sexta-feira, janeiro 31, 2014

Comunicação

O homem é um bicho de comunicação. Ao longo do tempo poucas têm sido as atividades mais lucratativas do que as que estão ligadas à comunicação. Os descobrimentos do século XV,as companhias de caminhos de ferro, a construção de estradas, a imprensa, a televisão e a internet são atividades que contribuíram para a riqueza de muitos que as promoveram, porque são objeto de aceitação generalizada. Comunicar, estar com outros, chegar e mais depressa, é uma necessidade básica da espécie. Outro dos fatores que move os homens é a facilidade. Sempre se tenta fazer pelo caminho mais fácil, pela melhor relação custo (trabalho)-benefício (rendimento). Explorando as duas, as novas formas de comunicar (desde a televisão até ao chat e ao facebook) têm vindo progressivamente a banalizar a comunicação com grandes volumes de informação, mas a retirar as pessoas do contacto direto, facilitando a comunicação, ao mesmo tempo que, por serem mais fáceis, isolam as pessoas no ato de comunicar que se vai limitando a uma atividade racional, muitas vezes fantasiada, virtual, à distância, sem permitir a emoção dos contactos físicos. É uma comunicação mais rápida e mais seca e, pela primeira vez, uma comunicação que isola e não agrega. E, possivelmente, a comunicação não é o bastante para um crescimento com felicidade. Os nbites acumulados nos discos, não tornam as máquinas felizes. Também as pessoas cheias de informação, de piadas, de surpresas e sorrisos, mas menos otimistas e alegres vão lendo as mensagens de correio eletrónico e os anexos apatetados. Sozinhos frente às máquinas, deixamos que os Cafés se vão transformando em Bancos. Faltam os olhares solidários e a cumplicidade dos contactos físicos, as emoções que geram a energia de lutar por alguma coisa. A construção comum que poderá ser o objeto da comunicação desejada e construtiva. O isolamento permite a contemplação passiva, mas retira a ação necessária.

quinta-feira, janeiro 30, 2014

Ladrões do futuro

Tenho andado esta semana à volta da música de Pete Seeger a saborear o empenhamento, a vontade de luta e a alegria de um tempo não distante no calendário em que apontávamos a um futuro onde não chegámos. Um tempo tão longe da sordidez triste dos tempos onde agora estamos com tanta falta de futuro. O passado acabou, o presente é um desencanto, roubam-nos o futuro todos os dias. Fomos donos da história e... aconteceu-nos isto. Fomos mesmo nós que fizemos isto? Quem são os ladrões do futuro?

quarta-feira, janeiro 29, 2014

domingo, janeiro 19, 2014

União nacional

Passos acredita que Seguro possa juntar-se-lhe, pois, afinal, eles são do tal arco e as diferenças nem são assim tantas. Seguro faz-se esquisito, não por que as diferenças sejam tantas, mas porque tenta lá chegar sozinho. E nisto andamos. Andamos? Ironicamente, os que acham manifestação de não democracia alguns serem eleitos por maiorias de 80 %, querem agora um pacto que garanta uma votação assim expressiva num programa de salvação nacional. Já assim foi há 2 anos e tal e a salvação está à vista de toda a gente. Também nessa altura o programa da troica foi apoiado pelo PS, PSD e CDS representando cerca de 80% dos votos. Ao que parece, está tudo na mesma, exceto provavelmente as moscas. E a culpa é dos que se queixam depois de os porem lá. A injustiça é os justos pagarem pelos pecadores.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Les partisans

Também eu gostava de ter as certezas da maioria e não continuar com as dúvidas das minorias. Só que com o passar do tempo, as certezas vão-se perdendo e as dúvidas confirmando. Essa é a parte chata. Essa e esta coisa nova de me quererem enfiar no ghetto, numa periferia da cidade da concórdia onde Hollande está com Sarkozy, Merckel com o SPD e, possivelmente, Seguro irá morar com Passos e Portas. Mas também há uma parte boa no refúgio que é a lembrança da fantasia do Astérix e a realidade dos partisans. Uns e outros acabaram por triunfar e ainda assim houve a generosidade de se poupar a vida a Pétain. Há, realmente, uma superioridade moral.Que me perdoe a maioria.

