terça-feira, julho 30, 2013

Até ao cabo da cidade

Nas diferenças das paisagens e das gentes nos encontramos com a grandeza do mundo. O resto são telejornais de instantes que acabam no fim do teletexto dos textos medonhos que nos revelam os desastres do dia a dia. Ao fim de um noticiário e mais recentemente dos comentários especializados no sistema, ficamos mais pequenos, intranquilos, dóceis, possivelmente. E deixamos de comer bife por causa do colesterol, peixe por causa ao mercúrio, os miúdos não jogam à bola na rua por causa dos roubos. Aos poucos só nos é permitido tentar passar a vida ao canto, muito quietinhos, respirar devagar, não agitar e ficarmos muito felizes com as brincadeiras dos ídolos que nos metem em casa e espalham pelos outdoors. Em resumo, esticamos a duração de coisa nenhuma como objetivo final de vidas sobrevividas. Por isso, há uma grande tranquilidade na imaginação de um mês sem civilização ocidental. No fim, ao chegar, será como ter ido a ares desintoxicar e sentir que tudo está igualmente pequeno e desprezível. Mas nós crescemos um bom bocado, porque rejeitamos o medo. Vamos ao cabo da cidade. Faltam 13 dias.

terça-feira, julho 23, 2013

Heróis da treta

Mudam-se os tempos e mudam-se os heróis. Aos heróis gregos associava-se a virtude, a coragem, a contribuição definitiva para os avanços dos homens. Ainda há alguns anos, os heróis eram modelos de coragem, algo a que nos aspirávamos a chegar. Hoje Mandela não é herói porque foi político, Bill Gates não é herói porque é rico e filantropo. Ainda recentemente, os heróis foram a fantasia dos superpoderes (Super-homem)que não temos mas desejávamos ter. Atualmente, os heróis são os modelos, os artistas do cinema e do desporto. Há nesta evolução uma perversidade óbvia. A moral dos heróis de antes que inspirava os homens e os fazia melhorar, resume-se agora a algo de inacessível, a um sentimento de admiração do impossível, na elevação da impotência e do medo e à necessária aceitação da nossa generalizada incapacidade. Não são fontes inspiradoras de comportamentos, mas deuses todos poderosos que se contemplam de olhos no alto. Do desejo de ascender, passamos à necessidade de acatar a diferença que aliena. Não é de admirar, porque há muito o conhecimento científico veio pôr em causa o papel alienante das religiões. Foi, pois necessário, criar algo inovador que mantivesse a função de obrigar a não pensar, instigando ao mesmo tempo um medo omnipresente que paralisa. O único risco que os dominadores têm é a perda do medo dos dominados. Essa consciência tem de crescer porque há um novo mundo a descobrir ainda que os novos adamastores tudo tentem para que isso não seja possível. É importante não dar ouvidos aos novos velhos de Belém nem aos colaboracionistas com a proteção dos mercados e resistir,afirmando a nossa vontade de liberdade. Sem medo, porque a dimensão do que há a ganhar, suplanta enormemente as perdas que nem temos, realmente!

segunda-feira, julho 22, 2013

Day after e a necessária cisão

Foi boa a decisão de Cavaco, porque ao insistirem na política em curso com reforço da austeridade, os governantes existentes ou rearrumados, vão cavar cada vez mais a sua sepultura e, num futuro mais ou menos próximo, o seu castigo será o quase desaparecimento de circulação. Desta vez a memória é recente e irá funcionar. A curto prazo o sacrifício será grande, mas no futuro a compensação será certa. Foi má a decisão de Seguro, porque mantém o pantanal do PS, onde é necessária uma fratura que ficou adiada. Na verdade só com essa fratura será possível, no futuro, criar um PS de esquerda e depois alguma convergência pondo fim ao regime de alterne que tem desgovernado o país nos últimos quase 40 anos. Daqui a uns tempos falta à esquerda uma fatia de 15% do PS para ser possível, finalmente, uma governação diferente. A fratura do PS é, pois, um objetivo estratégico da esquerda e uma questão de bom senso para aqueles que ainda se mantêm neste PS de Seguro.

domingo, julho 21, 2013

Alforrecas

Andam para cima e para baixo, ondulando na água, parecendo mortas às vezes, circulando, voltando ao local de partida. Lentamente, quase com graça, ao sabor das correntes. No entanto, são potencialmente fatais. Fica o aviso

