sábado, julho 31, 2004

Sinal dos tempos

Mesmo que sejam coincidências apenas, a verdade é que nos assalta a dúvida. Ontem na Bélgica, hoje no norte de Portugal, andam a rebentar condutas.
Há desde há uns tempos estas dúvidas para nos acompanharem os dias. Fica-se ainda mais inquieto quando se vê o desprezo pelas notícias da Bélgica, apresentadas como aspecto secundaríssimo nos telejornais depois de todos os dramas dos fogos da terra. Os telejornais ardem durante horas as emoções dos espoliados e estão indiferentes ao que aconteceu como se, nestes dias, qualquer explosão não levantasse a mínima suspeita de atentado.

sexta-feira, julho 30, 2004

O enterro lento do automóvel

Começa logo pela maneira de se dizerem as coisas. Pode dizer-se carro para abate ou, mais assepticamente, veículo em fim de vida. Como se dirá em Odivelas ou na Avenida de Roma. De uma forma Alegre ou mais Socrática. Mas isso são pormenores, é o processo mesmo muito em início, porque esta entrada de 1000 euros + IVA ao entregar-se um carro com mais de 10 anos, de quem somos proprietários há mais de um ano e que está em condições de circular tem muito que se lhe diga.
Primeiro, andamos aos papéis. Temos de ir à Direcção Geral de Viação buscar um a dizer que o carrito não está roubado, nem tem dívidas; depois às Finanças, para aqui dizerem que somos nós que não temos dívidas; e também à Segurança Social, para mostrarmos que somos diferentes do patronato típico, isto é, não devemos nada. Depois desta romaria de obtenção de certificados de bons costumes e passados cerca de 10 dias, vamos entregar o objecto. Dantes deixava-se, simplesmente, no stand por uma quantia ridícula, agora vamos levá-lo formalmente a uma antecâmara de morte, chamada IPO (Inspecção Periódica de Veículos). Esta circunstância confere ao acto alguma solenidade, quase um equivalente de funeral, uma oportunidade de luto por algo que nos levou daqui para ali e trouxe de volta durante anos e anos. Estávamos habituados aquela cor, aos estofos, à buzina, tínhamos uma história comum, quantas vezes, de episódios incontáveis.
Aqui, a coisa torna-se dúbia. Deixamos o dito e os respectivos bilhetes de identificação e entregam-nos na volta um papelito que custa cerca de 23 euros, que diz que o veículo foi nesta data inspeccionado. Mas para quê? Tinha sido inspeccionado há dois meses e estava apto a circular até ao ano que vem ... É assim, diz a funcionária, cansada de funcionar e sem gosto especial por fazer perguntas. Tranquilizadora, adianta, vai tudo correr bem. Pois, mas não percebo para que se inspecciona uma coisa que se vai destruir ou já não teremos mais nada para ocupar o tempo? Andamos é cansados de imagens de fogos e transferências de futebol, deve ser isso.
Em resumo, estas coisas chamadas IPO (privadas, portanto, acima de toda a suspeita de burocracia, corrupção e outros males do Estado e logo de toda a confiança mesmo que nos não d~eem qualquer documento que garanta que na data tal algo lhes foi confiado) ficam-nos com o automóvel, os documentos e tomam nota do nosso número de telefone num post-it para nos dizerem dentro de um mês que o processo está concluído. Ainda gostava de saber o que vão fazer durante tanto tempo... Contas? Podia ser: pneus novos + jantes de liga leve + estofos + vidros + imaginemos o que quisermos, ainda podem ser algusn euros e ainda assim aproveita-se para reciclar o carro de alguém que precise. Só uma hipótese para tentar explicar este mês que vou esperar. Certamente, haverá alguma razão bem mais técnica e eu é que sou desconfiado. Aliás, sempre desconfiei destes IPOs, da sua eficácia, quando se sabe que os seus julgamentos nem sempre são muito reprodutíveis e há alguns onde os mecânicos levam os carros porque sabem que lá é mais fácil passar. Haveria menos acidentes se este negócio protegido pelo Estado e entregue aos privados não existisse? Alguém o demonstrou? É um desafio aos vossos comentários!
O resto da história espero contá-la daqui a um mês se tudo correr bem.

quinta-feira, julho 29, 2004

47458

Nem foram assim tantas. Só que a estas, o vento não leva. Ficam aqui registadas de forma definitiva para me inquietarem memórias futuras, para me fazerem olhar para trás, umas vezes com espanto, outras com um sorriso piedoso perante a constatação da ingenuidade finalmente percebida. Estas e as que ainda virão, serão as bengalas do reconhecimento dos meus tempos, da forma como me relacionei, aqui e além, com os instantes. São para sempre alguns dos desabafos e das esperanças que tive.
Quarenta e sete mil quatrocentas e cinquenta e oito palavras que alguém, que não eu, contou. Um ano de débitos (duzentos e noventa e sete) quase diários, cinco por semana.
Fundamentalmente, foram escritas para a memória que hei-de ter. Quis o acaso que por mais de 4000 vezes outros as viessem ver e alguns (poucos) as comentassem. O registo vai continuar aberto, prometo (a mim), porque nos aniversários sempre há promessas e desejos para cumprir.

quarta-feira, julho 28, 2004

E para que não haja dúvidas...

No dia de hoje, em que foi aprovado o programa de Governo na AR. Aqui deixo, de Bertolt Brecht, a Dificuldade de Governar

1
Todos os dias os ministros dizem ao povo

Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra.
E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2
É também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
É só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

terça-feira, julho 27, 2004

O meu país F...

