terça-feira, novembro 30, 2004

Governo de indy(gestão)

Acabou!
Afinal o Santana chegou ao fim da lista telefónica sem alternativa capaz.
Agora são só mais uns dias. Depois, não venham atribuir culpas aos outros. Façam o favor de se não enganarem. Uma ajuda: lembre-se do vosso estado de espírito nas vésperas das últimas eleições, das penúltimas e das ante-penúltimas, lembrem-se de como estavam fartos dessa gente. Não deixem que os outros escolham por vocês e escolham os que ainda não foram eleitos. Dos eleitos anteriores já nos fartamos muitas vezes! Nada de alternâncias democráticas, precisamos de alternativas: os até agora não eleitos!

Métodos

-Estou, quem fala?
-Boa noite, sou o Pedro, desculpe incomodá-lo...
-Realmente, são três e meia da manhã, já reparou?
-Não, não tinha reparado, isto desde que durmo a sesta, é assim. À noite, tenho insónias. E hoje fui posto a fazer horas extraordinárias pelo Chefe...
-Mas quem é você afinal?
-Não me conhece? Como é possível que ainda me não conheçam todos? Eu bem me parecia que precisávamos de uma Central de Informação, mas o Chefe não deixou. Bem...
-Não me diga que é o Santana Lopes...
-Claro que sou. Estava a telefonar-lhe porque preciso de alguém para Ministro do Desporto...
-Mas que raio é que lhe deu? Donde é que você me conhece? Não sabe ao menos que eu sou da Oposição? Mas que método é que você usa para escolher ministros?
-Estou desesperado, esgotei a minha lista de amigos. Agora lancei mão da Lista Telefónica, estou a contactar um a um todos os Drs. e Eng.os. Não me diga também que não, por favor...
-Claro que digo! Quem é que há-de querer fazer parte do seu Governo. Não, desculpe lá mas vocês têm empregos muito precários para o meu gosto. Gosto de ter emprego por mais de 3 dias! Com licença.
-Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

segunda-feira, novembro 29, 2004

Às vezes, é preciso desligar a máquina.

Os médicos, com toda a sua generosidade, cometem por vezes erros por excesso de optimismo. Perante casos desesperados e sem retorno, há, frequentemente, a vontade de recorrer a artifícios para manter a vida do que naturalmente morreria por insuficiência interna. Era bem mais piedoso, muitas vezes, deixar morrer o doente. Todos acabariam por sofrer bastante menos. E tanto o fazem quando a vida está bem avançada nos anos, como nos recém-nascidos, muitas vezes com malformações insuperáveis. Nestes casos, as incubadoras e os ventiladores podem fazer sobreviver o malformado durante mais uns tempos, mas, quase sempre, a história apenas leva a um maior sofrimento dos familiares e dos que estão em volta. Como diz o Povo, na maioria das vezes, era bem melhor o Senhor levá-lo, porque quem torto nasce...
Mas como sabemos, nem só os médicos cometem destes erros. O exemplo está aí. Espera-se uma atitude de generosidade, o desligar da máquina. Para isso precisa-se da coragem necessária do Chefe. Será que tem ou assume-se na sua incompetência para o cargo?