Depois do discurso de uma alforreca

(Não recomendado a ouvidos mais sensíveis)

sábado, julho 20, 2013

Xeque ao rei(zinho)

O rei está em xeque, depois do avanço tentado, sem êxito, contra os peões. Agora, volta à casa de partida, sem perspetivas de comer nenhuma das peças que ameaçou. O jogo estaria empatado, não fossem as regras obrigar a jogar. Algum lance inovador ainda não testado? Nenhuma das combinações possíveis lhe parece conveniente, mas a jogada é inevitável. Abdicar? O relógio vai andar ainda muitas horas antes de conhecermos o próximo lance.

sexta-feira, julho 19, 2013

A vida sem viver é inútil

Eles não acordaram. E o povo quando vai acordar? Há no ar alguma perigosa paralisia do medo a lembrar-me as palavras do O´Neil cantadas pelo Zé Mário Perfilados De Medo Perfilados de medo, agradecemos o medo que nos salva da loucura. Decisão e coragem valem menos E a vida sem viver é mais segura. Aventureiros já sem aventura, perfilados de medo combatemos irónicos fantasmas à procura do que não fomos, do que não seremos. Perfilados de medo, sem mais voz, o coração nos dentes oprimido, os loucos, os fantasmas somos nós. Rebanho pelo medo perseguido, já vivemos tão juntos e tão sós que da vida perdemos o sentido...

quinta-feira, julho 18, 2013

Vai anilhar cagarras!

É da sua natureza pisar a pequena selvagem em vez de espezinhar os grandes selvagens. Também lhe é fácil dar ordens a aves, mas a ingrata cagarra nunca lhe dará ouvidos, nem lhe trará as notícias do sul e, só para o chatear, ainda lhe há-de roubar uns jaquinzinhos. O Sr. Silva, na maré baixa, vai anilhando cagarras contribuindo para o enriquecimento linguístico com mais uma expressão: «Vai anilhar cagarras, pá!», isto é, faz uma inutilidade qualquer, mas não me chateies. Outros passarinhos, passarões, continuam sem acordar não lhe dando também ouvidos, mas o grande passarão Coelho já vai ameaçando sem subtilezas. Se não acordarmos, o senhor Silva vai ter que nos aturar ou recorrer à bomba atómica. Isto está a tornar-se um jogo de xadrez com alguns gambitos pouco aceites e sem jogadas a longo prazo com efeitos decisivos. Tudo muito previsível e sem graça, porque os jogadores são frouxos e fazem sentir a falta de grandes mestres.

quarta-feira, julho 17, 2013

Inimigos, claro

É com algum grau de estranheza que, depois de ter vivido 1974, com todas as alegrias que brotaram em abril naquele dia 25, esteja agora confrontado com a ideia de uma União Nacional salvadora sabemos bem do quê. Mas, o mais estranho é ver, na opinião publicada, que acham que a unanimidade das ideias é quase natural, quando natural seria o confronto de posições e o apontar de soluções diversas, opostas e inimigas. Esta é uma linha perigosa de ultrapassar, a linha do caminho único, o fim do combate das ideias, como se a luta de classes tivesse morrido por decreto. É uma abjeta ditadura aquela que nos querem agora impôr e a que tantos cedem por comodismo inconsciente, proclamando a impossibilidade dos efeitos de agir. Caminham tranquilos de mão estendida à espera da esmola que talvez venha, abúlicos, desesperançados, talvez vivos sem vida. É um mundo estranho que não esperava ser possível nunca mais. Ficam saudades do confronto e dos perigos (?) sempre presentes de uma guerra nuclear. Mas, que vida há nesta morte omnipresente? Não quero adversários para jogos de salão, mas inimigos nos jogos da vida.

terça-feira, julho 16, 2013

Tabú

A meditar nas Selvagens sobre o pântano caseiro, lembrar-se-á da poda das anonas, do riso da vaca feita queijo, enquanto se deliciará com uns jaquinzinhos clandestinamente pescados, sendo tudo terminado com uma fatia de bolo rei de encher a boca. Uma certeza lhe resta, no seio da natureza profunda, terá garantida a segurança dos seus computadores e os cidadões  ficarão-lhe bem longe...
A cerca de 1000 km, os maratonistas da sua salvação procurarão acordar.