Isto dos negócios é uma coisa tramada. É um jogo de ofertas em que parece que ninguém cobra e todos querem oferecer. Só que, na verdade, todos estão a cobrar e ninguém quer dar, isto é, pelo menos se houver alguma coisa que ceder que seja o mínimo possível.
Por exemplo, queremos comprar um automóvel, mas temos um para vender. O vendedor dirá que faz um desconto no que vende e uma oferta generosa no que compra por troca. Nós os compradores, o que queremos realmente saber é quanto temos de gastar no total para ter o carro novo na troca pelo velho. Pouco nos importa que o desconto no novo seja maior ou que a valorização do velho seja maior. 
Vem isto a propósito de Finanças do Estado. Por mais que me digam ser importante ter uma estratégia de redução dos Impostos, isso pouco me diz. Para que pago impostos? Posso pagar para me garantirem saúde, educação, infra-estruturas, segurança, por exemplo, ou pagar apenas para me garantirem que o Estado seja responsável apenas pela Defesa, pela Polícia e pela cobrança dos impostos e depois quererem que eu pague a minha saúde, a educação dos meus filhos, etc. Ou seja, dizerem que vão reduzir os impostos, não quer dizer que eu vá pagar menos por aquilo que preciso... Aliás, quando em alternativa, me vão dar saúde administrada pelos banqueiros que eles representam, o que vai acontecer é que eu vou, na melhor das hipóteses, transferir o que pagava em impostos ao Estado para a companhia seguradora com a agravante de eu ter a possibilidade teórica (pelo voto) de controlar o uso do meu dinheiro quando é administrado pelo Governo e deixar completamente de o poder fazer quando isso vai depender de uma entidade privada de que não sou accionista. Eu até percebo o ponto de vista deles, a partir de certa altura, eles que vieram dos Bancos para o Governo, até já vão quase deixar de precisar de estar no Governo para conseguirem os seus objectivos. Ou até não, porque precisarão de manter a situação e impedir que o processo regrida. Por isso, mantêm no Estado as Polícias e as forças armadas para as necessidades eventuais da sua defesa. A chamada defesa do Estado (mas aqui o Estado não somos nós, são eles!)
Por mim, faria o negócio de outra maneira: até nem me importo de pagar impostos desde que as minhas necessidades de gastos sejam inferiores às que me oferecem agora pagando menos impostos (pagarei menos?). A falácia do menos impostos não colhe. Expliquem para que são os impostos, depois façamos o negócio, ok. Logo direi se me interessa ou não pagar menos. Até prefiro pagar mais e controlar de alguma forma os gastos do que pago, do que pagar menos e ficar completamente dependente, sem capacidade de controlo. Por isso tanto me aflige ver privatizar tudo. Quanto mais privatizam menos poder tenho eu e vocês todos. Mais poder têm os todo-poderosos banqueiros e companhia. Se calhar é por coisas destas que o fosso entre os ricos e os pobres aumenta cada vez mais, que a riqueza se vai concentrando num grupo cada vez menor de ricos cada vez mais ricos.
Mas tudo isto é muito pouco relevante. Basta ver os telejornais dos últimos dias em que só o fogo e o futebol são importantes. Meu país F... (de fantástico? ou não!)

segunda-feira, julho 26, 2004

Serviço público?

Serenamente o país vai ardendo, às vezes com encerramentos de auto-estradas, grandes filas de indecisão, sem informação nem nos placards da Brisa nem nas rádios, que, à hora do fogo, transmitiam animadamente os lances do jogo Benfica-Real Madrid. Ainda assim, aquela hora, havia uma audiência muito maior para o relato do que as centenas de ouvintes fechados nos carros nas filas da auto-estrada. E o critério da moda é o da satisfação do maior número, ainda que o desespero possa atingir as minorias.
Se queremos serviços nossos, isto é, públicos teremos de os pagar, não podemos ficar à espera que os privados façam o papel do sector  público. Por isso, cuidado, não deixemos que nos privatizem tudo o que é nosso.

domingo, julho 25, 2004

A retoma

Ontem o Expresso noticiava que «carros de luxo registam vendas record», hoje no Público ficamos a saber que o rendimento social de inserção foi negado a metade dos requerentes.
Ou seja o país cresce no sentido certo, temos alguns ricos muito mais ricos e temos mais dos muito pobres.  Uma tendência que, aíás,  qualquer mente liberal e bem formada com princípios social-cristãos, achará profundamente natural. Com efeito, só revelará que os que trabalham (quantos? trabalharão realmente?) progridem, os que nada fazem, os parasitas da sociedade têm a justa recompensa (fim do subsídio, quem não trabalha, não mama dos Impostos) e o Ministério terá de lhes dizer com clareza, Vão roubar para outro lado! Sinceramente, acho mesmo muito provável que lhes vão seguir o conselho e é de toda a conveniência que investamos um pouco mais em segurança.

sexta-feira, julho 23, 2004

Cantemos

Então agora levam-mos aos pares. Num só dia o Carlos Paredes e o Serge Reggiani. 
Eles partem, mas ficam no que nos deixaram. Nunca vamos esquecer, por exemplo,  Le deserteur, que aqui fica para quem não nasceu a tempo de a ter cantado (mas ainda estão a tempo):

Monsieur le Président

Je vous fais une lettre
Que vous lirez peut-être
Si vous avez le temps
Je viens de recevoir
Mes papiers militaires
Pour partir à la guerre
Avant mercredi soir
Monsieur le Président
Je ne veux pas la faire
Je ne suis pas sur terre
Pour tuer des pauvres gens
C'est pas pour vous fâcher
Il faut que je vous dise
Ma décision est prise
Je m'en vais déserter
Depuis que je suis né
J'ai vu mourir mon père
J'ai vu partir mes frères
Et pleurer mes enfants
Ma mère a tant souffert
Elle est dedans sa tombe
Et se moque des bombes
Et se moque des vers
Quand j'étais prisonnier
On m'a volé ma femme
On m'a volé mon âme
Et tout mon cher passé
Demain de bon matin
Je fermerai ma porte
Au nez des années mortes
J'irai sur les chemins
Je mendierai ma vie
Sur les routes de France
De Bretagne en Provence
Et je dirai aux gens:
Refusez d'obéir
Refusez de la faire
N'allez pas à la guerre
Refusez de partir
S'il faut donner son sang
Allez donner le vôtre
Vous êtes bon apôtre
Monsieur le Président
Si vous me poursuivez
Prévenez vos gendarmes
Que je n'aurai pas d'armes
Et qu'ils pourront tirer
 
É preciso continuar a cantar, é urgente lembrar. Até se pode adaptar livremente. Mas gritar sempre, porque há coisas que devemos continuar a não fazer, pela defesa de causas maiores.

quinta-feira, julho 22, 2004

E agora?