domingo, novembro 28, 2004

Fim-de-semana

Parece que a Democracia é afinal o melhor dos mundos, sobretudo porque não existe outro melhor. Assim mais coisa menos coisa, falava Churchill, interpretando a democracia como aquele jogo que se joga de tempos a tempos com uns papelinhos dobrados em quatro. Depois fica-se contente porque ganham os que dantes perderam.. Uns anos depois voltam a ganhar os derrotados de agora. A isto chama-se alternância democrática e continuamos a viver todos infelizes porque a nossa História não é a deles e por isso termina sempre desta maneira diferente. Lembro-me de ouvir o meu professor de História falar de governo do Povo. E lembro-me de na altura ter ficado intrigado quando li que havia escravos lá na democracia em que o Povo governava. No meio de tudo isto não me importava nada de ter uma História feliz, mesmo que não houvesse da tal democracia de que falam tanto. O que eu queria mesmo era ver o Povo a governar!
Por estes dias, tentam convencer-me que votar com o papelinho é mais democrático que votar de braço no ar dizendo a todos que penso desta maneira. Elogia-se uma atitude de cobardia, critica-se a frontalidade. Tenho dúvidas!
Por estes dias, Cavaco Silva faz o discurso de apresentação da candidatura, criticando os maus políticos que aí estão, abrindo o caminho a si próprio (bom político, lembramo-nos todos da altura em que já se não podia suportar mais a sua arrogância). Agora, ouço alguns novos socialistas quase aplaudir o homem, quando ele lhes está a entrar no espaço. Fico espantado!
De repente, vem uma pessoa na auto-estrada e lá caiu mais um Ministro. Já nem há espanto, virou rotina. Só falta saber quem será o seguinte. Mas quando um amigo se refere a outro falando de falta de coordenação e de lealdade... Ainda fico impressionado!
Chove devagar, as pereiras estão castanhas na beira da estrada, o chão das Caldas está forrado de folhas de plátano. Gosto. Só por isso, não acabo um destes dias a olhar para os astros como o JPP.
Adenda: Um dia depois de escrever este texto, encontrei este outro escrito por um prémio Nobel, que também fala de democracia. Recomendo a leitura ( muito mais do que a do meu, claro)

quarta-feira, novembro 24, 2004

O país assiste

Ele bem dizia que ia mudar um ou dois secretários de Estado. Mas já que estava com a mão na massa, mudou também alguns ministros. O homem é mesmo de impulsos.
O país assiste, delicia-se com as celebridades. E a festa continua, cada vez mais louca. Alto astral e fé em Deus.

terça-feira, novembro 23, 2004

Perigo!

O Império continua a atacar, mesmo quando se disfarça de benfeitor e nos quer dar comida. Que acontecerá, quando não conseguirmos produzir alimentos sem o seu apoio? Esta gente é mesmo perigosa. O mundo está a ficar cada vez mais perigoso e em nome de muito pouco, enquanto a informação faz o papel de ópio do povo nos nossos dias, bombardeando-nos com pequenos dramas para nos manter alheados dos verdadeiramente grandes, levando-nos por uma espiral de regressão, sem qualquer esperança de futuro se não pararmos isto.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Verdades e mentiras deste mundo

Basta um acidente de viação para termos duas versões dos acontecimentos, porque nem sempre a declaração amigável é possível. Por que ansiamos por uma informação isenta quando duas forças se combatem numa guerra?
Naqueles tempos, percebia claramente que não chegava ouvir o Telejornal nem ler os jornais para saber a verdade. À noite, lá me punha a ouvir a Rádio Portugal Livre e a Rádio Moscovo. Obviamente, também não contavam toda a verdade, contavam a sua.
Depois de Abril constatámos que assim tinha sido, a verdade era diversa.
Por que havemos agora de só ouvir a CNN? Há mais informação na Net, pelo menos até ver... Aproveitemos, que isto das verdades tem muito que se lhe diga. Mudam-se os tempos, mudam-se as fontes.

