quarta-feira, junho 29, 2005

Depois de ouvir Emídio Guerreiro

De que serve o avanço científico gigantesco do último século, se a diferença abismal entre os ricos e os pobres aumentou também? Com o actual sistema, os avanços são apropriados pela classe dominante para aprofundar o seu poder e o fosso aumenta. O avanço converte-se desta forma em progresso da economia e recuo da humanidade. Por isso, há que pensar.
Ele sentia, mas não pensou de que lado certo devia estar. Por fim, acabou por ficar só do lado do sentir e foi ineficaz.

Metade preferível ao todo

Metade pode ser mais rentável que o todo. Evita-se a contemplação que, actualmente, uma metade faz da outra. Nisso se poupa muito tempo.

domingo, junho 26, 2005

Momento

Compensa perceber que já criámos quem nos ccontinue e ultrapasse. São momentos destes que nos tornam eternos e tranquilos.
A Palm finalmente sincroniza e a epopeia continua. Quase cansado de computadores.

sábado, junho 25, 2005

Porque hoje é sábado

Manhã a ver navios da esplanada do CCB. Vão e veem Tejo abaixo, Tejo acima. Aliviam-me da leitura da Maria João Avilez que hoje escreve sobre o Álvaro.
Depois é fim de semana em upgrade de computador. Sempre por estas alturas nos fica o receio de que algo vá de vez e não volte. Mas vai acabar por correr tudo bem, com algum sofrimento, porque a vida não é fácil, contrariamente, ao que se vende por aí.
Assim, fica adiado o Manifesto anti-Ordem. Adiado, mas não suspenso. Ser obrigado a pertencer a uma organização profissional sem o querer vai contra a liberdade de Associação. Mas voltarei aqui ao assunto muito em breve e espero que todos os médicos, que concordem com o Manifesto se mexam para que isto mude.

quinta-feira, junho 23, 2005

quarta-feira, junho 22, 2005

Um Ministro asseado

A lista de doentes em espera para cirurgia é de mais de 200000. Nada de importante, o senhor Ministro lava as mãos.
Os serviços de urgência não têm médicos e os doentes acumulam-se em salas de espera 12 horas. Não é importante, porque o Ministro lava as mãos.
Os serviços de internamento têm taxas de ocupação de mais de 120%, isto é, há cronicamente doentes em macas. Que importa, se o Ministro lava as mãos?
Não existe um serviço de Endocrinologia autónomo e os doentes diabéticos coabitam lado a lado, expondo as suas infecções e sépsis a doentes hematológicos imunodeprimidos. Irrelevante, o Ministro lava as mãos.
A infecção hospitalar atinge valores de quase 20%? De certeza que a culpa não é do Ministro, porque ele lava as mãos!
Eu também.

O Futuro

Às do presente, prefiro as notícias do futuro. Ao menos despertam sorrisos. Veja no Onion.

terça-feira, junho 21, 2005

Hipótese

Este fenómeno bloguístico pode muito bem ser um sintoma da actual falta de comunicação. Onde fazer hoje as conversas meio conspirativas da Paulistana ou do Monte Carlo? Acabaram os espaços e acabou também o tempo. De uma assentada, o neo-liberalismo triunfante (por agora!) levou-nos o espaço e o tempo. Resiste a vontade de resistir, por vezes, apenas numa auto-reflexão por acreditarmos que ainda temos futuro. E, por sabermos que é bom vermos hoje o que fomos, admitimos que não será pior olharmos amanhã o que somos hoje. Asseguramos assim, pelo menos, uma comunicação connosco e com outros que podem ler o que escrevemos e nos escrevem pequenas notas de comentário dando-nos a ilusão de podermos ser eternos. Essa ilusão dá algum sentido ao estarmos aqui. Depois sobra a esperança de um dia acabar este diálogo com o escuro.

segunda-feira, junho 20, 2005

Num dia em que morreram os habituais 30 e tal (como todos os dias)


 Posted by Hello
Quero aqui dar testemunho deste singelo manifesto contra a política americana no Iraque encontrado à porta da Igreja de Santa Maria em Óbidos. Deve ser, não deve? De há uns tempos para cá, não conheço lugar no mundo com maior número diário de mortos de forma regular e mantida. Certamente, por efeito de um acto libertador mal entendido. Daí a reacção. Compreensível.

domingo, junho 19, 2005

Mais um fim-de-semana

Têm corrido cheios, os dias, impondo a ausência do texto diário, que ficou registado numas notas manuscritas que agora transcrevo.

