terça-feira, outubro 28, 2008

Irresponsabilidade de recusar

«Governo recusa alterar acordo sobre o ordenado mínimo nacional». Este é o título da notícia. Uma forma curiosa de a dar. O verbo recusar contém em si algo de menos bom. Geralmente, os empregadores recusam os aumentos e estamos habituados a que nos recusem os desejos. Por isso estranhei o texto, que poderia ser perfeitamente substituído por «Governo mantém acordo sobre o ordenado mínimo nacional» ou «organizações patronais recusam o acordo que fizeram sobre o ordenado mínimo nacional». Mas os intelectuais da imprensa andaram na escola de jornalismo, eu não. Fico com a impressão que a fórmula escolhida não o foi por lapso: o Governo recusa, a oposição não nega o aumento de 24 euros por mês, apenas acha uma irresponsabilidade. A irresponsabilidade de recusar a modificação do acordado...

segunda-feira, outubro 27, 2008

Economia tótó

Não sei se é Marx se Keynes. Eu sei que a minha é, claramente, uma Economia tótó. Quando mais jovem, ensinaram-me que os bancos era um sítio onde se punha o dinheiro para ficar mais protegido. Os donos dessas casas, até nos pagavam umas migalhas de juros, porque eram muito espertos e sabiam investir muito bem esses dinheiros. Esse negócio fazia-me algum sentido. Mas nunca consegui entender essa coisa que é o negócio dos Bancos ser o crédito sem limites, porque sempre que alguém me pediu dinheiro, tive o cuidado de perceber se me poderia pagar, de lhe exigir garantias. Imaginava eu que os Bancos faziam o mesmo e teriam sempre garantidas de uma forma ou de outra o pagamento dos dinheiros que emprestavam. Mas não, quem nunca criou qualquer produto palpável andou para aí a criar ilusões de crescimento partindo do princípio que tudo continuaria sempre a valer mais do que hoje vale, quase por definição. Mas não, agora chegaram à conclusão que é necessário baralhar e dar de novo e eu tenho uma incómoda impressão de que alguma «mão invisível» se prepara para me vir ao bolso.
Eu tótó da economia me confesso e digo que me fazia mais sentido que o valor das coisas fosse o seu custo de produção, em vez de um leilão permanente. Também não percebo muito bem um mundo onde uns produzem quasetudo consumindo pouco e outros consomem quase tudo quase nada produzindo, limitando-se a produzir sonhos e ilusões. Mais cedo ou mais tarde, a necessidade de sobrevivência, os obrigará a começar a produzir, porque não terão eternamente a capacidade de pagar sem o fazer, já que, na minha economia tótó, a minha possibilidade de pagar tem de estar suportada em algo que produzi e tem um valor, porque existe realmente. Necessariamente, mais que uma ilusão.

domingo, outubro 26, 2008

A pílula de Deus

Já por mais de uma vez me diz, com uma auto-satisfação natural, o seu sentimento de bem-estar, uma nova tranquilidade que a conquistou, apreciando, de uma forma meio mística, a sua nova qualidade de vida. Nunca pensou que depois do que lhe aconteceu na vida, pudesse ter ficado assim, graças a Deus. Deus sempre a acompanhou em tudo o que fez na vida e uma vez mais, nesta fase, ali está ao seu lado e protector. Mas agora até a ela parece diferente, nunca tinha sentido esta serenidade para mais nos tempos conturbados que por aí se vivem. É como se nada a incomodasse tal a protecção de que é alvo. Ela mesmo quase desconfia do que se passa e diz que nem parece ser ela que por aqui anda. Ouço sempre com atenção e satisfação, mas desta vez, uma dúvida começou a invadir-me depois de a ouvir dizer que nem se sentia exactamente como era: será que Deus desceu à Terra sob a forma de Prozac? Possivelmente, uma forma mais química do que a outra em forma de fé que terá dado texto às missas quando elas existiam. Vamos em paz e que o Senhor vos acompanhe, e respondíamos, Ele está no meio de nós. Pois era, agora, segundo alguns relatórios, está mais que no meio, está dentro, de cerca de 20% dos portugueses. E no mundo de Inferno em que se vive, cada vez mais existe um mercado potencialmente em crescimento para o seu consumo.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Mobilidade

