quinta-feira, julho 31, 2008

A escapadela do Sr. Silva

Assim se provou que também um Presidente pode chatear-se com as férias. Quem sabe as coisas lá por casa não estão bem. Os netos só a pedir coisas e a crise chega mesmo a quem tem reformas chorudas. Depois o Algarve está cada vez mais cheio de europeus pés-descalço. Vai daí, pensa-se, deixa-me ir a Lisboa fazer um discursito para desanuviar. Ninguém vai dizer nada, porque aquilo dos Açores ninguém percebe nada, são umas ilhas onde se farta de chover e o que o povinho quer é sol.
Divertido foi ver os jornalistas tugas a empolar a coisa o dia todo, o que o homem iria dizer, numa demonstração da mais absoluta falta de notícias agora que nem futebol nem Maddies os ajudam. Mostrando uma vez mais que nem só a PJ é incompetente por cá. Só que nuns lados há impunidade, noutros ainda alguns pagam as favas. Durante o dia faz-se uma montanha, a noite o PR páre um ratinho. E agora? Vá de comentar a intervenção. Será que é um puxar de orelhas ao Governo? Como assim, então logo com uma coisa que todos os partidos tinham aprovado. SuperSilva contra todos, é o nome deste filme. A estação está silly, o Algarve uma chatice.

quarta-feira, julho 30, 2008

Com a ajuda de Brecht

Perante a ameaça do baronato ordenado, a Ministra começa a hesitar? Será mesmo que a imposição do fim da promiscuidade causará a terrífica debandada dos médicos? Que médicos irão embora? Os instalados no sistema, os que já hoje têm larga actividade na medicina privada. E que acontecerá aos hospitais se forem embora? Que redução de produtividade acontecerá se certos directores de Serviço que hoje não fazem urgências, nem consultas, nem MCDTs, nem cirurgias quiserem deixar o Serviço Público? Como irão sobreviver os doentes se eles deixarem de lhes fazer o que hoje já não fazem? Não, eles governam, dirigem! Ah, pois, e isso é assim tão complicado?
«Ou será que Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?» (Brecht seguido de Brecht adaptado):

Quem constrói a Saúde nos hospitais e centros de saúde, o SNS?
Nos livros vem o nome dos Directores,
Mas foram eles que estiveram de Banco?

Se os médicos dos hospitais soubessem observar e fazer prescrições
E se soubessem distinguir uma constipação de um cancro
Não haveria necessidade de Directores de Serviço.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

terça-feira, julho 29, 2008

Mais e melhor Estado, precisa-se

Sabe bem em dois momentos do dia, sentir que o Governo está a cuidar bem do Estado (isto é, de nós).
1. Logo ao acordar, a notícia de que a Ministra Da Saúde tem vontade de profissionalizar os médicos do ServiçoNS. A medida é tardia, mas mais vale tarde do que nunca. O importante é não ficar pela análise do processo eternamente. Força, força, «companheira» Ana! Os doentes, certamente, vão gostar.
Não pude deixar de comentar a notícia: «O dinheiro dos nossos impostos deve ser bem gasto. É o mínimo, que se pode exigir a quem o administra. Os Hospitais são hoje grandes empresas, muito complexas de gerir. Para serem eficientes devem combater o desperdício e dar aos seus colaboradores condições de funcionamento de excelência e exigir-lhes dedicação e empenho. Consequentemente, devem remunerá-los de forma adequada. Os Hospitais estão hoje colocados em concorrência com empresas privadas do mesmo sector. Deixou, pois, de fazer sentido que os seus funcionários trabalhem neles e para a concorrência, em nítido conflito de interesses. Não se pode jogar pelo Benfica e pelo Sporting na mesma época...
Ninguém faz fretes a ninguém e será bom perceber se é o ServiçoNS que ganha com a colaboração que lhe prestam os médicos que têm actividade privada ou se serão estes que beneficiam com a promiscuidade de funções.
Vão-se alguns. Duvido que a Privada tenha mercado para o êxodo que alguns anunciam, porque os seus gestores não gostam de pagar pelo emprego, mas pelo trabalho efectuado. Espera-se que os gestores do público tenham condições para, podendo abdicar da necessidade do lucro, criar um serviço competitivo e mais barato.

