Já passou mais de um mês desde a última vez que cá vim. Porquê? Porque tudo isto é um tédio de relvas mal cortadas, daninhas como o escalracho. Proliferam por mais que a enxada sobre ele desça e nem com forquilhas de dentes fortes e curvos é possível limpar a terra. Resta uma última opção, a guerra química, a liquidação total deste estado de coisas e recomeçar de novo em terra nova. Claramente, velho de mais para a migração, ando entre as gotas de água que não chove, recriando ilusórios ambientes de fertilidade que não existem nesta seca continuada dos dias.
Neste intervalo passei por Florença, uma senhora sempre digna, usada e velha, mas onde sempre se encontra nobreza. Lá houve tempos daquilo que vai ficar depois do tempo, o único bem sobrevivente, a arte. Não os donos da arte, que esses perecem por mais que afixem os nomes junto das oferendas, pois ninguém visitaria um museu para lhes ler os nomes, vamos lá para ver o que possuíram e reavermos aquilo que em dias nos usurparam, a arte.
E lá soube de uma festa que houve em França. Esta gente sempre acredita na mudança até que a mudança tem de novo que ser mudada, porque os tempos mudam e os que mudaram, sempre voltam ao modo antigo, igual e chato. Durante uns tempos, há uma esperança, porque essa é a última a morrer, mas depois a realidade é como o azeite e ascende triunfante.
Bom ver, que regressado, apesar da seca, as oliveiras não morreram todas. Até projetos de azeitonas já mostram para meu convencimento do sonho que nos leva. A realidade da economiazinha é desprezível junto ao sonho. É claro que as azeitonas compradas numa das casas dos merceeiros nacionais serão sempre mais baratas que estas hão-se ser, mas isso nada quer dizer. Estas têm momentos de vida, de plantação, rega, adubação, história, trabalho. Nem um momento de irrealidade, especulação. Ali tudo existe. Nada é religião de Angelas Doroteias ou de vítores com nome de magos.
Cada vez mais, só isso me compensa num desejo de retiro.
1 comentário:
a realidade, o azeite e os cardos... Não há nada a fazer: nós passamos e eles ficam e refazem tudo como era antes da nossa passagem.
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