sexta-feira, abril 29, 2005

Choque tecnológico

A experiência é chocante. Tentar-se encontrar algo de informativo sobre o planeamento de uma viagem para o Quénia nos sites das agências de viagem portuguesas. De vez em quando lá aparecerá a indicação de que de momento não há programas disponíveis. Estes sites são chocantes, de desinformação e chatice de apresentação.
Este é o choque tecnológico a que temos direito por estes dias, por muitos mais. Por todo o lado, qualquer insuficiência de funcionamento deve ser atribuída a estas máquinas infernais que são os computadores. Sempre incapazes de pensar sozinhas. Que saudades que temos das velhinhas máquinas de escrever ou mesmo da pedra lascada para aí inserirmos os pretoglifos.
A propósito, caso alguém tenha informações sobre viagens para aquelas bandas, faça o favor de comunicar. Muito obrigado.

quinta-feira, abril 28, 2005

Por aí

Com Jorde de Sena por aí:

NO PAÍS DOS SACANAS

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.

Andando por aí....

Não desisti!
Tenho andado meio perdido por aí. Hoje, finalmente, depois de ter ido à Manif do 25 e ter ficado espantado com a quantidade de gente na Avenida (a provar à saciedade que ainda há muitos que sobreviveram 31 anos, que dos outros por lá vi poucos), depois do 23 de Abril de todas as festas e de ter constatado que, a partir de hoje, há mais um octogenário na terra, voltei. Voltei, porque o bacalhau está de partida. Andava para aí enforcado no pequeno comércio e a partir de agora, vai ficar deitadinho nas câmaras frigoríficas do Sr Belmiro e companheiros. Já a aspirina lá tinha ido parar (e muito bem), agora aí vai o bacalhau. A propósito, é curiosa a atitude mansa de Cordeiro, depois da transferência da aspirina. Não deve ter nada que ver com a transferência de alguns medicamentos (caros) que eram de venda exclusiva nas farmácias dos hospitais e passarão agora para as farmácias de rua, pois não? E lá vamos, cantando e rindo com estas transferências de princípio de época.

quinta-feira, abril 21, 2005

Do papa à papa

Afinal, desta vez, o Espírito Santo inspirou uma rapidinha (eleição!). Mau foi para as redações dos jornais e televisões que se preparavam para ver sinais de fumo durante uns tempinhos, sem terem que puxar muito pela imaginação, nem terem de construir mais notícias. Acabou, têm de voltar ao trabalho. Talvez procurem em São Bento, o que Bento lhes não dará.
Em São Bento aprovam-se leis que despenalizam mulheres e, espante-se, parece que começam a pôr em causa vestígios feudais da organização das farmácias. Demasiado interessante.
Isto vai mesmo estando mau de notícias. O Santana foi chão que já deu uvas. Vai andar por aí, por enquanto, no subterrâneo espaço dos túneis, que isto é mesmo assim, cada povo tem direito aos fantasmas que merece.
Vai de tal forma má esta coisa das notícias que hoje vi um telejornal acabar com uma boa notícia: na Rua Sésamo os comedores de bolachas são monstros e começam a dizer que é muito mais divertido comer fruta, couves e outros produtos naturais.
Não, já não se passa nada. São estas as notícias destes dias.

segunda-feira, abril 18, 2005

Fumo Negro

Confesso que me faz alguma confusão ouvir pessoas que considero intelectualmente honestas e válidas, dizerem que o Papa não vai ser eleito não por uns quantos cardeais, mas por inspiração do Espírito Santo. Devem estar a usar uma metáfora que não percebo.
Os primeiros resultados confirmam a indecisão do Espírito Santo. Fumo negro. Os nossos jornalistas têm mais tempo para especularem e babarem com a ideia de um Papa portuga. Havia de ser giro ficarmos com as janelas da cidade cheias de bandeiras verde rubras e amarelinhas vaticanas...

domingo, abril 17, 2005

It's sunday

Don't go lookin' through that old camphor box woman,
You know those old things only make you cry.
When you dream upon that little bunny rug
It makes you think that life has passed you by
There are days when you wish the world would stop woman,
But then you know some wounds would never heal
But when I browse the early pages of the children
It's then I know exactly how you feel.
Hey it's July and the winter sun is shining
And the Cootamundra wattle is my friend
For all at once my childhood never left me
'Cause wattle blossoms bring it back again

It's Sunday and you should stop the worry woman,
Come out here and sit down in the sun
Can't you hear the magpies in the distance?
Don't you feel the new day has begun?
Can't you hear the bees making honey woman,
In the spotted gums where the bellbirds ring?
You might grow old and bitter cause you missed it,
You know some people never hear such things


Hey it's July and the winter sun is shining
And the Cootamundra wattle is my friend
For all at once my childhood never left me
'Cause wattle blossoms bring it back again

Don't buy the daily papers any more woman,
Read all about what's going on in hell.
They don't care to tell the world of kindness,
Good news never made a paper sell.
There's all the colours of the rainbow in the garden woman,
And symphonies of music in the sky.
Heaven's all around us if you're looking,
But how can you see it if you cry.


