Ia animada a conversa sobre roubos de telemóveis sempre a aumentar devido à vinda dos imigrantes, claro. «Já passou no Martim Moniz? Qualquer dia nem a polícia lá entra.» O Sr. Manuel dono da mercearia onde vou fazer pequenas compras no comércio local, parece que vai ter de substituir o sapo que tem à porta por outro bicho mais abrangente, porque agora a culpa dos males do mundo já não é só dos ciganos. Abandonei a superioridade moral e o desprezo que às vezes se tem perante a cultura dos leitores do Correio da Manhã e fui à luta manifestando a minha gratidão aos novos ‘’invasores’’ por me assegurarem a reforma que recebo todos os meses e também a não contração da população do país e a sua contribuição para a atenuação da inversão da pirâmide etária. Ao menos quebrou aquele sentimento de impunidade que começa a reinar na afirmação do disparate xenófobo. Calaram-se com algum ar de espanto, pagaram e saíram da loja. Ao Sr. Manuel ainda disse, que mais grave que o roubo dos telemóveis (serão mesmo os imigrantes que os fazem?) são os roubos legais que os bancos nos fazem. Concordou comigo e sorrimos com alguma cumplicidade, desejando um ao outro um bom fim de semana. No comércio local há estes tempos de diálogo.
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