Afinal, 81 anos depois e à medida que conseguiu eliminar os tóxicos, ao fim da tarde, lá voltou abrir timidamente o olho, naquela atitude de olho que não olha, só procura. Como 81 anos antes, possivelmente. Embora sem a esperança de então. E, durante a noite, resmungou e revoltou-se, arrancou a sonda nasogástrica, disponibilizando-se para engolir.
Se pensarmos bem, é em casos como este, que o risco de errar é, ainda assim, mais pequeno. Este caso de «sucesso» é bem a demonstração de que os exames curam bem menos que o bom senso. Num doente previamente já agitado, não é muito necessário procurar as causas que já eram conhecidas, em busca de uma probabilidade reduzida de surpresa, tanto mais que essa procura não é inócua e, aliás, se existisse, teria algum efeito prático na história natural da decisão? Trata-se de um frenesim de busca de prova que fará mais sentido noutras artes, seguramente a evitar nesta que é muito especial, imprópria para cientistas curiosos e pesquisadores do exótico. A vida, é uma coisa simples se a não complicarmos, o problema é que na ânsia idiota de ser diferente, somos educados para a excepção, para a raridade e aos poucos vamos esquecendo a média de que somos feitos. Depois, todos sabemos que no meio é que está a virtude, não é?
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