sexta-feira, setembro 30, 2011

Justiça, a desejada

Um fugitivo à justiça americana foi caçado depois de uma ausência das cadeias durante vários anos. Aparentemente, seria um cidadão reconvertido ao bom caminho (mesmo depois de ter morto alguém e desviado um avião onde terá posto o FBI em cuecas). Deverá agora ir cumprir pena. A prisão não foi o seu instrumento de reconversão ao bom caminho. Foi a vida. Para quê estragar-lhe agora a vida que lhe resta? A função da restrição da liberdade será mais a publicidade do que é proibido fazer ou induzir à reflexão?
Outro fugitivo à justiça por (prováveis) crimes económicos foi também preso. Acredita-se que a habilidade dos advogados o libertará muito em breve. O sinal para a sociedade poderá ser que o crime desde que bem feito pode compensar, porque até nem o será.
Em resumo, o primeiro fica preso e o segundo é libertado, quando, a sociedade provavelmente mais ganharia com a libertação do primeiro e a restrição do segundo. Mas isto é intuição, humanismo, justiça e coisas menores quando comparadas com o grande Direito.
A despropósito, há uma ministra desaparecida em lugar incerto, provavelmente num retiro onde se encontra a escrever, escrever, escrever a grande reforma da Justiça. Espera-se que chegue numa manhã de nevoeiro.

quinta-feira, setembro 29, 2011

(I)moderação

Gostamos de chamar nomes suaves às coisas. Assim, a cobardia não transparece nem se mostra como aconteceria com o bom rigor das designações. Uma TAXA MODERADORA como o nome indica é algo que visará impedir um consumo indevido, uma tentativa de condicionar um consumo inútil de recursos. Por isso, dar este nome, como o fez o Ministro Correia de Campos, a uma taxa que era paga quando os doentes eram internados, era abusivo, era cobardia, porque, obviamente, se tratava de um co-pagamento e, possivelmente, inconstitucional por que a saúde era (e espera-se que continue a ser) tendencialmente gratuita.
Agora, o novo ministro veio determinar taxas moderadoras para famílias com rendimento acima de 1000 e tal euros. Não são taxas moderadoras, porque são, de novo, co-pagamentos. Com efeito, se o objetivo é moderar o consumo por que razão se isentam uns e penalizam outros? Com pés de lã, tentam chegar onde efetivamente querem chegar, aos co-pagamentos. É indecente penalizar com uma taxa quem é condicionado pelo médico prescritor a marcar uma consulta ou a fazer exames auxiliares. O doente apenas obedece a uma instrução, que responsabilidade pode ter na ordem que um técnico «habilitado» lhe dá?
Mais sensato, muito mais sensato, seria que os prescritores fossem responsabilizados pelos exames auxiliares que pedem e medicamentos que receitam!! E tanta imoderação que aí grassa e desresponsabilizada.

terça-feira, setembro 27, 2011

Moedas de troca (tintas)

“As pessoas em Portugal não vêem o que se passa no dia-a-dia lá fora, com números negativos a sair todos os dias nos Estados Unidos da América, e ao termos esta incerteza, obviamente que os cenários [macroeconómicos] têm de ser modificados, mas não por não estarmos a fazer o que temos de fazer, mas sim pela situação internacional”,


Uma ajuda: Não, não foi Teixeira dos Santos nem José Sócrates que disseram. Quando eles diziam, quem agora diz, dizia que o problema deles se não explicava pelo que acontecia na conjuntura económica internacional, mas era um problema de má governação nacional. Mas isso era dantes. Bastaram menos de 100 dias para virar o bico ao prego. Moedas com duas faces afinal tão iguais!