A propósito de limitações da lei da mobilidade, o senhor Ministro das Finanças reconheceu hoje que os quadros do Estado são um bem escasso. Vindo de onde vem, só podemos pensar que se prepara para os incentivar. Realmente, os bens escassos não se prendem, pagam-se e são caros.

quarta-feira, outubro 22, 2008

domingo, outubro 19, 2008

Até...

Uma volta à ilha deixa alguma vontade de voltar. Tanto mais não seja para ir comer uma espetada em pau de louro, algo impossível de encontrar no Funchal tanto quanto percebi. Mas não só, a diversidade da paisagem agrada ao olhar e saberá bem apreciá-la com bom tempo.
Até o Savoy, uma velha aristocrata falida que já nem resiste a mais plásticas, deixa alguma nostalgia.

A Madeira são os jardins

Definitivamente, na Madeira gosto mais dos jardins no plural. Vale a pena percorrer os do Monte e o Botânico, apreciar a diversidade e a cores. A natureza, mesmo assim alterada, produzida, não deixa de ser agradável aos olhos e, no meio dela, sente-se menos a pobreza arrogante e defensiva das gentes de ideias contidas.
A visita ao Madeira Story Center ajuda a perceber algumas coisas. Trata-se afinal de uma terra descoberta por mero acaso, por uns portugueses que por ali andaram mais ou menos perdidos e sem saber o que procuravam. Na verdade, já antes, uns tipos, verdadeiros descobridores, lá tinham ido (gregos ou qualquer coisa assim), mas depressa zarparam sem deixar vestígios. Também parece que nobre ingleses e amantes francesas por lá andaram (sempre seria mais aristocrática a origem...). Mas também destes se não conhece descendência. Enfim, o resto são colonizadores do continente, escravos e piratagem. Uma mistura certamente complexa que desembocou na actualidade. Os ingleses trouxeram os aviões e os turistas, os continentais cobraram impostos. É tempo de pagarmos, todos, tanta exploração feita ao longo dos tempos! Estamos a pagar, possivelmente porque as indústrias do offshore e do turismo podem não garantir a auto-suficiência. Por mim, agrada-me mais a solução do Brasil ou dos africanos. Nessa altura talvez fosse considerado europeu quando lá fosse...

sábado, outubro 18, 2008

Desgostos

Se calhar até exagero na apreciação que faço, por o Jardim não me deixar ser completamente independente na análise, mas há qualquer coisa que desencanta no contacto com os habitantes desta ilha.
Não gosto aqui, da mesma forma que não aprecio em Marrocos, na Tunísia ou na Turquia, por exemplo, que os táxis tenham um objecto de adorno chamado taxímetro. Nem que me peçam 15 euros para me trazerem do Monte à baixa e que invoquem que já acabaram o dia de trabalho, mas que, me fazem o favor de me levar. Regateado, fica mais barato. Na viagem até parece que o homem se transforma. Fica simpático, vai mostrando a terra, revela-me a casa do Senhor Doutor (assim, exactamente e por extenso) Alberto João a meio da encosta, uma casa alugada, precisa.
Não aprecio que generalizadamente os artigos expostos nas montras não tenham o preço explicitado. Estas coisas também são manifestações de subdesenvolvimento.
Há uma técnica mal aprendida fazer parecer que se gosta do turista.
E já agora chateia-me ter de esperar para jantar quando o representante do governo local chega atrasado à função e que a partir do momento em que chega tudo gire à sua volta de forma subserviente.
Houve tempos em que também por cá o Diário da Manhã e os telejornais falavam de Sua Excelência o Senhor Presidente do Concelho Professor Doutor qualquer coisa. Hoje, em bom português, diz-se simplesmente Sócrates ou Cavaco. Mas não em madeirense.