A caminho da Amadora-Este

Corremos sérios riscos quando nos confinamos a rotinas e a circuitos mais ou menos isolados de funcionamento. Dantes ia para a escola de transporte público e sempre havia histórias, conversas que se apanhavam aqui e ali. No carro fica-se nas mãos da TSF e de outros que tais que nos mostram sempre histórias idênticas. Ou é o Santana que vai nomear um ou dois secretários de estado (ele nem sabe quantos são, exactamente!) ou o Pinto da Costa a queixar-se dos árbitros e a glorificar o fêquêpê ou um engenheiro da Vodafone a explicar-nos que o excesso de segurança social na nossa vida não é conveniente porque nos tornamos menos produtivos (e nem pergunta para quem e em nome de quê). As histórias novas, só mesmo quando nos metemos no Metro ou andamos de autocarro. Às vezes os motoristas de táxi também as têm boas.
Hoje, num percurso de cinco estações pude constatar o elogio da pregação de um pastor americano ouvido em cassetes, a possibilidade e a necessidade de montar mais uma igreja na Pontinha (parece que basta falar na Câmara e «estivesse cá o Menari e já estava, que ele era dos que andava com a gente na rua»), a felicidade pelo facto de o puto lá em casa já andar a aprender inglês (vai para a escola e já diz à professora, Jizas seive as). Fantástico, a igreja está cada vez mais frequentada e felizes os pastores. Lembrei-me da minha ida ao Harlem no Verão. Ainda há por aqui alguém que acredita nalguma coisa, mesmo ao lado, a caminho da Amadora-Este. Bem aventurados! Os outros fiam-se na Virgem e é o que se vê.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Olho a sexta-feira

Tem dias em que gosto de ficar a olhar para o tempo a passar, a vê-lo escorrer nas lembranças de outros momentos. Sair daqui, ainda que ficando e olhar os intervalos do pesadelo, na certeza de que não pode persistir eternamente, porque, como diz o povo, não há mal que sempre dure. É o meu estado de guerrilheiro sentado na montanha à procura do horizonte, maior nestes dias de céu azul de muito frio.
E ficar aqui, só, a ver as palavras que não chegam, assim, serenamente, tendo afinal um livro para escrever e muitos outros para ler, mas só pelo prazer da contradição, não o fazer. A areia vai descendo na ampulheta na impossível contagem dos grãos de areia. E eles caem, decididos, sem parar nunca. De repente, nem me sobressalto, por ter passado mais uma semana. A dúvida que me assalta é a dimensão da duna que ainda não caiu pelo estreito.

quinta-feira, novembro 18, 2004

A cavalo dado...

A cavalo dado, devemos olhar o dente. Alguns mordem (quase diria de leitura obrigatória).

Contributo para a história de uma guerra depois de acabada

Ele decretou o fim da guerra no dia 1 de Maio de 2003. Tinha-a começado a 20 de Março. Rápido, um cowboy verdadeiramente eficaz, à americana.
Mais uma vez, fui hoje consultar o blog do George W e completei a visita com uma passagem pela CNN. Conclusão, morre-se muito depois do fim da guerra, o que torna a paz uma situação de risco...
Alguns números:
Março/Abril 2003 (a guerra ganha...): 137 mortos; depois de Maio 2003: 1060 mortos.
Dados de mortalidade homóloga (traduzindo mortos mensais em 2003 vs 2004):
Maio: 37 vs 84
Junho: 30 vs 41
Julho: 46 vs 56
Agosto: 36 vs 67
Setembro: 30 vs 82
Outubro: 43 vs 65
Novembro: 82 (30 dias) vs 57 (em 15 dias)
Confirma-se, os primeiros dados são de 2003 e os segundos de 2004! Até quando irá continuar a cowboyada? Números redondos, teremos 100 iraquianos mortos por cada americano, portanto bastará fazer as contas... o Iraque tem cerca de 25 milhões de habitantes (ou tinha...). A vitória está garantida, oh yeah!

quarta-feira, novembro 17, 2004

Post em branco

Na busca de mais público, eis a partir de agora a versão em inglês, às vezes, bem cómico. Experimentem, a tradução! Clicar à direita na bandeira!

É a guerra, estúpidos!

São as imagens de sempre. Não há novidades nisto. Só o horror, o mesmo de sempre. A guerra não é bonita, nunca!Estes homens, noutro sítio, seriam pessoas perfeitamente normais. A culpa é de quem os brutaliza e os põe ali.