O emigrante José Manuel já tem emprego! Já vai hoje à Ópera ver Wagner.
Que futuro te espera, Europa?

quarta-feira, julho 21, 2004

Chamem-me Zé, Zé Ninguém. It's fine!

EUROPE: 'Mr Nobody' shows thirst for success as he prepares to drink from 'poisoned chalice'
Caíu o Durão, nasceu o Zé, Zé ninguém. E agora pomos a bandeira azul das estrelinhas na janela, cheios de orgulho e gratos pela honra que nos deu ao ir-se embora? Senhor Presidente, aproveite para dar os parabéns ao seu amigo... o noso país está maior, finalmente.

Um rosto de mortes


On Wednesday, a 1st Infantry Division soldier became the 900th U.S. military death in Iraq since the beginning of the war in March 2003. (News in Yahoo.com)
 Posted by Hello

terça-feira, julho 20, 2004

Anúncio

Troco um sábio de doenças (ou mesmo vários) por um médico de doentes. Ainda há por aí algum?

segunda-feira, julho 19, 2004

Desencanto

Quando se ouve falar em linhas do Governo a serem definidas hoje, alguém pode pensar em orientações, em programas. Neste caso será mais em novelo emaranhado, daqueles que demoram tempo a dobar, as chamadas linhas com que o Governo se coze. Acontece, às vezes, que é necessário voltar ao princípio, porque os nós não deixam avançar mais. É nessa altura, que devem surgir pontapés para a frente, rupturas na linha e seja o que Deus quiser, que eles acreditam. Será que mais alguém acredita? Até agora, pode pensar-se que a ser bom este Governo, meio mundo anda enganado. O senhor Professor na sua missa dominical de ontem atirou-se ao homem como gato a bofe. Ninguém na oposição diria tão bem deste Governo. Ele não gosta mesmo do PSL. Terá sido porque não lhe apetece deixar a missa e caso o Prof Cavaco não avance para PR (porque será um factor de divisão da direita, não é verdade PSL?) ele poderá sentir-se na necessidade de ir pregar para Belém e lá se vão os pareceres jurídicos e os comentários políticos de que tanto gosta? É uma das hipóteses sentenciou, en passant, o PSL, embora haja outras possibilidades.
O homem da Madeira, também já fez umas flores com o PP e augura-lhe um futuro ainda mais curto que o seu.  São estes os apoiantes deste Governo? Ou isso de apoiantes é um grupo de amigos, metade deles já convidados para o Governo e outros em vias de entrar para um lugarzito algures? Basta lembrar aquela longa fila de cumprimentos na cerimónia do beija-mão de sábado passado.
No PS, a coisa também vai animada. Parece que não terei sido o único a não perceber bem a filosofia do Sócrates e andam por aí à procura de alternativas renovadas à alternativa proposta para a nova esquerda. A propóstito, esta nova esquerda de que lado é que se situa, à direita?
Será que tudo isto acontece porque os cargos políticos estão tão mal pagos? Teremos de ficar limitados ao refugo para dirigir esta empresa meio falida?
Para piorar as coisas está um tempo cinzentão desengraçado que nem dá muito bem para ir até à praia ouvir o mar. Mas que triste fado! Bem feita para o senhor PR, que adiou as férias na Tailândia para ficar a ver esta coisa nacional. Cá se fazem, cá se pagam.

domingo, julho 18, 2004

Eliminação sumária

Ganhou quase todas as batalhas, mas foi de vitória em vitória até à derrota final. A sina de Ferro Rodrigues (Expresso)
Curiosa esta vontade de enterrar algumas pessoas rapidamente, confundindo-se batalhas com guerras, de forma arrogante. Quem não consegue ter da política outra visão que não seja a da estratégia que conduz à tomada do poder, é natural que considere errado que Ferro Rodrigues se tenha demitido. É o que faz o editorial deste jornal este fim de semana onde se afirma que o ex-secretário-geral do PS, só tinha viabilidade à frente do PS numa lógica de poder e que a sua demissão foi esclarecedora a esse respeito. Até parece que nestes partidos (PS, PSD, PP) há outra lógica para se manterem as lideranças que não sejam o poder, o poder que dá empregos, que é o único que verdadeiramente asseguram e por que lutam. Mais curioso, foi verificar que alguns líderes são tão frouxos que nem tendo o poder conseguem calar alguns dos seus companheiros e quando encarregados de formar um ministério têm de recorrer aos amigos.
O direito à indignação, uma atitude de verdade alguma vez na política não conta para alguns analistas. Será que não conta para ninguém?

sexta-feira, julho 16, 2004

Show em slow motion e com muitas repetições

Este país é agora uma enorme passadeira ( cor de laranja e tons de azul, que isso de passadeiras vermelhas é em LA) por onde desfilam, um a um, cada um em seu dia ou aos pares, os futuros ministros. Todos a caminho do seu cyberministério. Sem pressas, que todos os dias tem de haver notícias, o espectáculo é diário.
Lá mais para a semana, farão os discursos de posse e depois the show must go on sob a batuta do Mestre de Cerimónias PSL!
Tudo sob o olhar vigilante de Sua Exª o Senhor Presidente da República.
 

quinta-feira, julho 15, 2004

Nós e os outros

Curioso este relatório de desenvolvimento elaborado pelas Nações Unidas. Nem me interessa que tenhamos recuado três lugares, o que achei mais curioso foi a posição de Cuba (um país cercado e sem recursos)comparativamente, por exemplo, à do Brasil (um país aberto e cheio de recursos).

Alternativa, renovação, abertura?

