Há quem ande por aí a passar entre as gotas da chuva,´pé ante pé, numa esperança absurda de não se molhar. Não vão conseguir. A meio do caminho estarão prontos a ser torcidos. São uma turba de silenciosos, com pés de lã, que andam tentando parecer estar parados. São subservientes para cima e frequentemente castigadores para baixo. São a falta de carácter, os desvertebrados, os sim-senhores. São os sempre abstinentes nas eleições, os que se queixam deles (dos outros, claro), os tais que tudo podem. São os furiosos da iniciativa privada, das liberdades de oportunidades, os que detestam os impostos. São os que riscaram da boca a solidariedade. São cobardes. A cobardia, é, nestes dias, um dos traços preocupantes destes tempos nesta terra. Não dizem o que pensam, na miragem das migalhas que lhes hão-de atirar. O pior é já nem sentirem a falta de dizer, destreinados que ficaram de pensar, atrofiaram-se-lhes as células neuronais. Vegetam, convencidos que isso é a vida. Por isso, tudo lhes corre bem.
Ter medo é coisa de gente de coragem. Por isso, o poeta, estará provavelmente enganado quando se levanta preocupado com o medo. Esse medo é hoje sentimento de uns poucos, que ainda acreditam na coisa colectiva, por não entenderem o triunfito pessoal. Deixou de ser sentir conjunto na terra de futuro precário, onde tudo estará bem, se a safa pessoal for possível. O pequenino triunfo pessoal à custa do que for preciso. O cumprir ilusório da imagem das celebridades. A ilusão de que pode sobrar algum lugar. Esta descaracterização (falta de carácter) da gente é bem mais preocupante do que a falta de liberdade. O medo só triunfa quando se lhe facilita a existência.
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