Mostrar mensagens com a etiqueta público. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta público. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, maio 29, 2008

Ouvindo por aí (como diria o outro)

Retirando a eventual, embora pouco provável, tragicomédia de uma reeleição de Santana Lopes, o debate dos candidatos à liderança do PSD tem sido curioso, mostrando, no campo da Saúde, algum esclarecimento adicional em termos das opções do liberalismo nesta área. Resumidamente, sai da cartola (não um coelho, mas de um Coelho) a ideia de que o Estado deve reduzir a oferta de serviços, deixando-se substituir pelos privados, que segundo a ilusão do gestor, fornecem o mesmo serviço a mais baixo custo.
Experiências pontuais que detecto em doentes meus observados em hospitais da moda, fazem-me duvidar dessa ideia. A imperiosa necessidade de facturar leva a um exorbitante consumo de meios auxiliares de diagnóstico para situações relativamente simples. Com isso, além do aumento de receitas, consegue-se junto do consumidor ignorante ( e não pagador) uma aceitação maior do serviço, porque lhe pedem muitos exames, dando a falsa sensação de melhoria de prestação de cuidados. Contribui-se para a divulgação de uma falsa qualidade da Medicina praticada, sofisticando o que é simples, gerando ansiedades decorrentes de exames com resultados potencialmente falsos-positivos. Ou seja dá-se a ideia de melhor serviço à custa de uma pior prática. Na verdade, não se custeiam os serviços pelo case-mix da situação, apontando-se somente para o pagamento por acto, o que pode rapidamente tornar-se catastrófico para entidades pagadoras como a ADSE. E se no que aos exames auxiliares diz respeito a coisa se pode colocar só em termos de custos económicos, relativamente às terapêuticas, nomeadamente as cirúrgicas, tudo pode vir a ter custos bem maiores. Deixar a regulação para a Ética da profissão será claramente suicida.
No campo da Saúde tem de haver um grande esforço de melhoria da gestão dos Serviços Públicos, tornando-os altamente eficientes, mas não procurando substituí-los por alegadas panaceias do Privado ou do Mercado. O Mercado poderá funcionar quando existe alguém que vende alguma coisa a alguém que compra e o preço do bem é determinado pelos dois e pela concorrência. Na Saúde quem vende está numa posição de vantagem sobre quem compra, porque domina o conhecimento sobre a situação em causa. É ele quem define o que é preciso fazer! Embora bastasse isso para inviabilizar a transação mercantil, acresce que quem compra (o doente) não é exactamente um comprador, porque não é ele directamente quem paga, mas uma terceira entidade. No Público, o prescritor, pela sua independência de relação com o pagador real (maioritariamente o Estado), tem uma liberdade de pedagogia sobre o consumidor, contrariando o desejo consumista, que pode induzir poupança de recursos. No Privado, o prescritor, dependendo directamente das vendas, perde essa liberdade e pode facilmente ser um agente de estímulo do consumo.
Venha uma sã concorrência público-privado na Saúde, mas sem truques e com boa regulação. Depois, que vença quem for mais eficiente. Só, assim, ganhará quem importa que vença: o doente.

domingo, abril 06, 2008

Outsourcing

Entregar ao Privado a gestão do Público é uma estratégia de outsourcing. Ora, como é sabido, o outsourcing, apesar de tornar possível a concentração no core business, faz perder o controlo e a coordenação de pessoas e recursos. Por isso, mandam os manuais que, por uma questão de escala, quando as transações são mais altas, a organização deve optar por fazer por si e crescer.
As altíssimas transações neste sector impõem o dever aqueles que gerem os dinheiros públicos, de controlarem e serem eficientes. Esta é uam área onde o outsourcing nos prejudica a todos, sempre para o benefício de uns poucos.

terça-feira, março 25, 2008

Quem brinca com o fogo...

«Quem quer enriquecer não vai para médico». Pedro Nunes, bastonário, dixit.
Quero acreditar na boa-vontade do senhor Bastonário. Parece-me cordato, bem intencionado e tem uma conduta ética, sendo até docente na matéria. No entanto, ao fazer uma afirmação destas, na melhor das possibilidades, é ingénuo.
É preciso decidirmo-nos sobre esta questão do bendito Mercado. Aqui a margem é estreita, ou se apoia ou se renega. Quem quiser ficar com um pé de cada lado, o mais certo é que perca o pé ou mesmo os pés. O problema é saber se a Saúde é nicho de negócio ou um bem diferente, que não é susceptível de ser negócio.
Dito de uma forma mais cruel, decidir se o propalado princípio utilizador-pagador, funciona em Saúde, ou seja se os custos de estar doente devem ser suportados pelo doente ou pelos saudáveis.
Depois nos entenderemos sobre a melhor forma de articular os serviços. Não peçam é que o Estado fique com os ossos para roer, enquanto a Banca negociante em Saúde se prepara para comer a carne. É fundamental separar as águas, que os médicos se decidam por trabalhar no público ou no privado, sem acumulações. Que os doentes decidam tratar-se no público ou no privado, sem acumulações. Toda a promiscuidade existente só levará a complicações insanáveis.
Segurança na Saúde é muito mais que ter um serviço de urgência ao lado de casa, é saber que se pode estar doente e deixar o cartão de crédito em casa.

terça-feira, março 18, 2008

A Luz

Cem milhões de euros investidos e recuperados em 7 anos, é um bom negócio. É a dimensão do bom negócio que a Saúde pode ser. O problema é saber-se como é possível desperdiçar, entregando a privados, tão bons negócios para uns poucos engrandecerem. No mínimo parece-me má gestão dos dinheiros públicos. Porque a questão que se coloca na abertura da saúde aos privados é que não se tem por objectivo a concorrência, certamente interessante, entre público e privado. O negócio resulta porque se segmenta o mercado, se escolhem nichos rentáveis para se explorar. Ora neste contexto, o problema que se levanta é saber-se até que ponto oferecer o miolo do pão aos outros, não nos vai partir os dentes quando ficarmos só com as côdeas para comer. Será lícito desperdiçar receita e ficar apenas com a despesa? Que a Luz os alumie e não encandeie!