José Sócrates oficializou esta tarde, na sede socialista, a sua candidatura à liderança do PS, afirmando que quer construir "um partido da esquerda moderna", que seja uma "alternativa" de poder, renovado e aberto à sociedade.
Não sei o que é esquerda moderna, alternativa não me soa lá muito bem (tem conotações estranhas), renovado (que quererá dizer, irão expulsar alguém?, até que idade se poderá entrar?, aberto (estaria fechado?).
Tentei ler e ouvir, sinceramente, não percebi. Ou isto não quer dizer nada ou é ainda pior que isso. É uma primeira impressão ...

quarta-feira, julho 14, 2004

País adiado

Decidi dar à actual maioria a oportunidae de formar um novo Governo Disse-o JS e está quase. À partida a perspectiva é de 2 anos, mais de 700 dias. Agora, façam as contas a quantas horas, minutos e segundos. E cada segundo é o momento mais importante da vida como diria Vergílio Ferreira:
Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver outro.
Por isso me custa este adiamento, mais um.


terça-feira, julho 13, 2004

Esperança

Não é todos os dias que se tem a oportunidade de ler o que sentem os que estão do outro lado. Por isso achei importante ler e dar a ler esta história de resistência.
Relativizar as coisas é uma boa forma de estar vivo. Aprender a lidar com estes problemas é coisa que ocupa pouco tempo nos curricula de formação das Faculdades de Medicina, onde a ideia omnipresente da ciência e do êxito profissional muitas vezes não tem em conta a geração dos sorrisos.

segunda-feira, julho 12, 2004

Neruda:

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,quem não encontra graça em si mesmo. Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoínho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos. Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

Sejam felizes na vossa relação virtual

O e-governo do futuro está a ser parido num encontro surrealista para os lados de Belém. Dentro de dias teremos finalmente um governo virtual e em banda larga com ministros dispersos por aí (sugiro para sede do Ministério do Turismo, o Gigi), liderados por um homem sem dormir até que o desemprego acabe.
Desejos de boa navegação à nova maioria Sampaio-Santana.
Por mim vou até aqui ouvir Neruda.

domingo, julho 11, 2004

Obviamente, demitia-me (se pudesse)

Na verdade o último post, apesar de ter sido colocado só hoje, foi escrito na sexta-feira ainda antes de ouvir a demissão de Ferro Rodrigues. Nessa altura fiquei algo surpreendido, depois percebi que a vida na política não deve ser sempre e só dirigida pelo efeito dos actos que se tomam. A política deve ser também verdade e sentimento e não o espectáculo do politicamente correcto. Por isso, apesar da falta que irá fazer, porque me parece ser de uma esquerda sem alternativa no seu partido, a demissão de Ferro Rodrigues poderá ter valido a pena. É preciso, que alguém neste país, mostre o que é a indignação. Indignado, Saramago criticava hoje tanta demissão. Será que também se não demitiu quando foi para a ilha?
Às vezes, só tenho pena de eu, um cidadão vulgar, não se poder demitir também, por exemplo, de pagar impostos nesta terra. Ainda assim, sentia-me melhor a pagá-los noutra onde todos pagassem.

Freud ou Maquiavel no Portugal minor(itário)

Terá sido por ser sexta-feira, dia dos azares? Esta questão coloca-se dada a onda supersticiosa que recentemente nos invadiu sem nos valer. Mas pode, somente, ser o nosso azar costumeiro, a nossa cor cinzenta na altura do enrolar das bandeiras. O fado triste voltou nesta vaga de lágrimas mais ou menos contidas nas barragens dos olhos. Nesta semana desde o Presidente ao Paulo Bento todos choram de emoção. Outros certamente, choraram com motivos bem diferentes, mais válidos, talvez. De raiva.
Apesar de tudo, a decisão do senhor Presidente não deixa de ser surpreendente, mesmo num país com história de tendência para a asneira e para a perda de oportunidades. Não duvido que Jorge Sampaio seja intrinsecamente um dos políticos portugueses potencialmente mais honestos, como está expresso na sua carreira, apesar de aqui e além haver algumas hesitações de opções, se calhar próprias da sua origem de classe. Mas, no conjunto, poderá ver-se uma carreira bem gerida sem cedências a facilidades. Foi isso, o seu passado histórico e uma imagem de alguma firmeza nas convicções que o levou onde está pela segunda vez. Ainda recentemente, o seu distanciamento face à Guerra do Iraque sugeriu que tínhamos homem.
Nesta crise, contudo, embrulhou-se, ficou atado das ideias, esqueceu o fundamental do seu programa, ignorou os seus apoios, andou a ouvir tantos notáveis que ficou surdo, incapaz de se ouvir a si próprio. Baralhado com tanta opinião, decidiu não querer saber o que nós pensávamos e aderiu ao programa do Governo, exigindo que se cumpra nos próximos dois anos. Ainda assim me questiono, por que terá decido desta maneira? Penso que pode ser por dois motivos.
Primeiro, Jorge Sampaio é uma personalidade complexa (um bom case-study para Freud), muito preocupado com a missão e a coerência dos seus actos, a olhar fixamente para o seu lugar na História. Estas pessoas geralmente, esquecem a vida, o momento de hoje. E hoje é quando as decisões têm de acontecer e isso causa-lhes uma angústia imensa. Em vez de rir, dói-lhes o estômago. Depois, têm uma necessidade quase anormal de imparcialidade e aqui factores subjectivos podem traí-los. Certamente, estaria de cabeça mais livre se a decisão que lhe apeteceria tomar não fosse a que queriam os seus amigos. Nestas circunstâncias, o receio de estar a ser parcial, a ser levado pelas suas convicções numa decisão que favorecia a sua equipa, levou-o a optar por penalizar os seus. Assim, alivia a consciência de ter sido parcial. Pelo menos tem essa garantia, já não perde tudo.
Segundo, a afirmação de que o Governo terá de manter o mesmo programa poderá ter dois sentidos. Ou decidiu aderir ao programa do Governo, o que ainda assim me parece pouco provável, pois não se percebe como pode este homem apoiar o neo-liberalismo selvagem desta gente, ou então, maquiavelicamente, perante a constatação de que dois anos já bastaram para fazer nascer no país uma forte oposição, decidiu condenar os seus adversários ideológicos de ontem, a prosseguirem sem desvios, o caminho que gera mais estragos, fazendo proliferar o descontentamento durante mais dois anos. Se recentemente, os resultados estiveram à vista imagine-se o que será daqui a dois anos! É a lógica do post que aqui deixei há uns dias atrás. É uma estratégia dura, difícil, mas que foi também a primeira que me veio à cabeça num primeiro momento, antes de ter ouvido os banqueiros. Depois disso e apesar do gozo pessoal que pudesse causar, acho que não mereceríamos mais esta provação.
E aqui chegados, ficámos, de repente, com um país minor, governado por uma minoria não eleita, que é nomeada por um Presidente com apoio minoritário. Sim, aqui lhe digo que hoje perdeu o meu voto (teria decidido da mesma forma se estivesse no primeiro mandato?) e estou convencido de que não perdeu só o meu. Provavelmente, limitou-se a ganhar um lugar minor na História que tanto preza e onde poderia ter ficado como um exemplo de líder que gostava de ouvir o sentir do Povo. Não teve faro político, mostrou preferir o sofrimento à alegria (não é por acaso que se é do Sporting!). Hoje, nas cidades deste país não houve festa, o povo não saiu à rua ao lado do seu presidente, as bandeiras ficaram tristes, teimosas, penduradas nas janelas. A festa nas cidades não existiu. Em vez disso, já se pressente um pequeno festim privado na Kapital. Esperemos pela reportagem nas Luxes das semanas que virão.