sexta-feira, outubro 17, 2008

As causas das coisas

Nas medidas para prevenir as complicações cardiovasculares da diabetes, a necessidade de mudar os estilos de vida, é consensual. Qualquer comunicação politicamente correcta não deixa de expressar, num dos 20 minutos que demora, essa necessidade. Nos outros 19 minutos falam-se de drogas e relatórios de consenso, isto é, acredita-se nos novos deuses e espalha-se a sua mensagem entre os fiéis ouvintes. Constata-se que os doentes não aderem aos tratamentos, que existe um mundo real e outro ideal cheio de objectivos bem definidos e cada vez mais estritos, que potenciam o esforço de vendas. Só que raramente atingidos (menos de 10%!). Porquê então a persistência numa mensagem que repetidamente já falhou?
À partida parece ser claro que investir na prevenção da doença, será mais eficaz que no seu controlo, mas não é isso que se faz. Pior, quando se pensa que se está a fazer, faz-se errando o alvo: culpabiliza-se o doente que não cumpre o que se lhe diz para fazer, sem se perceber que se lhe está a propor o impossível. Não eles não podem comer de forma diferente, nem deixar de ser sedentários. Isso eles sabem, só não fazem, porque não podem e não podem porque a comida tem custos e a melhor relação custo-benefício se consegue comendo o que se não deve e deixando de comer o que se deveria comer mas não se pode. Comer exige a compra dos alimentos, a sua confecção e depois a ingestão. Além dos custos, tem tempo gasto associado, o tempo que cada vez mais o sistema da máxima exploração da força de trabalho não fornece, porque maximiza o tempo de produção. A epidemia da síndrome da globalização não é controlável sem a destruição das causas que a geraram: é necessário alterar os valores, mudar o emprego, melhorar o rendimento da força de trabalho, encurtar o tempo de deslocação diária casa-trabalho, aumentar os tempos livres em vez de os aniquilar, libertando tempo para o exercício e para se estar e, até, reflectir. Então a ansiedade diminuirá e serão possíveis hábitos de vida mais racionais e humanos. Será, pois, determinante investir no lado certo (na prevenção) e não no lado mais fácil (a promoção da cura farmacológica/cirúrgica). Até agora tem-se feito exactamente o contrário.
E tentar controlar o caudal do rio junto à foz em vez de o normalizar a montante, só nos fará ir na enxurrada.
Garante mais facilmente, é claro, a continuação da boa vida de grupos excursionistas divulgadores da missão e das suas orgias alimentares. A Indústria continuará a agradecer, os contribuintes a pagar.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Jardim

Foi necessário chegar à Madeira e tomar consciência da dimensão desta realidade (cerca de 300000 pessoas) para ficar espantado com o alarido que se faz à volta do seu eterno governante. O negócio deste homem devia ter a importância política da actividade do Presidente da Câmara do Barreiro.
Desde que se chega e durante o percurso até ao hotel, vai-se percebendo a destruição ecológica desta ilha: a Madeira que outros viram e, por isso, assim a chamaram, seria hoje por eles chamada possivelmente Cimento ou, se a vissem mais ao perto, talvez toca de toupeira.
Quem pagará as facilidades de acessibilidade do tipo do túnel que chega ao Curral das Freiras, qual o custo de oportunidade de uma obra destas? Como se pode exigir o pagamento de auto-estradas no interior do país, quando aqui se esbanja desta forma e benefício de tão poucos? Se à mesma escala, algum Presidente de Câmara, fizesse assim obras, certamente teria também garantida a maioria absoluta em todas as eleições, mas seria apenas até ao dia da falência económica que traria trás de si, o fim dessas eleições. E tudo isso já teria acontecido, possivelmente, há vários anos.

