segunda-feira, novembro 23, 2015

Ser vivo

A predisposição para viver advém da esperança. Quando ela diminui ou deixa de existir, instala-se o desespero da sobrevivência, que, no limite, nos pode deixar na situação de vivos-mortos. Foi a consciência de estar morto, estando vivo, que assaltou aquele habitante de Bruxelas que ontem se fartou de estar em casa e foi para a rua ver o que se passava. Ainda não sabemos o que viu, mas viveu porque venceu o medo e teve esperança de voltar. É fundamental que o terror saiba que, a contrapartida ao fanatismo medieval que o move e disponibiliza para a morte, se opõe o fanatismo contemporâneo da vida. Sem medo e com esperança, que é a única forma de ser vivo.

segunda-feira, novembro 16, 2015

Pausa

Tratar viroses com antibióticos tem vários problemas. Os antibióticos são ineficazes na eliminação dos vírus, têm custos e, para além do mais, têm efeitos acessórios. Pode ser pior a cura que a doença. Ou seja antes de tratar é necessário perceber as causas da doença. Depois deve tratar-se a causa identificada. O êxito depende disso. O mundo não está bem, a humanidade está a ser vítima de vários ataques. Dia a dia gera-se desespero, completa ausência de esperança em muita gente e a dor cresce até níveis que se tornam insuportáveis. O conceito de humanidade ficará certamente alterado quando se sobrevive desumanizado. É uma hipótese que nada justifica, mas que possivelmente deve ser tida em conta. Sim, eu não sou terrorista, eu acho abominável ser-se terrorista, mas eu não sou vítima de alguns ataques a que a humanidade está sujeita. Não sou palestiniano, iraquiano, sírio, não sou europeu jovem e desempregado, nem vivo em subúrbios de uma qualquer cidade europeia. Eu não sei o que se sente aí. Nem imagino bem, mas é quase certo que não terão a esperança e o gosto de viver que eu tenho, ou seja, temos significados diferentes de vida. Nem sei se o encerramento da esperança e a dor que provocará pode levar as pessoas a usarem a religião como analgésico. Eu apenas sinto que o mundo não está bonito, mas eu vivo na parte mais bela dele, nem preciso de estar resignado para sobreviver. Eu vivo e sinto que é urgente tornar o mundo mais feliz, mais gostoso para viver. Isto é muito complexo, certamente. Mas a humanidade não tem muros a separá-la, é global. É fácil dividirmos a globalidade em bons e maus, mas será esse o caminho? Será assim tão simples a complexidade do mundo? E fico chocado, revoltado com a barbárie, mas tenho muito medo também dos tratamentos fáceis para doenças complexas. Que poderemos nós fazer por um mundo melhor? É uma reflexão necessária se não se quiser ir pelos tratamentos errados e sofrer os custos e os efeitos adversos dos erros terapêuticos.

quarta-feira, novembro 11, 2015

A semana das tias

Tias Só me passa pela ideia a imagem daquelas tias solteiras, feiosas, que foram abandonadas pelo namorado que desejavam e as repeliu trocando-as por outras. Esperneiam e gritam pela traição de quem pouco lhes havia prometido. Choram desesperadas à beira de um ataque de nervos, porque não entendem como tal foi possível, trocadas elas, que eram tão bonitas. Momento da semana Nesta última semana, houve um momento delicioso, aquele em que a gente de direita ficou suspensa, cheia de esperança, com a decisão do Comité Central do PCP. Acreditavam piamente num último milagre e foi lindo de ver tanta fé no inimigo.

segunda-feira, novembro 09, 2015

Agradecimento

Obrigado! Grato por, ao fim de 40 anos, ter recuperado a cidadania. Ao fim deste tempo a votar sempre da mesma maneira, mesmo que a lucidez me fizesse perceber aqueles e aquelas que me diziam que era um voto inútil porque eles nunca teriam condições de chegar ao governo, persistentemente e teimoso, porque a idade já não vai para grandes mudanças, aceitei continuar todo este tempo a ser um português de segunda, fora do arco da governação. Afinal, valeu a pena, porque a história não tinha acabado e continua ainda. Espero que este sentimento de cidadania recuperada possa estender-se no futuro a todos aqueles que indispostos, já tinham desistido de ir dobrar o papelinho de vez em quando. Vale a pena fazê-lo para aumentar a maré e, mais do que isso, vale a pena estar alerta e participar da forma que nos for possível, expressando as nossas opiniões, aqui e ali, evitando também pedir o impossível, porque a irrealidade desejada, só ajuda a manter a situação. O caminho faz-se aos poucos, até com recuos para mais tarde se avançar rumo ao futuro que pensámos.