terça-feira, agosto 31, 2004

Nefertite não tinha papeira

Quanto mais vejo, mais me parece que os que mais defendem a ideia do mercado, são os que mais tentam garantir a continuação dos monopólios. Afinal poucos gostam assim tanto do risco. É humano, afinal. Não são loucos ao ponto de gostar de correr riscos.

O mais inquietante do filme do Michael Moore é a constatação de que são sempre os mesmos que, numa atitude quase masoquista, são os actores da guerra. Que importante que seria ter-se tempo e espaço para reflectir. Pois é, têm sido os explorados que fazem a guerra aos explorados. O que é que isto terá que ver com as revistas côr de rosa?

segunda-feira, agosto 30, 2004

A cabeça do PP não para

Port(a)s de Portugal fechadas ao barco do aborto! É a defesa de Portugal em marcha. Fico agora à espera da reinstituição do controlo da fronteira com a Espanha e da inovadora medida de colocação de centros de ecografia com exames obrigatórios a todas as mulheres em idade fértil que tentem atravessar a fronteira. É preciso garantir que nenhuma grávida vá ali ao lado abortar. Alguns vacilarão, ele fica! Até quando? Este país estará condenado a ser uma anedota eterna?

domingo, agosto 29, 2004

A verdadeira classificação dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004

As férias estão quase a acabar. Respeitei integralmente a ideia de aqui não vir enquanto duraram, excepto nestes últimos instantes em que ainda estou de férias. É que, em férias, trabalha-se muito, pouco tempo sobra e o que se arranja é ainda para estar de férias. Depois, a Internet continua mais longe do que as notícias. Continuo a aspirar a chegar ao dia em que possa receber e enviar mensagens de forma tão fácil quanto é ouvir as notícias da CNN...
Férias é tempo de encontrar o mundo diferente, de nos surpreendermos com realidades. Quanto maior o número de novidades, maior a sensação de estar de férias. Por isso, por vezes, a sensação de cansaço físico chega. Estas foram uma espécie de volta à grande Espanha, a saborear a enormidade daquele país, desde os Picos da Europa, à maneira de um parque natural, até aos museus, ao peso da cultura desta gente que temos como vizinhos. Picasso, Miró, Gaudi e Guggenheim (Bilbau) em quinze dias é obra!
Nos intervalos lá fui sabendo das catástrofes naturais na Grã-Bretanha e de outras, da vitória do Chavez (apresentada na CNN como «Chavez resistiu». Reparem ele não ganhou, porque gente desta nunca ganha, quando muito, resiste...), das derrotas do Benfica e das notícias dos Jogos Olímpicos. E, só para remar contra a maré da vitória celebrada dos EUA em todos os meios de informação, aqui se segue a verdadeira classificação dos JO 2004, isto é, a ordenação dos países que obtiveram mais de 10 medalhas, segundo o índice medalhas/milhão de habitantes:
1º Austrália 2,51
2º Cuba 2,41
3º Hungria 1,70
4º Bulgária 1,57
5º Grécia 1,50
6º Bielorrússia 1,45
7º Holanda 1,37
8º Roménia 0,85
9º Rússia 0,63
10º Coreia do Sul 0,62
11º Alemanha 0,57
12º França 0,55
13º Itália 0,53
14º Reino Unido 0,50
15º Ucrânia 0,47
15º Espanha 0,47
17º Canadá 0,37
18º EUA 0,36
19º Polónia 0,25
20º Japão 0,29
21º Turquia 0,14
22º China 0,04
Outro tipo de classificação não tendo em atenção a população dos respectivos países, é, obviamente, tendenciosa.

sábado, agosto 07, 2004

quinta-feira, agosto 05, 2004

Às vezes farto-me mesmo

Vinte e quatro anos, 169 cm com 60 kg e vem à consulta por estar gorda. Mas onde raio é que nós vivemos? Foi para isto que abrimos as consultas à tarde, para acabar com a demora de marcação de primeiras consultas? É necessário, urgente, criar formas de responsabilização também dos cidadãos!
Ou devo estar a precisar urgentemente de férias...

