terça-feira, abril 14, 2009

Um português (ou luso-descendente?) na Casa Branca (primeiro cão ... capado!)


Não se trata do Durão. Esse ia quando lá morava o residente anterior, que cedo, reconheceu que o José teria um grande futuro. E teve, que a história está aí a mostrá-lo. Só que ia e vinha como visita. Agora a coisa é mais séria. Há um português que vai residir, realmente, na Casa Branca. A má notícia é que, conhecedores como são os americanos das potencialidades dos portugueses e dos seus hábitos quando chegam a novas paragens, já lhe preparam um triste destino. Já não bastava aquele colar alegre e colorido que lhe meteram para as primeiras fotos...
Que imagem é esta que querem dar de Portugal? Haja decoro, assumam-se, é um luso-descendente.

segunda-feira, abril 13, 2009

Nuvens

Muito pior que não ter as soluções para o mundo, é começar a ter a sensação que me não interessa ter as ditas. A fase seguinte será possivelmente perder a noção da gravidade destes sentires. Será que vai ficar tudo plano ou desaparecerão mesmo as dimensões e tudo se convertirá primeiro numa recta, depois num ponto, acabando num fade como nos filmes?
O pó será de novo pó ou mesmo coisa nenhuma.

sexta-feira, abril 10, 2009

A primeira Loja da Cidadã (D. Pulquéria)

A Dona Maria Pulquéria decidiu mal servir os cidadãos algarvios e criar, possivelmente, a primeira Loja da Cidadã ou das mães de Faro. Além do mais, deve estar empenhada em prestar um serviço de má qualidade aos utentes. Com efeito, garanto-lhe que qualquer cidadão que goste de um serviço de qualidade aprecia ser atendido por decotes generosos, saias curtas e bom odor ambiente. Quanto à lingerie escura (o vermelho é uma cor alegre ou escura?) fica-me a curiosidade de saber quem iria fazer o controlo das funcionárias e de que forma isso iria ser detectado pelos cidadãos frequentadores da Loja.
Se isto não pudesse ser de alguma forma preocupante, até poderia ser ridículo.

quarta-feira, abril 08, 2009

Analfabetos

A todos os que acusam de tudo os «Eles». «Eles» são os que fazem coisas horrorosas, só porque os impotentes os deixam fazer.

O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguer, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política
.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

Berthold Brecht

terça-feira, abril 07, 2009

Médicos e farmacêuticos

Vai quente a luta entre médicos e farmacêuticos. Uns e outros publicam falsos, ainda que politicamente correctos, argumentos. Na verdade, custa-me a crer que alguém como os farmacêuticos que tem um negócio de vendas, onde o lucro depende da percentagem do que se vende, esteja interessado em vender mais barato. Tal caridade não existe na vida real. Também os médicos quando nesta argumentação dizem que os move o supremo interesse dos doentes estão a recorrer à boa causa, mas não à causa verdadeira. Farmacêuticos e médicos têm neste assunto outras motivações bem mais reais, só que inconfessáveis: os primeiros são proprietários de um produto que querem erigir em monopólio e têm interesse directo em vender um determinado fármaco e não o concorrente, ganhando na produção e no comércio; os médicos, não querem abdicar do privilégio de «oportunidades de formação», que a Indústria farmacêutica lhes oferece graças às suas escolhas. Acontece que, transferir este privilégio para os farmacêuticos não acrescenta nada ao sistema e até lhe tira alguma coisa: a possibilidade de alguém habilitado tecnicamente arbitrar de alguma forma este jogo. Tem é de estar menos implicado em eventuais jogos de troca, isto é, o caminho será libertar os médicos desta relação de proximidade com a Indústria, que até podendo não implicar necessariamente formas de corrupção, não a impede. E quando de corrupção possível se trata, tudo deve ser feito para a prevenir, tanto a outros níveis como neste. Portanto, aos médicos a liberdade de prescrição, aos poderes a força para proibir ligações perigosas.
E continuo também sem perceber porque não existe uma rede de farmácias administradas por serviços públicos. Não será certamente por ser um mau negócio e sempre seria forma de dar mais dignidade a licenciados que, por agora, são meros empregados de balcão.

segunda-feira, abril 06, 2009

A vã ilusão

Por muito que a cegueira selectiva possa ajudar, deve haver momentos em que a realidade chega ao córtex. Ainda que por instantes, como flashes no meio da escuridão. Nesses momentos, essas imagens deixarão alguma impressão de lucidez e deve doer a sensação de se estar só e o pior deve ser perceber que as miragens de companhia de nada valem nesses instantes. Em flashback devem então vir à consciência o engano que, na verdade mesmo, nunca chegou a enganar, apesar de, em muitos momentos, se ter tido a sensação de ter podido ludibriar meio mundo nos muitos minutos de audiência que se teve. Mas qual a obra feita? Essa é a questão de todas as inquietações a que se não conseguirá fugir mais vezes do que se desejaria. Dá-me alguma pena, ainda que algum gozo também haja misturado. Pois, apesar de tudo, é bom que a impunidade não seja completa...

quinta-feira, abril 02, 2009

Interregno

Já se sente a pausa que antecede a espera do que aí virá. Entrámos na gestão corrente, incapazes de fazer prognósticos sobre o que será o dia depois. Já não há grande motivação para prosseguir a mudança. Agora, é tempo de estar quieto, não fazer grandes ondas, assobiar, apresentar o sorriso da satisfação insegura pré-eleitoral. Altura de fazer todos os bluffs e esperar que passe e corra bem. No meio da crise, vão-se perder alguns meses a olhar para o lado, porque a democracia tem destes interregnos em que, realmente, ninguém reina. Fica-se simplesmente a respirar num registo de hipometabolismo basal. Apetece ir de férias e voltar depois.

quarta-feira, abril 01, 2009

Surreal

A desrealização pode muito facilmente levar a crer que a hipótese é a verdade, mas, pior do que isso, pode despertar a necessidade de ser profeta de uma mensagem de erro. Nalguns casos pode ser tal a crença, que a simples contradição da fé, leva à angústia do desespero, a uma impotência humanamente insuportável quando, afinal, alguns ousam não ser discípulos. Nalguns casos, o melhor, será mesmo o recurso ao internamento.

segunda-feira, março 30, 2009

A folha em branco

Acontece, algumas vezes, agir-se sem se sentir o rumo da acção. Mas pior ainda será ficar paralisado, esperando que algo aconteça. Resta então a reacção, possivelmente, tarde de mais, só a tempo do arrependimento. Inútil, nessa circunstância.
Usar as palavras, por vezes, é como atirar cores sobre uma tela. É a forma que nasce que vai encorpando o texto, procurando novos contornos e tons diferentes. De quando em vez, pára-se, para contemplar o objecto nascido, para logo depois o acrescentar até, finalmente, se sentir que mais nada se lhe pode pôr. Quantas vezes é nesse instante que o título chega de forma surpreendente. Não havia rumo, mas chega-se, curiosamente, ao destino, não por fado, mas pelo caminho determinado pelos instantes que criamos, uns a seguir aos outros, alinhados. O quadro pode então estar colorido de sentido ou, como também acontece, ficar, simplesmente, côr de merda. Da inacção, porém, apenas nascerá o vazio da cor.

sexta-feira, março 27, 2009

Mares e lagos

Sou sempre mais tentado pela visão do mar que pela visão dos lagos. O mar tem o conflito das ondas com a areia da praia gerando uma renovação constante e surpreende-me quando, a cada vez, vejo a sua construção diferente dos areais. Nos lagos reflectem-se narcisicamente as paisagens e, se falta uma brisa ligeira, nada de novo acontece além de uma cópia precisa. Na estagnação não há novidade, apenas rotina e, por vezes, mesmo algum mau cheiro.
Esta é uma das desgraças dos tempos actuais onde o politicamente correcto varreu o conflito do dia-a-dia e normaliza, cada vez mais, a nossa acção. Tudo se faz de acordo com directrizes ditadas por deuses e segundo a sua vontade. Pensar, gizar o conflito é ou mal visto, ou rotulado de ingenuidade, numa altura em que o fácil impera e o caminho mais rápido para o sucesso é a anuência acrítica. Os homens são também espelhos imóveis das imagens que neles projectam. Pouco a pouco, há uma verdade única que se instala, restando a alguns poucos, cada vez menos(?), sussurrar que fascismo, nunca mais. Mas até nesse rumor há, quantas vezes, apenas o reflexo de outras vontades e não um genuíno desejo reflectido.
Descrente nos homens talvez, mas como negar a evidência?

quinta-feira, março 26, 2009

A persistência na asneira

Eis a nova composição do Hospital de Santa Maria. Noventa «early birds», uns 300 colaboradores de primeira e o resto pessoal mal parado(cada vez com menos vontade de colaborar). Por mim, sinto que mais vale ser pessoa, que colaborador em certas organizações.

quarta-feira, março 25, 2009

Mal parados

Ao início é uma irritação intolerável, depois extravasa-se com quem temos ao lado e finalmente serena-se progressivamente. É assim que nos vão impondo a vontade, aproveitando a ineficácia do que não fazemos. Precisamos de nos mover, mesmo quando o que nos tiram é o estacionamento. Ficamos mal parados, quando a situação exige acção.
Criar um estacionamento para alguns que o não usam, deixando os que o usariam sem lugar, é paradoxal e uma burrice de quem gere. É desperdício de recursos, ineficiência, má utilização dos dinheiros públicos. Não estamos em tempo de subaproveitar recursos em nome de privilégios imerecidos muitas vezes.
Mas não é fácil inverter uma lógica que a não tem. Mas também não podemos aceitar o que é inaceitável, exactamente e só por isso, só por que não é decente. Porque isto da decência tem de vir sempre antes do direito; na verdade, não temos o direito à indecência.
Os direitos devem corresponder e satisfazer necessidades e apenas isso. Tudo o resto é passado.
Por agora, recuaram, mas sem uma explicação cabal da insatisfação, não tarda, avançarão de novo.

