sexta-feira, abril 14, 2006
Elogio do simples
Parece haver um novo-riquismo pró-complexo, um inaceitar do simples. Simples é pobre, dispensável como agora se diz. Ao mesmo tempo há um elogio permanente do natural, fartos que estamos da sofisticação complexa que criámos. Mas natural também deixou de ser o que a natureza nos dá, não mais umas couves ou batatas o são. Natural agora são algas e coisas que tais, que a ninguém lembraria comer, naturalmente. Foi assim natural que tivesse que percorrer algumas dezenas de metros de prateleiras de iogurtes, mais ou menos complexos, na loja do senhor Belmiro antes de encontrar o iogurte simples que procurava. E é claro que, há muito, o marketing tinha substituído o simples pelo natural. Mas natural é o que é produzido pela natureza sem a intervenção do homem e, neste caso, parece-me deveras improvável que, espontaneamente, sem a intervenção do grande manipulador, o Lactobacilus bulgaricus tivesse causado a fermentação do leite dando origem aos produtos coagulados, alinhadinhos ao longo de todas aquelas estantes, cuidadosamente dispostos com os prazos de validade mais longos colocados em posições menos acessíveis e os mais caros ao nível onde mais fácil as mãos chegam. Por isso, com o devido respeito aos senhores do marketing, o coagulado é muito mais simples que natural.
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