16 e 17 de Junho
Mais um curso de pós-graduação nesta terra dos cursinhos e eu sempre com esta impressão de representação nestas coisas. Uns a fazerem o papel de ensinadores, outros de ensinados. No final, alguém arrecada e outros, os mesmos de sempre, pagam a conta. Durante o ano, só nesta área, haverá mais de dez coisas como esta. Todas passando ao lado do controlo de qualidade e eficácia. Para o ano haverá mais de acordo com as necessidades de Tesouraria e independentemente das necessidades de formação.
Entretanto, continuar-se-ão a pedir ecografias da tiróide para tratar as dores de pescoço, densitometrias ósseas para justificar a prescrição do alendronato, muitos exames e mais exames auxiliares para aumentar o défice na saúde. E já agora, aumentar também a prescrição das estatinas para chegarmos todos dementes aos 100 anos... Se calhar.


18 de Junho

A capa da Única é um vómito ao nível da Agit-Prop de direita mais miserável que conceber se possa. Ao mesmo tempo, é mais um sinal da justeza da luta e do caminho traçado por Álvaro Cunhal. Realmente, ele incomodava-os. Por isso, tentando minimizar o susto de quarta-feira, tentam anunciar que a luta acabou e exclamam que desapareceu o último grande estalinista do Ocidente. Na verdade, depois de quarta-feira, parece-me mais claro que a luta não findou e que, pelo contrário, continua. Foi isso o que ouviram. Foi isso que os abanou. Não é retórica, aquilo que andou na rua foi Gente, não era imagem de qualquer coisa a que se convenciona chamar pessoas. Ainda não chegámos ao fim da história. Possivelmente, percebemos na quarta-feira, que o caminho é longo mas que há «amanhãs que cantam» e homens novos para o fazer. As bandeiras que eu vi tinham um vermelho, aqui e além, comido do sol, mas eram bandeiras inteiras, não esfarrapadas como sugere o desenho de António. São bandeiras estimadas, cuidadas, até com algum ponto que o tempo exigiu. São bandeiras de gente que existe, que não apareceu agora de repente, que lutou e fez escola. São de gente que persiste, que resiste. Não são espuma, mas a onda. Olhe que não, António, o Álvaro não foi nada aquele furioso que saiu no seu desenho.

19 de Junho
No país dos Monteirinhos ficaram todos muito contentinhos (ele incluído) porque, finalmente, além de acabar a corrida no lugar do costume, terminou nesse lugar menos os que desistiram para evitar que algum desses tivesse desistido de vez. O Senhor Presidente lamentará não poder dar-lhe a comenda no próximo 10 de Junho.

quarta-feira, junho 15, 2005

Álvaro

Ninguém ainda sabe se tudo apenas vive para morrer ou se morre para renascer Marguerite Yourcenar

Havia um mar vermelho na encosta da rua. Já se não via um quadro assim desde que Vieira da Silva pintou o outro depois de Abril. Em vida desenhou, depois da morte, pintou. Lisboa ficou mais bonita no som da Internacional final. As saudades voltaram nesse momento mágico. Renascemos.