sexta-feira, julho 09, 2004

Facilidade da escolha (da outra)

O que escolhemos quando escolhemos? O que muitas vezes acontece, é que três meses depois das eleições já ninguém votou no poder, só se vêem votos na oposição do momento. Qualquer oposição parece ter ganho as eleições três meses depois de um Governo ter chegado ao poder. Ninguém é responsável pelo que aconteceu e três meses depois de eleito qualquer Governo é um desastre de popularidade. E se as pessoas, passados três meses, já não sabem em quem votaram, imagine-se o que aconteceria se lhes perguntássemos quais as linhas do programa que votaram. Quanto mais ao fim de dois anos. Já ninguém se lembra. É curioso, este sentimento de clandestinidade que as democracias atribuem ao voto, como a subentender que pode ser um acto mais ou menos aleatório, pelo qual ninguém nos pode pedir contas. O voto deve ser secreto e estranhamente até se acha que isso é uma garantia. Garantia de cobardia, de não assumpção da escolha que permite mentir três meses depois de aqueles que se escolhem estarem a tomar atitudes indefensáveis? Há alguma coisa no sistema que nos impede de achar que o voto assinado, de braço no ar,é uma forma superior de responsabilização e seria até uma forma de combater a fácil cobardia que, estranhamente, aparece nestas democracias promovida a valor. Ou será que não temos mais cuidado naquilo que fazemos quando temos de assinar o acto? Ou será que o acto de votar, é um acto menos importante do que uma declaração que fazemos? Será por ser assim tão pouco importante que se vota cada vez menos?

quinta-feira, julho 08, 2004

Intervalo - Nova York 2004


 Posted by Hello

10 de Junho
No dia que já foi da raça e que agora é feriado muito simplesmente, nem se dá lá muito bem por que motivo, vou até New Jersey, onde os emigrantes devem, seguramente, saber porque farão uma Parade neste dia.
Emigrante parece ser a senhora que faz check-in à minha frente. Trazia duas garrafas de água- ardente para levar para os seus parentes da América. A funcionária, explica que por razões de segurança as não poderá levar junto da bagagem de mão. Trata-se de uma substância inflamável, terá de as deixar mesmo ali. Ai isso, é que não deixo, se não as posso levar, vão para a sanita, vocês é que a não bebem.
Acho que isto revela, antes do mais, um conflito mal resolvido com o poder dos tempos em que o dia era da raça, uma desconfiança e um desejo de desobediência dentro do possível. Se não o posso fazer, vocês também não vão aproveitar, ou melhor, o que vocês querem é mamar à nossa custa... Melhor seria que fosse uma indignação contra uma norma absurda, por mal pensada, ilógica, simplesmente um conflito entre um povo que improvisa e é generoso e um que obedece cegamente a tudo o que lhes vem prescrito de cima. Nesta companhia americana o absurdo vai ao ponto de se não poderem transportar garrafas de aguardente caseira, podendo transportar-se qualquer bebida alcoólica comprada na free-shop, ou de ser proibido o transporte de um corta-unhas, nada havendo a opôr ao uso de facas e garfos de aço que nos entregam com as refeições ou aos corta-unhas que se vendem depois de passadas as verificações. È mesmo assim, estes americanos não pensam, não há volta a dar-lhes.

Do aeroporto a Manhatan, pode ir no nosso autocarro por 13 dólares, mas se quiser vá de táxi, são 50 dólares mais as portagens e as gorjetas. È assim, com esta transparência que se nos é posto o problema. It’s up with you! Liberdade de escolha, informada com dólares em fundo.

O Radio City Apartments na 49th St é um hotelzinho simpatico, limpinho e asseado onde se conseguem diárias na zona mais central da cidade por cerca de 120 dólares, isto é pelo menos metade do preço da concorrência com camas mais largas e corredores amplos já para não falar do hall de entrada de tons dourados. Aqui não haverá espaços desperdiçados. Mas quando quiser voltar a NY, com a ideia de não passar muito tempo no hotel, de o usar apenas para dormir, esta será uma opção simpática. São simpáticos os funcionários da recepção, os acessórios como ferro de engomar, secador de cabelo, por exemplo; simpático também a água ser quente e não haver ruídos incomodativos excluindo-se o do ar condicionado.