terça-feira, novembro 16, 2004

Doutoramentos

A cerimónia de doutoramento começa e acaba nisso mesmo, num cerimonial. À partida já se sabe que o candidato a doutor está ali, apenas, para passar por mais uma cerimónia. Os elementos do júri sabem também que lhes compete terem algumas tiradas a dar para o culto e inteligente para abrilhantarem a cerimónia. É assim uma espécie de Tourada à antiga portuguesa, com fatos de cerimónia e esforços de boa faena. Geralmente, o candidato passa vários meses em casa, isto é, sem trabalhar (pelo menos no serviço público) a preparar-se para a coisa, o júri elabora alguns dias antes uns textos mais ou menos apressados para a coisa sair menos mal. Na altura certa, lá se reunem na cerimónia ridícula, trajados comme il faut, cumprimentando-se e saudando-se uns aos outros. Só nas saudações deverão gastar 20% do tempo de intervenção. Discute-se aquilo que muitas vezes mais não é do que um artigo publicável numa revista de médio impacto e depois apresentam-se duas comunicações como se fossem conferências de curta duração numa qualquer reunião dessas que tanto por aí abundam. Pois bem, há mais cuidado com a ortografia. Posto isto, dadas as ferroadas convenientes caso seja indicado de acordo com as circunstâncias, sai mais um Doutor por extenso. Nem se discute o curriculo do candidato...
Assisti mais uma vez a uma cerimónia detsas hoje. Com a inovação louvável de um dos membros do júri não estar com fato de gala. Com a tradição entediante de outros realçarem os seus valores do passado, levados ao extremo da invocação de oito século de tradição na apologia da oração académica. Parece ser aquela obrigação de agradece-me a mim, que eu agradeço-te a ti para nossa glorificação conjunta. No meio da oração, alguns dos membros mergulham religiosamente a cabeça entre as mãos juntas tal a sonolência induzida numa aula Magna à meia luz. O António, sem beca, olhava vagamente o espaço depois de algumas intervenções significantes. Pensaria na Califórnia, talvez. Por momentos percebi esta Faculdade: o passado ora, o presente dorme, o futuro emigra.
Será que quero passar por isto?

segunda-feira, novembro 15, 2004

Mau prognóstico

Mau prognóstico o meu quando há meio ano lhe marquei a consulta para hoje. Automaticamente, o processo surgiu-me em cima da secretária, mas o acto não foi realizado como agora se diz. Ela morreu há uns meses com uma hemorragia por rotura de um aneurisma. Hoje passei os olhos pelo processo. Tinha-se queixado, várias vezes, de cefaleias nos dois anos anteriores. Foi ao neurocirurgião, fez TAC do crânio e estava tudo bem. Estava até ao momento em que tudo aconteceu.
Quantas vezes a dúvida de se o que nos dizem é físico ou psíquico? Até onde ir, até onde pensar que é físico, até onde investir? Ao fim destes anos todos, esta é a dúvida maior que me assalta tantas vezes. Sem solução nesta profissão complexa, muito mais arte e intuição que ciência tantas vezes.

domingo, novembro 14, 2004

Dia mundial da diabetes


Posted by Hello Dia mundial da diabetes
A ideia é simples. Mas identificadas as causas - a sociedade insana que nos sedentarizou e nos oferece comida a cada esquina - a proposta qual é? Ir fazer marchas simbólicas, isto é, consumir ténis de marca? Pois, muito mais fácil do que pôr em causa a insanidade do american way of life! Sempre uma estratégia de aumento do conumo, procurar soluções de maior consumo a juzante para um problema que se reduzia com menor consumo a montante.
E as vendas, pá? Engordem, sejam diabéticos, os nossos MacDonalds precisam de vender, os nossos laboratórios produzem as pílulas que precisam e nós precisamos de as vender também. God bless o sistema!