terça-feira, junho 14, 2005

Notas de viagem no regresso

3.6.2005
Crítica da Velha América balofa

Na revista de vendas do voo da Continental encontram-se coisas como estas. Uma esteira para que o cão possa ficar deitado sem o contacto desagradável do ladrilho ou uma rampa para lhe evitar o salto até à cama. São descobertas como estas que têm feito este país. Sempre a busca de coisas simples, a facilitar a vida de pessoas (e cães) simples. Mas isto provavelmente traduz uma cultura, a de procurar facilitar a vida. Se calhar o objectivo nem será propriamente esse, que lhes ficaria muito melhor, contudo. São as inutilidades, úteis ou que o marketing faz desejáveis.
Ao contrário, na Europa, essa cultura do inútil feito útil, existe pouco. O que move os europeus são os grandes projectos, de preferência imateriais até, as grandes ideias. A última de todas é a da criação da Europa. Mas um grande projecto só existe verdadeiramente depois de realizado. Até lá será grande, mas inexistente. Acontece que a grandeza, por vezes tolhe o engenho e fica-se narcisicamente olhando a obra ou a ideia que se tem dela e incapaz de agir. É um contentamento que enche a alma na margem do vazio da realização. Mas nem por isso a obra se concretiza.
Recentemente, terá faltado a utilidade e o marketing dessa utilidade a quem quis promover a ideia de uma constituição para a Europa. Tão grande era a ideia, que se teve a miragem do já realizado. Uma espécie de Mourinho sem o trabalho, só arrogância. E deu o que deu. Agora torna-se necessário repensar o projecto, mostrá-lo e fazer com que se compreenda. Usando até, certamente, as técnicas do marketing para vender um bom produto, não uma inutilidade. É com certeza, um produto da mais elevada qualidade, o conceito de unidade entre povos que, não raramente, se combateram. Falta especificar o cimento dessa construção e escolher os seus melhores construtores. Circunstâncias do momento fizeram que, nesta altura, tenham sido gente rápida aqueles a quem foi cometida a tarefa. Irreflectidamente como é de sua natureza e falta de cultura, iludiram-se com as miragens do fado neo-liberal, convencidos que tinham chegado ao fim da história. Porém, o povo que sabe coisas, tem outra dimensão da vida e à inutilidade da Dona Economia Liberal, contrapõe a sua memória de solidariedade, de justiça social, princípios que alguns imaginam já bem enterrados. Enganaram-se, os pequenos chefes apressados de hoje! Não é vitória que eu celebre pela noite dentro, pois nessa festa a companhia não me é cómoda. Dá para desconfiar ter ao lado, na festa, Le Pen e quejandos. É importante, não o esquecer e, muito provavelmente, será com alguns dos derrotados de hoje que teremos de construir a vitória contra os que hoje celebram nacionalismos estúpidos, estratégias de encerramento em si, fanáticas xenofobias. Ser europeu será ser com todos os milhões e valer cada um, um voto entre todos, sem privilégios de nacionalidade ou de qualquer espécie. Será construir um caminho alternativo, porque baseado em velhas coisas da história que é necessário preservar, ao fanatismo neo-liberal decadente (basta olhar à volta aqui nesta terra de gordos para o perceber) e à fúria do dragão chinês. O valor da Europa é a solidariedade, a segurança e descobrir uma forma de, sustentadamente, as garantir é o desafio que se coloca. Construir uma nova Europa, contraponto desta velha América. Mas também isto não poderá ser apenas um grande projecto., sob pena de não servir rigorosamente para nada. E nunca poderá ser construído à semelhança e baseado nos princípios do que hoje já se mostra decadente. Em vez disso, será pela sua crítica que nascerá.

10.6.05
Algumas situações de memória de dias recentes.

1. San Diego
San Diego é uma cidade ausente. Está-se lá e não se sente a cidade. Parece habitada por nós, sem gente, e fica-se com a impressão de estranheza ao ler-se algures que nela vivem mais de um milhão de pessoas. à primeira vista de um visitante distraído, são uns quantos hotéis, que alojam os residentes que visitam a reunião em curso. Sem mais. Nem lojas tem, com a excepção de um Centro Comercial, aparentemente dirigido para nós que a visitamos. A cidade mora algures, longe de nós.

2. O Endo

É o meu retiro espiritual anual desde há 10 anos. Venho aqui perceber que poderia ser diferente. Por instantes, parece-se até que vai ser. Ao fim destes anos, fico contudo com a dúvida ou a quase certeza que não será. É a minha miragem anual.