segunda-feira, janeiro 13, 2014

O primeiro será sempre... apenas um

A maior dificuldade é criar mercado para as verdades inconvenientes e acabamos cercados. Entregues ao consumo dos restos que um número cada vez menor de pouca gente vai deixando cair para entreter as fomes das multidões, fomos deixando de perceber o mundo em que vivemos. E não só deixámos de perceber os seus mecanismos, como fomos progressivamente convencidos a deixar de ter interesse em o entender, delegando para os sábios essa tarefa, que agora nos é servida por governantes de soluções únicas apoiados em comentadores de pensamento único. Estamos perto de uma ditadura consentida, muito diferente daquelas contra o que se lutou, porque naquele tempo ainda era percetível a sua perfídia. Agora vivemos envoltos em modelos de triunfantes, existentes não para seguirmos algum modelo de exemplo, mas somente para os vangloriarmos na aceitação de que o seu triunfo é uma espécie de decisão dos deuses (logo agora que tínhamos quase liquidado deus) e o seu estatuto algo de inacessível porque são únicos, diferentes, seres superiores de outra galáxia, porventura. É na adoração da sua singularidade que tudo se sacrifica e justifica. Servem para ajudar à perceção da diferença abissal que justifica o aumento do fosso entre o pouco e a multidão, como se o desígnio da obra coletiva fosse levá-los sempre mais além. Organizam-se campanhas para termos o melhor futebolista do mundo, para que nos anestesiemos sentindo-nos a compartilhar um pouco desse triunfo, o que alivia a dor do nosso quotidiano. Olharemos as senhoras Merkel deste mundo com um sentimento de vingados. Afinal o melhor é nosso, sem que tenhamos uma única ação desse ativo. Mas há um sonho, um delírio a que o anestésico nos conduz. Nestes tempos, os ídolos são o ópio do povo. Assim é possível não se perceber que o ideal não é o do triunfo do sujeito singular, mas seria o da vitória do grande coletivo e os sábios governantes, economistas, advogados, jornalistas, comentadores e outros sabidos vomitam-nos diariamente o seu pensamento único da satisfação com os triunfos que não se sentem. Os triunfos nos mercados, nas taxas, nas miragens do futuro contrastam com as listas de espera, as filas para a sopa, as fugas para o estrangeiro e outras realidades menos importantes ao lado dos forecasts fantásticos que se organizam. Longe ainda estão os tempos em que a função primeira da gestão das organizações não será a criação de valor para os poucos acionistas, mas a geração de condições dignas de trabalho para a multidão e a eficiência das empresas se medirá não pela sua rentabilidade imediata, mas antes pela capacidade de criar emprego em função do capital investido. Mas como dizia o outro, ha lebres e tartarugas e melhor que chegar mais cedo no curto prazo, será chegar mais longe na história. A história ainda não acabou, e a verdade é que as lebres sempre se cansam mais cedo do que as tartarugas e, possivelmente, mais importante que chegar depressa, à frente, sozinho, será chegar longe acompanhado. Um dia perceber-se-á que não é a vitória de um que salva a vida de todos e aí, alguma coisa vai mudar.

domingo, janeiro 12, 2014

Qual é o espanto?

