quarta-feira, dezembro 31, 2008

Fim do ano de várias mortes

A morte é o cabo dos trabalhos. Para os sobreviventes é uma romaria entre conservatórias dos vários registos, departamentos urbanísticos das câmaras e repartições de finanças. Na terra do Simplex, tudo isto está desconectado e em cada um dos locais a mesma realidade é lida de formas diferentes. Por isso, neste final de ano, decreto a impossibilidade da minha morte nos próximos 50 anos, para simplificação dos que me sobreviverão. A partir dessa data já tudo deverá estar simplificado.
A morte é a realidade dos palestinianos neste final de ano. O homem da mudança vai tentando acertar nos buracos do golf no Hawaii enquanto Israel cava buracos na faixa de Gaza numa reedição do Holocausto.
De morte é a política cá na terra. Há uma lei que é aprovada por todos os deputados e há um Presidente iluminado que acha que ela põe a Pátria em perigo. Fala de deslealdade de outro órgão de soberania. O que faz perante a pátria em perigo e a deslealdade? Uma comunicação ao país! Como reage o país? Não o ouviu, os portugueses tinham corrido para os Centros Comerciais à procura dos saldos. Realmente só um país surreal pode não ter eleito um poeta.
Ferida de morte estará também a Santa Economia Liberal. The game is over. A ver vamos, que perante tanta morte num só ano, necessária se torna um Renascimento de Vida no ano que vai chegar.

Bom Ano Novo a todos os que não desistem.

segunda-feira, dezembro 29, 2008

Change we need

Afinal Israel continua igual, a atacar de forma implacável quem lhe atira umas pedradas. O embaixador em Lisboa, em entrevista, insulta a nossa inteligência quando perguntado se a acção em curso não era desproporcionada, responde que não podiam estar à espera que morressem 300 israelitas para atacar.
O mundo celebrou a mudança há uns tempos atrás, mas tudo está aparentemente igual apesar do Presidente Eleito ser outro. Alguma vez se colocará do lado certo do mundo?

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Cá dentro, de férias

As férias também podem ser são aquela altura do ano em que a vertigem cessa. Fica lá fora a confusão e é-nos permitido ficar cá dentro, mais connosco. Nunca até agora assim tinha sido, porque a voracidade do novo sempre se impôs. Aconteceu diferente este ano, em que as férias vieram culminar um fim de tempos, de ausências definitivas, de ano, permitindo um imperioso renascimento consonante com a época do Natal, porque o mundo não pode estar sempre a acabar. As férias foram, desta vez, mais do que uma partida para um lugar novo, uma chegada a velhos lugares. Aos lugares que me foram fazendo e onde me gravei nos olhares que agora pude rever. Remexer as arrumações de muitos anos é uma oportunidade de voltar a ser o ser que fui, com a certeza de que, no fim, já serei outro que percebeu a impossibilidade de ser o que não foi. Muitas das férias do passado foram viagens no espaço, estas foram viagens no tempo.
No remexer da arrecadação pude lembrar-me dos projectos que ficaram por contar, porque as formigas também fogem devoradas pela enxurrada do tempo que passa. Em Agosto de 1986, começava outras férias assim:
Ontem encontrei uma formiga que de olhinhos tristes e a fazer o pino no soalho da caravana me disse: Leva-me à boleia. Estou farta desta vida de andar no carreiro. Por favor, gostava tanto de encontrar novas paisagens, sair deste caminho sempre igual da frente para trás e de trás para a frente. Olhei para ela e apeteceu-me dizer-lhe que não, que o Renault 5 é um carro fraquinho e que assim com ela sempre teria de puxar mais um bocadinho. Mas não disse, porque ela ia achar isso uma desculpa tonta. Perguntei-lhe então, o que iria ela dar-me em troca da boleia. Vi a sua tristeza com esta noção de amizade, mas lá me respondeu: Talvez te possa fazer cócegas e contar-te a história das nossas viagens. Achei a ideia excelente e estas são as histórias de viagem da minha amiga formiga, a quem estou muito contente por ter dado boleia. Na verdade a formiga ainda me contou algumas histórias, mas a pressa dos momentos fez com que fugisse ao fim de uns dias e as histórias ficaram por registar. Este é o risco de muito projectar, porque a ambição faz o objectivo demasiado grande para o tempo que se tem. Mais que tudo, é preciso não deixar passar o momento nos projectos, porque não somos o futuro.
Gozo dá, ver o futuro do passado através de um esboço que se fez, porque é no presente que o prazer vale. E valeu também a ideia de dar sombra ao futuro pela plantação no presente de uma árvore. Ficaram por lá 21 no sonho de repousos futuros (ou para pasto presente das ovelhas?).
Chega-se aqui, finalmente, mais descansado depois depois desta viagem, cá dentro.