3. De eléctrico até ao México
Sai-se pela linha azul até Tijuana e está-se no outro mundo. Numa densidade de farmácias que faria a loucura do Dr. João Cordeiro. Porta sim, porta não há uma farmácia com indicação expressa do que se vende em grandes letreiros. Nada da nossa habitual planificada distribuição de lojas de vendas de medicamentos e perfumes… E com garantia de preços bem mais baratos que os do outro lado, onde há eléctricos que aqui nos trazem. Dominada por uma bandeira gigantesca do México, há uma encosta recoberta por pequenas casas, em tons de castanho numa enorme tela. E motoristas de táxi que têm a habilidade de nos levar 5 dólares por uma viagem de menos de 1 km. A miséria desenrascada. Felizmente desenrascada, penso.

4. Mais Endo
É nas sessões das 6 da manhã que se percebe melhor a diferença. Mais de quatrocentas pessoas numa sessão às 6 da manhã e, penso eu, que dentro de uma semana, esperaremos calmamente até às 10 h que cheguem as pessoas para a comunicação das 9. Mas a diferença é de muito mais que 4 horas. Enquanto que aqui se fala de soluções para problemas específicos, se mostra o trabalho que a pouco e pouco os resolve, lá faz-se currículo (deliciosa expressão esta!), isto é, passa-se o tempo a fazer que se ensina e que se aprende. Uns e outros a curricular. De preferência dentro de um fatinho chique. Aqui chega uma T-shirt. Aqui é a sério, lá de faz de conta.

5. Não falo disso
Decidi não falar de quem aqui vem pago pela Indústria farmacêutica, presumivelmente para vir a uma reunião e, em vez disso, vai arejar até Los Angeles e arredores. Oooops, já falei. Paciência!

6. Tempo
Este é um sentimento novo. Um jantar de 3 horas, maça-me. Também pelo jantar. Em bandos de 20 pessoas não se janta. Não se saboreia a comida e a conversa, às vezes, desagrada. É mais por serem 3 horas perdidas a fazer uma coisa que se faria em meia hora. Um desperdício de 2 horas e meia. Deve ser da idade, mas 2 horas e meia desperdiçadas numa actividade destas é excessivo e irrecuperável. Sim, é desde há pouco tempo, mas é mesmo assim.

7. Pacífico
Há quem prefira um mergulho em águas mais ou menos frias dependendo do gosto de cada um. Só para curricular um mergulho noutro Oceano. Por mim, prefiro olhar as algas do Pacífico a espreguiçarem-se na areia, nos intervalos do vaivém da maré. De resto é um mar igual aos outros.

8. A não perder
A vista de San Diego a partir do monumento a Cabrillo. Mais um português que teve de ir a Espanha para navegar.
Também, Ocean Beach à tarde. À sua maneira, uma República independente dos EUA. Pelo menos sem as lojas das marcas de sempre. E com gente de outras eras ainda com enfeites de flores nos cabelos já grisalhos.

9. Saudades
De uma notícia na televisão. Será que dá para imaginar o vazio desta informação televisiva local, para se desejar ouvir o José Rodrigues dos Santos? Pronto, direi que até a Manuela Moura Guedes seria preferível.

10. Lamento
Quem tanto viaja e nada percebe porque não vai além da 5ª Avenida e só anda de táxi. Faz bem ir até ao fim da linha, para aumentar a esperança de que isto não vai durar sempre. Continuem a ir só até à 5ª Avenida, para que a surpresa seja maior depois. No momento do arrastão. Pensavam que era só em Carcavelos?

14.6.05

Começo, finalmente, a entrar no tempo certo das horas. Andam por aqui arrastões de morte. Primeiro o companheiro Vasco. Estranhei não ver nas notícias, alguma nota do Álvaro. Afinal, estava a também a fazer as malas. Saem deste país triste, finalmente. E fica o país mais triste, com menos encanto. O céu começa a ser uma área habitável.

quinta-feira, junho 02, 2005

Férias

Do saber profundo do Alentejo, disse-me «que não vale a pena a gente maçar-se nestas curtas férias que cá estamos a passar na vida». Sempre a aprender nas consultas e no fim são eles que pagam.
Vou fazer uma pausa, a menos que os hotspots de SanDiego funcionem e esteja com pachorra para aqui vir. Não terei sintomas de privação.