terça-feira, julho 31, 2007

Idos que ficam



Foram-se embora ontem, os dois de uma vez só. Conheci-os do alto de um balcão do Monumental, que também já partiu. Cada um deles, imprimiu-me o pouco do que sou, como todas as marcas com que nos vamos encontrando. Era o tempo de um cinema que continuava em conversas na Paulistana, também partida. Será que hoje alguém vai até ao café discutir o que acabou de ver no cinema? Era o tempo que ninguém sabia o preço de produção dos filmes e só nos interessava o que neles víamos. E davamos, por bem empregues os vinte e cinco tostões (mais coisa menos coisa, que a memória também não é o que foi) do bilhete.

segunda-feira, julho 30, 2007

Pandora

Four million Iraqis - 15% - regularly cannot buy enough to eat.
· 70% are without adequate water supplies, compared to 50% in 2003.
· 28% of children are malnourished, compared to 19% before the 2003 invasion.
· 92% of Iraqi children suffer learning problems, mostly due to the climate of fear.
· More than two million people - mostly women and children - have been displaced inside Iraq .
· A further two million Iraqis have become refugees, mainly in Syria and Jordan .
(in Oxfam)


A liberdade é uma noção que designa, de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano.
Assim reza a Wikipedia sobre o termo Liberdade.

Pois foi em nome da liberdade (desta??) que há uns anos o Império atacou. E o resultado é hoje denunciado . Que consequências saberemos tirar do atentado à liberdade, que a invasão do Iraque constituiu? A ganância cega (nem sequer foi a curiosidade desta vez), amplamente denunciada pelas gralhas, entretanto neutralizadas, terá avaliado mal o resultado da abertura da caixa. O resultado está aí exposto. Será que também desta vez se não libertou o «mal que acaba com a esperança»? Muitas vezes, olhar à volta faz temer que até isso terá um pouco acontecido, tal é a submissão e incapacidade de reacção da gente, que segue nesta procissão de desilusão e desesperança, a multidão que sussurra, o que se há-de fazer?
Tenho saudade dos dias em que havia alguém que resistia, alguém que dizia, não! Dos dias em que havia a República e o Diário de Lisboa com discurso diferente da manada informativa, da certeza que se tinha de que aquele tempo ia ter fim, um dia qualquer às três e tal. E agora neste tempo de liberdades consentidas em que nem sequer é necessário engolir o Avante, para onde foi a resistência, que nos livre da submissão e servidão?

domingo, julho 29, 2007

Imagens

No ecrã da esquerda o monstro vai tomando forma, inesperado e impiedoso. As imagens vão sendo adquiridas uma atrás da outra numa sequência imparável e esmagadora. Em paralelo, no ecrã da direita vão desfilando cockers spaniels num prenúncio de aquisição de companhia futura da técnica de imagiologia. A profissional adquire as imagens do monstro ao mesmo tempo que a pessoa vai estudando o comprimento do pelo, os tamanhos, as cores a afabilidade dos cockers, numa atitude de alguma indiferença perante os monstros a que a rotina da sua vida já a habituou. A imagem da esquerda é coisa, apesar de vinda de pessoa, e é a imagem à direita que justifica os afectos. Há, nestes tempos, uma transferência dos afectos das pessoas para as coisas, que são mais fáceis, menos trabalhosas, mais domináveis. Uma esquizofrenia de solidão nesta sociedade de imagens com ressonâncias mais ou menos magnéticas.

sábado, julho 28, 2007

Valores

Por que se aprecia mais quem faz o churrasco do que quem lava a grelha no final?

sexta-feira, julho 27, 2007

Negligência?? (ou horror à matemática)

IMC segundo jornalista da Visao: Divide-se o peso pela altura e multiplica-se por 2. O problema é quando é superior a 40, o que nos leva direitinhos para a cirurgia bariátrica. Por exemplo, se pesa 40 kg e mede 1,70 m, tem um IMC de cerca de 47, segundo a senhora jornalista. Você é um palito gordíssimo a precisar de cirurgia urgente.
De matemática não gostam. Pensar não usam. Alguém pode acreditar na sua singeleza de escrita?