quarta-feira, agosto 04, 2004

De costas voltadas às notícias

Um destes dias voltarei a ver telejornais, mas só depois de todos os fogos terem sido apagados e de as lágrimas do país profundo deixarem de ser exaustivamente exibidas. Da última vez estive quase vinte minutos a fazer zapping sem êxito.
Prefiro olhar para tras das imagens e tentar ver, sem acreditar que a imagem é o objecto. Procurar a realidade por detrás da coisa mostrada é um exercício a que nos vamos desabituando, uma tendência, mais uma, a que preciso de resistir. Tentar perceber se as pessoas realmente organizam reuniões médicas pelos motivos que mostram fazê-lo ou procurar, além das imagens que mostram, os motores que realmente as fazem agir. Acreditam mesmo que a ciência médica portuguesa fica mais prestigiada quando se organiza em Portugal uma reunião internacional ou é uma coisa que acham ser bonita de dizer? Por exemplo, nem por um momento lhes passará pela ideia que esse prestígio pode estar muito mais em mostrar o trabalho desenvolvido, em reuniões feitas noutros locais? Acreditam mesmo na importância da divulgação da reunião junto dos media ou quererão, em alternativa, meramente aparecer nos media para colher outro tipo de resultados? Dentro de uma organização de uma destas reuniões fica-me um sentimento de vazio, de inutilidade de ali estar, eu que não tenho qualquer benefício que justifique qualquer investimento sensível. Estou-me assumidamente nas tintas. Mas lá que se aprende muito nestas coisas, lá isso aprende! Ficamos de olhos mais abertos e com potência de raios X.

terça-feira, agosto 03, 2004

Os gritos do medo

Esta não é uma actividade simples. Não basta trabalhar, produzir simplesmente o que esperam que façamos. Nesta vida, o problema é exactamente esse, a vida. A relação não é bem com o patrão, é mais com Deus ou com o Diabo através de interposta pessoa. Não há luta sindical possível, a guerra é com limites e, muitas vezes, tudo é obra de instantes. É preciso estar alerta, fazer nesse instante exacto o que no seguinte é irreversível. Não basta saber tudo, fazer tudo, é necessário que os deuses ajudem e os diabos não compliquem.
Por isso, há reacções exageradas, por vezes histriónicas por medo. É a tentativa de afastar os fantasmas a todo o custo. Mas, às vezes, sofre quem está à volta. Nessas alturas temos de perceber que esta profissão não é uma profissão qualquer e entender serenamente a agitação dos dias.
Aos poucos, instalados nos anos, vamos tendo momentos em que a contemplação destes fenómenos se vai tornando mais possível, obtendo a verdadeira dimensão das coisas. Nesses momentos, agradecemos aos fantasmas que encontrámos no caminho, os nossos mais definitivos mestres dos instantes. Curioso, como ficaram agarrados a nós, sem nos largarem nunca mais. Timidamente, dizemos-lhes, baixinho: obrigado! (ou, também: que Deus me perdoe!)

segunda-feira, agosto 02, 2004

Boas férias!

Desde há anos que o vejo, sempre por esta altura. Tem agora 79 anos e, obviamente, cada ano para trás tinha menos um. Sempre por esta altura me pede que o deixe ir à terra em Agosto, para fazer férias. Está reformado há uns quantos anos, mas sempre insiste em ir de férias. Hoje saiu do consultório e a mulher voltou atrás e explicou-me: Sabe, ele precisa de lá ir porque é isso que o mantém vivo mais um ano. De cada vez. Eu já tinha desconfiado...
A partir de certa altura são coisas assim que os mantêm vivos. A Medicina tem um papel menor, seguramente.

domingo, agosto 01, 2004

Sinais dos tempos 2

Acabaram-se as idas às agência de viagens. Agora, escolhemos, planeamos itinerários, visitamos os hotéis, tudo aqui antes de partirmos. Perdemos alguma emoção do que vamos encontrar. No fundo pré-visitamos os locais e os hotéis antes de lá chegarmos, ficamos a saber as cores, vemos os quadros das paredes, imaginamo-nos a mergulhar nas piscinas mais vazias nas fotografias do que quando as virmos daqui a uns dias.
Fica tudo planeado e, a ser verdade o que nos dizem, mais barato do que feito fora da Internet. Até recebemos em casa os vouchers e o recibo da reserva. É aí que curiosamente verifiquei que reservei quartos em Espanha através de uma empresa (Rates to go) sediada na Austrália. Grandes viagens estas sem levantar o rabo da cadeira...