Numa primeira deambulação pela rua, sente-se o formigueiro incessante sem destino. À volta ouve-se falar muito em espanhol, pareceu-me que os hispânicos cresceram também por aqui. Onde estão os executivos de copo de leite na mão? Provavelmente, já terão recolhido ou será que emigraram? Serão as contradições que o Império está a tecer?

11 de Junho

O MOMA está transitoriamente em Queens. Para lá se chegar são uns minutos de Metro. Convém é a apanhar na estação certa, casos contrário a aventura pode demorar mais de uma hora com a oportunidade de vermos demoradamente o bairro a partir da linha do metro. São casas baixas, pinchadas geralmente, com ar de Cuba, mas sem sonho. Antes com uma realidade de miséria bem pesada.
O MOMA é uma amostra do que é. Terá de se esperar até para o ano para se rever na localização habitual, então já expandido e seguramente melhorado. Por hoje valeu uma exposição de fotografias de moda. Será ou não arte? Dou comigo a pensar que Arte será produto de criatividade, o resultado de uma atitude de imaginação, geralmente, não repetível, isto é, única, independentemente da técnica utilizada. Assim, se o fotógrafo concebe uma composição e se não limita a encontrar o motivo de forma esporádica e depois capta o resultado, a sua obra não andará muito longe da obra de arte. Por entre estas meditações regresso a Manhatan frente a um casal de homeless a caminho da colheita do dia.


A propósito da orientação no Metro da grande cidade direi que o caminho se encontra mais facilmente nos mapas e nas pessoas que no esquema de apoio do Metro da Palm. Nem sempre as tecnologias nos poupam tempo e quase sempre só dão respostas quando sabemos as perguntas certas.

O Ground zero começa a ter vários níveis e já dispões de uma estação de Metro. Começa a renascer, só de longe continua em toda a sua extensão de grande buraco. Apreciável a partir do Ferry que vai para State Island. Uma viagem recomendável ao pôr do sol para topar a skyline amputada da cidade.


Noite na Village, no Blue Note a ouvir Arturo Sandoval e o seu trompete em jazz caribenho. Depois, vaguear por ali, com sons e imagens de néon e candeeiros pequenos ou velas sobre as mesas de namorados dos mais variados sexos.

12 de Junho
A decepção da FAO Schwarz fechada para remodelação. Gosto tanto de olhar para aqueles bonecos enormes sempre a mexer. Há certas coisas que deviam estar sempre abertas na cidade.
Dia de Parade Indú em formação em Central Park. Não são muitos, mas exuberantes quanto baste e ficam bem na tranquilidade daquele parque, onde o silêncio surge e os esquilos saltitam, levando-nos, subitamente, para fora da cidade.

O MET Museum é um daqueles espaços de peregrinação obrigatória na cidade. Vale a pena olhar para o exposto e para as gentes que lá andam. Para uma T-shirt, por exemplo: Champions dont talk, they perform. Mais mensagem que muitas vitrinas, infindáveis.
Deixar-me ir ao sabor do que acontece no Museu, garantindo sempre a passagem pela exposição de Impressionistas. Essa tenho de vê-la de cada vez que volte. Hoje, pode fazer-se uma visita guiada pelas obras principais (assim chamada). Cerca de uma hora para saber que Picasso dizia que todo o quadro é uma mentira, embora nada melhor que eles para vermos a verdade. Nada está representado, só lá está, exactamente, o que cada um de nós consegue ver. Este é o gozo de olhar para obras de arte, procurar.

Por exemplo, a possibilidade de encontrar toda a carga de erotismo insuspeito num quadro de Vermeer, às vezes com recurso a análise por raios X.
Ao fim de umas horas de deambulação para alegria dos olhos, ainda apetecia ir até ao Lincoln Center em época de defeso parcial. Ainda foi possível arranjar uns bilhetes para o Lago dos Cisnes na segunda-feira e continuar a olhar a feira da ladra alia o lado.

Noite para experimentar o Village Vanguard na Seventh South. Tínhamos ouvido a banda no Estoril no ano passado. Só isso nos faria descobrir esta pequena porta vermelha ao cimo das escadas de acesso à cave. Um copo e um trio com piano, baixo e bateria para saborear no início da noite de sábado, sentido, de quando em vez, a vibração do Metro a passar-nos por baixo.

13 de Junho
Lá longe é dia de eleições e Santo António nos valha. Lá se foi a minha possibilidade de candidatura a Presidente.
Aqui também é domingo, um dia bom para ir à missa. A uma missa especial, com música, no Harlem. Começamos por apanhar o autocarro na 8th Av ao nível da 50thSt. Parece um autocarro normal. Mas à medida que sobe, ao longo do Central Park, começa a notar-se que o seu recheio vai mudando de cor. Cada vez menos branco, cada vez mais afro-americano. Nunca tinha andado num autocarro assim. Lá perto da 130th estávamos claramente a mais naquele transporte e saímos. Na rua, os residentes passeiam os seus fatos e chapéus de domingo, como em cenários de outros tempos. Bem mais agradável do que há uns anos quando aqui assistimos a cenas de pistola e perseguições.
Sem receios especiais fomos até à Abissinian Baptista Church, onde uma fila para a missa das 11 dava a volta ao quarteirão. Uma mancha de brancos em terra de negros. A missa como atracção turística. Os fiéis eram mais do que a igreja comportava, mas um funcionário da paróquia tranquilizou-nos. Ao virar da esquina, havia outra Igreja também com cânticos, tudo seria idêntico ao que ali íamos ver. Vale a pena assistir a isto na Igreja Metodista do Pe Durand. Prédicas em gritos, saudações aos estrangeiros que visitam a Igreja, cânticos Gospel e peditórios ao fim de cada canção, saudações a tudo e a todos. Catarse colectiva e sai-se bem disposto para o Harlem que continua na busca do Teatro Apolo, que estava fechado. Vaguear pelas ruas em domingo de manhã de compras na Martin Luther King até chegar ao restaurante Sylvia’s para provar batata doce caramelizada, um bife gigante e feijão frade com couves. Sem bebidas alcoólicas e com mais cânticos passados de mesa em mesa, Às vezes com a colaboração dos frequentadores do restaurante. Não me importo de cá voltar mais tarde. Por agora voltámos à cidade no mesmo autocarro, agora em processo de branqueamento. Na 5th Av fechada ao trânsito, avistamos a festa da Parade de Puerto Rico.