quarta-feira, março 18, 2009

Momento de cansaço

Na verdade e como diz o Professor, quando a evidência está nas coisas e a inteligência não está nas pessoas pouco há a fazer.
Há reuniões que cansam e tiques tácticos que me irritam. Farto de marcar a próxima reunião sem estabelecer objectivos e ordená-los por prioridades. Resta-me a liberdade que não parecem ter.

domingo, março 15, 2009

«Tá-se»

Sem querer diminuir a iniciativa, não posso deixar de dizer que algo de estranho se passa quando tanta gente fica contemplativa perante a imagem de uma cegonha, onde tão pouco acontece. Além do depenicar nas penas... Mais extraordinário, é que se façam comentários sobre esta nova forma de cinema mudo, com uma intensidade narrativa digna de Manoel de Oliveira. Curioso, é que frequentemente esses comentários são expressão de felicidade inspirada pela visão.
Pátria de comentadores felizes e de olhares vidrados em quase nada. No fundo, traduz o ritmo a que vamos andando: raramente se voa... como as cegonhas.

sexta-feira, março 13, 2009

Perigosa unidade


Continua-se, culturalmente, a ser do contra. Ouvidos na manifestação de hoje, estão todos contra o Sócrates, sem que ninguém perceba a favor do que estarão. O mais estranho é que por um pudor esquisito, a esquerda em nome de uma unidade táctica, não se demarca da direita que fica no silêncio da contabilização do descontentamento. Esfregam as mãos. Afinal, se a Dra. Manuela fosse poder, as reformas estariam garantidas a 100%, controladas por seguradoras que teriam investido em fundos fantásticos, os funcionários públicos estariam todos empregados pela política de pleno emprego sempre defendida pelo PSD para a Função Pública, os professores continuariam sem qualquer esboço de avaliação. Quando foi ministra da Educação a Dra Manuela nunca tal fez, limitando-se a afrontar os estudantes que lhe mostravam o cú. Até a crise internacional não existiria, porque isso foi um desastre de políticas nunca defendidas por Borges subitamente desaparecidos. Qual era o papel do Estado para eles? Suicidar-se ou morrer naturalmente, não era?
É muito importante ter-se presente que se não deve ir para a cama com o inimigo. Até porque é sempre uma boa forma de se acordar morto.

Negligência

Esqueceu-se do filho dentro do carro e ele morreu. Negligência, claro. De quem? Do pai ou dos ritmos de trabalho loucos que os informáticos de 35 anos têm agora? A concentração absoluta nos objectivos, na produtividade, leva a distracções fatais. A criança ficou abandonada por excepção, mas a vida destes tipos fica esquecida todos os dias. Em nome de deuses bem pequenos.

quarta-feira, março 11, 2009

O medo da vida

Entrou triunfante, mostrando o registo de 24 da pressão arterial. Tinha ultrapassado mais um obstáculo do seu medo de estar doente. Disse que até aos 40 anos se tem uma ideia de imortalidade e que daí para a frente começa a percepção de que somos mortais. Não deixará de ser verdade, mas na contabilidade da vida, há mais a avaliar que a contagem simples dos anos. Até qualquer idade em que nos situemos há sempre a imperiosa necessidade de termos um programa de tarefas a realizar, os objectivos de vida. Se assim procedermos, quanto mais velhos mais tarefas realizadas, mais vida ganha, maior o nosso capital vital. Cada vez mais aliviados, mais capazes de ver a inevitabilidade do final. Por isso ter mais anos não é, necessariamente, dramático. Pode até pode ser leve se não formos sempre, em nome de causas menores, adiando a vida, os prazeres e as responsabilidades. Tenebroso é estar atado pelos medos que nos adiam para amanhã a vida que se pode ter hoje. Por isso, julgo que aqueles que se matam todos os dias para aumentarem o tempo de vida, na verdade pouco mais fazem que aumentar a morte a que já estão confinados. Depois, um dia, a morte chega, sem afinal a vida ter existido. Foi inútil.
Bom mesmo, será contemplar o passado, todos os instantes, numa serena revisão, sentado no banco, debaixo da pereira brava a lembrar-me de Neruda. Com a paz da certeza sentida de, também eu, ter vivido.

segunda-feira, março 09, 2009

Portal do doente, um instrumento para melhor Saúde

O aumento crescente da prevalência das doenças crónicas, tem tornado a prática da Medicina progressivamente mais complexa. Com frequência, no mesmo doente, coexistem patologias de várias especialidades, exigindo apreciação por diferentes especialistas, tendo em vista a optimização dos cuidados médicos. Um doente diabético, por exemplo, tendo a gestão dos seus problemas de saúde centrada idealmente no médico de Medicina Geral e Familiar, carece com frequência de apoio de outras especialidades, como a Endocrinologia, a Cardiologia, a Nefrologia e a Cirurgia, entre outras. Cada vez mais, os médicos deixam de ter os seus doentes, porque os problemas de saúde destes são melhor geridos pela cooperação de vários especialistas, contribuindo cada um com os seus saberes para a sua resolução. Assim, deverão os doentes passar a ter os seus médicos. A gestão das doenças nestes casos implica interacção e comunicação entre os vários técnicos, a qual se não consegue com a actual estrutura de comunicação, resultando, com frequência, uma prestação de cuidados, no mínimo, fragmentada. Nalgumas situações, podem mesmo ocorrer erros, por exemplo, com duplicação quer de prescrições de fármacos, quer de exames auxiliares. Nas condições da prática médica dos nossos dias, com o tempo de duração das consultas progressivamente mais encurtado pela pressão do número crescente de atendimentos, não há muitas vezes disponibilidade para escrever aos colegas a informação necessária. E mesmo que isso se faça, vai muitas vezes escrito com letra dificilmente decifrável… Estes são problemas que, como médico, me confronto quase diariamente e que seriam evitáveis com medidas simples numa altura em que muito facilmente temos (ou deveríamos ter) nos consultórios um instrumento fundamental para prestação de cuidados: um computador com acesso à Internet.
É fácil imaginar que o acesso limitado à informação produzida por outros colegas sobre um doente específico leve não só às já referidas duplicações de meios auxiliares de diagnóstico e mesmo de prescrição de medicamentos, mas também a referenciação indevida a outras especialidades, consumindo consultas desnecessariamente. Mesmo que esta realidade não acarrete directamente complicações dramáticas para a saúde do doente, dela resultam custos acrescidos nos cuidados. Isso traduz-se em ineficiência dos sistemas de saúde, numa altura em que o combate ao desperdício deve ser uma prioridade e uma exigência no Serviço Nacional de Saúde.
O desenvolvimento das Tecnologias de Informação, permite, hoje em dia, obviar a estes problemas do Sistema de saúde e pode contribuir para uma melhor prestação da continuidade dos cuidados médicos, evitando recurso aos serviços hospitalares e de emergência, melhor uso das estratégias de prevenção, melhoria dos cuidados prestados no alívio dos sintomas e controlo da doença, com resultante maior satisfação dos doentes. Com efeito, é possível que os dados clínicos de um doente observado num hospital de Lisboa, possam facilmente ser partilhados pelo seu médico de família e por outros especialistas onde tenha de ir, mesmo quando, deslocado no Porto, tenha um achaque súbito que o leve a um Serviço de Urgência. Com esta rede de informação ganharia o SNS e, obviamente, o doente.
Não deixo, pois, de estranhar que de uma forma generalizada não se implementem as medidas que permitam atingir estes objectivos. Isso, possivelmente, dever-se-á à existência de barreiras ao nível do Sistema, dos médicos e, talvez, dos próprios doentes. Ao Sistema, porque se inibe de investir, mesmo sendo de admitir que o retorno estaria assegurado pelos ganhos de eficiência. Aos médicos, exige-se uma nova atitude cultural, para que deixem de se sentir donos do doente e da informação que deles colhem e passem a sentir-se elementos de uma equipa que concorre para a gestão do processo patológico do doente. Aos doentes, a decisão sobre se a informação que fornecem aos seus médicos, pode ser partilhada pelos que os cuidam e de que forma. Este último problema, que entronca com a questão do segredo médico e com a protecção dos dados individuais, é muitas vezes invocado com fundamentos legais para inviabilizar a partilha da informação clínica dos doentes entre os vários médicos que lhes prestam cuidados e tem obstado, por exemplo, a que nalguns hospitais continue a não existir um processo único do doente. Está-se em abstracto e de forma paternalista a proteger alguém a quem ainda se não perguntou se quer ser protegido dessa maneira. Pessoalmente, colocado na posição de doente, não tenho dúvidas que a minha informação clínica (disponível no meu «portal de doente» - o Google Health disponibiliza um esboço limitado do que isso pode ser- protegida por uma senha de que eu seria o dono, e acessível aos médicos de que, eventualmente, possa necessitar para me tratarem) me protegeria melhor do que a informação dispersa e, eventualmente, inacessível. E se eu posso expressar a minha vontade, julgo que isso é um direito de todos os doentes. Para os mais cépticos a este respeito, sempre se poderá garantir o sigilo da informação, determinando que caberá ao doente fornecer (ou não) aos clínicos a senha de acesso à sua informação. No entanto, e por defeito, a informação deveria estar acessível e ser facilmente partilhável.
Julgo que este é um caminho e um tema de debate que urge iniciar na Saúde em Portugal. Os ganhos parecem ser tão óbvios, que até custa verificar que se não avance nesta direcção desde já e se continue a desperdiçar o dinheiro dos contribuintes e a não fornecer os melhores cuidados possíveis aos doentes. Doentes, médicos e engenheiros, uni-vos!

sexta-feira, março 06, 2009

Bloco dos instantes

A clareza transparente dos números perturba a opacidade reinante no poder. Deve ser essa a razão por que existe uma espécie de horror aos dados informáticos, frequentemente diabolizados em nome do bom senso dos chefes.