2. À tarde fui às Finanças esclarecer as divergências da declaração do IRS. Primeiro saúda-se o facto de haver meios de detectar uma divergência de 400€, o que mostra que a máquina funciona. Já não apreciei tanto, ter de esperar cerca de 2 horas para ser atendido. O que se passou? Declarei que tinha pago à Companhia Ocidental cerca de 400€ de seguros de acidentes. Pelos vistos, a seguradora do grupo Millennium não declarou ter recebido, daí a divergência. Estranho ter sido eu a ter que provar que paguei e não a dita companhia a ter que provar que não recebeu. Afinal, quem «fugiu ao fisco» foi o Millennium, quem perdeu tempo fui eu. Espero que tenha valido a pena e que do esclarecimento do incidente se perceba o erro (erros?) da Ocidental. Volta a provar-se a necessidade de averiguar a origem dos rendimentos máximos nacionais.

segunda-feira, julho 28, 2008

Em resposta ao leitor(a)

Sempre achei fácil, demasiado fácil, criticar a ruindade dos deserdados. Sempre achei simples, demasiado simples, condenar aqueles que são primeiro excluídos de comer o bolo dos ricos e depois convidados a limpar-lhes a mesa. Sempre achei cómodo, demasiado cómodo, dividir os seres entre os que trabalham no duro e os preguiçosos, os sacanas.
A análise sociológico assim feita, parece-me sempre demasiado fácil, simples e cómoda. Alivia as consciências no momento, mas será que é exacta?
Teremos, ao nascer, as mesmas oportunidades, exactamente as mesmas? Dividimos-nos em bons e maus? Porque serão uns trabalhadores e outros indigentes? Poderemos exigir comportamentos idênticos, para realidades diferentes? O mais fácil será sempre impôr a lei do mais forte e subjugar os fracos ao poder. É o mais fácil, simples e cómodo.
A integração consentida para o ser tem custos: é difícil, complicada e incómoda. Duvido que seja razoável abdicar do caminho árduo e reduzir tudo à facilidade do poder.
Também me choca que pessoas não paguem 3 euros de renda de casa e depois tenham os luxos da sociedade de consumo. Mas alguém beneficia com esse consumo, talvez mais do que os consumistas... É preciso elevar a discussão a esse nível, investigar a fundo os rendimentos máximos nacionais e até mais, os internacionais. Depois disso, haverá soluções simples e fáceis, para as injustiças dos injustiçados. Pensando bem só no fim de todos nós, pobres e ricos, brancos, pretos e ciganos, somos iguais. Todos acabamos por morrer de formas muito idênticas, a diferença está nos escassos anos que percorremos até lá. Valerá a pena lutar para impôr tantas diferenças, tamanhas diferenças, cada vez maiores, nesse tempo (70-80 anos)?

domingo, julho 27, 2008

Obviamente, PP

É curioso como quem tanto gostava de os visitar nas feiras, agora anda nisto.
Bem mais interesse tenho eu em que fossem investigados os rendimentos máximos, a forma como são conseguidos. Até para aprendermos alguma coisa. Se calhar, depois disso, até poderíamos acabar com os rendimentos mínimos... Talvez aguçasse a nossa imaginação.