À tarde era dia de Quarteto de cordas em Town Hall. E foi., Só que para turista ignorante não chegou a ser porque fomos para o City Hall, algo bem diferente do Town Hall. E assim, confundidos os vestíbulos, acabámos à porta sem ter música.

Foi um dia cheio de surpresas, com autocarros que mudam de cor e com a constatação de que em NY city e hall são coisas diferentes. O cansaço nas pernas, obrigou a retirar mais cedo, sem música esta noite.

14 de Junho
Último dia na cidade, o dia de compras. Ou nem tanto.
South Street Sea Port, as docas deles, com a ponte de Brooklin ali em fundo. Pena o dia acinzentado, que é bom estar de perna estendida nas espreguiçadeiras o piso superior do Peer a olhar para o ar, tomando balanço e procurando apetite para um Philly cheeseburger, a energia necessária para as compras a seguir.

Há uma semana que andam a enterrar o Reagan, com as imagens em loop da excelsa esposa e dos filhos. Um deles estragou a festa e disse para quem o quis ouvir que votaria em qualquer candidato que possa derrotar o Bush. Esta tudo tão composto, tão comovente e logo havia de aparecer este tipo.

Vale que o pai Bush, saltou de para-quedas na sua proveta idade. Fiquei com pena que não tivesse levado o filhote no passeio, que, às vezes, dar uma boa cabeçada pode ajudar a endireitar as ideias.

Fazer as malas para ida até NO.

Escolher

Escolher é um exercício de ponderação que implica uma análise detalhada da situação, ver o máximo de cada uma das características do produto, a qualidade intrínseca e a sugerida por tantos pequenos aspectos, que existem em muitos deles e podem faltar noutros. Que factores nos atraem e afastam, onde podemos ser enganados?
Escolher acaba por ser um processo de nos encontramos, de procurarmos em nós o que é mais susceptível de ser impressionado e que nos leva finalmente a uma opção.
Escolher acaba por ser um jogo em que nos medimos com o escolhido e com quem no-lo oferece. Temos dúvidas, emoções, conflitos contradições. Nisto tudo gastamos tempo e acrescentamos às emoções da escolha, os conflitos dessa perda de tempo. Sentimos a dúvida de duvidarmos. Será que vale a pena, não será tudo mais ou menos igual, para que queremos fazer a melhor escolha? Ou ainda, será que há uma melhor escolha, não é tudo uma ilusão, uma forma de passarmos uns instantes? E depois de escolhermos, o melhor é ficarmos definitivamente contentes com a escolha. o pior é se continuarmos com dúvidas.
Escolher um carro ou escolher o futuro de um país. Opções difíceis ou umas mais fáceis do que outras. Preferia a segunda. Até porque, no fundo, eram os outros que iam escolher por mim.
A terminar direi que mais fácil seria escolher a frase da semana? Na AR, hoje, uma Sua Exa, recomendou a outra Sua Exa que fosse retirando o equídio da pluviosidade. Não é todos os dias que a eloquência irrompe assim.

quarta-feira, julho 07, 2004

Renascer


Afinal, nada melhor para renascer do que uma boa tempestade Posted by Hello
É assim na natureza. Nos pântanos só a podridão se desenvolve. Há que remexer as águas e não esperar eternamente ou a coisa começa a cheirar mal.

terça-feira, julho 06, 2004

Basta de lágrimas, é tempo de agir.


Na recente passagem que fiz por Itália, vi por todo o lado os cartazes daquele a quem os guias turísticos nos diziam que agora toda a gente chamava de fugiardo (mentiroso). Na altura, lembrei-me de cartazes promocionais que vemos em Lisboa. O estilo é o mesmo, a mentira é a mesma, com mais ou menos música de violino de Chopin.
Entretanto, o Presidente choraminga em entrega de medalhas. Não esperava, mas este Presidente é capaz de surpreender-nos. A ver vamos, depois de ele ouvir muito. Ele foi do pouco poder deste país em que votei. Geralmente, dou o meu voto aos derrotados. Terá valido a pena ou teremos que nos fazer ouvir? Posted by Hello