É conveniente não adiar a vida todos os dias, pois pode, simplesmente, chegar a não acontecer.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Concursos

Só neste caso da Endocrinologia, houve 10 médicos que durante dois dias estiveram fora dos seu serviços a trabalharem normalmente. Alguns com ajudas de custo pelas suas deslocações, outros a sair-lhes do bolso. De uma forma talvez optimista, digamos que foram adiadas 300 consultas médicas. É claro que os candidatos, estiveram mais uns meses em trabalhos reduzidos (pelo menos no sector público).
Tudo isto em nome de uma formalidade, uma cerimónia iniciática, para se entrar no grupo dos especialistas. O curioso é que, de forma unânime, todos achamos que este concurso é um non sense, mas continuamos a participar, alguns mais obrigados do que outros.
Depois acabamos todos classificados com 19 vírgula e felizes a beber Moet Chandon.
Será que podemos mudar? Ao menos tentar...

quinta-feira, fevereiro 26, 2009


Devíamos gerir a vida por objectivos. Alinhavamos os vários pontos e íamos, depois, pondo a cruzinha à medida que fossem realizados. Nesse programa a ninguém seria permitido que o seu objectivo de vida fosse estar vivo daqui a muitos anos, porque isso, é a melhor maneira de passar ao lado da vida. Objectivos só os concretos, específicos, determinados pela imaginação e pela vontade. Quando chegados ao fim da lista, poderíamos passar à fase seguinte, sem o remorso de termos evitado tanta coisa para nada. Felizes, com certeza.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Parasitas

Dificilmente entendo aqueles que da política não têm a ideia de programa de mudanças, mas apenas o objectivo da manutenção das pessoas (amigos)nos sítios que querem. A podridão dos pântanos empesta o ambiente. Confunde-se serviço aos utentes com serviço aos prestadores, como objectivo principal. Assobia-se para ver se ninguém percebe, mas tenta-se que nada mude, porque manter o lugar é o supremo objectivo.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Máscara

Terça-feira gorda (Mardi Gras), o dia a que Cavaco retirou o estatuto de Feriado foi hoje motivo para me incomodar a olhar o espelho. De repente um cara conhecida, como máscara, inquietante, uma revisão de um passado ainda presente e possivelmente futuro. Foi uma grande vontade de mudar. Para já, uma aparadela ao bigode, mas quase seguramente, mais cedo ou mais tarde, a transformação será maior, porque a máscara me perturba.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Claro e exemplar

Claro e exemplar disse o Zé. Claríssimo, direi eu. Atirar o barro à parede, fica barato. Com outros Zés, até deve pegar, embora custe caro. Tentar não custa, o que ficámos a saber é que a tentativa de corrupção aqui e agora não sai cara, o problema é poder não resultar. Mas há mais Zés na terra... e ser Xico esperto, afinal, pode muito bem ser compensador desde que se tenha algum cuidado com a parede.

sábado, fevereiro 21, 2009

Aos 90 anos...

Li há dias que um americano de 90 anos, perdeu 700000 dólares na burla do Sr. Madoff. Agora, voltou a trabalhar, a ganhar 10 dólares a hora. Há comportamentos nos americanos que são exóticos. A menos que tenha ido trabalhar para comprar uma pistola...

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Caminheiros

Trinta anos depois continuam a haver descobertas a fazer. Essa sensação é bem mais importante que olhar esterilmente para trás. Continua a haver um caminho para andar.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Visionário

A Economia é uma ciência que consegue explicar todos os acidentes da Economia ... depois de terem ocorrido. Por outro lado, fazem previsões sempre adequadas... a menos que algo extraordinário aconteça e as invalide. Logo virão, a seguir, explicar que tinham razão, mas aconteceu o que era imprevisível.
Mas houve um que viu antes do tempo, muito antes mesmo:
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado"

Karl Marx, in Das Kapital, 1867

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Revolta

Quem ama a vida, a sua e a dos outros que tem à volta, quem sabe distinguir uma maçã de um fruto normalizado, quem sabe gostar de um bom vinho não merece ser traído. A injustiça é indecente.

domingo, fevereiro 15, 2009

Com todos os sentidos


Ali sempre encontro o refúgio da paz na visão do silêncio onde só cabe o chilrear dos pássaros e o anúncio do vento no fim da tarde.
A terra ensopada começa a estar crocante pelos últimos dias de sol. Ao pisá-la tenho a ilusão de estar sobre um gigantesco bolo de chocolate. Um dia hei-de também entender que é o sol que molha o que a chuva quase secou.
Ficarei encantado na visão do fogo que arde antes da noite chegar, sentado no banco debaixo da árvore do tronco retorcido. Imagino que os dias fiquem de um tamanho que agora lhes não conheço aumentados pela audição silêncio, pelo tacto da terra, pelo aroma dos coentros, pela visão do fogo e pelo sabor dos ensopados. Todos os sentidos despertados numa orgia de tempo sem relógios, de sol-a-sol.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Changeling

As histórias reais da América repetem-se. Houve um tempo em que a imprensa ainda poderia contar a história no tempo em que ela se passava. Mas agora, os donos da História são, na maioria dos casos, também já os donos das notícias. Há uma estranha unanimidade na apresentação das novidades, sempre as mesmas, eventualmente, mostradas numa ordenação diferente, mas só vemos o que nos projectam daquilo que seleccionaram. Entretêm-nos com o filme que escolheram, escondem-nos a história real.
Daqui a alguns anos, como fizeram com o Vietname, farão um novo Apocalipse então, revelando os Guantanamos de agora e serão, novamente, candidatos aos seus Óscares que tirarão o sono numa madrugada a uns tantos. É nos filmes que expurgam os seus pecados. E nós continuamos a perdoar-lhes porque alguns deles são quase perfeitos quando representam, como é o caso desta Angelina, verdadeiramente Jolie.

domingo, fevereiro 08, 2009

A inutilidade dos coelhos

A metáfora pode não ter sido completamente feliz. Realmente, duas notas de 100 euros têm tanta capacidade de gerar mais euros quanto o têm dois coelhinhos no tal buraco (na verdade, é preciso que seja um coelhinho e uma coelhinha e mais alguma coisa). Mas tanto num caso como noutro, Louçã tem razão: para haver crescimento tem de haver trabalho, porque dele e apenas dele depende o crescimento. Durante anos pensou-se, na base do tal dito que afirma que o dinheiro gera dinheiro, que bastava investir, para aumentar o capital próprio. O investimento referido deixou de ter a tal dimensão do trabalho e limitou-se muitas vezes ao sonho e os sonhos sempre acabam quando se acorda. Se ao menos os tempos de hoje dessem para perceber que o crescimento depende do trabalho e não do investimento (sem trabalho), certamente que a preocupação dos governantes seria apoiar o primeiro e não criar condições para que o «investimento« ficasse prioritariamente garantido. Realmente, Louçã, nem um coelhinho e uma coelhinha chegam se não houver alguma actividade. É fundamental o trabalho para haver a produção.

sábado, fevereiro 07, 2009

Em rodapé

Aproxima-se uma altura da minha vida em que o pensamento pode ser expresso sem a auto-censura do compromisso, o que transmite uma enorme sensação de liberdade. Realmente num mundo que aspira à liberdade, bem poucas são as vezes em que ela se expressa de forma incondicional, sem a amputação da conveniência, quando não do medo. Essa é uma escravidão muitas vezes ignorada ou geradora de náusea sem aparentes motivos. É, por isso, um bom tempo, esse que aí vem. 


É um espectáculo, para mim inquietante, ver o poder congratular-se com a realidade. Apesar da felicidade ser boa de ver, sempre me parece que a mudança depende fundamentalmente da insatisfação, ao passo que a satisfação é, na maioria das vezes, fonte de paralisia.
Percebo que o poder faça o seu auto-elogio, porque, na verdade, essa é a forma de se justificar, mas sou exigente ao ponto de continuar a achar que se esgota e cristaliza as suas acções quando sente que chegou onde ninguém teria sido capaz de ir. Que se engane, é o menos. Que nos tente enganar é que já não é aceitável. Afinal, não somos parvos.

SNS

Acabo de assistir a um interessante debate sobre o Serviço Nacional de Saúde onde de lés-a-lés se proclamou o óbvio: é uma boa história de sucesso, a precisar, se calhar, de algumas inovações, entre as quais, possivelmente, a mais determinante será a necessidade de o repensar. Repensá-lo ´mantendo sempre a necessidade da solidariedade, que implica que sejam os saudáveis a pagar a doença aos doentes. Assim e de repente, tudo parece consensual, mas, ainda assim, é importante que se pense na obrigatoriedade de medidas para promover a saúde, quer a nível geral, quer a nível individual. Quando se desce dos princípios gerais ao exercício da sua aplicação prática, rapidamente a unanimidade se perde. Se nas metas sobressai o consenso, não deixamos de saber que se uns defendem que as casas de banho do hospital não têm de ser  diferentes para doentes e médicos, todas têm de ter qualidade elevada, outros defendem que os médicos não deverão, quando se dirigem aos seus consultórios, passar por entre os doentes sujeitando-se dessa forma ao escrutínio da hora a  que chegam e deveriam ter uma entrada exclusiva.

Percebo, que não pode haver a ilusão de equidade no consumo de um bem, quando o fosso da desigualdade se alarga em tudo o resto, mas é no campo das decisões concretas e não no campo dos princípios que é preciso intervir de modo a atenuar o que é gritante.

Esta é a dimensão da intervenção geral.

