terça-feira, fevereiro 11, 2014

Robots

Mistura isto com aquilo na velocidade 4; à temperatura de 100ºC durante 3 minutos, depois junta mais outra coisa e tritura na velocidade turbo...Tudo simples, rigoroso, normalizado com vista a um produto final aparentemente, mas só na aparência, igual a outros, que surge quase por magia, porque nada do que aconteceu até resultar foi idealizado, pensado, testado, isto é criado. É a produção sem criação, o destreino do pensar, agir pelos comandos de outros seres ocultos que nos orientam os atos e repousam a mente para a facilidade inglória dos dias. Cada vez mais tudo acontece assim: fácil, rápido, inocentemente como por magia. E assim se fica cada vez mais dependente, atrofiado até à completa dependência, iludidos pelo prazer imediato da realização, mas desconhecendo os mecanismos profundos dos processos. Cada vez mais atores inconscientes, robots, ao serviço de comandantes ocultos e todo-poderosos. A coisa já chegou à cozinha, mas existe em quase tudo o resto que nos rodeia onde desconhecemos o funcionamento do motor do automóvel, os Pcs são user-friendly, as normas de orientação clínica ensinam a agir sem pensar e por aí fora. Tudo pelo fim da criação, esse ato que tanto roubámos a Deus, encolhendo-o, e agora, se entrega, cada vez mais, a uns pseudo-deuses que o substituem e que sempre nos lançam a mesma mensagem: façam fácil, não percam tempo a pensar, não se gastem na política, acabem com tudo o que seja reflexão para que, não tendo que educar os vossos argumentos, eles possam ser mais eficientes na sua função de diretores de rebanhos. Isso, a inutilidade da Filosofia, Sociologia e outras que tais atividades improdutivas e o primado da Gestão, da Economia e das Engenharias, para que, de forma crescente, tenhamos um mundo de pessoas sem sabermos nada delas e um grupo de controleiros, cada vez mais ínfimo, que gera cada vez mais valor em seu benefício próprio, esmagando, se necessário, tudo em redor. Mas, apesar de tudo e mesmo da Medicina, a verdade é que só estarão aí de passagem durante 70 a 80 anos e acabaremos todos, uns e outros, da mesma forma, inexoravelmente, sem que tenham sequer tido tempo de perceber se valeu a pena o que fizeram, deixando apenas as marcas que o tempo fará desaparecer. Não terá, afinal, valido a pena tanta ganância e controlo, porque «a humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti» (Valter Hugo Mãe em Desumanização)

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Amianto

Fico assustado com a leviandade como alguns problemas são tratados. Ultimamente tem sido a questão do amianto a ter honras de fora de discussão e aberturas de telejornal. Como sempre há dois tipos de intervenientes: os que acham isto e o contrário e os políticos, uns que lamentam a incúria e desprezo pela vida humana dos outros, que, simplesmente, nem falam do assunto (ou falarão quando os papeis estiverem invertidos). Neste momento, diria, que pouca gente em Portugal deveria estar a dormir descansada se ainda ouvissem estes debates. A morte está à espreita! Curiosamente, vem acontecendo cada vez mais, que os problemas técnicos tendem a ser reduzidos à política nestes assuntos técnicos, exatamente ao contrário do que acontece nos problemas políticos que são reduzidos a problemas técnicos, chegando-se a propor o quase fim da democracia com a promoção do contrato de governo, de regime, qualquer coisa, em que por mais que os cidadãos escolham, a política a seguir seria sempre a mesma e teria sempre as mesmas consequências. Em todos os debates técnicos não há uma única opinião séria produzida pelas universidades, pelos técnicos da área, possivelmente porque isso anularia o debate e ficaríamos a conhecer a realidade ou a realidade tanto quanto ela se conhece. Acontece que isso mata o debate entusiasmado que vende jornais e dá audiência a rádios e televisões. Ainda com um ganho secundário, não se discutem os assuntos políticos levados assim para segundo lugar. No fim ficamos todos desinformados pela informação acessível: anda para aí toda a gente a morrer de asbestose e nós sem darmos por ela. Há emprego para dois tipos de empreendedores: os construtores civis certificados na remoção do amianto e os advogados (você esteve em contacto com amianto? Contacte-me!).