Hey it's July and the winter sun is shining
And the Cootamundra wattle is my friend
For all at once my childhood never left me
'Cause wattle blossoms bring it back again.


Pode ouvir-se parcialmente onde a roubei: http://www.malleeboy.com/html/music.html

sábado, abril 16, 2005

Ouvi

Depois de arder uma unidade de saúde de 47 camas hoje no Hospital de São José, ouvi a senhora enfermeira responsável dizer que a capacidade de atendimento do hospital não tinha sofrido qualquer alteração. Trata-se de atendimento de doentes graves, politraumatizados, alguns com necessidade de cuidados intensivos.
Conclusão: no Hospital de São José, há unidades de reserva (à espera que algumas deixem de funcionar a qualquer momento). Notável! Ou então, a capacidade real do hospital está subaproveitada, isto é, há desperdício de recursos. Ou há sempre uma necessidade imperiosa de dizermos aos jornalistas e aos directores que vivemos sempre no melhor dos mundos. Nesta caso, lamentável!

sexta-feira, abril 15, 2005

Acção! Criemos a AIPO!

Andam a espalhar pelos hospitais um cartaz em que uma simpática gordinha anuncia que decidiu deixar de ser gorda. Para isso, a senhora vai falar com o médico. Já estou a imaginar legiões de gordos sorridentes a entrarem pelos consultórios dentro em busca da solução. Vão, seguramente, sair pela porta das traseiras, cabisbaixos e desanimados. Estas campanhas tipo «Fale com o seu médico» não são novas. O grafismo e a ideia recordam-me o que recentemente se fez com a disfunção eréctil.
O que é verdade é que esta última foi feita numa altura em que, realmente, surgiram medicamentos inovadores, que mostraram ser realmente eficazes. Por isso fazia todo o sentido que os afectados se dirigissem aos médicos e procurassem ajuda.
Será que há alguma coisa de semelhante para a obesidade? Eu, que me prezo de ser geralmente bem informado, não conheço. O tratamento da obesidade, como há muitos anos atrás, continua dependente de modificações dos estilos de vida: comer melhor e caminhar mais. E toda a gente está farta de saber o que isso é, mas depois nnguém consegue cumprir. O resultado é que alguns geneticamente bem apetrechados não engordam, enquanto os outros ficam cada vez mais obesos e dão origem à epidemia do século XXI (iniciada no XX, a qual, tanto quanto se sabe, não é causada por qualquer agente transmissível. A causa basicamente, é a aquisição de padrões de vida perniciosos, associados à globalização e às suas taras.
O resto do tratamento da obesidade são comprimidos e processos cirúrgicos. Com os comprimidos, apenas foi mostrado em tratamentos que quase sempre não duraram mais do que dois anos, que a perda de peso conseguida foi em média inferior ou igual a 5 kg no fim desse período de tratamento. Portanto, esta é uma das mensagens que os médicos terão de comunicar aos seus doentes. Poderão mesmo enunciar o problema mais correctamente dizendo, quer gastar cerca de 75 euros por mês durante dois anos para perder 5 kg? Se calhar, alguns livros de reclamações vão ficar cheios... Não era isto que os doentes esperavam depois de uma campanha destas! Os casos mais raros em que a cirurgia está indicada, têm resultados ligeiramente melhores. Mas tratam-se de casos de desespero em que o chamado índice de massa corporal (peso em Kg/altura em metros ao quadrado) é superior a 40. Nestes casos, há alguma evidência de melhoria da morbilidade associada com o tratamento apesar de não terem sido feitos estudos projectados de forma intocável (aleatorizados e controlados). Portanto, fico intrigado com o que irão os médicos dizer que vai alterar tanto a realidade dos doentes obesos. Provavelmente, tratar-se-á de publicidade enganosa. Por isso fica aqui o alerta, não se deve esperar demais desta campanha da Associação dos Doentes Obesos e Ex-obesos e de quem lha patrocina.
O problema da obesidade é demasiado sério, tem custos gigantescos em termos de sofrimento individual e económicos, directa ou indirectamente, relacionados . As estratégias de combate têm, por isso, de ser muito rigorosas e devem ser independentes da necessidade de obtenção de lucros fáceis e rápidos. Quer perder peso? Fale comigo, eu digo-lhe como! É mentira, já muitos o experimentaram!
Os mecanismos biológicos que levam à obesidade continuam em grande parte sem estar esclarecidos, mas conhecem-se cada vez melhor os mecanismos sociais que estão na sua origem. Por isso, por enquanto, a grande luta contra a epidemia tem de ser feita a montante, na prevenção, e não a jusante, no tratamento. Evitar a doença é o melhor remédio, também neste caso.
O que se sabe é que os estilos de vida da sociedade Global, inspirados pelos hábitos reinantes no Império Americano, são a grande causa desta epidemia. É a aquisição desta forma de estar (parados) e comer (gordura concentrada e açúcar) que tem vindo a criar mais obesos em todo o mundo de tal forma que quase todos (exceptuam-se alguns com genes que lhes dão vantagem neste campo) somos pré-obesos e podemos ser vítimas deste Estado de coisas e acabar doentes, com obesidade. É pois necessário e urgente, mudar de Regime (não somente o alimentar, claro)! É em nome de todos os que ainda não são obesos, que proponho a criação de um Manifesto que leve à criação da Associação dos Indivíduos Pré-Obesos (A.I.P.O). Precisamos de uma associação que nos defenda contra os malefícios ambientais que nos estão a criar. Não podemos ficar parados e se os obesos e os ex-obesos já têm quem os defenda, é tempo de nós, os pré-obesos, não ficarmos parados.