Mas num mundo de importância relativamente crescente do problema das doenças crónicas, embora as mais das vezes determinadas por estratégias erradas da evolução das sociedades, não deve e não pode ser esquecida a responsabilidade individual e dos comportamentos de riscos auto-assumidos. E aqui, a atenuação das diferenças e o objectivo da equidade, poderá ter de passar por um tratamento diferente em termos de comparticipação pessoal nos custos colectivos, isto é, quem se auto-inflige os problemas, deverá ter de ser responsabilizado, em função das suas posses, pelo custo derivado do problema. Haverá que definir situações em que, sendo sabido que as complicações são maioritariamente determinadas por comportamnetos errados e conscientes, não sejam aqueles que pautam a sua vida pelos comportamentos adequados que vão pagar a conta. Serão por isso razoáveis, por exemplo, o aumento do imposto no tabaco, o aumento das multas por excesso de velocidade. Noutro campo, como o da nutrição, tratando-se de uma actividade imprescindível à vida, parece-me já razoável que as consequências sejam tratadas com os meios adequados e os custos suportados de forma diferenciada, pagando os que podem, deixando-se a gratuitidade para os que têm na obesidade e na diabetes um fardo a que não se podem eximir devido às circunstâncias da sociedade em que estão inseridos. E não deve, claramente, esquecer-se a taxação da indústria alimentar produtora dos produtos tóxicos, criando, necessariamente, mecanismos reguladores que impeçam a reflexão desse aumento no custo dos produtos.

Este debate do mundo real, das coisas tangíveis, é o parente pobre das discussões, havendo sempre uma tendência ao privilégio do abstracto e mais consensual. Até porque divergir e assumir a fractura é sempre mais incómodo e todos achamos que devemos obter o máximo com o mínimo do esforço.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Intoxicados

Quem gerou todos estes produtos tóxicos? Sim, Saramago tem razão, os banqueiros não são gente de confiança. Para já causaram meio milhão de desempregados, mas os números aumentam todos os dias. Um crime contra a Humanidade. Tanta irresponsabilidade é punida apenas com o não pagamento de bónus? Era só que que faltava, ser prejudicado e pagar por cima. Os que provocaram a catástrofe ambiental, que intoxicaram, que paguem a crise! Mas é curioso este título do Expresso -Governos socorrem Bancos. Os Governos ou o dinheiro dos governados?
Mas não deixa de ser comovente, assistir a esta imperiosa nacionalização do prejuízo, depois de tanta reclamação nos anos do PREC, de privatização do que, então nacionalizado, dava lucro.
Bom, mas parece que os lucros continuam... Vá lá entender-se isto.

sexta-feira, janeiro 30, 2009

Prenúncio

Este hospital está cada dia mais bonito. Não tendo a arquitectura japónica do da Luz, fica à noite raiado de luzes pela fachada. De dia, é invadido por jardins. Por dentro, aparece agora pintado, não só até onde a vista do Ministro alcança nas visitas. Limpo, asséptico. Bem vestido.
No entanto, quando o olho sou sempre assaltado pela dúvida: será que chega o fato Armani para tornar saudável um doente preenchido de metástases? Se não tratarmos o cancro, o futuro é previsível. Para a cova descerá um morto elegante. Não negando a necessidade do marketing, é importante que se tratem as metástases. O apego à história passada e ao auto-elogio muitas vezes geradora de uma inércia funcional reinante traduzida, por exemplo, por falta de um processo clínico electrónico geral por doente, a persistência em directores que não dirigem e a saída de células de protecção imunitária que combateriam a apoptose são algumas das metástases que lhe corroem o corpo e o matarão por muito bem vestido que se apresente. A auto-satisfação das inaugurações é anestésica, coloca-o num nirvana virtual e ser-lhe-á fatal. A cegueira da quantidade, sem a luz da qualidade comprometerá definitivamente o futuro. E já não falta muito tempo até se atingir o ponto de não retorno.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Sermão do dia de hoje

Naquele tempo a euforia era tão grande que até o grande economista teve um dia que vir dizer que as árvores não cresciam até ao céu. Mas os homens às vezes são surdos ou simplesmente descrentes, que isto de encher o bolso na bolsa era coisa divertida. Que bom que era ganhar sem produzir! A Bolsa, dizia-se naquele tempo, traduzia a saúde da santa Economia. E todos andavam felizes. Já naquele tempo havia uns desgraçados que não viam os seus ordenados a acompanhar os aumentos dos ganhos percentuais do DJ e que tais. Antes pelo contrário, nesse tempo, diziam os santos economistas que era preciso não criar tensões inflacionistas, não perturbar o crescimento da Sua Santidade, a Economia. Uns mais esclarecidos, ganhavam com a coisa, outros, coitados, esperavam e mantinham a coisa a crescer. Lá à frente a cenoura acenava ao burro, sempre no futuro, que de há muito se sabe que a salvação não é coisa deste mundo, mas do outro, sendo que é a esperança que nos salva e, dos que aqui sofrem, a vida eterna.
Desde há algum tempo, a borrasca instalou-se no Templo de Wall Street. Nesses dias nasceu a crise e o desnorte apoderou-se dos esclarecidos. Subitamente, a riqueza começou a evaporar-se nos electrões da Internet. Uma coisa má instalou-se nas cabeças dos que então só conseguiam dizer, Vende! E ninguém comprava, porque Nada era o que se vendia, tudo imaterial, electrónico e impalpável. O problema é que esta imaterialidade, algures criou matéria: propriedade, casas, iates e muitas coisas mais, tendo todas ficado na posse dos mais esclarecidos. É esta transformação da química da ausência da matéria que, nos nossos dias, tem de começar a ser corrigida. Isto é, partindo do princípio que nada se perdeu, tudo se transformou, é agora necessário detectar onde foi parar, redistribuir e dar de novo, acabando com o jogo viciado da matéria virtual. Não se pode, porque não é justo, é pedir aos que já ontem suportaram a ascensão, que sejam agora os primeiros a cair ainda mais, para que os mais esclarecidos se mantenham e possam voltar ao seu jogo fantástico procedendo como faziam naquele tempo.
Uma vez mais é de leste, de França que sopra o vento. Que se transforme em furacão!

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Dúvidas de futuro desempregado

“Sentia-me um pouco perdido no modelo de gestão. Não tinha tarefas concretamente definidas. Não tinha cargo e a 19 Abril reuni-me com o doutor António Marta”, na altura vice-governador do Banco de Portugal.

“Disse-lhe: eu estou na SLN, um grupo sujeito à supervisão do Banco de Portugal, e queria dizer-lhe que o modelo de gestão é este. Sinto-me um pouco intranquilo e penso que o Banco de Portugal deveria estar atento”, relatou.

Confessou Dias Loureiro. Bem, é a confissão de intranquilidade de um homem que não tendo cargo, não tendo tarefas bem definidas no emprego, se sentia na iminência do desemprego e, por isso, foi tentar garanti-lo junto da entidade reguladora. São os dramas do pré-desemprego. Quanto ganharia (ou recusou também os vencimentos?) pela sua inactividade na organização?

terça-feira, janeiro 27, 2009

Zeitgeist (Espírito da Época)

"There will be, in the next generation or so, a pharmacological method of making people love their servitude, and producing dictatorship without tears, so to speak, producing a kind of painless concentration camp for entire societies, so that people will in fact have their liberties taken away from them, but will rather enjoy it, because they will be distracted from any desire to rebel by propaganda or brainwashing, or brainwashing enhanced by pharmacological methods. And this seems to be the final revolution." - Aldous Huxley, Tavistock Group, California Medical School, 1961

Toda a atenção é pouca e estar alertado é o caminho. Afinal não são os homens que subitamente entraram em crise, porque os homens são os mesmos, sabem o que sabiam há 2 ou mais anos, têm a sua capacidade de trabalho mantida, não foram eles que falharam. Foi a sua organização ou sistema liberal de vida que aqui nos conduziu, fazendo entretanto a fortuna de uns quantos. Identificar os beneficiários da crise é a tarefa do momento para lhes apresentarmos a conta devida. Não se atribua aos mesmos de sempre a tarefa de pagar a crise. Como dantes se dizia, os enriquecidos com ela, que a paguem.
Porque, possivelmente, não irá estar nunca «brevemente num cinema perto de si», deixo um link para duas fitas importantes neste contexto: zeitgeist.

domingo, janeiro 25, 2009

Cenário

E se Sócrates, dramaticamente, por uma questão de princípio, ousasse a demissão face à dúvida criada e provocasse eleições antecipadas?

A ver almirantes

Mais almirantes que navios, e daí? Pobres são ao países que têm escassez de líderes. Aqui há liderança, bolas! Não, os nossos almirantes não andam por aí a ver navios. Temos uma marinha de tipo novo, em que os navios têm mais que um almirante, possivelmente porque é necessário muito conhecimento para os manter à tona de água dado a presumível ferrugem pelo peso dos anos e a tecnologia de antigamente só conhecida pelos velhos almirantes.

sábado, janeiro 24, 2009

Muito e já!

Li há dias escrito pelo Professor Carmona da Mota que, noutros tempos, os delegados de propaganda médica eram geralmente ex-estudantes de Medicina que não tinham terminado o curso e, em alternativa, visitavam os que seriam seus futuros colegas, mostrando-lhes as últimas novidades produzidas pela indústria farmacêutica. Os tempos mudaram. Nesta reunião a que assisti, chamada Congresso de Endocrinologia, os temas foram escolhidos segundo a lógica de apresentação das últimas drogas lançadas no mercado. Os oradores, os novos delegados de propaganda, são agora não ex-estudantes, mas professores de Medicina e seus colaboradores. Estamos num outro nível de informação. Curioso foi, desta vez, ver não a fundamentação baseada na evidência, mas antes na adivinhação do que a evidência futura, provavelmente, virá a demonstrar. Assim, alguns cautelosos que escreveram recentemente um consenso sobre tratamento da diabetes em que realçam as provas dadas e não as potenciais, passaram a ser tratados como se de um bando de ignorantes se tratasse. Obviamente, querem mais, é preciso adivinhar o futuro. Por isso, começam a tratar-se medicamente as pré-doenças e de preferência a usarem-se as drogas que no futuro irão dar os melhores resultados. São visionários e todos já viram, repetidamente, a saída de cena de fármacos «óptimos» no passado. A falta de prudência e a ganância levaram ao desastre noutros campos, mas nem isso os inspira. O grande objectivo é criar picos de vendas, bater records logo após o lançamento, antes que venha algum efeito colateral estragar a droga. Esta é a lógica de um sistema onde os doentes não são a prioridade.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Estado de esperança



My fellow citizens:

I stand here today humbled by the task before us, grateful for the trust you have bestowed, mindful of the sacrifices borne by our ancestors. I thank President Bush for his service to our nation, as well as the generosity and co-operation he has shown throughout this transition.