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domingo, setembro 25, 2011

Discurso de outro presidente

“O senhor almirante Sarmento Rodrigues quis que eu dissesse algumas palavras. Ei-las. Tenho quase todos os livros que ele escreveu, todos eles com amigas dedicatórias, também um pequeno folheto que ele publicou sobre o canário encarnado porque ele preocupou-se imenso em conseguir um canário que não fosse da cor habitual e de vez em quando lamentava-se de não conseguir obter aquele canário que ele tanto desejaria possuir. E agora mais um simples episódio para juntar àqueles que eu ouvi aqui citar. Ele era muito meu amigo. E uma vez resolveu dar, dar-me dois periquitos, os melhores periquitos que tinha na sua colecção. Cheguei a casa com eles muito contente, mas em casa não receberam bem os periquitos. Resultado: tive de dar que os dar. Um deles sei a quem o dei. Tá aqui presente a pessoa: o almirante Noronha Andrade. Mas não lhe disse nada que me tinha desfeito dos canários (uma voz: dos periquitos), dos periquitos digo. E mais tarde, uns anos depois ele diz-me assim: então o senhor deu os melhores periquitos que eu tinha e que eu lhe tinha dado com tanto gosto? É verdade, dei porque não os podia ter em casa, mas não lhe disse nada para não o desgostar. Afinal de contas houve alguém que deu com a língua nos dentes e você ficou zangado comigo. Zangado não fiquei porque sou muito seu amigo.”


A História não se repete? É procurar as diferenças!

sábado, setembro 24, 2011

Um triste

“Ontem eu reparava no sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a ficar verdejante”. Este discurso revela intensa leitura do antigo livro da Primeira Classe.
O senhor Silva anda a comer queijo a mais. Cuidado que fica desmemoriado e esquece-se do que deveria dizer sobre o bicho da madeira.
A continuar assim, esperamos que se dedique rapidamente à poda das anonas (em regime de exclusividade).

segunda-feira, setembro 19, 2011

Revolta de um cidadão AAA

Imagino que um alemão olhe para o que se passa em Portugal, como qualquer português honesto olha para o que se passa na Madeira. Não há paciência para mais desgoverno e é tempo de se governarem! Se não conseguem, abram falência, declarem a independência, façam o que lhes apetecer, mas não peçam mais!!
Mas a situação é mais complexa. Também a classe média portuguesa não beneficia da minha ternura. Foi uma classe burra que se deixou enganar lamentavelmente pelas ofertas de crédito dos banqueiros e todas as miseráveis Cofidis que por aí grassam. Estranhava eu, aqui há uns anos, sempre que me ofereciam cartões de crédito e dinheiro barato. Pensava, eu não vou nisso e só espero que me não venham pedir que lhes pague os desvarios. Resisti a ter casas acima das minhas posses, não mudei de carro de  3 em 3 anos com leasings tentadores, não viajei com a crédito, não pedi emprestado para jogar na bolsa. Enfim, vivi dentro do que podia. Eu não contribuí para a crise da dívida!! Sou um português de classe média triple ei (AAA), tenho um nível de endividamento melhor que a Alemanha e o meu défice é inferior a 3%. Por isso é lamentável que me reduzam o vencimento, me roubem parte do 13º mês, me aumentem o IVA periodicamente, me subam a conta da eletricidade e etc. Quem esteve a ganhar com esta paródia do crédito barato, não vai pagar nada? Ainda querem que lhes paguemos os riscos mal calculados da especulação que fizeram? Vai sendo tempo de voltar à realidade e quem apenas tem sustentação virtual que caia. Vamos recomeçar o jogo, mas um real.
Por falar em realidade, anda agora toda a gente a dizer que temos uma saúde ótima, um ensino que nem é assim tão mau, uma segurança social interessante. Os mesmos que diziam que tudo isso era lixo aqui há uns tempos atrás, vêm agora dizer que até tem qualidade, mas que não temos dinheiro para tudo isso. Afinal até era bom demais!! Insinuam que foi quem trabalha que gastou indevidamente, para amanhã os penalizarem mais uma vez. Basta, a luta de classes está cada vez mais real e que cada um saiba o lado da barricada onde se coloca.
Com medo, os guardiões do Capital já preparam um orçamento de Estado onde apenas não há cortes para as forças de segurança. Segurança do quê? Não certamente dos que agora são estropiados quase diariamente. Basta de brandos costumes e de ser politicamente correto.