quarta-feira, abril 13, 2005

Mudar de vida

Aqui chegado e passado mais um dia assim, percebo que algo vai ter de mudar. Estar um dia inteiro à espera que algo aconteça e nada acontecer é o dia-a-dia desta actividade de urgência interna. Desperdício absoluto. Daqui a pouco alguém aqui virá dormir. Sim, ser-lh-ão possivelmente pagas horas extraordinárias para vir dormir ao hospital. A cama é má, mas uma empresa pagar aos seus funcionários para dormirem é a demonstração cabal de que este sistema está arruinado.
E é possível fazer mais, fazer muito mais com estes recursos. Falta apenas a vontade política de resolver as coisas simples, de formas simples. Devem evitar-se formas complicadas de mudar, velhas e já experimentadas. Não vão ser as SAs ou EPEs que vão tratar melhor as pessoas. Os profissionais precisam de sentir os locais onde trabalham como seus, sentir a continuidade da sua ligação a estas instituições, sentirem-se empenhados em produzir melhor. Estar-se bem, não com receio do poder. Um caminho simples é separar muito bem o que é público do que é privado. E ter objectivos simples para o público. Os privados sabem quais são os seus. Geralmente, são uma curva por trás da cadeira do Presidente. Aqui são outros, porque a nossa Moral é outra.

domingo, abril 10, 2005

Instantes de domingo

Experimentar o cheiro da relva recém-cortada e arranhar as mãos na colheita das laranjas é bem mais gozado que dá-las a pesar no supermercado.
Em Pombal, o Sr. LM&M venceu. Rapidamente, o veremos em bicos de pés à procura do desejado.
O bom e o sofrível de um domingo.

sábado, abril 09, 2005

Casório

Um casamento real, tornado virtual, porque a realidade foi a de uma consumação real durante tantos anos. Patético, ridículo. Continuem a ser felizes. Mas que temos nós a ver com esta coisa?
Mas a uma mãe destas não a convidava para os comes e bebes.

sexta-feira, abril 08, 2005

Ao fim da tarde

Que bem que sabe a estrada da Ericeira até ao Vimeiro ao fim da tarde num dia de sol, com passagem pelo Sobreiro para umas dentadas num naco de pão com chouriço.
Depois o lavagante de Peniche e quase uma garrafa de vinho da Vidigueira, enquanto vejo reivindicar, qual PREC, a santidade do senhor, já!
Boa esta transição da morte para o casamento.