sábado, novembro 13, 2004

Sábado à sombra

Se formos ao Google buscar por metabolic syndrome encontramos mais de 1130000 referências. Veja-se pois, a importância desta coisa. Trata-se efectivamente duma coisa, não é uma doença, nem um conjunto de sinais com significado próprio, de que decorra um qualquer tratamento específico ou um prognóstico particular. É um agregado de patologias, diferentes de acordo com a entidade que define a coisa, que existe num mesmo indivíduo e na base do qual está sempre o mesmo, uma sociedade que leva a estilos de vida e hábitos insanos, menos actividade física e mais consumo de alimentos. Os genes não aguentam tal modificação e as doenças aparecem: obesidade, diabetes, hipertensão, elevações dos lípidos. É o resultado da globalização dos costumes.
À conta desta coisa passei um sábado de sol, à sombra numa reunião de 40 pessoas em mais uma acção de formação em que umas quinze debitaram a ciência, para que nada contribuíram, para as outras que também já teriam lido os mesmos livros. A maior parte do programa foi sobre medicamentos, consumo das drogas que combatem os resultados do excesso sem nada o contrariarem. Um desfraldar de conhecimentos em leitura de diapositivos, a maioria em inglês, na forma original como foram cedidos pela empresa farmacêutica. É curioso como mesmo assim, as pessoas ainda se acham com direitos autorais sobre as suas apresentações e torcem o nariz quando as deixam no meu computador para serem apresentadas.
No fim há um ar de contentamento no ar. E eu não percebo porquê. Será que fingem?

sexta-feira, novembro 12, 2004

Miseráveis!

Vão fazer um Congresso este fim de semana. Vão explicar como vai ser bom em 2006 (sobretudo nos 3 meses anteriores às eleições). A retoma está aí. Basta ler o grande economista Luís Delgado desde há cerca de 2 anos.
Mas, no mesmo momento, um desqualificado órgão de informação (até apoiou o Kerry, veja-se só!) publica mais esta calúnia infame:
Em média, por dia, 310 pessoas ficaram sem trabalho nos últimos três meses .
Desemprego bate recorde dos últimos oito anos.
Sempre esta maneira negativa de ver as realidades, esta falta de confiança nos nossos maiores, no grande Santana.
O Presidente, de forma positiva, optimista e de bandeira na janela, passeia por Milão promovendo a Arquitectura Nacional. Apoiado, senhor Presidente!
O espectáculo vai continuar.

Quando vai chegar a nossa vez?


Quando vai chegar a nossa vez? Posted by Hello
Os donos do Império fizeram contas à sua esperança de vida e sentaram-se tranquilamente, dizendo: Ok, isto não nos diz respeito!
Mas contudo, alguma base de apoio pode estar em risco: Glaciers, sea ice and tundra will melt, contributing to global sea level rise. By the end of the century, sea levels could rise by up to one meter. A warmer Arctic will contribute up to 15% of this rise. Today there are 17 million people living less than one meter above sea level in Bangladesh, while places like Florida and Louisiana in the US, Bangkok, Calcutta, Dhaka and Manila are also are risk from sea level rise.
Andamos a fazer figura de urso. É o que me parece.

quinta-feira, novembro 11, 2004

Arafat


Posted by Hello
As folhas caídas ficam mais vivas quando calcadas. Quase falam no estalido que deitam e um cheiro único sobe da terra. Daqui a algum tempo será sobre este fermento que nascerá de novo a Primavera.
Ele também caíu hoje com esperanças de Primavera naquele sorriso frágil que nos deixa para sempre na memória.

terça-feira, novembro 09, 2004

O blog do George

O George W tem um blog. Visite-o, quase todos os dias acrescenta uns post(mortem)...

