Nesta ciência exacta em que me movo, numa manhã li três textos com opções terapêuticas diversas para a mesma situação. Como o assunto era de outra especialidade, consultámos dois colegas avalizados. Foram mais dois resultados diversos, afirmados com toda a convicção. Só que até eram antagónicos. Num dos casos a afirmação era mesmo de fatalidade possível com uma das alternativas e a proposta era qualquer coisa que pode fazer desaparecer os leucócitos. Qualquer das opções na ordem dos 100 euros o mês de tratamento. Como o doente era especial, acabei por optar pelo velhinho haloperidol a pouco mais de 2 euros. Dez gotas e parece ter bastado... até a próxima complicação ou insucesso terapêutico. Será o sucesso tão diferente com as alternativas da moda?
Num tempo de medicina baseada na evidência (aquela que muitas vezes a indústria cria ao sabor das cotações) não deixa de ser curioso ver toda a eficácia da arte de que esta actividade tanto é feita. Sem dúvida que, entre les deux, o meu coração balança.
Ainda deu este episódio, para andar a ler as portarias (543/2001 de 30 de Maio) de comparticipação do Estado nos preços e a polémica que foi a determinação de ter de se escrever o nome da doença nas receitas e da tentativa de restrição de prescrição, para se obter a comparticipação, a certos especialistas. Em nome da ética, disse-se que não podia ser, a primeira violava o segredo profissional, a segunda discriminava os médicos e dava-lhes diferentes competências. É claro que o sigilo quebrado com a menção da doença é uma opção do doente, que poderá sempre optar pelo pagamento integral e que os médicos não são de forma alguma igualmente competentes para prescreverem tudo e mais alguma coisa. Pode até dizer-se que a decisão de autorizar a escrever o diagnóstico é discriminatória para os doentes, tramando os mais pobres, obrigando-os a deixar que a menção seja feita e favorecendo os que podem pagar os medicamentos. Claro, que esta deve ser a única desigualdade que existe em todas estas e outras muitas coisas... Pois os princípios éticos são muitas vezes o favorecimento da ética do vendedor e facilitar as prescrições é, seguramente, o melhor meio de aumentar as vendas e lucros, afinal, pouco éticos a quem basta soprar a cultura, deixando a outros a sujeira nas mãos. Como se constata, afinal, dá jeito ter um Estado gastador, embora se continue a exigir-lhe que baixe os impostos, não se percebendo muito bem como o fazendo poderá garantir os pagamentos.
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