Key words used by President Barack Obama in his inaugural address.

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Forty-four Americans have now taken the presidential oath. The words have been spoken during rising tides of prosperity and the still waters of peace. Yet, every so often the oath is taken amidst gathering clouds and raging storms.

At these moments, America has carried on not simply because of the skill or vision of those in high office, but because we, the people, have remained faithful to the ideals of our forbearers, and true to our founding documents.

So it has been. So it must be with this generation of Americans.

Serious challenges

That we are in the midst of crisis is now well understood. Our nation is at war, against a far-reaching network of violence and hatred. Our economy is badly weakened, a consequence of greed and irresponsibility on the part of some, but also our collective failure to make hard choices and prepare the nation for a new age. Homes have been lost; jobs shed; businesses shuttered. Our health care is too costly; our schools fail too many; and each day brings further evidence that the ways we use energy strengthen our adversaries and threaten our planet.

We have chosen hope over fear, unity of purpose over conflict and discord

These are the indicators of crisis, subject to data and statistics. Less measurable but no less profound is a sapping of confidence across our land - a nagging fear that America's decline is inevitable, and that the next generation must lower its sights.

Today I say to you that the challenges we face are real. They are serious and they are many. They will not be met easily or in a short span of time. But know this, America - they will be met.

On this day, we gather because we have chosen hope over fear, unity of purpose over conflict and discord.

On this day, we come to proclaim an end to the petty grievances and false promises, the recriminations and worn out dogmas, that for far too long have strangled our politics.

Nation of 'risk-takers'

We remain a young nation, but in the words of scripture, the time has come to set aside childish things. The time has come to reaffirm our enduring spirit; to choose our better history; to carry forward that precious gift, that noble idea, passed on from generation to generation: the God-given promise that all are equal, all are free, and all deserve a chance to pursue their full measure of happiness.

In reaffirming the greatness of our nation, we understand that greatness is never a given. It must be earned. Our journey has never been one of short-cuts or settling for less. It has not been the path for the faint-hearted - for those who prefer leisure over work, or seek only the pleasures of riches and fame. Rather, it has been the risk-takers, the doers, the makers of things - some celebrated but more often men and women obscure in their labour, who have carried us up the long, rugged path towards prosperity and freedom.

For us, they packed up their few worldly possessions and travelled across oceans in search of a new life.

For us, they toiled in sweatshops and settled the West; endured the lash of the whip and ploughed the hard earth.

For us, they fought and died, in places like Concord and Gettysburg; Normandy and Khe Sahn.

'Remaking America'

Time and again these men and women struggled and sacrificed and worked till their hands were raw so that we might live a better life. They saw America as bigger than the sum of our individual ambitions; greater than all the differences of birth or wealth or faction.

The state of the economy calls for action, bold and swift

This is the journey we continue today. We remain the most prosperous, powerful nation on earth. Our workers are no less productive than when this crisis began. Our minds are no less inventive, our goods and services no less needed than they were last week or last month or last year. Our capacity remains undiminished. But our time of standing pat, of protecting narrow interests and putting off unpleasant decisions - that time has surely passed. Starting today, we must pick ourselves up, dust ourselves off, and begin again the work of remaking America.

For everywhere we look, there is work to be done. The state of the economy calls for action, bold and swift, and we will act - not only to create new jobs, but to lay a new foundation for growth. We will build the roads and bridges, the electric grids and digital lines that feed our commerce and bind us together. We will restore science to its rightful place, and wield technology's wonders to raise health care's quality and lower its cost. We will harness the sun and the winds and the soil to fuel our cars and run our factories. And we will transform our schools and colleges and universities to meet the demands of a new age. All this we can do. All this we will do.

Restoring trust

Now, there are some who question the scale of our ambitions - who suggest that our system cannot tolerate too many big plans. Their memories are short. For they have forgotten what this country has already done; what free men and women can achieve when imagination is joined to common purpose, and necessity to courage.

We reject as false the choice between our safety and our ideals

What the cynics fail to understand is that the ground has shifted beneath them - that the stale political arguments that have consumed us for so long no longer apply.

The question we ask today is not whether our government is too big or too small, but whether it works - whether it helps families find jobs at a decent wage, care they can afford, a retirement that is dignified. Where the answer is yes, we intend to move forward. Where the answer is no, programs will end. And those of us who manage the public's dollars will be held to account - to spend wisely, reform bad habits, and do our business in the light of day - because only then can we restore the vital trust between a people and their government.

Nor is the question before us whether the market is a force for good or ill. Its power to generate wealth and expand freedom is unmatched, but this crisis has reminded us that without a watchful eye, the market can spin out of control - that a nation cannot prosper long when it favours only the prosperous. The success of our economy has always depended not just on the size of our gross domestic product, but on the reach of our prosperity; on the ability to extend opportunity to every willing heart - not out of charity, but because it is the surest route to our common good.

'Ready to lead'

As for our common defence, we reject as false the choice between our safety and our ideals. Our founding fathers, faced with perils we can scarcely imagine, drafted a charter to assure the rule of law and the rights of man, a charter expanded by the blood of generations. Those ideals still light the world, and we will not give them up for expedience's sake. And so to all other peoples and governments who are watching today, from the grandest capitals to the small village where my father was born: know that America is a friend of each nation and every man, woman, and child who seeks a future of peace and dignity, and we are ready to lead once more.

We will not apologise for our way of life, nor will we waver in its defence

Recall that earlier generations faced down fascism and communism not just with missiles and tanks, but with the sturdy alliances and enduring convictions. They understood that our power alone cannot protect us, nor does it entitle us to do as we please. Instead, they knew that our power grows through its prudent use; our security emanates from the justness of our cause, the force of our example, the tempering qualities of humility and restraint.

We are the keepers of this legacy. Guided by these principles once more, we can meet those new threats that demand even greater effort - even greater cooperation and understanding between nations. We will begin to responsibly leave Iraq to its people, and forge a hard-earned peace in Afghanistan. With old friends and former foes, we will work tirelessly to lessen the nuclear threat, and roll back the spectre of a warming planet. We will not apologise for our way of life, nor will we waver in its defence, and for those who seek to advance their aims by inducing terror and slaughtering innocents, we say to you now that our spirit is stronger and cannot be broken; you cannot outlast us, and we will defeat you.

'Era of peace'

For we know that our patchwork heritage is a strength, not a weakness. We are a nation of Christians and Muslims, Jews and Hindus - and non-believers. We are shaped by every language and culture, drawn from every end of this earth; and because we have tasted the bitter swill of civil war and segregation, and emerged from that dark chapter stronger and more united, we cannot help but believe that the old hatreds shall someday pass; that the lines of tribe shall soon dissolve; that as the world grows smaller, our common humanity shall reveal itself; and that America must play its role in ushering in a new era of peace.

To the Muslim world, we seek a new way forward, based on mutual interest and mutual respect. To those leaders around the globe who seek to sow conflict, or blame their society's ills on the West - know that your people will judge you on what you can build, not what you destroy. To those who cling to power through corruption and deceit and the silencing of dissent, know that you are on the wrong side of history; but that we will extend a hand if you are willing to unclench your fist.

To the people of poor nations, we pledge to work alongside you to make your farms flourish and let clean waters flow; to nourish starved bodies and feed hungry minds. And to those nations like ours that enjoy relative plenty, we say we can no longer afford indifference to suffering outside our borders; nor can we consume the world's resources without regard to effect. For the world has changed, and we must change with it.

'Duties'

As we consider the road that unfolds before us, we remember with humble gratitude those brave Americans who, at this very hour, patrol far-off deserts and distant mountains. They have something to tell us, just as the fallen heroes who lie in Arlington whisper through the ages. We honour them not only because they are guardians of our liberty, but because they embody the spirit of service; a willingness to find meaning in something greater than themselves. And yet, at this moment - a moment that will define a generation - it is precisely this spirit that must inhabit us all.

What is required of us now is a new era of responsibility

For as much as government can do and must do, it is ultimately the faith and determination of the American people upon which this nation relies. It is the kindness to take in a stranger when the levees break, the selflessness of workers who would rather cut their hours than see a friend lose their job which sees us through our darkest hours. It is the firefighter's courage to storm a stairway filled with smoke, but also a parent's willingness to nurture a child, that finally decides our fate.

Our challenges may be new. The instruments with which we meet them may be new. But those values upon which our success depends - honesty and hard work, courage and fair play, tolerance and curiosity, loyalty and patriotism - these things are old. These things are true. They have been the quiet force of progress throughout our history. What is demanded then is a return to these truths.

What is required of us now is a new era of responsibility - a recognition, on the part of every American, that we have duties to ourselves, our nation, and the world, duties that we do not grudgingly accept but rather seize gladly, firm in the knowledge that there is nothing so satisfying to the spirit, so defining of our character, than giving our all to a difficult task.

'Gift of freedom'

This is the price and the promise of citizenship.

This is the source of our confidence - the knowledge that God calls on us to shape an uncertain destiny.

