quarta-feira, junho 25, 2008

Os pseudo-deuses

Passada a cerimónia iniciática entram num Olimpo de deuses ém que só eles acreditam. Pequenos, submersos no mundo, olham à volta e acham-no grande, confundindo a obra com a sua dimensão. Mas a obra do mundo pouco lhes pertence.
O problema é que agora já ninguém lhes transporta as pastas, ficam sozinhos nos anfiteatros em monólogos para ausentes. Resta-lhes a memória da grandeza de outros tempos, que não chegam mais. Fizeram tantos, que se banalizaram, perderam o poder na ânsia de gerarem poder criando outros.
Resta-lhes a fé que os olhem da forma como se vêem. Mas se a fé existe, revela, ao mesmo tempo a dúvida, porque uma só é explicada pela outra.
Na verdade, o que era raro, assim continua. Faisca nos olhos de escassos linces, um aqui, outro ali, outro mais ao norte. Poucos, porque, obviamente, o génio é raro. Porque apoiam a mediocridade, uma dúvida que tenho. Apoiarão ou será apenas compaixão, seguros de que, por muitos que sejam, os não põem em risco, antes os realçam.

sexta-feira, junho 13, 2008

Calimero

Que quereria ele dizer quando afirmou que grande parte do seu futuro político tinha que ver com o SIM ao tratado de Lisboa? Seria só uma linha nos livros de história mencionando José Sócrates? É só bloqueios, nada porreiro, mesmo f..., pá!
Dia 13, sexta-feira. Que elas existem, existem!

The Irish Mind


(Irish Mind, W. B. Yeats (1865-1939), 1975, óleo, pintado por Louis le Brocquy)








A(s) mente(s) que disse(ram) NÃO.
Por outras falaram os iluminados.

quinta-feira, junho 12, 2008

Embrulhos de nada

Esgotam-se a imaginar embrulhos de nada. Deliciam-se com o aspecto do papel e dos laços. Afagam os lacinhos com a ternura imensa que têm pelas imagens, pelos pacotes. A coisa fica tão linda, que o melhor é mesmo só tirar fotografias e que ninguém se atreva a desembrulhar. O encantamento da visão ofuscando a curiosidade da substância. E pulam de embrulho em embrulho, nas embrulhadas do caminho. Sorriem deliciados com a sua habilidade do transitório na vaga esperança de lhes não ser exigido existirem de forma definitiva algum dia. A sua vida macia, dura enquanto durar e logo se verá.
É o marketing muito à frente da realidade num prenúncio de queda inevitável e dolorosa. As torres fazem-se de pedras, amontoadas uma a uma, as fictícias, desmoronam-se sempre na primeira oportunidade.

quarta-feira, junho 11, 2008

Deve andar por aí

Contra a política espectáculo estamos de acordo. Agora que a líder da oposição desapareça e nada diga enquanto o país vai encostando na berma, já custa mais a entender. O neto poderá ser razão, mas a vida são opções e, se calhar, os netos são mais importantes. Será que neste caso, as opções da oposição, neoliderada, não são nenhumas, ou sendo, são as do Governo? De qualquer forma seria honesto vir dizer quais são, nem que fosse para dar alguma força ao PM.

