Deixem-nos trabalhar! Disse um dia o timoneiro que raramente se enganava. Estranhamente desta vez nada disse. Só por leviandade ou mau cálculo político se pode ter tomado a decisão de dar tolerância de ponto por causa da visita do Papa. De uma assentada, perderam toda a argumentação da justificação do não às greves pela situação económica miserável em que se está. Ou não será o prejuízo da falta de um dia de actividade o mesmo por uma ou outra razão cujo efeito é idêntico?
Mais estranho, o facto de a tolerância ser limitada ao sector público. Parece a aceitação da ideia que aqui nada se faz e, por isso, mais folga menos folga, tudo bem. Será que a decisão, afinal, não foi assim tão leviana e tem por objectivo, uma vez mais, desacreditar o sector, identificando os seus trabalhadores como calaceiros? A confusão adensa-se quando alguns decidem vir trabalhar, porque o trabalho lhes parece inadiável.
Obviamente, nada me move contra o senhor e até tenho alguma solidariedade para com alguém que está privado das mais elementares liberdades e tem, por exemplo, de se deslocar num ridículo carro envidraçado, não pode ir ao quiosque comprar o jornal, não pode dizer ou escrever o que lhe vai na cabeça (no caso parece que, realmente, às vezes melhor será estar calado). Há nesta função uma esquizofrenia de poder e de sofrer a sua prisão e isso faz-me sentir alguma pena, sinceramente, do sujeito.
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