CABARET-FML

Independentemente da motivação, não é fácil fazer encher o Coliseu e mantê-lo cheio durante 5 horas. O resto são incidências da idade, anomalias de técnicas que se não dominam e desejo excessivo de mostrar habilidades. Mais velho era eu e tinha expectativas que vissem todas as fotos de uma viagem... Há missões impossíveis.
Mas o enredo, as horas de sono perdidas na execução, o prazer ganho na produção são ganhos de crescimento e, desde já, valeram a pena. A maioria das vezes não importa ser perfeito, basta o entusiasmo e a boa vontade associado à consciência de que não se é nunca o supra-sumo.
Quem percebe que esta sua Faculdade pode ser um imenso Cabaret é alguém atento, que pode fazer a diferença. Um dia os tiques futebolísticos desaparecerão e a realidade acabará por se impor sem cedências ao mais fácil.

terça-feira, outubro 14, 2008

segunda-feira, outubro 13, 2008

Partida


Tiveste sempre uma forma voluntarista de estar, cheiraste tudo sem cessar e raramente alguma vez te escapou do faro uma chegada de qualquer um de nós. Ainda há dois dias, soubeste que a Ana tinha voltado de fora. Nada te escapou. Nunca fugiste, foste sempre procurar alguma coisa. E obrigaste-nos a procurar-te muitas vezes. Mandaste em todos nós e mesmo nos acessos de «ternura» em que deixaste as tuas marcas nalgum calcanhar próximo do teu jantar, sempre se encontrou algo que te justificava. Lá no fundo, eras um tipo fixe, que gostava de ver o rebanho caseiro recolhido antes de te deitares. Sim, muitas vezes, dormias com um olho aberto, se faltava algum. Com dificuldade aprendeste a não fazer barulho depois das horas convenientes, quando chegávamos. Mas a idade torna-nos mais sensatos e tu também isso aprendeste.
Ontem, quando cheguei, tinhas um ar de quem quase pedia desculpa de se ir embora. Ainda abriste o olho, mas ficaste a olhar no vazio. Nem a água, nem o frango te abriram a boca. OK, já chegava,tropeçaste e ficaste de barriga no fresco do chão. Estavas a despedir-te. Voltaste a não fugir, simplesmente, partiste na madrugada sem ir à procura de nada, desta vez. Estas coisas são sempre uma partida.

domingo, outubro 12, 2008

Afinal havia outras


Há dois dias que as Bolsas de Valores não descem. Vivam os fins-de-semana continuados
(Figura na revista Time)

sábado, outubro 11, 2008

Morte

Há mortos nas fotografias a habitar em todas as paredes. Para qualquer lado para onde me vire.Têm esta função perversa as fotografias: mostram-nos os mortos a sorrir. Ou serão a vida depois da morte? O que resta dela na memória revigorada. Mas a sua memória é também o avivar da perda. Definitiva.
Há, nestes dias, um cerco de morte na memória que persiste. E fica-se mais perto, percebe-se melhor a vulnerabilidade da nossa, afinal, não-eternidade. É fácil imaginarmos que, algum dia, também nós acabaremos dentro de uma moldura a inquietar quem passar e nos vir.
Mas também é verdade que se assim acontecer, significa isso, que há alguém que resiste à ideia de termos acabado, alguém que afirma que somos outra coisa diferente do que partiu: «Isto não é o meu pai» escreveu um filho num bilhete no dia do funeral do pai. (Comunicação pública de António Lobo Antunes). Pois é, os nossos heróis,como nos filmes, também não morrem nunca.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Tiros no pé

Citando João César das Neves (com subtítulos meus):

O prenúncio da crise?
Os maiores desastres do século XX foram gerados por pessoas e grupos autonomeados progressistas e donos do futuro. Quando alguém, iluminado pelas forças da modernidade, despreza a realidade que o rodeia como obsoleta e tacanha, impõe sem contemplações as suas opiniões. Então surge o horror. Não é preciso ir longe para encontrar exemplos devastadores deste erro.