quinta-feira, julho 26, 2007

quarta-feira, julho 25, 2007

O risco de facilitar o medo

Há quem ande por aí a passar entre as gotas da chuva,´pé ante pé, numa esperança absurda de não se molhar. Não vão conseguir. A meio do caminho estarão prontos a ser torcidos. São uma turba de silenciosos, com pés de lã, que andam tentando parecer estar parados. São subservientes para cima e frequentemente castigadores para baixo. São a falta de carácter, os desvertebrados, os sim-senhores. São os sempre abstinentes nas eleições, os que se queixam deles (dos outros, claro), os tais que tudo podem. São os furiosos da iniciativa privada, das liberdades de oportunidades, os que detestam os impostos. São os que riscaram da boca a solidariedade. São cobardes. A cobardia, é, nestes dias, um dos traços preocupantes destes tempos nesta terra. Não dizem o que pensam, na miragem das migalhas que lhes hão-de atirar. O pior é já nem sentirem a falta de dizer, destreinados que ficaram de pensar, atrofiaram-se-lhes as células neuronais. Vegetam, convencidos que isso é a vida. Por isso, tudo lhes corre bem.
Ter medo é coisa de gente de coragem. Por isso, o poeta, estará provavelmente enganado quando se levanta preocupado com o medo. Esse medo é hoje sentimento de uns poucos, que ainda acreditam na coisa colectiva, por não entenderem o triunfito pessoal. Deixou de ser sentir conjunto na terra de futuro precário, onde tudo estará bem, se a safa pessoal for possível. O pequenino triunfo pessoal à custa do que for preciso. O cumprir ilusório da imagem das celebridades. A ilusão de que pode sobrar algum lugar. Esta descaracterização (falta de carácter) da gente é bem mais preocupante do que a falta de liberdade. O medo só triunfa quando se lhe facilita a existência.

terça-feira, julho 24, 2007

Reforma patológica

Mais um caso de uma professora a quem recusaram a reforma por motivos de saúde. É curioso, epidemiologicamente, que até agora apenas aconteçam estes casos com professores. Será até motivo para estudo da maior incidência deste tipo de patologias na classe e associação com eventuais factores de risco? Assim, de repente, parece que o trabalho na construção civil terá algum papel na prevenção de certas doenças. Mas adiante. O que achei extraordinário foi a argumentação produzida. Trata-se de uma senhora com cancro do pâncreas, que foi submetida a uma exérese do órgão e na mesma altura ressecção de intestino e esplenectomia. Pela descrição parece óbvia a justiça da reforma antecipada. Estranhei, pois, que neste contexto, a doente alegasse que não podia dar aulas por ter ficado diabética. Há qualquer coisa que não soa bem. A diabetes não é impedimento para ser jogador profissional de futebol e sobem-se montanhas de 5000 metros tendo-se diabetes. Por que se não podem dar aulas?
Como pagador de Impostos (e, indirectamente, de reformas por doença) não posso também de deixar de exigir um grande rigor na declaração de incapacidades e na fiscalização dessas alegadas incapacidades. Não me parece tolerável, por exemplo, que alguém se reforme da sua actividade por motivos de doença e continue tranquilamente a trabalhar, em actividade equivalente, no sector privado. Espero que estes casos não existam, obviamente. Mas exige-se uma fiscalização como no caso das baixas por doença. No mínimo!

segunda-feira, julho 23, 2007

Ibéria

Saramago profetizou: «Portugal acabará inevitavelmente por se integrar em Espanha». Não acredito: Espanha já tem problemas que lhe cheguem! Por isso, a jangada ficará onde está, uma parte agarrada à Europa, o resto no cú dela.