quinta-feira, setembro 15, 2011

Tempos de Paris

A rotina programada é um tédio e os desencontros e as surpresas que causam são, às vezes, oportunidades felizes. Foi o que aconteceu hoje quando não havendo a sessão de Pina  (Win Wenders) e, graças à eficácia de uma funcionária da UCI, acabámos por ver Meia noite em Paris. Woody Allen tem aquela particularidade de me já ter feito sair zangado do cinema por ter a sensação de apenas ter ido contribuir para pagar a conta dos seus psico qualquercoisa. Desta vez não foi assim. Este é um dos melhores filmes que vi dele. Uma história simples e mágica em que o tema pode ser a insatisfação com o tempo em que se está, mas que talvez vá para além disso. Do tempo fútil de hoje, parte o personagem à procura de outro tempo de encontros mais consistentes que lhe permitem ver que, afinal, poderemos estar sempre descontentes com o nosso tempo e tentarmos transpor-nos para outros tempos sem nos encontrarmos nunca num tempo desejado. O que nos conduz ao tempo desejado são os encontros com as nossas afinidades nos outros e, virtualmente, nos podermos encontrar e às nossas continuidades. O resto é ter a sorte de encontrar, no mesmo tempo, alguém para se caminhar ao lado numa noite de chuva em Paris. A história vem de longe e não termina, porque a criação e o génio são tudo o que persiste. Tudo o resto é a inutilidade do poder do dinheiro e do consumo, o medo do roubo e do comunismo. A angústia que acabará por apertar um dia as coronárias. A Arte será o tudo o que se ergue e fica para além de todos os tempos.

Bruxo!

«Haverá vontade real de dar a volta a isto, perceber que esta Economia nos não serve ou apenas se quer mudar, esquecendo que para pior já basta assim? Porque já anda de orelhas espetadas quem se prepara para, depois de sair da cartola, nos dizer que afinal a coisa estava ainda mais negra do que se pensava, as contas do Estado são uma calamidade maior e por isso, não só vamos confirmar todos os PECs, como vamos ainda ter necessidade de fazer maiores sacrifícios, por exemplo, pagar a saúde, a educação, limitar as reformas, acabar com qualquer garantia de emprego em troco de umas esmolas aos mais pobrezinhos. O Estado na sua versão mais short, verdadeiramente de tanga.»
(Escrito a 12 de Março deste ano neste blog)


Pois já andava e agora já vamos no PEC n que eu já lhes perdi a conta. De PEC em PEC até ao desastre final. Acabou  a tanga e a parra está a secar revelando dentro em breve a verdade nua e crua: a falta de tomates. 
Eu já tinha sido bruxo (é fácil!) e se calhar o desastre final já não demora muito. Bruxo de novo?

segunda-feira, setembro 12, 2011

Fantasia americana

Que poderão fazer três pessoas trancadas na casa-de-banho de um avião no dia 11 de Setembro? Um affaire à trois no espaço público-privado não passa despercebido aos americanos e a coisa é logo motivo para fazer descolar uns F-16 prontos para o que der e vier. Nas mentes preversas do americano, a coisa deve ser bombástica (mesmo que o silêncio do outro lado da porta impere devido à obstipação e só os tímidos esgares insonorizados prevaleçam).  E é assim que um doce alívio mais prolongado que não chega se pode tornar em prisão (que não de ventre) naquela terra que já foi de liberdade, mas que agora mais parece ser de medo incontrolado.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Elogio do lazer

Mais não fosse por isso, as férias valem a pena: fica uma vontade enorme de não reencontrar a rotina e de começar todas as promessas que nos fazemos nos espaços de liberdade onde estivemos. Não deixa de me parecer absurdo toda a glorificação do trabalho, quando é na tranquilidade do estar e descobrir que nos encontramos melhor. Muitas vezes é no sonho que encontro a melhor realidade. O resto são apertos para coronárias.
Facilmente concluo que o trabalho só liberta os que sempre descansam. Mas é o trabalho dos outros.
Algumas imagens de libertação para elogio do lazer, do nascer ao pôr do sol.