This is the meaning of our liberty and our creed - why men and women and children of every race and every faith can join in celebration across this magnificent mall, and why a man whose father less than 60 years ago might not have been served at a local restaurant can now stand before you to take a most sacred oath.

So let us mark this day with remembrance, of who we are and how far we have travelled. In the year of America's birth, in the coldest of months, a small band of patriots huddled by dying campfires on the shores of an icy river. The capital was abandoned. The enemy was advancing. The snow was stained with blood. At a moment when the outcome of our revolution was most in doubt, the father of our nation ordered these words be read to the people:

"Let it be told to the future world... that in the depth of winter, when nothing but hope and virtue could survive... that the city and the country, alarmed at one common danger, came forth to meet [it]."

America. In the face of our common dangers, in this winter of our hardship, let us remember these timeless words. With hope and virtue, let us brave once more the icy currents, and endure what storms may come. Let it be said by our children's children that when we were tested we refused to let this journey end, that we did not turn back nor did we falter; and with eyes fixed on the horizon and God's grace upon us, we carried forth that great gift of freedom and delivered it safely to future generations.

Thank you. God bless you. And God bless the United States of America.


Ficou o mundo em estado de esperança, quando ouviu alguém que parece estar mais perto de nós, que faz um discurso que tem preocupações quase parecidas com as nossas, as da gente normal. Apesar das dúvidas, pressentem-se diferenças entre este homem e esta mulher e sobretudo aqueles que hoje foram apeados. Simbolicamente Cheney nem saiu a pé, mas de cadeira de rodas, traduzindo alegoricamente a impotência e fragilidade da governação cessante. Bush tinha um olhar vago de quem está aliviado e pronto para alguma boémia texana. Que a História lhe não seja leve.
Mas vamos lá a ver se o estado de esperança, um dia chegará a estado de bem-estar. Tenho dúvidas, mas eu sou um céptico.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Embrulhados

Mais do que a prenda, o importante é o papel em que se embrulha. Foi fiel a este conceito que o PM nos serviu a última prenda de suplemento de orçamento. Embrulhou-a sabiamente com a questão dos ditos casamentos homossexuais e pronto ficou tudo a falar do papel. Genial, uma vez mais. Desta vez nem os bloquistas do costume abriram a boca, sensibilizados que ficaram com o embrulho, também estes esqueceram a prenda. No resto, a D. Manuela vai dando umas ajudas com mais umas gafes. Porreiro, pá!

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Requiem

Não fosse a viagem de comboio feita ao amanhecer, a espreitar as árvores despidas no meio das brumas e estas reuniões da Ordem seriam ainda mais deprimentes. Assim, enquanto desenrolam os argumentos corporativos, eu lembro-me dos encantos do nevoeiro que nos faz perceber melhor a realidade e vou apreciando melhor a fita que descrevem. Por momentos acontece que tudo fica muito transparente e o rei desfila nu, sem que alguém ouse afirmá-lo. Cheguei a um estado de sabedoria em que a distracção me salva e tranquiliza. Ao fim e ao cabo também não hão-de piorar muito as coisas. A eficácia deles é nula. Tudo não passa de fingimento, fitas.
Esta organização morreu.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Oração

Queria só, a propósito, e de uma forma mais abrangente recomendar a tod(o)as a(o)s jovens, que pensem bem nos sarilhos em que se podem meter se pensarem em casar-se com judeus, católicos e outras vítimas de qualquer fanatismo religioso. Digo-o por caridade cristã e para que, nesta altura, os árabes se sintam mais acompanhados. Ámen.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Santa ignorância

Ouvi há dias que 96% das pessoas (ou seriam portugueses? Não importa, devem ser iguais aos outros) não apreciaria saber com antecedência a altura da sua morte. Há uma sensível vantagem na ignorância de se não saber o tempo que se tem, não pela geração do desejo de não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, mas porque permite esperar pelo último instante, que é sempre o que há-de vir. É a manifestação de uma esperança que o conhecimento antecipado inevitavelmente nos roubaria, sem ganho notório. E a privação da esperança é algo inaceitável. Na verdade, mesmo que algo deixemos por fazer, por alguma surpresa acontecida, pouco se perderá e a vida continuará a ser como dantes para os restantes. Por tudo isso, (uma vez na vida!) estou com a maioria.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Inbox

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.

Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.

A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.

Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"


Estranho sempre este gáudio pacóvio que faz proliferar este tipo de mensagens pelas nossas inboxes. É como se nada disto fosse, também, responsabilidade nossa. Toda a culpa do que nos rodeia é sempre dos outros, dos que fazem este país onde a nossa missão parece estar reduzida a assistir, sem nada fazer. Uma confissão de impotência que envergonha e que, pelo menos, devia causar algum remorso. Continua-se, tranquila e criticamente, à espera que façam melhor, eles, mas nunca nós. Eles, continuam a ser tolerados como actores, por aqueles que críticos nunca se assumem como mais do que espectadores. Futebolistas de bancada. Intelectuais à espera.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Que se lixe a taça

Está em festa a pátria lusa depois de saber que mais «um de nós» é o melhor do mundo. A parte que me cabe da receita de tão enorme feito está, desde já, à venda e a preço zero. A ilusão da grandeza não me afecta, muito menos os êxitos desta dita indústria nacional que é o futebol. Deixo gostosamente o sabor destas vitórias a todos os Albertos Joões e títeres associados, para celebração da sua consistência ideológica.
Curiosamente, até nesta indústria, a emigração é necessidade para o triunfo. Por cá, ficam os foras de jogo e as penalidades por assinalar ou demasiado assinaladas, na eterna discussão das incompetências. Tudo é mentira desportiva ou não, que isto de desporto até me parece ter bem pouco. Ainda permaneço fiel à antiga designação que a isto tudo se dava: alienação.
Por humanidade, espero que, ainda assim, possa servir esta honraria ao tal melhor para reflectir um pouco mais, antes de desaparecer volatilizado nalgum embate mais violento ainda, contra uma qualquer protecção de estrada.

domingo, janeiro 04, 2009

Deuses

(retirado de http://www.monde-magouilles.com/photos_guerre/gaza3.jpg)

Tantos deuses os homens criaram para afastar os seu medos. Tantos medos têm agora por causa dos deuses criados. E se os deuses afinal fossem inocentes?
Demónios que me perseguem durante a visita a deuses das Ásias no Museu Do Oriente.

sábado, janeiro 03, 2009

O Guiness dos anos

Insondável é a razão por que a excepção sempre é notícia. Neste caso a apontar-nos que a proximidade da eternidade sempre é possível. E daí? apetece perguntar. Será a contagem dos anos assim um valor a perseguir? Para que serve a colecção de anos, se nisso só houver pouco sonho e corte patético de fatias de bolo a cada 365 dias? Pior ainda, quando a vida se evita para lhe dar anos, quando os medos se sobrepõem impedindo a própria vida. O vazio da sobrevivência é o risco de muitas vidas, ainda que longas, em que se vive para estar e não se está para viver, para se sentir o sentido de estar. Porque deve haver um sentido, um programa e um destino em tudo isto, diferente de uma vida tão eterna quanto incerta. Deixar algo que perdure e ajude a vida dos vivos nesta tarefa colectiva em que se está.
Mais do que contar os anos de vida, importa contar a vida que esteve nos anos passados, perceber a inutilidade da anestesia que, curando a dor do quotidiano, apenas prolonga a sobrevivência. Necessário é evitar a paralisia dos medos e ganhar tempo ao tempo. Uma sobrevivência longa é curiosidade justificando uns minutos de notícia, uma vida curta pode ser a persistência da notícia, que dá sentido aos vivos durante gerações. Que o digam Mozart ou Guevara, que falharão o Guiness dos anos, mas terão sempre lugar no da Vida.

quinta-feira, janeiro 01, 2009


Os anos começam em qualquer dia e seguem a sucessão dos dias acontecendo sempre de forma idêntica. Cada momento com os seus encantos.
Há dias que encantam mais: os passados com os amigos.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Fim do ano de várias mortes

A morte é o cabo dos trabalhos. Para os sobreviventes é uma romaria entre conservatórias dos vários registos, departamentos urbanísticos das câmaras e repartições de finanças. Na terra do Simplex, tudo isto está desconectado e em cada um dos locais a mesma realidade é lida de formas diferentes. Por isso, neste final de ano, decreto a impossibilidade da minha morte nos próximos 50 anos, para simplificação dos que me sobreviverão. A partir dessa data já tudo deverá estar simplificado.
A morte é a realidade dos palestinianos neste final de ano. O homem da mudança vai tentando acertar nos buracos do golf no Hawaii enquanto Israel cava buracos na faixa de Gaza numa reedição do Holocausto.
De morte é a política cá na terra. Há uma lei que é aprovada por todos os deputados e há um Presidente iluminado que acha que ela põe a Pátria em perigo. Fala de deslealdade de outro órgão de soberania. O que faz perante a pátria em perigo e a deslealdade? Uma comunicação ao país! Como reage o país? Não o ouviu, os portugueses tinham corrido para os Centros Comerciais à procura dos saldos. Realmente só um país surreal pode não ter eleito um poeta.
Ferida de morte estará também a Santa Economia Liberal. The game is over. A ver vamos, que perante tanta morte num só ano, necessária se torna um Renascimento de Vida no ano que vai chegar.

Bom Ano Novo a todos os que não desistem.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Change we need

Afinal Israel continua igual, a atacar de forma implacável quem lhe atira umas pedradas. O embaixador em Lisboa, em entrevista, insulta a nossa inteligência quando perguntado se a acção em curso não era desproporcionada, responde que não podiam estar à espera que morressem 300 israelitas para atacar.
O mundo celebrou a mudança há uns tempos atrás, mas tudo está aparentemente igual apesar do Presidente Eleito ser outro. Alguma vez se colocará do lado certo do mundo?