O risco, os ricos e o papel do trabalho

Que esperar de um mundo em que o risco se associa ao bem estar, que põe desta maneira irracional, a vida na dependência do aleatório? Faz-se o elogio do risco em detrimento da prudência, da sensatez, valores da estagnação. A loucura dominadora de um mundo, necessariamente, cada vez mais louco. A vitória de alguns pelo risco, não será sempre a derrota de muitos mais? Parece que é a isto que chamam a igualdade de oportunidades ou seja ao afundamento crescente das maiorias para benefício de um grupo cada vez mais minoritário. Seremos assim tão poucos a achar que isto não está bem?
Para aqueles que acham que é o trabalho o importante na história, deixo aqui um pouco da realidade.
O dinheiro gera dinheiro quando investido. O investidor não faz mais nada do que assumir o risco. Trabalho não existe, só risco. Se arrisca muito, pode ganhar muito ou perder muito; se arrisca pouco, pode ganhar pouco ou perder pouco. O que ganha, não depende, rigorosamente nada do trabalho, mas apenas do risco que está disposto a assumir. Portanto, ao vermos um rico, podemos ter a certeza que chegou onde está muito mais pela sua capaciddae de irracionalmente assumir o risco do que pelo seu trabalho. Por isso há tão poucos ricos e tantos a trabalhar. Mas isto deve poder mudar...

quinta-feira, abril 07, 2005

Uma luta difícil

Falar com uma obesa numa consulta médica é, quase sempre, uma perda de tempo e energia. Ela teve uma história até ali chegar. Mas nega a história e acredita numa qualquer fantasia do tipo foram os comprimidos, é o andar nervosa, etc. Isso, sim, é que a pôs com mais de 100 kg. Comer, até comem pouco. Exercício? Não param o dia todo. Apetece-me muitas vezes dizer-lhes, pois então se está a fazer tudo muito bem feito, faça o favor de continuar. Um dos factores que deve contribuir para esta realidade ser assim, deve ser o nível cultural que têm. A cultura de telenovela, de vítimas sossegadas e mansas, à espera de um qualquer milagre. Fazer pouco, acreditar na sorte, na boa estrela. Mas afinal, a vida é de quem faz acontecer, de forma consistente e com rumo definido. Outro factor serão os maus hábitos, criados desde pequeno e inspirados pelos familiares que se deliciam em frente da TV ou arrastando-se em Centros Comerciais de pacote de pipocas no Cinema.
Por isso me parecer muito importante a luta do Feed Me Better conduzida actualmente no Reino Unido por Jamie Oliver.

quarta-feira, abril 06, 2005

A imagem do Papa

Olhei e pensei que nem sei o que pensar. Fizeram viagens de tantos sítios. Vejo-os 12 horas em fila, à espera. No fim, quase em passo de corrida, passam pelo Papa. O tempo urge, não param. Pareceu-me que o protocolo não deixa. Andiamo! A despedida é um flash. São Pedro é bombardeada de flashes na busca da última imagem do Papa. Missão cumprida. Agarram a imagem que depois irão mostrar aos amigos para atestar que lá estiveram. Estiveram a sacar a foto do cadáver. Uma foto de despedida. Eu que gosto de tirar fotografias, não entendo esta. É patética e deve ficar tremida. Que azar. Mesmo assim, vai mostrar que se esteve lá. Mas a fazer o quê? Certamente, dirão que valeu a pena.

O poder dos tiranos

Pagamos por eles a anuidade, mas eles não nos pertencem. São do Banco. No Mar Adentro, alguém da Igreja defende também que a vida é como os cartões de crédito, não é nossa, é de um Proprietário indefinido. Coisa estranha esta de sermos nós a fazer os depósitos, nós a pagarmos as contas e, no fim, nada nos pertencer. Por que será que o poder tem o direito de definir a propriedade? Será que tem esse direito? Ou estaremos apenas no reino das tiranias, na necessidade de agir pela libertação. Mais um campo para lutarmos, nesta história que ainda não tem fim à vista e nunca terá.

terça-feira, abril 05, 2005

Todos diferentes, todos iguais?

De quem são os meus genes? Pergunta despertada pela visão de um programa sobre bancos de dados dos genes sob propriedade de iniciativa privada. Acontece que empresas exigem aos seus funcionários a realização de análises para verificarem se terão predisposição genética para virem a ter determinadas doenças ou se, as maleitas de que sofrem são devidas a doenças profissionais ou se seriam devidas à má composição da rês, com as implicações inerentes. É curioso que isto nem teria importância se os direitos de todos fossem iguais, quer dizer, se não fossemos discriminados pelas nossas características sejam elas feno ou genotípicas. Só que todos acham natural que os chamados mais aptos sejam mais beneficiados que os outros ou seja, acha-se natural a discriminação com base na diferença. Até agora as diferenças estavam à mostra. Agora, podem ir ver-nos o que está escondido para encontrarem as diferenças. Até onde se irá poder resistir a que nos invadam? Procuraremos uma nova ética? Novos parâmetros de valorização em que seremos considerados pelo simples facto de sermos, humanos, e não pelas características que nos distinguem. O primado da igualdade nas diferenças. Ou vamos procurar as diferenças até onde pudermos ir, para acentuar as desigualdades?
Para já temos de garantir que não nos espreitem por dentro. Se conseguirmos, claro.