domingo, julho 04, 2004

Tragédia ou talvez não

Regressámos à normalidade, ao nível onde geralmente vivemos, apesar de se observarem algumas resistências, algo induzidas, aqui e além. É este o tempo de se reflectir sobre o que aconteceu.
Numa pequena região da Europa, há um país de resistentes como nas histórias do Astérix. Um grupo de tipos desenrascados, algo brigões, alguns dos quais caíram no caldeirão quando eram pequeninos e são a chamada geração de ouro. Nesta terra há duas realidades, uma que é a mais abominável de todas chamada trabalho e organização e outra que é o super-valor que é a capacidade de desenrascar a coisa. Esta segunda mostra uma das grandes características destas gentes, a sua inteligência superior, isto é, a possibilidade de resolverem os problemas com que se vão deparando, de forma bastante eficaz.
Às vezes conseguem iludir-se completamente nuns acesso de fé em que atingem os objectivos antes de lá chegarem. Nos últimos anos, instituíram um reforço desta estratégia de funcionamento mental com a ajuda dos meios de comunicação. São os chamados 15 minutos de fama. Vem-se do quase nada, é-se promovido de forma exaustiva pelos meios de informação, com as televisões com papel dominante, até se atingirem níveis muito altos de glória e sonho provocando-se, desde Timor, uma estimulação de adesão popular a esta forma de estar, que se exalta até ao limite. É o esquema Big brother em marcha. Depois, bem depois, os Zés Marias não se aguentam e a queda é a pique. Pelo meio fazem-se preces, promessas, bruxedos se necessário. Desta vez, houve superstições com gravatas, gente que via os jogos só em determinados sítios, outros que nem os podiam ver por darem azar. Subconscientemente, parece que se não acredita, por isso se apela à ajuda do sobrenatural, não será? A sorte que é precisa por o trabalho, talvez, não ter sido suficiente. Como os alunos que não estudam a matéria toda e vão ao exame confiando na sorte de terem estudado as partes que vão sair...com os resultados habituais a seguir. Sinceramente, custa-me a crer que se deva à sorte perder duas vezes em casa contra a mesma equipa, mas sou mau analista. Espero pelos comentários do Professor Marcelo.
E depois do acidente? Procura-se, claro, o culpado. O culpado é um tipo que nos dias anteriores era quase santo, mas que rapidamente vira uma besta e com o passar dos dias a coisa vai agravar-se, sobretudo, quando, daqui a algum tempo, surgir outro deslize. Deus ou Diabo desta história se há-de tornar.
Afinal o que se passou não era assim tão importante. Era uma competição de futebol entre selecções que presumivelmente o praticam bem por serem as melhores da Europa. Portanto, seriam de esperar bons jogos. A coisa esteve bem organizada (só três dias depois dos peritos da UEFA terem elogiado a organização, os nossos políticos, perante a derrota, realçaram este facto; até aí era necessário não falar em trabalho, optava-se pela cor das gravatas da sorte), não houve ataques terroristas nem acidentes estranhos, os árbitros actuaram bem, reinou o fairplay, foi até uma festa bonita, quase desportiva. Pena foi a despropositada hipertrofia do entusiasmo, que nada justificava. Realmente, seríamos hoje melhores se tivessemos ganho, seria isso tão importante? Era com isso que curávamos os males de que sofremos ou seria, eventualmente, o contrário por isso nos afastar ainda mais das soluções? Em resumo, o futebol é um jogo com algum interesse estético, mas a alegria e sofrimento que determina nos que o vêem continuam hoje a ser, como ontem eram, alienação, catarse. E não será por isso, que estes fenómenos são promovidos até limites da irracionalidade pelos donos do poder?

Unidos até à vitória!

Aqui chegados, é muito importante que se aproveitem todas as oportunidades. Hoje, uma vez mais, é fundamental estarmos concentrados e não desperdiçarmos as hipóteses de baliza aberta que se nos deparem. Todos, temos de estar atentos e jogar certeiro, de forma incisiva, sem piedade pelo adversário. Ele é fraco, joga à defesa e é oportunista, não tem fibra e uma vez mais mostrará a sua insuficiência se o soubermos apertar bem, se formos acutilantes. Não nos deixemos enganar pelo seu jogo matreiro, que parece dar-nos a iniciativa, mas saibamos que está sempre à espreita de um contra-ataque que nos pode ser fatal. É importante que na fuga que já se adivinha leve mais uma recordação de Portugal. Apesar da euforia que vos invade, do estado de alma em que têm andado nas últimas semanas, vocês os números 12 deste país, não podem hoje estar distraídos, porque a vitória ainda não é certa. Só se consegue pela acção e a vossa é importante. Vocês são mais de 55000 e terão o papel de começar a lutar pela vitória de Portugal ainda antes do jogo começar. Nós, os que vamos ficar em frente do televisor, teremos os olhos postos no vosso comportamento e esperamos que não percam esta oportunidade de apoiar Portugal: Quando avistarem o Durão Barroso a chegar ao camarote, queremos ouvir uma vaia de mais de 2 minutos, sem cessar, para que comecemos a ganhar. Força, portugueses!

sábado, julho 03, 2004

Sophia

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



Os outros morrem, mas tu não!

sexta-feira, julho 02, 2004

Um contributo a favor de eleições antecipadas

Apesar do gozo enorme que me daria ver continuar a asfixia da direita, o crescer dos desentendimentos nessa família, saber a marca do cão que o PP não vai comprar (possivelmente porque sabe muito bem morder sozinho), vir a saber que novos buracos iria o PSL abrir pelo país fora, começam a chegar argumentos que, definitivamente, me colocam do lado dos que defendem eleições antecipadas. O Expresso online, alerta para a opinião dos banqueiros e este sim, é um argumento importante para não aceitarmos um novo governo de direita. A história ainda não chegou ao fim e a luta de classes ainda continua. Pode estar menos nítida nos contornos, mas as posições de cada um dos lados da barricada têm e devem ser assumidas. Para mim é simples, se eles estão desse lado, o meu lugar é do outro lado. Democratas de todo o país, uni-vos! Exijamos que o Senhor Presidente não vá em futebóis (já agora espero que não vá vestido com a camisola da selecção à final...)e que tome a decisão difícil, mas necessária ao país: Demita-os e deixe-nos dar opinião!
A propósito de futebóis, gostava que convidassem o DB para a final para estar exposto em lugar bem visível... Já ando com saudades duma daquelas vaias de Catedral.

quinta-feira, julho 01, 2004

Unanimidade fatal

O futebol sem casos é uma maçada. Ou faz sofrer até aos limites como parece que foi com a Inglaterra e o extravasamento é compensador ou as vitórias esperadas não têm história nem comentário. Parece o Benfica dantes. Bom mesmo é discutir os erros dos árbitros e dos treinadores. Vem isto a propósito do silêncio da barbearia a que fui hoje. Sem histórias nem despiques, uma sensaboria. E eu que já lá tinha ouvido tantas do Scolari, um gajo que veio para cá encher-se à nossa custa e que não percebe nada de futebol, até parece que não há treinadores em Portugal, blá, blá.
Pois é, isto dos consensos é um tédio. Dá jeito uma Manuela Ferreira Leite, um Pacheco Pereira, coisas dessas. Se não temos isso, fica-nos o silêncio. Quem numa barbearia de homens, à antiga sem híbridos, se lembraria de comentar o estilo cinha-like da primeira dama, ontem em Alvalade? E claro, nem pensar em falar do PSD, que isso dos políticos são obviamente todos iguais. Sinceramente, estou convencido que igual ao PSL deve ainda assim haver poucos e nem sequer tem a piada triste do amigo da Madeira.