Outono no país de Inverno

Não tenho dúvidas que se não fosse ela, estas férias teriam sido diferentes. Desde o momento em que a vi recentemente, percebi que tinha de lá voltar. Por ela me decidi ir até ao Porto nesta época em que a chuva e o frio já ameaçam. Nesta altura ela enche o Porto, por onde passasse ela estava presente e assim me acompanhou os dias mesmo antes de a voltar a ver.
Já não sei quantas vezes tinha ido ao Porto sempre a reuniões. Até agora, o Porto era para mim um hotel na Boavista e um percurso da estação de Campanhã até lá e volta. Pelo meio havia uma excursão a Gaia para ouvir uma funcionária de uma das Caves explicar-me o processo de fabrico do Vinho do Porto e os vintages. O Porto era assim uma coisa estranha, muito vista e nada percebida. Desta vez, por causa dela, tudo foi diferente.
Comecei a visita pela Bolsa, que afinal o não terá sido muito. Prenda de reis em decadência a uma Associação de Comércio em ascensão, que ergueram das ruínas de guerras civis, um edifício evocador do seu bem-estar. Passada a Sala das Nações logo à entrada e subidas as escadas de acesso ao primeiro andar, vimos o Tribunal do Comércio, a sala de reuniões da Associação do Comércio do Porto e a visita vem a acabar com o Salão Árabe, um mergulho nas Mil e Uma Noites, de um sonho de rainha de tempos em que afinal os árabes não eram assim tão terroristas. Já chovia quando saímos e passámos pelo Mercado Ferreira Borges onde os periquitos se preparavam para serem expostos. Pela Rua das Flores ainda vimos algumas das casas de outrora, mas agora sem vestígios de flores, substituídas que estão pelas bandeiras esfarrapadas de Portugal (ou será da selecção) devidamente acompanhadas pelas do FCP. Quase sem dar conta já estávamos na Torre dos Clérigos. No reconhecimento que só os passeios a pé permitem fazer das cidades, avançámos para a maravilha da Livraria Lello, com paragem para chá no primeiro andar e depois até aos Aliados e sucessivamente, para o Café Guarani com telas da Graça Morais, para o Mercado do Bolhão e Rua de Santa Catarina antes de chegarmos à Sé, à porta da qual um bloco de granito caiu nem se sabe bem como. Depois de um breve passeio pelo interior onde na tarde se casava gente do norte, descemos encosta abaixo serpenteando pela Ribeira até ao ponto de partida. Pronto, estava feito um grande U, que depois mais tarde se pode contemplar do outro lado, de Gaia, não, sem antes, provar uma francesinha no Uma velha tinha um gato, um nome que só no Porto poderia ser identificação de café-bar. A farncesinha lá se comeu por entre remorsos calóricos.
O primeiro dia de visita acabou com a ida para o hotel em Gaia, onde nos esperava um quarto no 20º andar com vistas para qualquer tão indefinida que poderia certamente ser uma cidade qualquer americana cheia de luzes e néon. Mas não era, aqui era Gaia igual a tantas outras, um grandioso armazém do Porto que do hotel se não avista. Daqui só mesmo o Gaia Shopping, com torres de néon. E nada disto teria percebido se não fosse ela.

No segundo dia de estada na cidade repetimos a dose de Porto depois de uma descida para o abismo desde o tabuleiro superior da Ponte D Luiz até ao rio por uma vereda à direita de quem vai até ao rio vindo de Gaia. Depois uma épica subida dos mais de 200 degraus da torre dos Clérigos e nova passagem pelas ruelas da Ribeira, com roupa e cachecóis do FCP estendidos das janelas, em descida lenta até ao D. Tonho, onde nos esperavam bacalhaus em várias confecções. Era então hora de descobrir a ligação ao outro Porto, o da Boavista, e fomos à procura passando ao longo da margem direita, rio abaixo, até à foz e ao Castelo do queijo, com viragem de reentrada pela Avenida da Boavista, num Porto novo, encorpado, mas sem o sabor de vintage da Ribeira. Um Porto sans noblesse (snob), cheio de sinais exteriores de riqueza, tantas vezes associado a algum vazio de interior. Plástico. É do outro que gosto e foi para vê-lo em conjunto e à noite que valeu a pena ir ao Cais de Gaia, um bom miradouro do Porto fino e puro dentro do U que conheci nestes dois dias. E tudo por causa dela.