segunda-feira, abril 04, 2005

Matemática aplicada

Se um ecógrafo custa x e dois ecógrafos custam menos que 2x e um hospital tem colocados mais de 40 ecógrafos, quanto menos 40 x custariam os tais 40 ecógrafos? Ficariam pelo preço de uns 30? Se cada um custar 30000 euros, parece que se poupariam 300000 euros. Por que razão, então o hospital descentraliza as compras nos Directores de Serviço, em vez de os comprar de forma centralizada? Ocorreu-me assim de repente...e pensei que há cenas da vida hospitalar que me fazem recordar o mercado de Marraquexe. Com saudades e admiração pelo povo árabe.

domingo, abril 03, 2005

A história continua

O poder quando ligado à acção e a alguma inteligência e bom senso acaba sempre por gerar alguma admiração. Basta fazer, ser eficaz no produto, para haver aprovação de alguns. Quando alguém assim perde o poder, a tendência inspirada pela generosidade dos homens é, naturalmente, para o louvor, que até obscurece alguma crítica, por ventura, sentida. A excepção a esta regra, como sempre acontece, também existe. Por exemplo, Santana Lopes.
Não admira, pois, os cânticos de louvor a toda a hora a que agora nos expõe a visão de telejornais, a leitura dos jornais ou a audição das rádios. É a procissão acéfala do elogio fúnebre, logicamente manipulada por um poder a quem a acção do elogiado interessou. O mundo ficou diferente com ele. O liberalismo selvagem virou doutrina, com o aumento das diferenças, o unilateralismo do poderio dos Estados Unidos expandiu-se, o aquecimento global continuou e até as epidemias proliferaram num mundo sem preservativos. Sendo assim, se o falecido Papa era anti-capitalista e era um activista contra a guerra, o Papa falhou, perdeu essas batalhas. Vitória, só a que Bush lembrou, a sua luta pela vida.
Quando o olho, até acho que seria um bom homem. O problema dele, era a causa que servia, não a religião, que até poderia ser de Libertação, mas a sua Igreja, a tal que, estando agora de luto, consegue fazer que digam, que o mundo está de luto (também o povo chinês, por exemplo?). Só que esse poder já o teve na Idade Média, agora as coisas estão a mudar, apesar dela e dos seus chefes. E o futuro, a Deus pertence...
Em boa verdade, nem creio que a toda poderosa Igreja, coloque nas mãos de quem quer que seja o poder que ainda detém. Karol, foi o actor dos seus desígnios, sendo pequeno, certamente, o papel da sua vontade ou das suas ideias. Representou-o de forma eficaz, transmitindo a boa imagem que o argumentista e produtor queriam. Daí este aplauso ao actor, cuja imagem faz ignorar, para muitos, o argumento.

sábado, abril 02, 2005

Lágrimas

Ainda que não perceba as lágrimas, respeito-as por serem verdadeiras. Mas o espectáculo das lágrimas, não respeito, desculpem é o escarro diário do jornalismo. Quem morreu da forma digna que se viu, merecia mais um bocadinho. Esta noite, ouvi mesmo, um relato entusiasmado da morte a uma jornalista, em registo rival do Jorge Perestrelo. 20.37 h. Fim, o climax da história. Seguem-se os comentários, as histórias, as falas de bem-dizer.

sexta-feira, abril 01, 2005

O bom exemplo do Papa

Com a ansiedade na voz (coitados, passam a vida neste estado) os jornalistas esganiçam-se na busca da informação definitiva. Antes de poderem, finalmente, dar a notícia da morte em primeira mão, vão criando cenários, tentando ler as entrelinhas dos comunicados, os ditos deste e daquele. Tentam transmitir a ansiedade, criar a emoção a todo o custo. Um boletim clínico online, imaginado, infecção urinária, paragem cardíaca, sépsis, mas lúcido, consciente. Depois, talvez inconsciente. Que mais? As reacções dos padres, bispos, cardiais e dos médicos dos cuidados intensivos a explicar o que se não explica. O frenesim do costume. A indignidade habitual na procura de audiências.
Mas que se passa efectivamente? Um homem velho, debilitado, está a morrer. Decidiu morrer em casa, junto de quem viveu, longe de encarniçamentos terapêuticos, com serenidade aceita o fim comum dos mortais comuns. Possa o exemplo frutificar e inspirar os mais comuns mortais e sobretudo os seus familiares que os despejam, nestas fases, nos hospitais, impedindo a direito à dignidade neste último acto de vida, que é a morte.