Distração fatal


Várias vezes no passado aqui mostrei alguma admiração por eles. Eles não abandonam familiares nos hospitais, têm um sentido de família interessante, no mínimo. São diferentes, têm valores diversos dos que a manada a que pertencemos professa. Mas as minorias são, às vezes, mais bem esclarecidas do que certas maiorias distraídas. As maiorias que passam ao lado de dois cadáveres de miúdos MORTOS na praia e mantêm indiferentes os seus banhos de sol, nos seus valores maiores do bronzeamento. Chegados a este ponto, onde podemos jogar raquetes e apanhar banhos de sol lado a lado com cadáveres, parece que alguma coisa deve ser feita. É que primeiro serão os ciganos e apanharemos sol, depois serão os africanos e continuaremos a bronzear mais a pele, depois os de todos os credos e ainda não teremnos atingido o bronze de revista de coração, depois serão os trabalhadores dispensáveis e continuaremos refastelados a pôr o bronzeador, depois os jovens sem emprego e ainda não chegámos lá, depois seremos nós, se calhar, e perceberemos que ainda não tínhamos dito nada, envolvidos que estávamos no nosso desejo fútil de um tom de pele que fará a inveja dos nossos amigos. Distraídos do importante.

sexta-feira, julho 25, 2008

Randy's lecture

Randy partiu. Mas às vezes há lições de vida, que só a iminência da morte permite desfrutar. Randy deu-nos uma lição. Falou-nos do que é realmente importante.

quinta-feira, julho 24, 2008

Deitem o muro abaixo

É o tempo dele e da América se aproximarem da Europa. Os muros que ainda nos separam são os do Estado social não tanto os das diferenças de religião ou de côr da pele. É o tempo de perceberem que a Santa Economia neoliberal não é a solução e de criar uma nova, que garanta segurança e estabilidade à vida dos povos, que mostre que o progresso desejado vai muito além do massacre anunciado pelos ditos mais capazes. Este tempo que é nosso é para se realizar em conjunto, sem dispensar negros, nem brancos, nem judeus, nem cristão ou muçulmanos, mas sobretudo para integrar aqueles que a selvajaria neoliberal tem vindo a trucidar de forma igual independentemente da sua cor ou religião. Nesta via nova, não há lugar para os dispensáveis, que hoje vemos acumulados pelas largas avenidas das cidades americanas, vagueando em busca de nada, depois de lhes terem retirado tudo, até a esperança. É tempo de terem Serviço Nacional de Saúde, Segurança Social, de terem Estado e não apenas Segurança Policial. Este é o tempo da Europa melhorar, mas sobretudo dos Estados Unidos aprenderem o caminho da Solidariedade. É o tempo do muro que separa o indivíduo do colectivo começar a cair. Esse é o caminho que a América do Norte tem que aprender para poder ser mais grande coma Europa.

quarta-feira, julho 23, 2008

Liderança

A tranquilidade a todo o custo é possível? Basta ver os pântanos em dias de calmaria. Nada mexe, a montanha reflecte-se na água. Que beleza! Mas fique-se muito tempo assim e logo surge uma poeirada ofuscante do brilho das águas. Para além do cheiro a podre que começa a surgir logo a seguir. Por muito parados que fiquemos, algo acaba por mexer e estraga a paz podre. A certa altura a pedrada no charco torna-se imperiosa.
Também nas organizações há líderes que, cheios de boas intenções, se iludem com o governo por consenso. Mas a paz eterna não existe e, a certa altura, as contradições afloram e desafiam a tomada de opções. Na verdade, se o consenso fosse permanente nem seriam necessários os líderes, as organizações caminhavam sozinhas. Se quem lidera o fizer para induzir a transformação evolutiva, desiluda-se que não será possível ficar sentado à espera dos acordos permanentes. A liderança não é rolha a andar por aí, é navio com destino, para onde sobem alguns que embarcam na viagem e têm de ser lançados borda fora os sabotadores da rota definida. Nunca é um processo tranquilo, porque, bons como somos, muito gostaríamos de fazer a viagem com todos os embarcados. Mas também a vida é isso mesmo, uma sucessão de opções, onde sempre se perdem umas quantas oportunidades, para se garantirem outras julgadas melhores.