segunda-feira, julho 15, 2013

Renascer

Os que há mais de 3 décadas nos adormecem com crises sempre renovadas e histórias de sucesso quase sempre escondidas, estão agora reunidos 7 dias para acordar. Espero que apenas o desacordo venha a ser possível recordar no próximo fim-de-semana. Caso contrário, terão de ser muitos milhões a lembrar a esta troika que já acordámos e queremos exprimi-lo democraticamente, afastando-os de vez da manjedoura onde eles têm enchido a barriga do capital financeiro ao longo deste tempo já, demasiadamente, longo.
Está na hora do poema de Alegre outra vez:

Que o poema seja microfone e fale 
uma noite destas de repente às três e tal 
para que a lua estoire e o sono estale 
e a gente acorde finalmente em Portugal.

domingo, julho 14, 2013

Uma certeza e várias dúvidas

A democracia manifesta-se pela existência de opiniões divergentes, mas não só. Às vezes são mesmo antagónicas. Não é, pois, sequer decente convidar para acordos, quem, à partida se sabe não estar de acordo com o que se lhe propõe, expressas que têm sido as suas posições reiteradamente. Foi isso que fez Sócrates antes de fazer um governo minoritário. É isso que o PS agora fez. Tanto um como outro fizeram-no para português ver, não que tivessem qualquer ilusão de resultados práticos, além de arranjarem um argumento que, de certa forma, compense aquilo que pensam ir fazer. Não faltará muito para sugerirem que, na impossibilidade de dialogar à esquerda e perante o «interesse nacional», acabam por se aliar à direita?
Esquecem-se da verdadeira alternativa, se fossem de esquerda, realmente. Contudo, optar pela cavacal proposta tem um risco associado. É bem possível, que não saiam inteiros de tal consenso de salvação e, efetivamente, o resultado seja uma cisão por já não ser possível mais tolerar a cobardia. Isto é, pela salvação se atinge a morte. Ou talvez, impere o bom senso e disso seja já uma manifestação o anunciado sentido de voto a favor da próxima moção de censura. Ou será uma decisão revogável face a novas circunstâncias?

sexta-feira, julho 12, 2013

O arco do desgoverno

O formal Cavaco decidiu pôr fim aos seus poderes limitados e ordenou um affaire a trois. Desistiu, nesse momento, de ser o presidente de todos os portugueses, quando anuiu à crença antidemocrática segundo a qual existem em Portugal só uns partidos do arco da governação. Curiosamente, são os que têm desgovernado isto nas últimas décadas, pelo que  melhor seria chamar-lhe os partidos do arco do desgoverno.
O grave é que um presidente, que deveria ser o garante das instituições, tenha o desplante de excluir outros partidos que merecem o apoio de uns quantos portugueses que até agora têm tido que aguentar o desgoverno que uma maioria de iludidos tem imposto a todos.
Começa a ser tempo de dar o governo a alternativas possíveis, não de as excluir.

quinta-feira, julho 11, 2013

Má prática

Se um doente fica à beira da morte depois de um médico ter feito uma primeira intervenção ainda se percebe que consulte e siga os tratamentos de outros dois para ver se se consegue safar. Se depois dessa intervenção ainda fica mais perto do crematório, qual a solução possível? Cavaco, recomenda um tratamento feito pelos 3 que o puseram a necessitar de salvação.
Que tal procurar outros médicos, diria eu?

quarta-feira, julho 10, 2013

À espera de Cristo

Já havia a ilegitimidade de se governar ao contrário do  que se tinha prometido no contrato pré-eleitoral. Por mais voltas que se deem ao texto, nunca teriam sido eleitos se prometessem o que têm estado a fazer.
A esta ilegitimidade, adiciona-se agora a numérica: votaram mal, mas ainda assim tinham votado no Pedro maioritariamente. O que acontece agora é que Pedro passou o poder ao Paulo, que, minoritariamente votado, vai governar como se tivesse maioria. É a segunda ilegitimidade dos garotos com nomes de apóstolos.
Cristo, até agora mais morto que vivo, tem uma última oportunidade de ressuscitar. Há quem acredite na ressurreição? Pois, ele tem pouco de Cristo, que esse, soube adequadamente expulsar os vendilhões do templo e este tem um compromisso com os mercados. Gostaria de me enganar...

domingo, julho 07, 2013

Renovar ou contar?