Que a Goldman e Sachs e o FMI venham recrutar alguns senhores dos que geriram este país não se estranha e até é lógico que o façam. São tipos com provas dadas na doutrina que eles defendem, são gente que não faz fretes, acredita na religião. O que se estranha é que muito proximamente os que não acreditam e podem votar, continuem a votar nestas gentes que têm fé no sistema.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Eusébio

Depois da troica liderante do campeonato do final do ano, tivemos agora o grande consenso nacional. O futebol sempre como farol da vida… A troica irá desaparecer lá para o verão, o consenso é o resultado da existência de um jogador de uma classe à parte, aquilo a que todos deviam aspirar, a excelência sem o marketing promocional de ser-se superior, antes pelo contrário, o desportivismo de dar os parabéns a um adversário quando ele mostrava ser tão excelente quanto ele tinha acabado de ser. Porque era bonito jogar-se assim a alto nível, de forma alegre, sem compromissos comerciais e televisivos. Como aconteceu com Mandela, também agora muitos vieram tirar a fotografia com o ídolo popular, perdendo às vezes o sentido da proporção, não deixando de ser estranho que, quem não pode comparecer na despedida de Saramago, a primeira figura do estado, tenha agora tido todo o tempo para estar presente nas cerimónias. E também a nota ridícula da segunda figura do estado se manifestar preocupada com os custos de uma homenagem, a futura transladação para o Panteão Nacional, o que aliás será de duvidoso bom gosto, pois não deve ser confortável para o Eusébio ter de voltar a coexistir com a D. Amália depois da experiência das focas do oceanário. Outro risco adicional seria o de a seguir alguém se lembrar de também lá pôr a irmã Lúcia, para lá ficar a santíssima troica nacional do fado, futebol e fátima… Mas, voltando ao sério, isto dos consensos é possível e desejável quando se celebra a classe, mas deixa de ser possível e desejável quando se querem misturar diferentes interesses de classes numa verdade única de destino irrefutável. É que os interesses das classes são antagónicos e propalar a ideia de que deverá haver um destino único a bem da nação é música já muito ouvida noutros tempos de União Nacional. A democracia é o realce e a luta entre as diferenças, o seu esclarecimento e a escolha popular que tarda.

sexta-feira, janeiro 03, 2014

Hasta enterrarlos en el mar!

GALOPE Las tierras, las tierras, las tierras de España, las grandes, las solas, desiertas llanuras. Galopa, caballo cuatralbo, jinete del pueblo, al sol y a la luna. ¡A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar! A corazón suenan, resuenan, resuenan las tierras de España, en las herraduras. Galopa, jinete del pueblo, caballo cuatralbo, caballo de espuma. ¡A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar! Nadie, nadie, nadie, que enfrente no hay nadie; que es nadie la muerte si va en tu montura. Galopa, caballo cuatralbo, jinete del pueblo, que la tierra es tuya. ¡A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar!

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Um dia qualquer serve

Não preciso de dia certo, nem hora específica para celebrar. Nem percebi a razão de tanta celebração à meia-noite daquela noite de 31 de dezembro, porque nada aconteceu além daquele momento igual a tantos outros que nos fazem a vida andar às voltas em vez de ter um percurso linear. Uma celebração só pelo hábito, por mais nada por mais nada haver a festejar. Um foguetório de inutilidade e vazio, alienante. Cansa a ausência de cansaço, a pausa no vómito que isto dá, não há lugar ao humor neste deserto. É urgente uma dor imensa e intolerável, curta e explosiva. Por mim estou disposto a celebrar sem hora nem dia, num qualquer dia (deste ano sff), a queda desta tribo colaboracionista que nos governa desde Belém a São Bento. Até lá é resistir, sermos cada vez mais onde quer que estejamos, até que o momento surja, de dia ou de madrugada, e a esperança volte finalmente de novo a esta terra.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

Ano novo

«Meia noite em Paris» revisto a iniciar o ano, para relembrar que o melhor tempo do mundo é o presente apesar de todas as seduções e ilusões de tempos melhores no passado. E a certeza de que o futuro é uma sucessão de presentes. Saibamos continuar a fazê-los contra os ladrões da esperança que nos têm cercado nos breves momentos da história recente. Mas a história ainda não acabou.