Segundo Artur Morais Vaz entre 1900 e 2000, houve uma redução de horas de trabalho anual de mais de 3000 para 1500. Os dados para estes cálculos estão no quadro:
Esta melhoria de qualidade de vida dos trabalhadores terá sido devida, penso eu, em grande parte à forma como se organizaram colectivamente ao longo deste período. Com a desagregação do sentimento do colectivo, com a criação de modelos de individualismo desenfreado, parece-me que, cada vez mais, as 40 horas de trabalho semanal vão sendo um valor apenas teórico (largamente excedido no trabalho que se leva para casa dentro do PC), que os 5 dias de trabalho, são cada vez mais 7 dias (reuniões de trabalho em fins-de-semana, acabar relatórios nos dias ditos livres, por exemplo) e nem sei se as férias também não estarão a ser devoradas pelos «trabalhos pendentes» que não foi possível acabar no tempo normal de trabalho. Quantas horas se trabalha hoje, anualmente? E demos de borla, as que se gastam a caminho e na volta do trabalho. Cuidado, que um século de vitórias, pode perder-se em apenas alguns anos de distração individualista!
Por momentos, sinto que regressámos aos tempos da Revolução Industrial. Como então, certamente, irão aparecer movimentos de reacção, que irão obrigar ao renascimento dos direitos e ao fim da imposição das leis de Mercado, que ignoram a desproporção e desigualdade de negociação entre empregador e trabalhador. Não há liberdade de negociação fora da negociação colectiva dos direitos! Os contratos individuais de trabalho são uma miragem de avanço para o bem-estar.
E isto acontece numa altura em que um dos principais meios de produção passou a ser o conhecimento, isto é, saiu do dono da empresa e passou para o trabalhador. Só que isso acontece apenas para uma minoria que teve acesso à formação e ao conhecimento. E suspeito, que movimentos de ideias que pugnam pela limpeza quase étnica das nossas escolas, excluindo os chamados mal comportados, mais não vise, ainda que de forma inconsciente, que marginalizar os mesmos de sempre para benefício de uns quantos.
Vive-se um tempo complexo, onde apesar de tudo, a vida isolado, desagregado dos outros, continuará a não ter sentido. Há, pois, que ser prudente com entusiasmos aparentemente óbvios e procurar sempre perceber o que está por trás das primeiras páginas dos jornais. Nunca deixar de lado a ideia, que mais importante que saber se há vida para além da morte, será ter a certeza que ela existe aquém da morte. Garanti-lo deve ser o programa de quem se quer vivo.
1 comentário:
gostei! vamos passar à acção. viva a revolução!!!!!
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