terça-feira, junho 10, 2008

Greve e paralisia

Até agora, tinhamos o direito à greve (bem regulamentado não possibilitando aos piquetes impedir de trabalhar quem o quer fazer e com serviços mínimos obrigatórios bem definidos) e o direito de manifestação, devidamente autorizado pelos respectivos Governos Civis. Tínhamos também a proibição do lockout. A partir de agora, temos o «direito» à paralisia, instituído por pequenos empresários donos de empresas familiares ou de si próprios com o negócio em apuros.
Há uma diferença importante entre greve e uma paralisia. A primeira é feita por quem trabalha para outrém, vulgo patrão; geralmente, são tipos razoavelmente bem instalados na vida, sem iniciativa própria, fazem greve por mau feitio e só para maçar a generalidade das pessoas. O Estado regulador vai-lhes ao pelo, estabelece serviços mínimos, limita a acção dos piquetes, recentemente até tentou identificar grevistas nominalmente. Por definição não têm razão nem necessidade para protestar e fazem-no apenas para glorificar o Partido e por reaccionarismo.
Os empresários em nome individual( uma classe sempre pronta a reivindicar a redução dos impostos e pronta a reduzi-los objectivamente evitando passar recibos sempre que pode, defensores do fim do Estado e da livre concorrência) não fazem greve, paralisam. São tratados com as cautelas devidas pelo Governo, com todo o respeito, como pessoas de bem, subitamente, sem esperança de sobrevivência. Serviços mínimos não há, porque não é uma greve. Autorização dos governos Civis não é necessária, porque não se manifestam. Aliás, não está prevista tal autorização para actividades como apedrejamento ou perfuração de tanques de gasóleo. Há sempre uma lei que falta! Por acaso, eles só estão nas estradas a dar bons conselhos do género, deves poupar gasóleo e encostar, a bem do Ambiente, mas tu é que sabes, podes continuar e ali à frente levas umas pedradas de alguém que pode estar mais exaltado do que eu. No fundo, a serenidade do Governo no meio desta crise apenas traduz a preocupação comum com a paz e a defesa do Ambiente. Estão do mesmo lado da barricada.
Este é um conflito incómodo para direita, porque o grupo em luta é uma das suas bases de apoio, mas a forma como está a actuar pode dar ideias a outros. Vai daí, a nova dama de ferro, Manuela Ferreira Leite, foi tratar do neto por estes dias e ninguém a ouve. É incómodo para a esquerda, porque a forma de luta lhes é simpática, mas os votos que dali lhes virão são poucos.
E desta forma, a paralização empresarial tuga acompanha a paralisia governamental. É a Economia, estúpido!

Back to 1820

Esta notícia só pode ser uma de duas coisas, ou a chinesação da Europa ou a aceitação, finalmente!, da semana portuguesa dos 8 dias (ainda assim seriam 8 horas por dia e sem fim de semana, o que faria inveja ao Deus, pois, até ele, teve de descansar ao sétimo). A alternativa que resta é estar tudo louco e com saudades irreprimíveis dos tempos da Revolução Industrial.
Citando a Wikipedia:
Durante o início da Revolução Industrial, os operários viviam em condições horríveis se comparadas às condições dos trabalhadores do século seguinte. Muitos dos trabalhadores tinham um cortiço como moradia e ficavam submetidos a jornadas de trabalho que chegavam até a 80 horas por semana. O salário era medíocre (em torno de 2.5 vezes o nível de subsistência) e tanto mulheres como crianças também trabalhavam, recebendo um salário ainda menor.
A produção em larga escala e dividida em etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador do produto final, já que cada grupo de trabalhadores passava a dominar apenas uma etapa da produção, mas sua produtividade ficava maior. Como sua produtividade aumentava os salários reais dos trabalhadores ingleses aumentaram em mais de 300% entre 1800 até 1870. Devido ao progresso ocorrido nos primeiros 90 anos de industrialização, em 1860 a jornada de trabalho na Inglaterra já se reduzia para cerca de 50 horas semanais (10 horas diárias em cinco dias de trabalho por semana).
Horas de trabalho por semana para trabalhadores adultos nas indústrias têxteis:
1780 - em torno de 80 horas por semana
1820 - 67 horas por semana
1860 - 53 horas por semana
2007 - 46 horas por semana


E, de repente, mais de 180 anos depois, regressados a 1820!!!! Deve ser um filme de terror. Só pode.

Vil raça

Não tem importância, dirá a corte. A vil razza danatta de cortesãos. Fugiu da pergunta, rodopiou para a direita numa volta completa, inspiradora da vertigem do discurso, não se conteve, surgiu-lhe do inconsciente político, explosivo: hoje é dia da raça. Depois, o papagaio ainda balbuciou o dia de Camões e das comunidades. Já era tarde. Estava feita a confissão. Nem é por mal, nem tem conteúdo real, é mesmo só incultura democrática. Depois de alguns socialistas de plástico, temos também um democrata de plástico. A democracia aprendida à pressa numa cartilha de conselheiros de imagem. Nestes momentos, deve sentir ter nascido na altura certa. Nascido uns anos antes, seria mais um catedrático a sanear em Abril. Assim, safou-se dessa. Mas o cimento de que é feito, está sempre em risco de estalar e o castelo vem abaixo. Lembremo-nos que não lê jornais e raramente se engana. As pessoas mudam pouco e ainda que queiram dar imagens diferentes do que são, a sua raça ata-lhes as ideias.