domingo, julho 22, 2007

Rest from work


Depois, mais tarde, quando ler de novo estas notas, perceberei que, afinal, este tempo não teve a importância que, em tempo real, lhe atribuí. Foi um período quase violento, que o passar do tempo vai amenizar e tornar insignificante. Pouco significativas são as coisas que fazemos na maior parte das vezes, embora, por momentos, possamos ficar quase asfixiados pela sua carga instantânea (no instante).
São raros os que fazem coisas realmente importantes. Estava há dias, num dos pequenos-almoços deste tempo recente, a olhar para o calendário de parede e a ver o «Repouso depois do trabalho» de Van Gogh, a reprodução do mês de Julho e é nesses instantes que posso perceber a relatividade das coisas. Apesar de toda a barafunda e noites perdidas, a maioria de nós nunca fará nada que perdure, nada que aproxime de uma paisagem de trigo onde repousam dois camponeses no meio das medas, numa pausa do dia de trabalho. Nada faremos que valha a pena registar num calendário daqui a 100 anos. A questão é, portanto, perceber a razão da alienação. Tenho notado que há uma campanha instalada que quase nos sugere como programa que tenhamos um papel para estes tempos: a adoração dos ídolos. Curiosamente, é feita de forma a que a identificação que assim se estabelece, nos compense da insignificância de sermos, isto é, torna-se mais importante o distante do que aquilo que nos fica próximo, porque ficamos no além onde nunca chegaremos. Como se vivessemos num sonho inatingível e já atingido, porque sonho, ao mesmo tempo.
Desta forma, deixando de estar aqui, transportados para um além indefinido, abrimos o campo para que os ídolos, a maioria deles também bem insignificantes, aqui estejam usufruindo da vida. Nestes tempos, a Imagem, substituiu a religião e passou a ser o novo ópio.

terça-feira, julho 10, 2007

Uma mortandade...

Às vezes as notícias deixam de ser importantes já de tão banais e o que é importante é o título da notícia... Hoje em Google Notícias, mais uma perola (ou como eu gosto dos escribas):

TVNet
Ataque suicida mata 17 mortos
Correio da Manhã - 3 horas atrás
O terrorista suicida, fez-se explodir perto de um comboio da NATO “matando 17 civis, entre os quais alguns estudantes”, avançou o General Mohammad Qasem, chefe da polícia provincial, sublinhando que cerca de 30 pessoas tinham ficado feridas. ...
Atentado no Afeganistão fez pelo menos 17 mortos Fábrica de Conteúdos
Ataque suicida deixa pelo menos 17 mortos no Afeganistão estadão.com.br

quinta-feira, julho 05, 2007

Gente diferente

Já uma vez aqui escrevi sobre Sobrinhos em país de tias. É um oásis disponível num deserto imenso e chato. Sempre fresco, de cada vez que fala a sério, somos surpreendidos com alguma novidade. Centímetros ou quilos? A resposta sai rápida: quilos ou centímetros, porquê, se os quilos são afinal uma função cúbica dos centímetros.
No dia seguinte, a conferência de Jorge Sampaio, outro momento de pensamento reflectido, claro e generoso.
Aconteceu em dois dias seguidos e dei conta, possivelmente, porque é raro.

segunda-feira, julho 02, 2007

Seguir

Ainda não consigo ficar completamente indiferente perante a constatação da ausência de sentido que algumas vidas têm. Custa-me que se possa andar por aí, sem um rumo minimamente justificável. Só para chatear o vizinho, parece-me ser curto como programa. Desprezível.
Mas estou a ficar melhor ao ver que, afinal, a caravana vai passando, apesar dos latidos. Realmente, se ainda fosse ladrar que se ouvisse.

domingo, julho 01, 2007

FDS

Nada teria justificado não ter assistido à felicidade quase espanhola daqueles dois.
Nem ter adiado uma sardinhada em nome de pouca coisa. Tão pouco recusar a visão de um ninho.
FDS das coisas que gosto. Matérias bem melhores que o Código do Trabalho ou os sistemas de gestão de desempenho. Exame quinta-feira? Logo se vê.