A CAMA
Anda por cá há mais de 50 ou 60 anos. Resiste. Não é como algumas camas de bonecas que por aí há perfeitinhas made in China sob desenho de uma multinacional americana das prendinhas. Muito seguras, mas banalizadas, abandonadas por quem as recebe nos dias seguintes, porque depois delas logo virão outras e não há tempo para desfrutar tanta abundância na vertigem do consumo. As camas de agora são só mais uma.
Esta é única. Foi feita para a sobrinha, ferro a ferro, cortados por medida, soldados uns aos outros em esquadrias perfeitas, com colunas terminadas em perigosíssimos e aguçados cones, com um M na cabeceira. Foi concebida pelo artista para uma destinatária específica. Sobreviveram a cama, a dona e as memórias dela, a M. Mas sobretudo sobreviveu a ternura com que foi feita e usada. Foi um objeto de brincar, que continua a ser memória, quase uma relíquia.
É uma frase de velho, mas já houve tempos mais reais do que os de hoje.
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