Ao terceiro dia, dentro da Fnac do Gaia Shopping, era o tempo e o espaço de esperar pelo comboio em que a Sofia vinha. Uma boa loja, onde se passeia devagar o desejo de consumo numa manhã de feriado enquanto o comboio não chega.
E lá chegou e fomos até ao Cais ver o U do Porto e alarvar no Tromba Rija, onde já tinha acrescentado os depósitos de gordura há algum tempo atrás. Impróprio para quem faz dieta, óptimo para quem gosta de comer. Uma boa visão antes de zarpar até às terras frias da fronteira entre Minho e Trás-os-Montes. Estalagem do Morgado, um local onde o silêncio tem voz na chegada, quase à noite. Sente-se o frio da terra na visão do lago da barragem e enche-se o tempo sentado na poltronas do vestíbulo enquanto se devoram títulos de revistas, dispostas sobre a mesa. O almoço ainda actuante afasta-nos a tentação do jantar. Não acredito muito, que aqui tivesse vindo parar se não fosse ela. Assim, tive o prazer imenso do silêncio.

O quarto dia (2 de Novembro) cedo com a tenebrosa visão da CNN. Bush ganhava de forma indesculpável as eleições nos EUA. Uma América cheia de medo recusava-se a ter esperança. Se isto fosse apenas um problema deles, até acho que era bem feito. Que comessem do que gostam. O problema é que se calhar não será bem assim. Mas disto ela não tem culpa nenhuma. Isto foi um epifenómeno na história destas férias.
Por causa dela, hoje fomos fazer um circuito pelo Gerês. Fruto de um engano inicial, daqueles em que devíamos virar à esquerda e seguimos pela direita, acabámos em Pitões das Júnias em busca de um mosteiro. No fim de uma calçada de pedra, uma seta de madeira apontava o caminho a 300 metros. Andados 100, um entroncamento, um caminho para cima e outro para baixo, duas marcas, amarela e vermelha, numa pedra em frente. O problema dos caminhos para baixo é a subida que sempre implicam, pior é o prognóstico quando serpenteiam monte abaixo e se não lhes vê o fim, nem o objectivo que nos move. Neste caso era o Mosteiro. Mas lá fomos com a probabilidade de 50% garantida. Ao fim de algum desnível, ouve-se a água no rio e avista-se o granito do Mosteiro. Abandonado, a porta fechada, ninguém. Ainda o resto de um claustro e de uma provável cozinha. Pelo buraco da fechadura ainda se pode espreitar a Santa no altar.
Curiosamente, o caminho de volta, a subir, pareceu mais curto. Era a primeira vez que subir me parecia mais curto que a descida de igual tamanho. Percebi nesse momento que é a incerteza que torna o caminho longo. Sabe bem saber o que nos espera, mas parece que há quem goste mais das emoções da adrenalina. Garantia ou iniciativa privada, adrenalina para cansar os sentidos. É claro que prefiro a primeira via. Mas hoje, lá longe, foi a outra que ganhou.
Depois saímos pela Galiza e logo se notam as diferenças das casas e das estradas até entrarmos em Castro Laboreiro, um Gerês onde nunca tinha estado e onde, desta vez cheguei por causa dela. Lamas de Mouro era um destino com promessas de Outono vegetal em folhas castanho-avermelhado. Algumas, sim, mas nada sem impressionar. Alguma melhoria na descida para Soajo com visões de jovens mulheres carregando molhos de lenha. O que as fez ficar por aqui? O mesmo, que noutra dimensão, nos vai fazendo ficar, nesta limitação absurda de pertencermos a um país só pela circunstância de aqui nos terem parido. As montanhas que as envolvem, lhes tolhem os horizontes e lhes asfixiam a vida ainda pesam nos dias em que falamos de globalização. Para quando globalizarmos em vez de sermos globalizados? Continuo pela paleta de tons de Outono dos abetos, carvalhos, castanheiros e fetos até chegar a Soajo em busca de espigueiros de outro século na eira que era comunitária. Aí, imagino escamisadas, cânticos e espigas vermelhas.
Continuo o circuito até à fronteira de Lindoso e de novo em Espanha (ou na Galiza?). Que mania esta a dos países e nações, qual a diferença que faz estar do lado de cá ou do de lá? Mais à frente reentro pela Portela do Homem para o verdadeiro festival do Outono ainda que perturbado por uma chuva progressivamente mais intensa, que nos faz parar nas Caldas do Gerês, onde, a custo, lá nos serviram um chá, sem torradas. Já imaginaram a ciência de fazer uma torrada, numa tarde chuvosa de um dia de semana? Meu país pequeno...
Lembrava-me então de um Mosteiro, à beira do qual se comia. Isso me levou a São Bento da Porta Aberta. Mas, não, a memória não condizia com a visão em directo. Apenas a certeza de aqui não ser.
Voltei atrás e subitamente uma placa despertou a memória. Abadia. Uma só palavra, despertou todas as certezas, era lá! De imediato, as secreções salivares foram despertadas no entusiasmo de ser desta que lá chegaria. Cheguei, mas a escuridão do edifício era de mau prognóstico. E foi. Jantares só por encomenda e à segunda e terça é dia de descanso do pessoal. Regressei com a satisfação da redescoberta e vingamos a frustração na Pousada de São Bento com bacalhau com broa e rojões com sarrabulho acabados com pudim de abade de Priscos e companhia sortida de outros doces. Dias não são dias. Jantei, certamente, melhor que o George W que a esta hora faz o seu discurso de vitória. Resisto à indigestão da ideia.

