De barriga cheia, mas sabendo que há futuro e apesar de, no passado, não ter cultura de ficar com fome, ei-lo que cobre o prato com o tapete do chão. Quanto mais cobre mais o arrasta, tornando barulhenta esta sua manobra meio clandestina. Mas continua apressado, temeroso e determinado, quase com ganas de morder quem se aproxime. Por que o faz? Provavelmente, pela incerteza do prazer garantido, nessa coisa meio obscura que é o futuro, o tal que pertence a Deus, um companheiro em que, afinal, se assim se procede pouco se acredita. Quantos dos comportamentos dos homens não são também determinados apenas por vagos receios? Outros sê-lo-ão pela rotina de os ter, pela falta de imaginação de fazer diferente ou mesmo pela falta de rotina de pensar por que se faz, mas ancestralmente serão muitas vezes os medos que geram a acção.
Na adivinhação do futuro se tem investido perscrutando o presente e o passado, usando a metodologia da ciência ou mesmo, quando dela alheados, através pelo recurso à adivinhação por outros métodos ou às mesmo só pela fé. A ciência, o conhecimento das leis que nos regem tem, ao longo dos tempos, gerado respostas para alguns dos medos, tem acabado com alguns deles, mas também não tem deixado de criar novas dúvidas, para a geração de novos medos. É difícil, pois saber qual o balanço, mas, possivelmente, será impossível fazer de outra forma.
Algumas vezes acontece criar-se uma ferramenta que simplifica a existência, como os computadores. Só que logo a seguir, a descoberta é desvirtuada pelos receios de quem manda (ou pela sua incapacidade de imaginar diferente) e aquilo que deveria simplificar, acaba complicando. Estas máquinas que nos poderiam libertar o tempo para actividades de lazer, acabam por nos encher o pouco tempo que disso tínhamos, por nos aumentarem ritmos de trabalho e porque, quem manda, tira em seu proveito o efeito libertador que em si encerravam. Na ânsia de criar mais vantagem, substituem os homens pelas máquinas, criando legiões crescentes de desempregados, melhorando a sua Economia, dispensando custos com recursos humanos (chateia-me esta expressão de recursos humanos. Gostava muito mais de serviço de pessoal. Esta considerava-nos pessoas, a outra coisas a que se pode recorrer. Acho que devíamos reinstituir os serviços de pessoal e recusar-nos a ser recursos humanos, dispensáveis a todo o instante.), gerando sempre mais lucro para si ou para um grupo cada vez mais restrito. E a descoberta que nos libertava, acaba, por fim, por nos oprimir. E tudo isto porque têm mais afectividade por um computador do que por uma pessoa. O primeiro reduz os custos de produção, a segunda aumenta-os. Só que se não percebe, exactamente, para que serve a redução dos custos se as pessoas ficam de fora. É aquilo que o cão faz ao tapar a comida só pelo hábito ou pelo medo do que vai vir, sem nenhuma evidência da necessidade do acto, só pela rotina de o fazer, sem a capacidade de reflectir na coisa. Atitude certamente justificável num cão, mas não seremos diferentes? Alguns, pelos vistos, não!
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