quinta-feira, setembro 15, 2011
Tempos de Paris
A rotina programada é um tédio e os desencontros e as surpresas que causam são, às vezes, oportunidades felizes. Foi o que aconteceu hoje quando não havendo a sessão de Pina (Win Wenders) e, graças à eficácia de uma funcionária da UCI, acabámos por ver Meia noite em Paris. Woody Allen tem aquela particularidade de me já ter feito sair zangado do cinema por ter a sensação de apenas ter ido contribuir para pagar a conta dos seus psico qualquercoisa. Desta vez não foi assim. Este é um dos melhores filmes que vi dele. Uma história simples e mágica em que o tema pode ser a insatisfação com o tempo em que se está, mas que talvez vá para além disso. Do tempo fútil de hoje, parte o personagem à procura de outro tempo de encontros mais consistentes que lhe permitem ver que, afinal, poderemos estar sempre descontentes com o nosso tempo e tentarmos transpor-nos para outros tempos sem nos encontrarmos nunca num tempo desejado. O que nos conduz ao tempo desejado são os encontros com as nossas afinidades nos outros e, virtualmente, nos podermos encontrar e às nossas continuidades. O resto é ter a sorte de encontrar, no mesmo tempo, alguém para se caminhar ao lado numa noite de chuva em Paris. A história vem de longe e não termina, porque a criação e o génio são tudo o que persiste. Tudo o resto é a inutilidade do poder do dinheiro e do consumo, o medo do roubo e do comunismo. A angústia que acabará por apertar um dia as coronárias. A Arte será o tudo o que se ergue e fica para além de todos os tempos.
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