A propósito do fundamentalismo?
A cegueira ideológica não é simples aldrabice. Ao contrário do que se diz, este fenómeno não consiste em má-fé, hipocrisia ou estupidez. O aspecto exterior costuma ser semelhante, mas o processo conducente é muito diferente. Quando alguém está plenamente convencido de uma causa porque lutou durante anos, a evidência do seu fiasco implica a negação da própria identidade. Mesmo perante resultados tão assustadores, como se pode dar o braço a torcer, assumir o erro, inverter a orientação? A cegueira nasce do orgulho.

Uma tomada de consciência?
Vivemos num mundo de espelhos, numa fogueira de ilusões. Consideramo-nos informados e esclarecidos mas nos assuntos sérios, opções estratégicas, problemas de fundo, novas infra-estruturas, escândalos empresariais, temos de admitir que ninguém se entende.

A mudança será possível?
Estar fechado a outras possibilidades foi sempre o maior obstáculo à descoberta da verdade.

Fossa

A Fossa de Mindanau tem 11524 metros de profundidade. Parece ser o único fundo previsível por estes dias.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Imagem da tarde


A sombra da velha árvore estendida por mais de 200 metros de terra vazia, vista de dentro dos limites de um cordel limitante de um espaço de futuro repousante. No ideal se renasce.

Tempos de esperança


Greed is the selfish desire for or pursuit of money, wealth, power, food, or other possessions, especially when this denies the same goods to others. It is generally considered a vice, and is one of the seven deadly sins in Catholicism. Wikipedia
O «motor da história», o Santo Mercado, determinou que o pecado era virtude e mostrou-se que afinal a história ainda não tinha acabado. A História continua, o Estado renasce e, um destes dias, ainda vamos ter de volta a luta de classes, o regresso da solidariedade e dos caminhos comuns a percorrer. Aos poucos, regressaremos à realidade e o valor deixa de ser um conceito etéreo e voltará a ter tradução material. Avançaremos de uma forma mais globalizada, no mesmo tempo e não como até aqui se «progredia», porque ficar menos pobre não é ter acesso a mais migalhas, mas a mais igualdade. Haverá, enfim um tempo, em que o motor não tenha de ser necessariamente a ganância, mas a satisfação de se ser solidário e o progresso possa ser procurado sem a «necessária» vantagem unilateral. Com sorte nem será preciso ter a promessa do reino dos céus e sonhos de imortalidade para adiarmos a vida.

Figuras originais aqui e aqui

segunda-feira, outubro 06, 2008

Realidade e virtual

Servirá o vendaval para reerguer o ideal da tranquilidade e da bonança ou, porque a memória é curta, em breve estaremos, de novo, mergulhados na vertigem, na ânsia da adrenalina, como se precisássemos de ir muito depressa sem nos questionarmos sobre o destino: o abismo?
Nesta vertiginosa queda do valor gerado, podemos compreender a natureza virtual de que era feito. Quem ganhou com a ilusão, que pague agora a realidade. Isso é o que falta garantir. E que se não peça, outra vez, a quem já no passado e sempre se costuma pedir.
É urgente um neo-realismo em que o valor seja a expressão do produto e não uma qualquer ilusão criada por habilidosos de todos os marketings. É necessário andar com menos pressa de chegar ao vazio e elevar o valor da estabilidade e da segurança, procurando os verdadeiros valores, que antes espezinharam.
Aos irritados donos do mundo e da verdade liberal, estará a chegar a hora de fecharem o Casino?

domingo, outubro 05, 2008

Citação bíblica

Leitura de hoje:
# Mateus 18:21 Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou: - Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
# Mateus 18:22 - Não! - respondeu Jesus. - Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes.
# Mateus 18:23 Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados.
# Mateus 18:24 Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata.
# Mateus 18:25 Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía.
# Mateus 18:26 Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor."
# Mateus 18:27 - O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora.
# Mateus 18:28 O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: "Pague o que me deve!"
# Mateus 18:29 - Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo."
# Mateus 18:30 - Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida.
# Mateus 18:31 Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão.
# Mateus 18:32 Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: "Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia.
# Mateus 18:33 Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você."
# Mateus 18:34 - O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
# Mateus 18:35 E Jesus terminou, dizendo: - É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.