terça-feira, julho 22, 2008

A pátria é uma má desculpa

A pátria é uma desculpa bem pequena. Mas é preciso que a exaltação atinja o absurdo para que o consenso surja. Então tudo se percebe melhor. Fica mais claro que não faz sentido ser-se grande no pequeno mundo e duvida-se até do sentido que fará ser-se grande no mundo grande. Necessidade estranha essa de sentir grande o que se sabe ser pequeno. Para que raio iludir os sentidos, quando sentido faz que se coopere sem domínios para se conseguir a sobrevivência. As pátrias nasceram das pequenas geografias num tempo em que a distância tolhia os movimentos. Esse tempo é do passado. Mas temos ainda no presente as barreiras dos hábitos criados entretanto e, não tendo tempo para perceber como fizemos religiões, credos, propriedades e outras separações, permanecemos agarrados às absurdas concepções que nos entranha a cultura dominante. Somos ilusoriamente todos de um grupo especial, quando, na verdade mais que ser, vamos por aqui estando uns poucos anos, que apenas fazem sentido se partilhados uns com todos no desbravar do que se não conhece. Sou mais dessa Pátria de cooperantes onde não há raças, nem religiões, nem barreiras que só interessam, realmente, aos dominantes. Nesta confusão em que se anda talvez se gere a ameaça global, que obrigue a novos rumos e não faça confusão, a ninguém mais, ser-se cigano ou preto a viver no mesmo bairro.

domingo, julho 20, 2008

Politicamente incorrecto

Não deixa de ser estranho que sejam as desigualdades de pequenas minorias que sejam a notícia. Como se não houvesse desigualdades bem mais gritantes afectando muitos mais. A cada classe as suas preocupações e a luta de classes, por muito que decretem a sua morte, continua viva.

A vista

Ali do cimo, por baixo da velha pereira, há um mundo novo para ver. Há uma urgência de um banco na tarde quente, na espera do tempo a escorrer, como só ali pode acontecer. A companhia de um livro ou Beethoven, talvez a 6ª sinfonia, ou simplesmente à conversa na construção da meia vida que falta (disseste-me «só passaram quase 30 anos»), afastando para longe o momento em que se vai escorregar banco abaixo e se fica calmamente até ao sobressalto de um qualquer pastor.
O resto é paisagem.

sexta-feira, julho 18, 2008

Dores da vida

Diversos são os mundos onde estamos. Que mundo é esse onde se está e para onde se não quer ir preferindo ficar no hospital? Inventando dores, numa tentativa quase desesperada de manter a cama, o jantar mal gostoso, o convívio de um velho que grita a noite toda.
Vai ter alta, apesar de tudo. E provavelmente deixará de administrar a insulina, para voltar em cetoacidose daqui a dias. Tem sido assim, durante meses para irritação de alguns, que habitam outros mundos.

terça-feira, julho 15, 2008

Nevoeiros

Ao mesmo tempo, por estes dias, no ambiente do mundo, há uma nova esperança no Médio Oriente de inspiração francesa. É cómodo sentir que na Europa há a França e não só o Reino Unido ou a Itália ou a Alemanha. Ainda há um resto genético de uma Revolução e de um Maio capaz de inovar sem seguir a condenação do tem de ser, ainda há um espaço para a Carla, sem o receio do protocolo. Ainda há esperança.
Por estes dias, espremem-se os Tesouros na ilusão de salvar as bolhas, numa fuga em frente, mas a borboleta bateu as asas e as cotações afundam-se. Já não há mais ninguém para entrar no jogo, ter-se-ão esgotado os recursos? Cai o preço do barril do petróleo, mas ninguém já acredita, que isso não seja apenas mais uma oportunidade de investimento a muito curto-prazo. Há um naufrágio anunciado e começam a seleccionar-se os que cabem nos salva-vidas.
E se, de repente, o absurdo do irreal, entretanto percebido, nos fizer erguer barreiras e voltarmos a ser aldeias pequeninas, onde as regras da aldeia grande já não funcionam? Será então o momento de reapreciarmos as necessidades e surpreender-mo-nos com as poucas coisas de que realmente precisamos. Descobriremos, então, talvez, que no tempo em que tudo se tinha, só nos faltava o mais importante.