Com os olhos satisfeitos de Outono, hoje é dia de regressar ao Porto por causa dela. Finalmente, Serralves e a visita que motivou estes dias. Ela, ali está em exposição até Janeiro. Passeio uma vez mais pela inquietação desta mulher e saio mais uma vez inquieto também. Afinal, ela tinha sido a causa de tudo isto.
Faltava o Majestic para o Porto estar completo. Foi lá que fomos desfrutar toalhas de linho nas mesas e um serviço de escola. Francesinhas fotogénicas e arroz de marisco mais banal preencheram alguns espaços vazios a esta hora já tardia. Uma boa experiência antes do regresso a Lisboa para uma paragem breve antes da descida ao Algarve. De uma ponta a outra este país num só dia. País pequenino...

O resto dos dias foram passados na surpresa do betão crescente no Algarve, com ar solarengo em Novembro, mais aproveitado por estrangeiros que portugueses. De tal forma que sentados num restaurante, logo nos saúdam com um hello! e nos oferecem cardápios em inglês. Depois, são toscos. Perguntamos que vinho têm e a resposta sai espontânea: Branco e tinto! Há 1800 restaurantes em Albufeira, a informação foi da senhora do Posto de turismo. Não sei se será verdade, mas até me custa a crer. Meu país de estalajadeiros!
Portimão é mais betão e os restaurantes agora são ao lado da ponte. Continua a cheirar a sardinha, a música está na rua. Forte e feio, foi um bom lugar para a cataplana de tamboril com digestão feita numa esplanada a mirar o rio e a ler uma entrevista de João Lobo Antunes, para sentir a diferença que alguns fazem. Ele foi aonde há iguais, mas mesmo assim voltou. Porquê?
Lagos está igual ou assim me pareceu antes de um pôr do sol na praia para os lados de D. Ana.
No dia do regresso ainda uma passagem por Sagres, naquele espaço de silêncio das ondas furiosas na falésia com pescadores pendurados, na espera do peixe que se nega. Bom início de tarde antes de começar a subir a Costa Vicentina até Aljezur com passagem pela fortaleza da Arrifana, com restaurante fechado e vistas largas e bem abertas sobre o oceano.
Mais logo, uma merenda ao pôr do sol, na Comporta (Ilha do Arroz) antes de sobreviver às melgas que atacam furiosas nesta hora junto ao ferry.

Uma semana de paisagens transformadas. Parece que de alguma maneira redescobri paisagens com ressonâncias antigas e diferentes. Uma modernidade snob quase sempre numa terra de vendilhões de serviços com estradas rápidas para chegarmos ao Centro Comercial (melhor dito, Shopping Center). O resto são cais de armazém com vidros partidos, barcos estacionados, fábricas abandonadas. È um país vestido de Inverno em tempo de Outono. Ainda haverá esperança de Primavera?