista, básico tenha ganho ao aparelho do PSD para grande escândalo da primeira página do Expresso, que melhor não teve que referir que há no PSD quem não concorde com as directas, fazendo desaparecer da primeira página qualquer referência ao dito cujo. Mais um impressionante exercício de isenção jornalística.
2. Dias depois fico a saber que os atletas de alta competição deixam de pagar impostos. É o prémio para a função anestésica que induzem. Cientistas emigrados e Saramagos desterrados, procurem outras Espanhas para pagarem vossos impostos!
3. Scolari sem vergonha foi pedir redução da pena. Conseguiu! Estes tipos estão muito pouco seguros da honestidade das mãezinhas e, depois, quando alguém lhes fala delas, perdem-se da cabeça e são perdoados. Confesso que se alguma vez a minha fosse posta em causa, mais não passaria pela minha cabeça do que lamentar a má informação do palrador.
4. Mas eu sou de poucos medos e de menos dramas. O mundo tem e dá-me sentido. Sobretudo compreendo a migalha que nele sou e isso dá uma grande satisfação pela bondade que tem tido para comigo. Os grandes acontecimentos são, quase sempre, bem pequenos e coisas naturais. Uns para nos fazerem sorrir, outros para nos lembrarem que somos finitos e que daqui a 100 anos possivelmente já nem existiremos nas memórias.
5. Gozar este Verão encomendado em Outubro andando por aí entre sabores e paisagens. Relembrar a concha de São Martinho, observada de Salir. Trincar um palmilho a ver passar as tias no calçadão. Subir ao Sítio para ver o areal despojado de vacas que não puxam barcos no areal da Nazaré. Descer (pela primeira vez!) à vila, junto à praia a ver o peixe a secar guardado por mulheres, quase de uniforme como nas fotografias de outro tempo. Ficar no Camões a reincidir no Expresso, bebericando água do Luso, olhando o molhe com pescadores na espera calma dos peixes. Nunca chegam? E que importa isso, se o momento foi gozado?
6. E ainda ter tempo para perceber que me encanta mais a imagem das gaivotas a saltar da arriba e a fazerem-se ao mar, fortes ainda que inseguras sobre a rocha onde pousarão, do que a outra do ninho onde, numa chilreação angustiada, esperavam pela comida que lhe vomitavam os pais. Celebro, neste tempo, a liberdade do voo!