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Cá dentro, de férias

As férias também podem ser são aquela altura do ano em que a vertigem cessa. Fica lá fora a confusão e é-nos permitido ficar cá dentro, mais connosco. Nunca até agora assim tinha sido, porque a voracidade do novo sempre se impôs. Aconteceu diferente este ano, em que as férias vieram culminar um fim de tempos, de ausências definitivas, de ano, permitindo um imperioso renascimento consonante com a época do Natal, porque o mundo não pode estar sempre a acabar. As férias foram, desta vez, mais do que uma partida para um lugar novo, uma chegada a velhos lugares. Aos lugares que me foram fazendo e onde me gravei nos olhares que agora pude rever. Remexer as arrumações de muitos anos é uma oportunidade de voltar a ser o ser que fui, com a certeza de que, no fim, já serei outro que percebeu a impossibilidade de ser o que não foi. Muitas das férias do passado foram viagens no espaço, estas foram viagens no tempo.
No remexer da arrecadação pude lembrar-me dos projectos que ficaram por contar, porque as formigas também fogem devoradas pela enxurrada do tempo que passa. Em Agosto de 1986, começava outras férias assim:
Ontem encontrei uma formiga que de olhinhos tristes e a fazer o pino no soalho da caravana me disse: Leva-me à boleia. Estou farta desta vida de andar no carreiro. Por favor, gostava tanto de encontrar novas paisagens, sair deste caminho sempre igual da frente para trás e de trás para a frente. Olhei para ela e apeteceu-me dizer-lhe que não, que o Renault 5 é um carro fraquinho e que assim com ela sempre teria de puxar mais um bocadinho. Mas não disse, porque ela ia achar isso uma desculpa tonta. Perguntei-lhe então, o que iria ela dar-me em troca da boleia. Vi a sua tristeza com esta noção de amizade, mas lá me respondeu: Talvez te possa fazer cócegas e contar-te a história das nossas viagens. Achei a ideia excelente e estas são as histórias de viagem da minha amiga formiga, a quem estou muito contente por ter dado boleia. Na verdade a formiga ainda me contou algumas histórias, mas a pressa dos momentos fez com que fugisse ao fim de uns dias e as histórias ficaram por registar. Este é o risco de muito projectar, porque a ambição faz o objectivo demasiado grande para o tempo que se tem. Mais que tudo, é preciso não deixar passar o momento nos projectos, porque não somos o futuro.
Gozo dá, ver o futuro do passado através de um esboço que se fez, porque é no presente que o prazer vale. E valeu também a ideia de dar sombra ao futuro pela plantação no presente de uma árvore. Ficaram por lá 21 no sonho de repousos futuros (ou para pasto presente das ovelhas?).
Chega-se aqui, finalmente, mais descansado depois depois desta viagem, cá dentro.

terça-feira, novembro 25, 2008

Fumo de pó

Um fumo de pó, a subir, nos raios de sol filtrados por entre os ciprestes. Um instante de leveza por entre o pesadelo do momento.

domingo, novembro 23, 2008

Faça-se luz

O texto já levava mais de 30 páginas de história da electricidade. O problema não era construir o candeeiro, que seria o objectivo do trabalho, mas fazer caber o enorme texto copy-paste, no limite imposto de palavras do trabalho. Oh tio, isto não interessa, pois não? Selecciona e delete. E continua-se. Vamos lá começar a pensar em fazer um candeeiro. Isso, a pensar.
Têm destas ironias os momentos. Enquanto ali ao lado a luz se vai extinguindo sem apelo, aqui vamos fazer nascer um candeeiro num projecto pensado e não realizado por copy paste mais ou menos imcompreendido e ilegível. Mais do que um candeeiro, é necessário fazer-se luz sobre a forma de aprender a pensar, o que é um projecto bem mais difícil de realizar. Mas não se ensina agora na escola essa coisa que é como se pensa? Perdidos andam pelo Magalhães.

sábado, novembro 22, 2008

Mudar de alvo

Obesidade, quem é responsável?

Num mundo onde há mais de 600 milhões de pessoas com fome, existem ao seu lado 1000 milhões com excesso de peso ou obesidade, sendo 300 milhões obesos. Em Portugal estima-se que haja actualmente cerca de 14% de indivíduos com excesso de peso ou obesidade.
Chega-se a estes números trágicos num período de tempo relativamente curto de 20 a 30 anos, curiosamente coincidente com a expansão da globalização e o triunfo do liberalismo e dos estilos de vida a ele associados.
A dimensão do problema é dramática não por problemas estéticos, pois a gordura até já foi formosura, mas porque a obesidade se encontra muitas vezes associada com problemas graves de saúde como a diabetes mellitus tipo 2, as doenças cardiovasculares, doenças músculo-esqueléticas e mesmo cancro, causadoras de morbilidade e mortalidade significativas. Por exemplo, nos Estados Unidos, calcula-se que haja mais de 300000 mortes por ano por doenças relacionadas com a obesidade.
Para além do sofrimento individual, a obesidade implica sofrimento social e tem custos importantes. Nos países da OCDE representa 2 a 6% dos custos relacionados com a saúde e, em Portugal, segundo dados de João Pereira, tem custos directos de 297 milhões de euros (2,5% da despesa em Saúde) a que se somam os custos indirectos estimados em 199 milhões.
Estamos assim perante um problema que tem vindo a tomar dimensões de epidemia, sendo as causas directas, a nível individual, um balanço energético positivo, isto é, a energia ingerida (alimentação) ultrapassa a que é gasta (exercício físico).
As razões por que isso acontece poderão ser a irresponsabilidade individual, porque, obviamente quem come e não faz exercício é o indivíduo, ou, por outro lado, factores genéticos e externos à pessoa, por ela não controláveis, como factores ambientais e socioeconómicos. Reconhecendo certamente o papel dos factores genéticos, o desenvolvimento do problema em tão curto intervalo de tempo, exclui um papel determinante da genética no aparecimento da crescente epidemia de obesidade. Definir quem é o responsável é importante porque isso tem implicações, por exemplo, na estratégia a seguir para combater este flagelo, assim como, é claro, na decisão de a quem apresentar a conta dos custos implicados.
Este problema da responsabilidade tem sido amplamente abordado a vários níveis e também nos media, os quais têm um papel determinante não só alertando para os problemas, identificando-os, mas também «educando-nos» sobre a forma de como devemos pensar sobre eles. São eles que determinam muitas vezes a forma como percebemos os problemas e nos sugerem o responsável pela sua ocorrência.
Nas sociedades dominadas pelo liberalismo, há uma tendência para atribuir as causas dos problemas, incluindo os da saúde, aos comportamentos individuais, atribuindo-se um papel secundário aos factores sociopoliticos ou económicos que eventualmente possam condicionar as opções dos indivíduos. Assim, o ónus da prevenção das doenças é atribuído de forma sistemática aos comportamentos individuais. A classe dominante tem dificuldade em aceitar um papel determinante da organização da sociedade, que levariam a tomar atitudes consideradas demasiado drásticas, como o princípio da responsabilidade por tornar acessíveis os cuidados de saúde e medidas preventivas com regulamentação das indústrias e imposição de impostos com vista a modificar comportamentos nefastos.
Este posicionamento tem sido verificado na forma como o problema da resposabilidade na obesidade tem sido apresentado pelos media. Em publicações recentes, que avaliaram o enquadramento das notícias relacionadas com a responsabilidade pela obesidade em jornais de grande circulação e na televisão dos Estados Unidos e da Austrália, os autores concluíram que as causas foram apontadas como sendo pessoais 2,4 vezes mais frequentemente que as atribuíveis aos condicialismos sociais e que a resolução do problema deverá partir dos indivíduos 4,3 vezes mais do que de alterações sociais. Há uma atitude de responsabilização dos obesos, considerados gente sem vontade e preguiçosa, apontando-lhes o caminho correcto de mais exercício e menos e melhor comida. Os pais das crianças obesas chegam mesmo a ser acusados de maus tratos por terem filhos com peso excessivo! Ao longo dos tempos, pouco se tem questionado acerca das razões da persistência nos erros e se será, realmente, uma opção livre e consciente ser-se obeso. Esta atitude resulta da crença liberal de que os indivíduos são responsáveis pelos seus problemas e de que a sociedade não deve interferir com os problemas individuais. Por isso, sempre se tem apontado para resolução do problema a mudança dos comportamentos individuais, o que tem mostrado ser absolutamente ineficaz ao longo dos anos em que a epidemia da obesidade tem vindo a progredir. Começa a ser tempo de reflectir sobre formas alternativas de encarar a resolução deste problema. Com efeito, é possível identificar alguns factores como causas sistémicas que contribuem para a preferência individual por alimentos menos saudáveis e pelo sedentarismo e que têm contribuído para o aparecimento e crescimento da obesidade.
Dados epidemiológicos mostram que, embora sendo um problema transversal a todos os níveis socioeconómicos, a obesidade afecta predominantemente grupos com menores rendimentos e de menor escolaridade.
Por outro lado, constata-se que algumas transformações na organização da vida social são facilitadoras do problema:
1. transição do campo para a cidade com abandono progressivo de uma vida activa no sector primário para um estilo de vida sedentário característico da actividade no sector dos serviços;
2. introdução de ritmos de trabalho, com o abandono progressivo dos horários de trabalho e inexistência de pausas laborais, que impedem uma ingestão de alimentos em ambientes e com tempo adequado;
3. residência em dormitórios na periferia das cidades, longe dos locais de exercício da actividade profissional, implicando perdas de tempo em transportes e stresse associado, que levam a redução dos tempos de lazer, com diminuição, nomeadamente do tempo disponível para cozinhar os alimentos e indisponibilidade para a prática de exercício físico;
4. mas não só a falta de tempo, também a subordinação ao império do cimento implica uma cada vez maior escassez de espaços aprazíveis para se andar, ainda agravda pela cada vez maior insegurança reinante nessas zonas;
5. a alguns aspectos desta realidade respondeu a indústria alimentar, indo ao encontro das necessidades dos cidadãos e perseguindo os seus objectivos de crescimento, com a proliferação das actividades de processamento alimentar especialmente ricos em gordura e açúcares, alimentos saciantes, de bom paladar e de baixo custo, que têm, por isso, uma boa relação custo-benefício imediata para o comprador. Mas à custa da criação de um ambiente tóxico pelo seu teor de alta densidade calórica.