segunda-feira, julho 14, 2008

Vazio

O vazio, como o deste espaço em branco. De onde vem o que lá pomos? Que estranho mundo emaranhado de sinapses é esse que funciona alinhando a linguagem, permitindo o discurso com sentido. Lá se fabricam as visões, os olhares de futuro que nos vão mudando as coisas secundárias, aquelas que muitas vezes julgamos serem as únicas existentes, mas que nada são, quando as comparamos com o resultado que fica depois de um qualquer acidente que nos baralha os circuitos, fazendo os fluxos andar em círculos de pouca coisa ou mesmo nada. De um instante a outro fica-se dócil, patético, perde-se o rumo do que, efectivamente, somos. Que sentimento de ser será o que resta nesse instante? Haverá lugar para a dúvida, para o medo, de que incertezas será feito esse estado?
Quem assiste, na comodidade da manutenção dos circuitos, leva um murro no estômago como nunca sentiu antes.

sábado, julho 12, 2008

Instante breve

Não há silêncio nem momentos de paz. Torna-se imperioso encher o vazio de sons. Todos numa azáfama de oferta, perpetuam um ruído afirmador de vida. Aproveitando os instantes de forma mais sábia que na ausência dos dias passados. A vida fica em registo contínuo com todos os segundos aproveitados. É a celebração da vida. Tantas vezes passamos sem a ver, consumidos na rotina de forma a não percebemos a maravilha que é e é, na iminência do seu esgostamento, que a vamos redescobrir na ansiedade que se não escoe por entre os dedos. E há sempre uma esperança a alimentar-nos para além das estatísticas. Procuramos sempre encontrar os outliers. Porque eles até existem e a sua ideia reconforta permitindo-nos sair da matemática fatal e entrar no sonho. É «pelo sonho que vamos».

sexta-feira, julho 11, 2008

Os tico-ticos

Ninguém diz que o rei vai nu. Nã sei se é cegueira, se esperança que os outros não reparem. De qualquer das maneiras, o rei vai nu!
Comparados com o funcionamento da Ordem, a execução dos ex-burocratas do Leste seria supereficiente. Os papéis andam de secção em secção, de parecer em aparecer, até algumas vezes desaparecerem.
Há também o papel de agente regulador e aí a coisa torna-se ainda mais curiosa. Num mundo pequeno como este, regula-se sem normas de regulação muito precisas de forma a tudo ser possível ao arbítrio de quem resolve. E mesmo quando alguma norma é bem explícita, se não der jeito logo se procura dar-lhe a volta, com boa vontade, usando a lógica de que a norma não se pode aplicar naquele caso concreto e lá vamos procurar a forma de a contornar.
Para alguns há uma obsessão de fazer de conta, de mostrar um resultado, sempre conveniente, claro! São os tico-ticos, como diria o Professor Pardal.

quinta-feira, julho 10, 2008

Os descrentes

Tal é a sua crença na descrença das ideias, que o empenho pessoal num objectivo (ideal) que se não traduza em aumento de valor da conta bancária lhes não cabe nos conceitos. Para os descrentes logo tem de haver marosca se alguém gere bem uma coisa pública, como se o gasto do dinheiro dos impostos fosse o seu próprio dinheiro. Por definição, para os descrentes, coisa pública é necessariamente desperdício, só o privado é bom e honesto. Daí a necessidade imperiosa de explicar a evidência de uma boa gestão, por algo menos evidente e, nessa busca, nada melhor que o lançamento do boato. Para os descrentes, é então óbvio que se alguém gere com êxito coisa pública, ganhando como gestor público, isto é mal, em vez de estar na gestão privada a ser bem pago, é porque alguma organização secreta lhe paga. Para eles é clarinho que há subsídio da Opus Dei, só pode mesmo.
Realmente, para alguma indústria farmacêutica não deve ser cómodo haver algumas pessoas diferentes, que lhes fujam dos padrões. Recorre-se, então, ao boato, sobretudo quando se sabe que, já antes, nem a ameaça física resultou.
É estimulante este combate. Que se continue, então!

