Chegados, finalmente, ao dia em que vamos deixar os little two, entregues aos «avós», e partimos em busca dos big five.
O primeiro dia de safari é passado, em viagem, até Nairobi. Dado que ainda não temos o aeroporto na Ota (depois é que vamos ver os europeus todos a passar pelo superaeroporto) por enquanto, para irmos até África, demonstramos que o caminho mais curto entre dois pontos não é a recta que os une, mas o ziguezague a que nos obrigam para aumentar o número de milhas do passageiro frequente. Temos, assim, que ir dar um saltinho ao apeadeiro de Amesterdão, para depois seguir viagem. Valeu pela visão de um país feito de longas tiras verdes entrecortadas por caminhos de água. Depois de uma viagem em que os únicos registos de interesse foi ler na revista da KLM que um surfista americano processou outro porque ele lhe tinha roubado uma onda, naquilo que me parece mais um registo do avanço cultural de um Povo e de confirmar que nos voos das companhias de aviação europeias teremos que começar muito seriamente a pensar em levar um farnel para a viagem, tal a qualidade e abundância das refeições a bordo, lá aterrámos em Schippol. De pés bem assentes no chão, que dizem estar abaixo do nível do mar, calcorreámos as lojas do aeroporto. Fico com a impressão que a Europa (esta, não naquele princípio da coisa em que eu vivo) deve ser um bom sítio para se ganhar dinheiro (a julgar pelos preços do que vejo). Depois, mais valerá dar um salto Às compras aos States…
O voo para o Quénia é feito num 777 da Kenya Airlines. Um bicho simpático, de poltronas acolhedoras e bem equipado de filmes e outros passatempos on demand. Aqui ainda servem bebidas aos passageiros e comecei por experimentar uma cerveja africana de seu nome Tusker. Tusker foi elefante, antes de ser cerveja e o dono da cervejeira chamou-lhe assim, porque o bicho lhe matou um familiar. É uma cerveja leve, que cumpre a sua função não derrubando quem a bebe. Neste caso fui eu que provoquei a Tusker empurrando-a com a revista da companhia e o resultado foi ficar com as calças com ar de quem já não podia mais, mas neste caso o sentido do líquido foi de fora para dentro e não o contrário. Nada que quase oito horas de voo em ambiente seco não se resolva, com a vantagem de ter vestidas umas calças cor de cerveja, percebi no fim, porque quase se não nota a mancha… Depois de jantar uma coisas pequeninas em caixinhas pequeninas ainda deu para estender os pés pelos bancos do lado (vazios!) e fazer que se dormia antes de se chegar a Nairobi, pouco antes das seis da manhã, quase imediatamente antes do sol nascer. Está fresco, sem humidade excessiva.
Espera-me um letreiro com o meu nome e uma simpática guia que nos leva até uma carrinha velha e ronceira. Apresenta-nos o plano dos próximos dias e levam-nos até ao hotel passando numa estrada à beira da savana que serve para o motorista nos ir mostrando algumas gazelas e a zona industrial, o centro de congressos e o trânsito matinal desta cidade. Como nas outras com uma diferença notável: anda imensa gente a pé, nos caminhos de terra à beira da estrada, a caminho do trabalho, imagino. O trânsito tem o ar anárquico de outros sítios, os carros são semi-velhos à maneira de Queens, por exemplo. Pelo caminho vemos também os efeitos da deslocalização com fábricas de pneus e até de automóveis. Que salários? Por timidez, não perguntei.
Lá chegámos ao hotel Nairobi Safari Club, bem no centro da cidade. É um hotel simpático old-fashioned, lembrando luxos coloniais. Começávamos a instalar-nos para um sono matinal reparador, quando o telefone tocou. Afinal, o motorista tinha-se enganado e o hotel era outro… Nada que se não espere neste clima. Em tudo o que nos acontece, algo se pode ganhar. Neste caso, algumas peças de fruta tropical e uns chinelos de recordação.
Finalmente, cá nos trouxeram para o Nairobi Mayfair Court, onde agora escrevo. Simpático, com uns jardins dispostos por pátios interiores que conduzem à piscina, onde a esta hora ainda não se vê ninguém. Uma boa dose de confusão no registo, com os quartos ainda por preparar. Passada uma meia hora lá nos arranjam um dos dois quartos, onde estas três alminhas estão nesta altura ferradas no sono. Eu espero pelo outro. Vão-me telefonar assim que esteja, garantiram-me ainda agora na recepção. Aproveitei a pausa para aqui deixar registo de mais uns momentos.
Ao ligar o computador reparei que encontrou rede e aproveito para ter esta experiência de consultar o correio electrónico, ver mais uns comentários às fotos dos Olhares e actualizar (desde África!) o blogue… Desde Nairobi, provavelmente para muito pouca gente, mas para me lembrar que aconteceu uma vez que estive IN Africa, um continente com surpresas.
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