Assim sendo, que novas atitudes se impõem para combater este problema de saúde pública e criar um futuro mais livre de obesidade?
É necessário mudar, começando por transferir o foco do combate da alteração dos comportamentos individuais, que tem mostrado ser uma estratégia ineficaz, para uma intervenção prioritária da sociedade, com modificações das políticas de desenvolvimento a vários níveis: promoção do bem-estar social e combate sério à pobreza, melhoria das condições no trabalho, desenvolvimento de novos tipos de urbanismo, regulação da indústria e das suas estratégias de marketing. Ou seja o Estado tem de assumir o seu papel de responsável moral pela protecção dos cidadão relativamente às ameaças que se colocam às suas vidas e interesses, de acordo com o conceito de Contrato Social proposto já no século XVII por Thomas Hobbes, tanto mais que não só está em causa a saúde individual como há uma ameaça real para a sociedade. Fê-lo no caso do tabaco ou das medidas de limitação de velocidade ou uso obrigatório do cinto de segurança com eficácia demonstrada, é tempo de intervir também no caso da obesidade, facilitando a opção individual por estilos de vida mais saudáveis.
Alguns sectores têm argumentado que o Estado não deve e nem sequer tem o direito de condicionar a liberdade individual, cabendo-lhe antes o papel de assegurar a livre interacção dos agentes envolvidos. No que respeita ao problema da obesidade já se referiu que afecta primordialmente grupos socioeconomicamente desprotegidos os quais tiveram frequentemente um processo de socialização com forte controlo de locus externo, isto é, que aceitam facilmente a ideia de que as coisas lhes acontecem sem uma grande capacidade de intervenção perante aquilo que «eles» (as autoridades) lhes impõem. E, como refere Holm, «actos voluntários são aqueles que se escolhem livremente, não instintivos e não condicionados pela sociedade em que se vive e que não são determinados por factores externos». Também por este motivo, se justifica a intervenção reguladora do Estado.
Contrariamente, ao caso do tabaco, o recurso aos impostos penalizadores de tipos de alimentos menos saudáveis é uma opção duvidosa e possivelmente injusta, pois acabaria por ser uma dupla penalização para os mais fracos, além de que enquanto fumar não é obrigatório, comer é uma actividade vital.
Outras medidas, como a limitação da distribuição de alimentos nefastos nas escolas e noutros locais e a intervenção no sentido da proibição da publicidade desses produtos, são medidas muito mais viáveis e com resultados potencialmente eficazes.
Por vezes, tem a Indústria alimentar nos últimos tempos reivindicado um papel de parceiro neste combate. Temos de reconhecer que não é essa a vocação das organizações. Na sociedade capitalista, como é referido num comentário recente da JAMA, as suas prioridades serão sempre prioritariamente a geração de valor para o accionista e isso passa por convencerem os consumidores a comerem mais, doses maiores e a fazê-los preferir alimentos processados, os quais garantem maiores margens de lucro. Não se desvalorizando algumas iniciativas de empresários de maior visão, como refere esse mesmo artigo, acreditar no seu papel para reduzir o problema seria o mesmo que «deixar à indústria automóvel o papel de reduzir a sisnistralidade nas estradas ou os problemas do aquecimento global».
Em resumo, a responsabilidade individual por se ser obeso é bastante questionável e as estratégias de resolução que passem pela modificação de comportamentos individuais como forma de combater o problema são discutíveis e têm mostrado ser bastante ineficazes. A obesidade é um problema de saúde pública que só pode ser resolvido por medidas iminentemente políticas, cabendo ao Estado um papel determinante na resolução das causas do disfuncionamentos social que leva a que os cidadãos a optar por estilos de vida nefastos. Até que se criem as condições de opção livre dos cidadãos pelos seus estilos de vida, compete ao Estado suportar os custos do problema.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Industria!!!

Os fundos de cobertura de risco, denominados por "hedge funds", podem perder mais um bilião de dólares (o equivalente a 792 mil milhões de euros) durante o próximo ano. A estimativa é avançada pelo Citigroup e representa cerca de metade do valor do património gerido, actualmente, por esta indústria a nível mundial.
É uma citação do Jornal de Negócios. Sublinho Indústria, por achar que há algum descaro na aplicação de um termo nobre, que deveria ser reservado para processos em que, através do trabalho, há transformação de matérias-primas noutros produtos. Chamar à especulação, só porque gera dividendos, Indústria é algo que choca. Não vejo nem trabalho, nem transformação, mas apenas jogo, com os resultados que se sabe.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Mudam-se as moscas

Tão inimigos que nós fomos, tão unidos, afinal, que somos agora na recuperação do fundamental. São estas as coisas que fazem descrer ou como se dizia antes, de vez em quando, é preciso mudar as moscas. Inocentemente, acredita-se que a mudança é possível, mas isto já me começa a cheirar mal... Deve ser do substrato que permanece inalterado.

terça-feira, novembro 11, 2008

Episódios

Professores e alunos, num acto da mais elevada pedagogia, unem-se numa manifestação para atirarem ovos à Ministra da tutela.
PP atira-se ao Governador do Banco de Portugal pela sua falta de regulação no caso BPN. É como ser tolerante com o ladrão e deixá-lo em paz, enquanto se ataca a polícia por ter deixado o roubo acontecer.
Episódios em dia em que se esqueceram as castanhas. Será efeito da jeropiga?

domingo, novembro 09, 2008

Ontem


O homem sonha, a obra nasce. Queira Deus.

São agora 31 pilares estruturantes, apontados ao céu. Um dia, vestidos, lembrar-me-ei que, ocultos então, me suportam o abrigo.

sábado, novembro 08, 2008

Outdoor horizontal

Escrito em maiúsculas brancas, é um grito no asfalto. Debaixo da janela que só o escritor sabe e ao alcance dos olhos que só o leitor interpreta na completa dimensão, fica ali, até que a chuva apague o giz, uma serenata de letras, um outdoor horizontal. Até que chova, fica o anúncio simples, sem cursos de marketing, porque a sinceridade não necessita de ajuda técnica. Por isso, é mais forte, só porque tem a energia da verdade é muito mais potente que a menina dourada do J'adore, fechada na vitrina da paragem de autocarro. Apenas, as 5 letras de um grito silencioso que se não podia conter mais- AMO-TE - sem que ninguém, excepto o escritor e o leitor, saiba o segredo que só a eles pertence. Estas coisas não se apagam por vontade dos homens: Não, aí não se faz, anda, faz na árvore! É o meu contributo para a preservação da verdade anunciada. Que estas coisas são mesmo verdade, vêem do fundo.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Saúde-se a maioria de 40%

É bem sabido que os portugueses e a matemática não se dão muito bem. Depois da semana de 8 dias e de duas semanas serem 15 dias, temos agora, a maioria de 40%. É saudável e uma questão de bom senso que os médicos e toda a gente em geral deixe de fumar. O curioso da notícia é o título. Dos que fumavam, foram 40% os que deixaram de fumar. Segundo o jornalista a maioria dos médicos deixou de fumar. Ora o conjunto dos que deixaram de fumar só pode ser retirado do universo que fumava, onde, a fazer fé nos dados, continua a haver uma minoria de 60% que mantêm os hábitos.

Saído do armário?

Será que o senhor Berlusconi está a sair do armário? Quando se elogia assim Obama e se diz que há mulheres a mais no governo de Espanha dá, no mínimo, para desconfiar.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Renascido a 4 de Novembro?


Por instantes uma onda de sorriso alastrou pelo mundo como um tsunami de esperança. Vamos ver, se o 4 de Novembro foi o dia em que a América renasceu.

domingo, novembro 02, 2008

Bom pró preto!

Depois de casar para procriar, do anúncio da irresponsabilidade do aumento do ordenado mínimo, temos, finalmente, que as obras públicas são boas é para o preto. Quando se fala assim, está explicado o silêncio!
A arrogância técnica da grande financeira face ao pobre engenheiro. Há pessoas a quem não há conselheiros de imagem que lhes valha. Esta também raramente se engana, vive noutro universo. Cada vez mais, o seu amigo, Menezes tem razão, não ganha eleições a ninguém, nem para Junta de Freguesia.

sábado, novembro 01, 2008

Sul américa?

Cão que ladra, não morde. Mas se incomoda demasiado o seu barulho, há que neutralizá-lo. Passado todo este tempo, não há paciência para a intimidação de uma classe de utilidade social mais que duvidosa. Olho as FA como um daqueles delírios de grandeza que, com frequência mais do que o desejado, assolam a cabeça da gente desta terra. Numa análise custo-benefício, seguramente, seriam uma empresa mais que falida e a encerrar, mas mantida aberta pela psicopatologia das gentes. O que já ultrapassa a normalidade é que, para além da inutilidade e prejuízo, tenham uma acção desestabilizadora. Afinal, vivemos num país pretensamente europeu, onde o papel das FA é definido pelo poder político e onde não deveria haver lugar para chantagens e ameaças de quem serve. Mas isto é, se calhar, uma ilusão. Ainda assim, espera-se a utilidade dos Serviços de Informação e a firmeza perante o inadmissível. De outra forma, ter-se-á convertido esta terra num qualquer território sul-americano (sem ofensa para eles, que têm feito boas evoluções).