Vivemos num tempo em que o erro deixou de ser humano. Ou será que deixou de se poder ser humano? Terão os humanos sido substituídos por máquinas infalíveis? Vem isto a propósito do erro do senhor Benquerença que agora alguns entusiastas desta infalibilidade querem processar judicialmente. Mas está tudo doido? Que raio deu a esta gente que agora só quer relógios suiços ou exigem mesmo dos atómicos com precisão ao milissegundo? Já imaginaram o que seria um mundo sem erros?
Neste caso exemplar, a ética foi completamente posta de parte. Por exemplo, todos se atiram ao desgraçado que errou, ninguém ao indutor do erro, ao que enganou voluntariamente, o guarda-redes. Ele dirá que foi mão de Deus como o outro e todos acharão imensa graça, mas afinal, foi ele o único que fez batota, que teve uma atitude eticamente reprovável. Mas a ética vale muito pouco na sociedade dos milhões e a defesa da propriedade parece valer tudo, incluindo a exigência da precisão, da infalibilidade do homem, do fim dos erros. Manter este estado de estar parece-me ser uma negligência que quase todos aceitam. Eu não! No fundo, parece que na nova ética, mais valorizado é o que mente com eficácia, do que o que diz a verdade e não vence. Ninguém quer punir o que enganou, mas o que errou.
Por exemplo, alguém imagina a importância que isto teria se o futebol não tivesse deixado de ser um desporto? Alguém quer voltar ao futebol-desporto, com muitos erros, mas com gente?
Sem comentários:
Enviar um comentário