terça-feira, fevereiro 16, 2010

Fragilidade

Em termos políticos, Vítor Constâncio é uma espécie de Manuela Ferreira Leite inspirado por outros ares. Quando foi líder partidário era notória a sua falta de jeito para aquilo onde há que tem que ter a habilidade de fazer erros, de forma a que a gentalha goste. A posteriori dizem que errou quando devia ter regulado e vai regular agora de novo. Foi usado como responsável por não ter percebido quem era responsável e roubava à tripa forra. Fácil é fazer o julgamento da história passada, sem ter tido, na altura, a clarividência de afirmar os erros do presente. Mas esta é uma tendência actual de alguns dos nossos génios. Também aqueles que em Maio passado atafulharam as dispensas lá de casa de Tamiflu, apareceram depois a afirmar que sempre tinham percebido o negócio enorme da gripe A e criticam as medidas que tomaram os que na altura tiveram de decidir. Quem tem de falar, que fale no presente, ou para sempre se cale.
Mas é complicado perceber que a competência não é defesa bastante face à criatividade dos criminosos. Estamos frágeis.

domingo, fevereiro 14, 2010

Ensino

A atracção pelo ensino advém da facilidade da Medicina matemática. Infinitamente mais complexo é tratar doentes, porque cada um deles é um caso que não vem nos livros. Há uma ciência-evidência que diz respeito à população, mas que não se aplica sempre. Essa é a parte fácil que está nos livros e na Internet acessível a quem sabe ler. Mas a ciência difícil é a compaixão, o passarmos para o lado do doente. A tarefa necessária do ensino parece-me ser a transmissão desta mensagem, que demora anos a aprender. O resto é search, copy and paste ao alcance de qualquer aluno.

sábado, fevereiro 13, 2010

Corrida ao Sol no país dos cuscos

Há ocasiões em que o silêncio me incomoda, sobretudo porque nele o estrondo da cobardia está presente. Que Manuelas funcionárias públicas aplicadas, a quem noutros tempos nunca lhes acudiria à mente a revolta contra o sufoco da opinião, por aí andem a pregar asfixia até percebo. Que Silvas paranoicos de escutas se tranquilizem quando são outros, REALMENTE, os escutados, não se aceita, mas também se entende. Efectivamente, o que custa é não ver ninguém dizer que a cusquice é abjecta e ver a parolagem deliciada com toda esta pouca vergonha. É a populaça formada pelo big brother sempre sequiosa por novos Zés Marias que lhes encham a alma oca.
Proclama-se por aí que a liberdade de expressão está em causa. É bem revelador da ignorância do que isso é. É triste que à boleia dos vendedores de papel e de spots de intervalo de jornal televisivo se pendure tanta mediocridade em votos de ascensão. Numa rábula triste em véspera de lançar livro diz-se que alguém disse que ouviu dizer e logo a coisa rola como grande escândalo. Era uma boca aparentemente séria que, de um momento para o outro, ficou semelhante a uma grande boca (ainda para mais ampliada pelo silicone). Numa clara estratégia de venda de papel, brilha o Sol, com as notícias bombásticas da coscuvilhice. Mentindo sobre a falta de liberdade, faz edições duplas, factura bem. Objectivo cumprido: aumento de vendas, mas nada mais além disso. Preço? Ausência de ética.
OK, o Chefe estava farto da continuada sacanice e manobrou para calar os sacanas. É próprio de quem é Chefe e não dono da sacanagem. Certamente que não haverá mais liberdade de Imprensa em Itália onde se chega a Chefe, começando por chefiar a sacanagem. Na vida tudo tem um custo e se quisermos ter informação objectiva e independente teremos de começar por abrir os cordões à bolsa e comprá-la ao custo que ela tem, isto é, jornais e televisões sem publicidade, custeados por nós. De outra forma teremos imprensa manipulada pelo poder económico de grupos (curiosa a forma ternurenta como o Expresso divulga o Sol destes dias)necessariamente ligados ao capital ou ao Estado. Entre uma e outra hipótese ainda me inclino para o mal menor, aquele onde, remotamente, ainda posso intervir.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

O negro e o vermelho

Não, a história ainda não acabou. Apesar da longa pausa. Só que a história tem de ter assunto, que nem sempre existe. Este país tem estado chato ou, talvez pior, inclinado para baixo. Há uma depressão cinzenta cada vez mais densa, mais negra.
Pelo meio ficou a certeza de que o Natal não acabou e que o investimento nos faz sobreviver além do tempo e quando chegar a altura. E também o enorme gozo de ir jantar à pala na comemoração de um primeiro ordenado. Vermelho.