São conhecidos casamentos que se mantêm apenas pelas aparências, justificados com causas nobres, mas que apenas existem teoricamente com os cônjuges a viveram em quartos separados, sem se falarem ou, pior, com maus tratos permanentes. Geralmente a mulher entra numa atitude de aceitação das sevícias por receio das consequências ou mesmo eventual benefício, ainda assim, existente da situação. À volta toda a gente sabe como as coisas correm e lamentam a situação. Mas, enfim, entre marido e mulher não metem a colher. Mais recentemente, algumas destas situações adquiriram a caracterização de crime público.
Quando este quadro é transposto para o governo de um país, as consequências são devastadoras. Ontem vimos o político, taticamente de olhos no chão, ouvindo paciente o discurso do teórico primeiro ministro a enunciar-lhe os poderes. Foi um requinte de sadismo exposto publicamente. Com aquele ar taticamente modesto, falso, Portas estava  cheio com aquela nomeação para primeiro ministro plenipotenciário. A renovação dos votos acabou sem beijo na boca.
Quem acredita neste casamento que levante o dedo. Mas apesar de tudo será quase impensável que o velho de Belém se dê ao incômodo de não apadrinhar este casamento fora de prazo e queira substituir os votos renovados por votos contados. Mas nunca se sabe, eles andam à procura de deixar uma imagem na História e, às vezes, são imprevisíveis. Mas isto deve ser um desejo pessoal.

sábado, julho 06, 2013

Pimba

COM A VERDADE ME ENGANAS
Quanto mais ela me engana
Mais eu sou louco por ela
Quanto mais ela me foge
Ainda mais corro atrás dela
Quanto mais ela me afasta
Mais eu a quero abraçar
Quanto mais me diz que basta
Mais eu a quero beijar
REFRÃO:
O nosso caso é uma novela
Vivo enganado mas gosto dela
E qualquer dia eu sei que sim
Que vai ser ela a andar atras de mim
Quanto mais ela me engana
Mais eu acredito nela
Quanto mais ela me trama
Menos faço por esquecê-la
Quanto mais me diz mentiras
Mais eu penso que é verdade
Quanto mais coisas me tira
Mais lhe dou minha amizade
REFRÃO
Quanto mais ela me trai
Mais mantem acesa a chama
Ela diz-me "tudo bem"
Com a verdade me engana
Tony Carreira e o gozo do engano a propósito desta semana trágico-cómica.
Vamos ter um novo governo com os mesmos do velho, mais coisa menos coisa. Desta vez e inovando em relação à história a que estamos habituados, não perdendo tempo mudando os atores principais por outros seus iguais, usam os mesmo com ideias «corrigidas». Estragam-se menos casas. Fizeram um curto retiro, meditaram e aí vêm eles, cheios de santidade, resolver tudo aquilo que andaram, nos dois últimos anos, a destruir. É a assunção do gozo do engano ou o desprezo pela capacidade de pensar dos enganados. Mas possivelmente até terão razão porque o gozo de serem enganados é coisa que os portugueses têm exaustivamente demonstrado nos últimos anos, esquecendo a sabedoria do poeta que há tanto tempo nos ensinou que toda a  vida era feita de mudança. Mas isso era em tempo de descobertas e grandeza, não da pequenez satisfatória. Agora, não arriscam, andam em círculos, deste para aquele, naquele gozo de alterne que a nada leva. Pimba.
E o chato nisto tudo é a falta de mercado: aos cidadãos deveria ser possível escolher o seu país e pagar os seus impostos a quem melhor os servisse, divorciarem-se do país onde o acaso os fez nascer. Em resumo, o direito à lucidez.


sexta-feira, julho 05, 2013

Barnabé


Como se o mundo estivesse adormecido, hoje no palácio há uma reunião de sábios e charlatães para deleite do ocupante.
Fica depois disso a certeza de que haverá um Barnabé, mas que não vai chegar, teremos de o procurar.