sábado, outubro 04, 2008

O valor das coisas

Convergimos, numa manhã de sol, partidos de vários sítios do país, na velha fábrica para determinar o valor da coisa.
De há uns tempos para cá, é sempre um mistério para mim a determinação do valor das coisas. Dizem que é o encontro da oferta e da procura, mas como se do lado da oferta se espera que a procura dê o máximo e do lado da procura se pretende comprar ao mínimo? E como tornar suficientemente abrangente a procura?
Desisto de responder, porque entro em círculos sem resposta.
Entrei na velha fábrica, desactivada, morta de produção, mas incrivelmente de pé, digna. Era para ali que ia às vezes nas férias. Nos corredores andei de carrinhos de mão em corridas com outros miúdos. Ali moldei o barro dando à perna na roda. Vi o barro comprimir-se nos moldes, parindo tijolos de 2, 3 e 4 buracos e outros mais inteiriços e impressionava-me com o arame que com todo o rigor os cortava a espaços iguais. Ouvi falar dos braços decepados de operários caídos em tempos de pouca segurança no trabalho. De mortos até. Ainda me lembro do cheiro morno dos fornos. Nessa altura, andaria a ler Aquilino, Alves Redol e outros que me falavam do Trabalho e de quem o explora e tomava conhecimento ao vivo de quem fazia as telhas e os tijolos. Eram, claro, os que lá deixavam os braços, que não há memória de nenhum proprietário, de nenhum banco financiador, alguma vez lá ter deixado o que quer que fosse. No meu radicalismo de então, era óbvio, que apenas lá iam buscar os Mercedes e os Saab. Lembro-me também, de que era um tempo de patrões que faziam refeitórios para os funcionários, os conheciam, bebiam uns copos no fim do dia de trabalho, todos às vezes. Não tinham saído de escolas de Gestão nem procuravam exclusivamente criar valor para o accionista. Era, apesar de tudo, um capitalismo com rosto.
Por ali a vaguear, espreitando recibos pelo chão e amontoados de abóboras, onde antes moraram tijolos a secar, não consegui perceber qual o valor daquela coisa, tarefa que ali nos tinha feito ir. Mas descobri, que para mim, o verdadeiro valor daquela coisa são as memórias que me desperta. Outros fizeram o preço. Eu assino por baixo, seguro que vou ganhar (já ganhei) mais que a parte que me couber.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Momento

E se voltar aos 20s estando nos 50s, só nos fizer perceber que estamos, afinal, trinta e tal mais velhos? Mas tem-se este chamamento da imortalidade alguma vez: tanta coisa para fazer ainda, que o recuo no tempo se torna necessário e urgente.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Amarrado na margem


Há momentos de ficar na margem, reforçando as amarras, esperando que a enxurrada passe lá longe. Será que chega, será que não? Sabe a injustiça a inquietação.

quarta-feira, outubro 01, 2008

Inventário

Pensando bem nem são assim tantas as coisas de que realmente necessitamos. Talvez um sorriso de compreensão e um ou outro olhar de aprovação nos reforcem a dose necessária de confiança que nos faça estar destemidos. O doutor tirou-me os nervos, e eu a saber que não fiz assim tão grande coisa. Alimento para o estômago, a alma e demais órgãos a nutrir. Instrumentos para comunicar como a língua, os berros, e outros para telecomunicar. Estar aqui a comunicar comigo no futuro. E será que lá, irei ter saudades do presente? Tempo de estar a ouvir o silêncio e os ruídos interiores. Sim, os ruídos interiores têm que ser cuidadosa e exaustivamente ouvidos. São eles que geram a nossa compreensão de nós próprios. E percebemos melhor os outros quando nos compreendemos a nós.
Se calhar, basta termos um sonho e tudo o resto perde significado.

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama