sábado, setembro 27, 2003

Fim de semana 2º dia

A planura lá em baixo cheia de castanhos, dourados e verdes enche-nos o olho logo pela manhã.
O caminho hoje começa na direcção de Beja, com a intenção de antes de se chegar a Pisões, virar à esquerda para Quintos e depois seguir para Vale de Russsins . No cruzamento que dá acesso à terra, a estrada acaba ou seja segue em frente por um estradão e é por aí que se avança. Sempre em frente até surgir no cimo de um monte à esquerda uma camioneta de passageiros. Deixamo-la à esquerda e continuamos sempre em frente até começarmos a descer para a ribeira. Lá chegados, temos de a passar (fácil está seca) e começar a subir uma estrada direita ao céu e seguir sempre em frente à espera de encontrarmos finalmente Amendoeira. Surge depois de seguirmos por cima de vários montes de sobreiros e ao fim de uma estrada ladeada por um aramado limitante de vacas. De repente, algum alívio por se ter voltado ao asfalto e vermos logo em frente as placas a anunciar o Pulo do Lobo. Desce-se sempre aconselhados pelas indicações até ao parque de estacionamento lá na margem direita do Guadiana. Um local deserto, com o silêncio só cortado pelo rugir da água que subitamente acalma num extenso lago, onde o rio quase parece ter parado. E ninguém a toda a volta.
Há então que seguir até Mértola, voltando à Amendoeira.
Mértola é uma mancha na encosta na margem direita do Guadiana. Um castelo e uma Igreja Matriz que antes fora Mesquita e uma visita ao Museu islâmico, onde um filme mostra hábitos comuns em árabes e portugueses. Afinal, somos um bocado pretos também senhor PP e não aprece vir ao mundo nenhum mal. E volto a não perceber as Cruzadas do Bush e Cia.
Seguimos depois na estrada para Serpa até chegarmos ao desvio para Pomarão, que tomamos para chegarmos a este porto fluvial onde alguns iates esperam no meio do rio. Nas paredes do café os sinais de cheias antigas em dias bem menos calmos que os de hoje, certamente.
Regressar em sentido contrário pela estrada que lá nos levou e seguir na direcção de Santana de Cambas onde entramos para iniciar a descida para as Minas de São Domingos, pela estrada que lá ao fundo ocupa a velha linha de comboio das minas. Passadas algumas pontes com lombas respeitáveis, entramos numa paisagem de chão amarelado aqui e além matizado de vermelhos mais ou menos escuros e finalmente, chegamos às ruínas das minas. Vêem-me à lembrança por momentos, paisagens de Yellowstone.
Seguimos depois para a vila das Minas onde alinhadas as casas do bairro operário, têm ruas de terra batida como as das cidades do deserto na Tunísia. O mundo não é assim tão diferente... As pessoas também e garanto, as classes ainda não acabaram!
Volta-se à estrada de Serpa até aparecer, em Vale do Poço, a indicação de Pulo do Lobo, agora a ser visitado na margem esquerda já perto do pôr do sol.
E pronto, o dia acaba na esplanada do café Alentejano na praça da Câmara de Serpa, onde possíveis professores tomam café depois das notícias do ranking e cachorros soltos vão correndo de um lado para o outro despreocupadamente. Como tudo o que se passa por aqui... Eu começo a estar preocupado... com a semana de trabalho a começar já amanhã à noite. Calma que amanhã ainda é dia útil até às nove da noite!

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Públicos e privados

A campanha prossegue. Como quem não quer a coisa e envolvidos na capa de objectividade, os nossos órgãos de informação vieram hoje dizer-nos como grande conclusão que os melhores colégios são os privados. O São João de Brito é o maior! Óptimo, a mensagem está passada: se querem que os vossos filhos cheguem a Medicina, ponham-nos neste colégio de excelência. Cuidado com as escolas públicas, aquilo são professores de segunda. É como os médicos, alguns só trabalham na «Caixa»... Os pobres dos «cientistas» que fizeram este «estudo», esqueceram-se de nos dizer alguns dados como por exemplo, de que classe social são os alunos das escolas privadas e das públicas, o que aprenderão em casa uns e outros, será que se fossem usados alunos equivalentes nessas variáveis, os resultados dos colégios públicos seriam iguais aos das escolas privadas?
Não é justo ter de ouvir estas barbaridades a caminho do Pulo do Lobo.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

sexta-feira, setembro 26, 2003

Fim de semana 1ºdia

O plano incluía chegar a Moura o mais cedo possível para fazer por maus caminhos a viagem até Serpa. Não deixámos de ir a Moura procurar o início do trajecto que seria, à vinda da Vila, virar depois da barragem do Alqueva. Só que a barragem tinha fechado o caminho e por isso houve que rever o road book. Passa então a ser assim, depois de passar Alqueva (a aldeia) e a bomba de gasolina da estrada, com uma escavadora candidata a museu colocada no cruzamento vira-se para Marmelar e vamos até aparecer uma capela à direita. Aí sai-se da estrada e entra-se no estradão a subir até se chegar aos eucaliptos, onde se inflecte ligeiramente à esquerda e se inicia a descida até uma estreita estrada asfaltada. Aí chegados, virando à esquerda podemos espreitar em baixo as antigas minas de ferro. Voltando para trás depois de as vermos e sempre no estradão continuamos em frente até chegarmos ao bairro operário das minas onde se pode parar a refrescar a garganta na Cantina, o tasco local. O dono explica-nos que a capela da Orada terá sido mandada construir por um rei que mandava os soldados para as batalhas e ficava por ali a rezar (orar e daí o nome), que o homem não era de ir para a frente de batalha. Mas isto era só naqueles tempos, os nossos reis de hoje bem gostariam de ir para o Iraque, para a linha da frente defender o mundo livre. Só que têm de ficar a mostrar-nos em discursos que a causa do desemprego são os imigrantes (temos dois desses perigosos seres (ucranianos, possivelmente) na mesa do lado a confirmar a tese) e para poderem continuar a cruzada não vão poder ir... Uma pena!
Depois de refrescados, seguimos em frente para Brinches e Serpa sem grandes sobressaltos.
A Pousada de São Gens apesar de algumas deficiências (desconhecimento do pessoal sobre a região, ausência de mapas da região, infiltrações na casa de banho, mau isolamento entre os quartos) promete ser um sítio agradável para estar este fim-de-semana, tanto mais que está com pouca gente.

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

quinta-feira, setembro 25, 2003

A estratégia parece ser mostrar que o serviço público de saúde é ingovernável e entregar progressivamente ou de acordo com o que deixarmos tudo na mão dos privados. Seguradoras, bancos e já agora as Farmácias...
Agora até começam a chegar aos Serviços de Urgência já não só os que antes tinham ido à Farmácia ver a tensão arterial e eram enviados a correr porque tinham a «tensão junta», mas também os diabéticos descontrolados (!!) com 250 mg/dL na picadinha do dedo. Um gozo meus senhores... E isto vai ser pago do nosso bolso. Que também vamos continuar a pagar mais fitinhas, mais agulhas, mais insulina e antidiabéticos orais muito mais caros. E eles vão continuar a ter um livrinho verde, cheio de objectivos e registos em branco, sem nada. E vamos também pagar o tal livrinho verde. E no fim continuarão a ser amputados, a cegar, a acabar na diálise e a ter os enfartes do miocárdio. Em Cuba, descem-se 2% nas hemoglobinas glicosiladas (isto é, controlam-se!) com educação alimentar e apoio médico. Mas esta é outra história que não vende comprimidos, insulina, canetas e tirinhas, nem compensa a Associação Nacional de Farmácias.
Gostei daquela afirmação de que os médicos não percebem nada de medicamentos a propósito dos genéricos. O problema é também que os farmacêuticos sabem pouco de doenças e de doentes nem se fala!
(depois de passar os olhos por um blog de confrade)
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Um abraço senhor Presidente

É sempre incómodo ver alguém com projecto demitir-se. Alguém que acreditou ser possível e compreende já não ser mais possível. São muitas horas de trabalho e de sonho que se vão na impotência de se não poder continuar.
Resta a solidariedade de quem reconhece o que se fez e a consolação da possível absolvição da história. Um abraço para si que não me vai ler quase de certeza.
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

terça-feira, setembro 23, 2003

Direito à vida

Começamos a não ter alternativa no momento em que deixamos de controlar a aplicação da descoberta da solução. Deixou de ser permitido pesquisar para resolver o problema. Hoje pesquisa-se para encontrar uma solução. Uma vez encontrada, compete aos accionistas estabelecer se vai ou não ser usada a descoberta, isto é, impor a sua rentabilidade no mercado. Não basta hoje encontrar-se algo que melhore a qualidade de vida e a saúde das pessoas, é preciso que os doentes tenham a capacidade de comprar o método. Caso contrário, os legítimos proprietários (os investidores) vão negar a sua aplicação, podendo até destruir a descoberta se a acharem não rentável. Desta forma este caminho colectivo que andámos na procura das soluções começa a ter duas velocidades consoante há capacidade para comprar ou não. A partir de agora temos uma Medicina para bons pagadores e outra para os outros, a saúde deixou de ser um direito universal, passou a ter o valor de um objecto material qualquer. Poderia ser assim e não ter consequências, mas a saúde tem outra palavra associada, vida. Logo, a vida passaria, a partir do momento em que este conceito fosse aceite, a ser também mercadoria. Será que chegamos lá? Para compensar as consciências sempre se pode ir com cartazes para a rua barafustar contra o aborto. Pela vida, não é, seus hipócritas embushados?
O direito à vida tem realmente insondáveis dimensões. Não é compatível com patentes de medicamentos contra a sida que impedem a sua utilização no tratamento de populações africanas, definitivamente sem capacidade de pagar. A Santa América de Bush fez um donativo para combater a sida. Generosos ou foi só para facilitar a compra dos tais medicamentos às companhias americanas que os produzem?

Correio: fernandobatista@netcabo.pt

Entrei!

A excitação é imensa, apesar de ser uma história de entrada antecipada. Faltava só a confirmação, o preto no branco. Uma festa entrar para Medicina onde as médias mínimas continuam acima dos 18.
O numerus clausus deve justificar-se pelo mercado, isto é, se a perspectiva é haver excesso de médicos num futuiro próximo. Mais lamentável seria justificá-los pela falta de capacidade de formação. parece que nem uma nem a outra são condições neste momento. Por isso porque será esta limitação nas entradas? Carência de médicos pode ser igual a redução de prescrições, menos despesa com a Saúde. Não acreditamos, pois não?
Correio: fernandobatista@netcabo.pt

segunda-feira, setembro 22, 2003

Subsí­dios

O teatro São Carlos tem problemas por dificuldades de financiamento. Este é um dos temas que recorrentemente me assalta: para as pessoas que lá vão, será lícitoque haja subsídio dos nossos impostos? Os ricos que paguem a Ópera! Pelo menos enquanto a saúde e o ensino forem pagos. Curioso que alguns dos que acham que a Cultura tem de ser apoiada são dos primeiros a aprovar os pagamentos da saúde e do ensino.
E Mail:fernandobatista@netcabo.pt

Abertura ao diálogo

Hoje acrescento uma linha aos textos, o e-mail. Vou tentar perceber se isto é lido por mais alguém...
E Mail:fernandobatista@netcabo.pt

domingo, setembro 21, 2003

Bem comum

Ontem vi serviço público na RTP2. Um documentário canadiano inserido no programa Sinais do Tempo. É de aproveitar antes que acabe!
Falava de bens comuns, o que nos tempos que correm de individualismo selvagem já é quase uma heresia. De forma bastante objectiva foi-nos mostrado que a água, as sementes, a genética, a saúde, as moléculas base dos medicamentos não podem ser consideradas como meras mercadorias. São propriedade colectiva (que horror!) da vida de todos nós. Que lucidez e é tão simples.
Nestes tempos de destruição sistemática do Serviço Nacional de Saúde através do sofoco financeiro dos hospitais públicos para os tornar baratinhos na hora da aquisição pelos privados era bom que alguém tivesse visto a angústia da médica que negou o transplante cardíaco ao doente (matando-o!) e com isso foi promovida (por ter aumentado o lucro do hospital). Era bom que perguntássemos às pessoas se é esse o caminho que querem. É tempo de substituir a miserável pergunta se querem que os impostos sejam aumentados, pela outra que poderá ser querem que os impostos sejam mais bem aplicados? Se calhar, queremos. Queremos ser solidários com os doentes e não defender o ponto de vista individualista e miserável que manda pagar quem está doente. Com efeito, se não tenho doenças por que hei-de pagar? É do individualismo mais abjecto! Pior que isso, só mesmo o negócio da saúde, que no limite consiste em ganhar dinheiro à custa da infelicidade dos nossos semelhantes (era assim que se dizia dantes).
É triste ver os médicos quase entusiasmados com a perspectiva de deixarem de trabalhar para o maldito Estado sem se darem conta que vão mudar apenas de patrão. No entanto, o Estado era ainda controlável, os novos patrões respondem apenas perante os accionistas e não perante o Povo. E o bem estar dessa gente (o lucro) é afinal o prejuízo de todos os utentes que vão ter de pagar pelo serviço o custo mais o lucro.
É urgente lutarmos pela nossa água comum, pelas nossas sementes comuns, pela nossa genética ou qualquer dia os nossos corpos ainda acabarm propriedade registada destes accionistas. As nossas acções (luta sem tréguas contra este estado de coisas) são urgentes! Mas anda tudo cego? Alguém vai aceitar contratos individuais de trabalho nos Hospitais?

quarta-feira, setembro 17, 2003

Ouvi dizer

Alguém contratou alguém para nos vir dizer que a nossa produtividade é baixa. Nada que já não desconfiássemos. Dei comigo a pensar em serviços que conheço. E também concluí que é a produtividade suficiente para justificar simultaneamente alguns dos piores salários para os empregados e dos melhores estatutos de vida para a classe empresarial, na Europa. O que é uma injustiça dupla, pois afinal os trabalhadores portugueses são bons quando bem dirigidos, não é? Então o que não presta é a classe dirigente, a tal mais bem paga...
Hoje, chegou a notícia que Portugal é o país que menos gasta com os estudantes do Ensino Superior. Terá isto alguma coisa a ver com o problema da produtividade? É capaz, continuamos a ser uma terra de patos bravos!
Dois dias seguidos a pensar na territa é preocupante. Só que o Bushismo continua e irrito-me só de pensar que continua a reinar na Terra grande. Pois, mas a história ainda não chegou ao fim. Haja saúde!

terça-feira, setembro 16, 2003

Pecados sociais

Acordei com a TSF a anunciar sete pecados sociais:
1. Egoísmos individualistas, pessoais e de grupo
2. Clivagem entre ricos e pobres
3. Corrupção
4. Desarmonia do sistema fiscal
5. Irresponsabilidade nas estradas
6. Comercialização do fenómeno desportivo
7. Exclusão social
E não citavam Chomsky. O diagnóstico era da Carta Pastoral. Não está mal como programa. Como vai reagir o nosso Santo Governo. PP de mão no peito, pedirá o quê ao seu Deus? Que ilumine os Bispos?

segunda-feira, setembro 15, 2003

País longe

Os suecos querem manter-se fora do euro. Mas mais importante que isso, fiquei a saber que naquele país votam suecos, chineses, indianos, portugueses, quem lá vive e trabalha. Ou seja não há Portas fechadas a separar uns dos outros, nacionalismozinhos pequeninos. Assumem-se globalmente naquela ideia utópica que tenho de ser Terreno. Quanta energia se pouparia. Mas o não no referendo não deixa de me parecer contraditório, tanto mais que algumas forças da dita esquerda, apoiaram esta atitude. Haverá receios de perda de independência face às decisões económicas da Europa? Contraditório ou a abertura é uma miragem?
É um país estranho, frio, de grandes noites e dias intermináveis. Onde os políticos insistem em ser pessoas normais, sem segurança e são misteriosamente mortos. E por que há suicídios no Paraíso?
Há com efeito, alguma irrealidade naquelas paragens. Falta de sofrimento real que ainda assim será preferível a um sonho lúcido? Vi ontem o Vanilla sky, um filmezito apesar de tudo com essa mensagem.

domingo, setembro 14, 2003

Três reflexões sobre a natureza dos homens

1. Num acidente a mota é abalrroada. Fumega no chão. O objecto tinha acabado de sair do stand de vendas e teve o azar de encontrar um condutor meio distraído que não travou o carro a tempo. O motard inconsolável fumegava também e acabou por aliviar a sua tensão aos murros e pontapés no desgraçado do automóvel. Aceitamos amolgar mais facilmente uma pessoa que o nosso objecto de estimação.
2. O que acontece quando um cão assalta a travessa dos bifes? Um grande grito para minimizar os estragos e possivelmente uma vergastada condicionadora. Isto é, um acesso de raiva momentâneo, justificado. Dentro de 24 horas, tudo está esquecido e o bicho volta a ter as festas do costume. E se formos roubados, por um amigo? Contentar-nos-emos com a penalização legal? Será que lhe vamos perdoar alguma vez? Porque será mais fácil perdoar aos animais que aos nossos semelhantes?
3. O Paulo Portas voltou a falar. E descobriu que a causa do desemprego em Portugal são os imigrantes. Claro, os pretos, não é PP? Assim que os conseguir mandar para África vamos deixar de ter desemprego, vai haver uma corrida para as carrinhas paradas junto ao Colombo a contratar pessoal para as obras às 7 e meia da manhã. Todos brancos ou terão de ser loiros também? E fica também resolvido o problema da habitação. Casas abarracadas para todos os brancos desempregados e baratas devolutas nos bairros periféricos da cidade. É da natureza dele.
A boa novidade é que retitrando o socialismo da constituição, o emprego sobe em flecha, passaremos a ganhar como os Europeus e por aí fora. O homem anda com pouca imaginação ou tem mais vocação para partir governos do que para construir. Ele agora nem pode celebrar a recusa dos suecos aderirem ao euro... deve ser por isso que lhe dá para estas coisas. Ou então está a preparar-se para ir com as Forças Armadas para o Iraque...

sábado, setembro 13, 2003

Pausa

Haja agora um intervalo de fim de semana. Finalmente, consegui escrever 3 dias seguidos para mais tarde recordar. É esta a principal finalidade destes registos. Teria sido bem engraçado ter agora, por exemplo, as recordações do crescimento das filhas, os pormenores de quando nos diziam... Pois, terei de ir procurar nos apontamentos, não me lembro.

sexta-feira, setembro 12, 2003

Depois de um dueto imprevisto (com cenário vermelho) na SIC Notícias

Há gente assim, daquela que nega a evidência. depois de afirmarem o fim das classes, agora insistem que as guerras não estão baseadas nas desigualdades, na existência de pobreza e riqueza, mas antes em ideias religiosas, em conceitos filosóficos profundos. Sempre que olho um miúdo a apedrejar tanques israelitas, terei, segundo eles, de passar a ver um filósofo ou um alienado religioso e não um tipo sem esperança de coisa nenhuma. São seres manipulados por, imagine-se, elites ricas, que o fazem em nome de convicções medievais. Por que será que nenhum desses seres do mal consegue recrutar seguidores para a acção entre habitantes de regiões do globo bem instalados na vida, por exemplo, na Escandinávia?
E como é possível aceitar-se o crescimento da desigualdade como uma fatalidade? Como se tudo isso fosse próprio da natureza humana. Sem um pouquinho de indignação. E seguem em frente sem olhar para os lados, vidrados no vazio.
Ao menos isso, pareceu-me que estava a mudar em New York quando lá estive em Junho. Pareceu-me haver algum olhar para o lado, para os outros, ao contrário daquela coisa que me irritava das outras vezes que lá tinha estado: aquele seguir em frente, alheado de tudo, com sorrisos falsos politicamente bem educados. Teremos de passar pelo sofrimento extremo para nos comportarmos humanamente? Não bastará aprender com a História?

quinta-feira, setembro 11, 2003

Em nome de quê?

11 de Setembro... já lá vão 30 anos. As coincidências são incómodas. É difícil falar-se hoje apenas do terrorismo de há dois anos, esquecendo o outro. Com efeito, faz agora 30 anos, uma acção terrorista derrubou um Presidente eleito democraticamente, que governava com apoio popular apesar do boicote surdo, mas enérgico do Imperialismo americano. Faz agora 30 anos e os documentos classificados vão ser cada vez mais expostos e a história vai escrever-se. Quem hoje fala em democracia, foi terrorista, então. Ou melhor, o conceito de democracia, na linguagem da elite americana dominante tem outra dimensão, é o sistema que permite a manutenção da actividade de rapina (no Chile havia uma operação Condor....) das grandes multinacionais americanas pelo mundo fora. Quem se opuser é anti-democrata, quem servir esse sistema (mesmo que seja um qualquer senhor medieval dirigente da Arábia Saudita) será um democrata.
Fundamentalismos são fundamentalismos, venham de onde vierem e devem ser tratados de forma igual. Só que no mundo livre da nossa televisão, o Chile passa à uma da manhã, a memória de há dois anos o dia todo e em prime time...
Esquecem-se, tenho esperança, que o fim da história não é isto onde estamos...
Há dois anos o mundo também ficou diferente, corremos mais riscos agora. Impressinou-me ouvir hoje a longa lista de atentados e mortos desde então. Inocentes. Como inocentos eram os que foram fechados no estádio e ouviram Victor Jara. Como inocente era o Allende, exemplo de Presidente que caíu de pé, no Palácio onde o Povo o colocara, com a dignidade de ter evitado chacinas ao não convocar o povo que o apoiava para a rua. Sim, os terroristas de então, teriam assassinado sem piedade muitos mais milhares do que os que caíram em NY faz agora dois anos.



quarta-feira, setembro 10, 2003

Indiferença

O mais chocante é a falta de curiosidade. Passar-se uma visita de enfermaria (fora de horas já é habitual...), mas ainda por cima com diálogos ao nível da Bancada Central, num hospital universitário onde novidades terapêuticas são ouvidas sem questionar nada, é deprimente. Que aconteceu para não se questionarem mecanismos de acção, efeitos adversos, poblemas éticos? Tudo parece ser natural, a maior das rotinas. A grande rotina da indiferença perante tudo, a pensar não se sabe bem em quê.
A depressão aumenta ainda mais quando se percebe ou me apercebo que esta é uma atitude geral perante todas as coisas. Ouvimos indiferentes os atentados, as invasões feitas com pretextos que não existiam afinal e ficamos indiferentes. Até que a bomba nos estoire debaixo dos pés e, indiferentes, explodamos em pedacinhos pequeninos. Aliás, depois deixaremos de ser notícia. Fomos só mais um pedacinho do espectáculo, do show que tem de continuar. Estamos todos pendurados das imagens, mas não as digerimos, apenas as olhamos como algo consumível e que rapidamente se deita fora. Será que isto começa em pequenino quando necessitamos tanto dos brinquedos, mas só até os termos? Por que fazemos isto aos nosso filhos?
E estamos na véspera do dia que mudou o mundo. Dantes eram precisos 10, agora basta 1. Sinais de que estamos mais rápidos, mas também muito mais indiferentes. Vamos voltar a ver as imagens todas de torres a cair, com os habituais comentários do horror, mas sem ninguém a perguntar porquê. O mais fácil é sermos os bons e eles os maus. Assim, tudo muito simplesinho como comer hamburger com batatas fritas (congeladas, evidentemente).

sexta-feira, setembro 05, 2003

Quase nada de novo

O mundo segue sossegado, tranquilo com os atentados do costume e o FCP a sovar o Sporting. E la vamos ter de aturar o cara de pau do Mourinho (um destes dias o homem mata o padrinho! Ele que agora é daquela instituição nortenha a chamar-se mourinho...).
Mas fiquei a saber que há um restaurante alentejano chamado 3 Marias (a dona, a burra e a cabra) onde nos tempos que correm se pode comer e beber e pagar quando se lá voltar. Não devem ser deste mundo ou então ainda nem tudo está perdido. se calhar a solução é no país profundo da gente grande.
Finalmente, a chamada economia parece estar a arrancar no ciclo ascendente criando angústias de investimento. Já era só o que me faltava. Mas ganhar dinheiro sem trabalhar é difícil...

segunda-feira, setembro 01, 2003

As doenças
É curioso como cada vez é mais fácil ter-se uma doença. Dantes era necessário esperar pelas queixas, agora descobriram os inimigos silenciosos. O colesterol, a osteoporose, o hipotiroidismo, a diabetes. Como se fossem coisa desejável, procurável, de repente desatamos todos a fazer exames para ascendermos ao nível de doentes. Para nos facilitarem a vida, cada vez mais os níveis a partir dos quais o somos, têm vindo a diminuir. Dantes só com 240 mg/dL de colesterol, agora chegam 190 mg/dL; dantes glicemias de 200 mg/dL, agora quaisquer 126 mg/dL são suficientes para sermos diabéticos; dantes níveis baixos de hormona toroideia em circulação, agora até os níveis normais de TSH deixaram de o ser e já só valores da metade inferior do normal o são verdadeiramente. Tudo para nos facilitar ascender ao grupo dos doentes. E começarmos logo um tratamento com medicamentos, geralmente, produzidos nos Estados Unidos, os líderes da investigação e os mais aptos a tratarem-nos da saúde. E aí vamos nós a caminho da vida eterna, mas doentes mais cedo do que dantes.
É curioso também que estas doenças são geralmente chamadas doenças da civilização! Da civilização do consumismo, da indulgência, do faz o que te apetecer que logo te tratarás com um medicamento que a dita civilização vai descobrir ou precisa rapidamente de vender. Ainda não há muitos anos, na Faculdade de Medicina, ensinavam que o melhor tratamento era a prevenção, a profilaxia. Cada vez mais ouvimos agora nos congressos uma conferência de 20 minutos onde eventualmente os primeiros 2 são dedicados a cuidados profilácticos e os restantes são uma sucessão de resultados de tratamento com os diferentes fármacos, assumindo-se a derrota da prevenção e impondo a ideia do tratamento a jusante como a única via disponível. Indulgentes, assumimos a fatalidade da derrota, a fuga impossível ao sistema. Ninguém fala de tratamento da causa da obesidade, todos procuram uma droga para a tratar. Na verdade, cada vez mais me parece que esta civilização é muito patogénica. Não estaremos, então, na altura de mudarmos? Ou continuamos a ser incendiários para manter os bombeiros ocupados? Entretanto, a paisagem vai ficando queimada, cada vez mais negra, ainda que as vendas dos medicamentos cresçam e as acções das farmacêuticas aguentem os índices das bolsas ou seja a economia não entre em recessão.

29-08-03
Só duas linhas de esperança. But the point is... it’s not inevitable. The future can be changed. But we can’t change things unless we at least begin to understand them. Chomsky, claro!

30-8-03
Aperitivo
As Caldas têm sempre a sedução de tias à conversa na pastelaria Machado, na esplanada da rua das Montras ou só mesmo a espreitá-las. Ou a desviarem o olhar pudicamente das de artesanato ou mesmo olhando, que uma senhora honesta não tem olhos. Há em tudo isto uma distância segura do anunciado em título no Expresso: metade das notas de euro em circulação têm vestígios de cocaína. Está explicada a valorização face ao dólar americano! E também aquele conceito que me incutiram desde pequenino, que o dinheiro é uma coisa suja. E por maioria de razão a tão falada necessidade da sua lavagem.
Almoço
Por cima da fábrica e do museu da cerâmica, meio escondido, o restaurante São Rafael. Tinha-me sido referenciado pessoalmente e pelo Lonely Planet. Depois de entrar tive a sensação de risco que se tem sempre que se entra à hora de almoço num restaurante e estão todas as mesas vazias. Aquela sensação de seja o que deus mande. O nó no estômago aumenta quando se vê o guardanapo de pano roto e a lista cheia de prato originais como o Chateaux Briand, o rostt beef e outras originalidades. No entanto, as coisas melhoram com os aperitivos e a casquinha de sapateira e compõem-se quase definitivamente com as ingenuidades do empregado e o tal do bife, que cumpre em tamanho e qualidade também de acompanhamentos. Mas fico a perguntar-me o porquê do desmazelo da ementa. Porquê esta terra de gambas à la Ilho ou à la guilho? Não é só falta de cultura, há também uma enorme dose de desmazelo e falta de rigor, do tal acho que, como se estivessemos a fazer tudo de novo.
Sobremesa
Uma reunião de proprietários, possivelmente, típica. Adquirimos casas compradas como se nos estivessem a vender propriedade num empreendimento turístico. Agora percebemos que se trata de mera urbanização. E somos europeus, americanos, asiáticos, australianos todos caídos no mesmo. E temos, em Portugal, uma reunião em inglês. (Gostava tanto que ensinassem aos miúdos na primária esta língua, a todos sem excepção). Mais não fosse para vermos como se reage diferentemente quando nos enganam em Inglaterra ou nos Estados Unidos ou em Portugal. Diálogo, processo judicial imediato, será que se pode fazer alguma coisa?
Fica o aviso O Praia d’el Rey Golf and Country Club não é um empreendimento turístico, embora seja um sítio óptimo para se estar e vai ter uma Associação de proprietários que tentará impedir que a ganância o converta naquilo que não é desejável. Uma experiência de organização de base (pouco popular, diga-se) com a esperança de melhorar algo.