segunda-feira, junho 09, 2008

Insubstituíveis

Os predestinados, insubstituíveis, missionários sem missão são uma espécie interessante. Sentem-se predestinados e não lhes ocorre o sentido do destino, procuram desesperadamente e não largam os postos que ocupam, porque andam na busca, são missionários por obrigação, porque até nem gostam muito, mas há a missão (que eles por acaso ainda não sabem qual é).
Estáticos caminham no vazio das suas existências, em grande velocidade, que o perigo é pararem e haver um instante de introspeção. Dependem do movimento para estarem vivos. A vida não os faz mexer, mexem para viver.
Andam por aí, farejam, às vezes mordem. Porquê? Nem eles sabem (mas de fome não é). Têm geralmente a barriga cheia.

domingo, junho 08, 2008

Será verdade?

Será verdade o que Eugénio Rosa escreve neste estudo sobre os custos dos combustíveis?
É preciso procurar na página quase ao fundo à direita, é um pouco longo, dá algum trabalho a ler, está publicado num site teoricamente «duvidoso», como pensaria o Professor Marcelo, mas a ser verdade (e depois de ler até me faz todo sentido), a divulgação seria mais bem interessante que o anúncio de boicotes de 2 dias às gasolineiras.
Este economista devia ter um tempo de antena, com direito ao contraditóro e tudo. O que não é razoável, é que a informação económica venha sempre dos mesmos economistas com a a unanimidade analítica de sempre.

Fé e futebol

Enquanto as notas de Berlim permanecem ocultas no emaranhado dos papéis da secretária e a ausência de acontecimentos relevantes me causa uma inércia já quase habitual, foi precisa a irritação do surto agudo de euforia nacional para me pôr fim ao tédio. Ia ontem Avenida de Ceuta abaixo na certeza de mais uma fila a caminho da Ponte, quando me deparei com o inusitado estendal da bandeirinha. A coisa, de momento, ainda não transborda além dos bairros dos deserdados, sempre mais prontos a celebrar a nação que os expulsa do convívio da fortuna. Foi sempre assim, ao longo dos tempos, ou não foi a Nobreza que foi sempre conivente com as ameaças de independência, enquanto Nun'Alvares comandava a populaça? Aos dominantes tanto faz a Pátria, haja gentinha para sugar o trabalho e tudo está certo. Foi esta uma das ideias que recentemente me assaltou em Berlim. Afinal quem perdeu a guerra foram os alemães, não os Krupps e companhia, que no final da guerra mais ricos ficaram, sempre prontos para a reconstrução.
Os dominantes sempre tiveram pouca Pátria. Criaram o conceito para entreter os que os mantêm, dar-lhes uma sensação de grupo, razões para lutarem uns contra os outros, enquanto, eles, vão globalizando, deslocalizando, gozando os rendimentos à custa dos que têm Pátria. E a coisa tem evoluído por ciclos, sempre os mesmos a dar para os outros de sempre. Poder-se-ão manter os ciclos na globalização dos povos todos? A estratégia da cenoura na ponta do pau tem funcionado bem até aqui, mas com o acesso progressivo ao conhecimento poderá ser mantida? Bastará ao liberalismo transitar de target para se manter? Depois do Imobiliário, do subprime, o petróleo e depois outra qualquer? Ou a máscara vai começar a cair?
Tenho saudades dos tempos em que havia novas alvoradas de esperança no futuro. Agora, assisto a conformismo, desorientação, quase o desejo de estar imóvel enquanto o tempo passa. A vida dos filhos anuncia-se, pela primeira vez, mais sem esperança que a dos pais e tudo parece natural, impossível de mudar. Ou seja o mundo regride e ninguem reage. O conformismo foi instituído pelos ladrões da esperança, de momento, ainda triunfantes. Os mesmos que promovem a euforia que nada dá, realmente, além do transporte para um mundo de anestesia. A religião que era o ópio do novo, substituída por futebol.
E eu fico sem saber se isto tudo é nostalgia de velho irremediavelmente anunciado, se o inconformismo do jovem que ainda persiste.