quarta-feira, julho 03, 2013

Hoje não caiu nenhum ministro

Parece que iam cair mais dois, mas só tropeçaram, para já.
Os amigos do político fazem agora o número de que querem dialogar e quem vai ao diálogo é o Político. O diálogo é daqueles em que era bom ser mosca... Vai o Político e pedirá o impossível e que resta ao número um? Aceitar passivo a avalanche das exigências? A cena é de Sodoma, mas que fazer quando, quem inviabiliza, sairá a perder? Será o preço excessivo, aguentará o número Um a estocada?
Os próximos episódios seguem dentro de momentos.
Ao lado do que dorme no palácio cor de rosa, há um outro que gesticula e balbucia, eu estou pronto! e pensa, os papás vão gostar muito de me ver ser o futuro número Um...

terça-feira, julho 02, 2013

Lá vão dois

Aquele vai arejar para outras paragens farto que estava dos políticos eleitos. Ele que nunca fora eleito, decidiu sair batendo com a porta. A folha de Excel não batia certo, alguém se enganou na programação, ele tudo tinha feito bem. Faltavam as pessoas no programa...
Mas a ida dele, é a saída do cérebro. A partir de agora, o bicho ainda mexe, mas a cabeça já se foi.
Andava eu nestas reflexões na área industrial à procura de uma eletroválvula e ligo a TSF. Já não se pode ligar a rádio que cai logo um ministro. Bolas, mas agora sai um político. Não bate com as portas, foi o Portas!
Isto tudo pode ter começado com a tal greve, que não sendo geral, quiçá mesmo apenas uma manifestação dos habituais destas coisas, terá levado a que o PS tenha conseguido fazer passar umas coisas na Assembleia. Já para não falar naquela história dos professores, onde os governantes inflexíveis, flexibilizaram. Vai daí, o que não era político nem eleito, não gostou. Para Portas tinha-se acabado o bode expiatório e ele passava a número 2. Ooops, número 2 é a cabeça, que o número um é apenas isso, um número dos que não conta. A partir de agora era ele que tinha que decidir sem poder desculpar-se com o outro. As coisas ficavam verdadeiramente complicadas. Ala que se faz tarde, que as eleições estão quase aí e a derrota é certa se me identificam com esta gente, terá pensado. E se bem pensou, melhor o fez. Eis senão quando, a las 8 de la noche, o número um, enche o peito que nem um Churchill pífio e faz um número surreal, Não me demito, não abandono o país!
Com este contra-golpe, como diria o Jesus, o Político fica em maus lençóis segundo a teoria de quem fizer cair este governo é o responsável por todas as futuras desgraças.
Perante isto, num palácio cor de rosa, há um que dorme e aguarda que eles se entendam.

segunda-feira, julho 01, 2013

Lá vai um

Andava eu ainda à procura de uma bilheteira na estação de Entrecampos, quando ouvi ocasionalmente uma voz meia de triunfo dizer ao telefone móvel, então sabes a novidade? O Gaspar demitiu-se. Incrédulo, consultei o Tablet e no sapo.pt estava a confirmação, logo reconfirmada na TSF e no Expresso. Sorri. Na altura quase liguei umas buzinadelas à notícia, mas terá sido coincidência e correspondido a alguns daqueles ralhetes de condutores em cruzamentos. Ainda assim, aliviado, sentei-me no meu lugar.
Na aproximação a Vendas Novas, os meus vizinhos de carruagem, dois alentejanos de Beja que vieram a consultas da coluna aos hospitais de Lisboa, tinham parado de falar das suas aventuras com os clínicos indecisos entre operações e esperar mais algum tempo. Um debruçado sobre o telemóvel, disse monotonamente, diz aqui que o ministro das Finanças se demitiu. Resposta do outro, vai comer para outra manjedoura, esses nunca ficam a perder e depois vai para lá outro igual. Pois, anuiu o primeiro.
Há uma desesperança e confusão em tudo isto, a impotência ensinada durante o fascismo inseriu-se na genética da gente. A propaganda do tudo igual vomitada diariamente nos media, nas análises superficiais e emocionalmente catastróficas, arrasa toda a reflexão e raciocínio lógico ou a criação de possíveis estratégias. Demitidos, ficam à espera. Como a grande maioria, que noutros tempos também ficou à espera de algo, que surgiu em abril de 74. Mas surgiu porque uns quantos se tinham mexido entretanto. Curiosamente, os mesmos que agora vão organizando manifestações e greves que, diz a propaganda oficial e o subconsciente contaminado, não servem para nada.