quarta-feira, julho 09, 2008

Os assimilados

Assisti há dias à tristeza e protesto de uma aluna que acabava de ver a sua nota de Matemática. Tinha tido 20 no exame do 12º ano e estava inconsolável e revoltada, porque o exame foi demasiado fácil e dessa forma, ela que era «aluna de 20 a Matemática», não pode distinguir-se dos outros que, assim, também tiveram 20... Pela mesma altura, vejo em grandes parangonas na Sala de Alunos de Medicina, o protesto contra o alargamento das vagas de acesso. Protestam, porque o ensino pode degradar-se. Há sempre bons motivos para o protesto, nunca as coisas se protestam pelas razões por que se protesta, mas apenas pelas boas razões.
Noutros tempos, na mesma sala, lutámos contra a criação do numerus clausus... Os tempos mudam e com eles as vontades das gentes. A avenida colectiva que se queria parece agora substituído pela vereda estreita onde só eleitos caminharão. E os outros? Triturados ficarão para as tarefas menores. É um modelo de desenvolvimento a que cada vez mais os poderosos, os que acedem aos media, podem louvar assimilados que estão pelo sistema. Pessoalmente, custa-me que uma aluna de 20 a Matemática, não tenha outro nível de reflexão e se fique pela produção de excelentes notas na antevisão de ser uma máquina de sucesso. Será que o mundo que persegue é o mundo em que gostaria de viver ou tudo não passa da impotência de mudar? Estará uma aluna de 20 a Matemática condenada a ser assimilada?

segunda-feira, julho 07, 2008

Nós podemos mudar

A mudança é possível. Podemos fazê-la. Eu também tenho esse sonho. O sonho do tempo em que os médicos hão-de deixar de ter os seus doentes e serão os doentes que passarão a ter os seus médicos. Desta forma a posse definida, com todas as implicações decorrentes da propriedade. O sonho do tempo em que os médicos ouvirão o que os doentes têm para se queixar, não lhes antecipando os diagnósticos e em que o exame objectivo se sobreporá, em definitivo, aos números do laboratório e às películas da imagiologia. O tempo em que mais que certezas a publicar, haverá dúvidas que precisamos partilhar, analisar e decidir. Juntos. O tempo em que finalmente de omnisábios, passaremos a simples fornecedores de tijolos para a parede total do diagnóstico. O tempo em que o doente não precise de ter fé no que lhe dizemos, porque na maior verdade possível se não tem fé. Mas também o tempo em que se sabe que se não sabe tudo e que, a verdade de hoje é diferente da de ontem e da que vai vir. Nós podemos mudar, em conjunto. Mas esta é uma cultura marginal nos tempos da idolatria do indivíduo diferente, único. (Não é a Espanha que tem Ronaldo, mas foi ela que ganhou!) Precisamos ser mais comuns, ter mais dúvidas como todos têm, sermos mais, sacrificando as imagens que temos (mas não somos muitas vezes). O caminho da verdade faz-se caminhando nas nossas dúvidas mais do que afirmando, peremptoriamente, as certezas de que, muitas vezes, somos os primeiros a duvidar. Porque se o mundo melhor for a soma de todos os pequenos mundos que cada um de nós é, então, nunca será, fundamentalmente, feito com as pequenas excepções extraordinárias, mas, muito mais, através do somatório das contribuições ordinárias. E nós podemos mudar isto. Já lá diz o Obama.

sábado, julho 05, 2008

Encher o vazio

Chega a ser estranho este vazio de não estar ocupado, na ausência de uma deadline. Como depois de se estar muito tempo fora, se achar estranho o som da própria língua. Acorda-se com vontade de cheirar a luz do sol dos dias de Verão que aí estão. Vou aproveitar enquanto dura e encher, o vazio, de vida.